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APPENDICE Á SESSÃO DE 29 DE FEVEREIRO DE 1888 646-A

O sr. Serpa Pinto: - A camara comprehenderá que, quando o parlamento inglez gasta tempo tratando de cousas que são nossas, seja natural que nós gastemos tambem algum tempo tratando d'ellas.

O sr. ministro dos negocios estrangeiros acabou de affirmar que a Inglaterra nos fôra leal. Creio que não era essa a intuição do meu collega o sr. Arroyo fazendo a pergunta que fez a s. exa.

O sr. Arroyo sabe muito bem que a Inglaterra não queria nem quererá tirar aos outros aquillo que é d'elles.

O sr. Barros Gomes acabou de dizer-nos o que fizera o governo inglez, mas não o que fez o governo portuguez.

Isto é que eu pergunto ha tres dias a s. exa.

O sr. ministro da marinha já me respondeu por duas vezes que se estava elaborando um projecto que devia ser presente á camara, com respeito a Lourenço Marques; mas é preciso que a este respeito o governo tome medidas energicas e immediatas.

Não é a Inglaterra que nos move uma guerra desleal, mas sim as colonias do Cabo e do Natal, que se governam autonomamente, e que cheias de ciume de Lourenço Marques, não perdem ensejo de nos prejudicar ali.

Não é da Inglaterra que eu temo, é d'esses inglezes do Natal.

Eu quero distinguir o que dizem os inglezes do Natal e o que diz o governo inglez.

Os inglezes do Natal fazem já politica no Natal, em que combatem, por todos os modos, a nossa influencia no sul da Africa oriental; e esses inglezes hão de intrigar-nos o mais possivel para que se não resolva a nosso favor a questão do sul de Lourenço Marques.

Elles já têem protectorado no paiz dos amatongas, e esse paiz interna no nosso.

Para isso é que é preciso remedio prompto.

Eu sei que um dos homens que mais tem trabalhado nas nossas colonias, o major Machado, foi encarregado de ir ali ver se podia conseguir uma vassalagem proficua e effectiva.

Não sei se o conseguirá, e até que ponto o governo lhe deu recursos para isso.

O que é preciso é que a respeito da questão do caminho de ferro, a que se refere aquelle telegramma, o governo não fique inactivo; porque se a colonia do Cabo do Natal póde comprar acções, não sei por que o governo portuguez as não possa comprar tão bem. Não sei que possa haver a idéa de que o territorio annexo ao caminho de ferro possa trazer uma soberania estrangeira para dentro de Portugal; pelo contrario, póde trazer propriedade estrangeira para dentro da nossa soberania; mas em todo o caso, com esse direito de propriedade, póde trazer difficuldades e embaraços. Já, hoje Lourenço Marques está luctando com difficuldades enormes, está habitada por inglezes, sem ter portuguezes, a não serem unica e exclusivamente os empregados publicos.

Eu sei que o sr. ministro da marinha pensa em fazer um projecto de colonisação para ali, mas não basta pensal-o, é preciso fazel-o. Se s. exa. não tem dinheiro, peça-o ao parlamento, porque o parlamento não póde deixar de votar uma quantia qualquer para defender Portugal, porque a Africa é de Portugal desde o momento que lá exista a bandeira portugueza.

Isto é que eu queria dizer ao sr. ministro da marinha, que não está presente, e peço ao sr. ministro dos negocios estrangeiros que me faça a honra de lhe transmittir o que acabo de dizer.