O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

— 189 —

capitaes a abnegação e virtude heroica! Não. lhes queirais dar credito á força? Deixai-os tomar quanto poderem a sua direcção natural Não os coejais, não lhes prendais nenhum dos seus effeitos! Ilustrai-os, que elles requererão o verdadeiro caminho, recommendai-lhes o que se faz nos outros paizes, mas não os violenteis! Convencei-os pela força da razão, e não pela força do poder! Mostrai-lhes onde estão os seus interesses, mas não os maltrateis! Sr. Presidente, se estas doutrinas são más, eu lisongeio-me de ler em minha companhia Publicistas distinctos, e Auctoridades respeitaveis. Sejamos coherentes, vejamos o fim a que nos dirigimos; pois se o Governo não póde pagar 3 por cento, como e que promette 7 por cento? Quando alguem diz que o Governo não póde pagar o juro, mesmo redusido, é este o momento proprio para se prometterem 6 por cento de juro e mais 1 para amortisação? Isto tem o inconveniente de pôr uma promessa em um sentido, junto a uma realidade no sentido opposto!

É preciso pois confessar que infelizmente ha difficuldades para se fazer o caminho de ferro: mas hão de attribuir-se todas essas difficuldades a intrigas e a interesses illegitimos? A intriga póde muito, mas de certo não se lhe póde dar tamanha importancia, que por si só torne invenciveis essas difficuldades dos melhoramentos materiaes; e o seu desejo e que se não augmentem essas difficuldades.

Sr. Presidente, quando Suas Magestades foram fazer uma digressão pelas provincias do Norte, na qual reconheceram pessoalmente o amor que lhes consagram os Portuguezes, puderam ter occasião de retribuir essa affeição obtendo Sua Magestade El Rei, do Banco do Porto, creio eu, a votação da somma necessaria para se fazer a estrada de Lisboa ao Porto, o que prova mais uma vez a sollicitude das Pessoas Reaes pelos verdadeiros interesses do paiz; e demonstra que os capitaes entre nós são verdadeiramente monarchicos, o que vincula nesta terra a este regimen toda a possibilidade de futuros melhoramentos. Prova tambem isto o que já asseverei que dentro do paiz ha meios para levar por diante obras desta natureza; e o que é necessario é tractar os capitaes com bom modo, e com affagos, e não espanta-los, incluindo-lhes medo, que os faz esconder, e pôr em estado de amuo. Cumpre-me declarar que não faço o panegyrico dos Capitalistas; que não lhes peço nem lhes devo favores; mas respeito os capitaes, pelos serviços, que só elles podem e devem prestar ao desenvolvimento da producção de um paiz; e curvo-me diante dos capitaes, por que reconheço a sua utilidade; nesta disposição eu não posso deixar de ser de opinião que tudo quanto pudermos fazer a bem do nosso paiz, o façamos.

Sr. Presidente, eu bem sei que se o Governo quizer dar cabo do Banco n'um instante, não tem grande difficuldade para isso; mas eu que conheço o caracter do Governo, digo que o não fará, mesmo porque havia de ser julgado rigorosamente. Se quizesse fechar as porias do Banco, nada e mais facil do que mandar fecha-las, e levar as chaves para casa; mas este procedimento era uma violencia, cujas fataes consequencias por muito tempo se experimentariam; e succederia o que succedeu na idade media: todos sabem as violencias que se practicaram no tempo do feudalismo contra os detentores de fundos, mas pagou.se bem caro essas, violencias.

Sr. Presidente, eu intendo que o Governo andaria mais conveniente, é sem quebra da sua dignidade, se modificasse alguma das suas medidas, no que não havia desaire algum, por que essa modificação era feita no Parlamento, e não entre duas Potencias que se podessem considerar como rivaes.

Vou concluir e peço perdão á Camara, se por acaso, no meu discurso, offendesse quem quer que fosse; e se o fiz, foi involuntariamente; porque, Sr. Presidente, eu considerar-me-hia ornais infeliz de todos os homens, se tivesse compromettido a evidencia das minhas idéas com a impropriedade da minha enunciação; se acaso me excedi, agradeço a v. Ex. o não me ter advertido como podia; e a Camara o ter-me ouvido com uma benevolencia que eu sou o primeiro a reconhecer que só como favor podia merecer.

O Sr. Ministro da Fazenda (Fontes Pereira de Mello): — Sr. Presidente, eu preciso e peço toda a benevolencia da Camara, porque depois do brilhante e erudito discurso do meu nobre amigo o Sr. Carlos Bento, é summamente difficil e desagradavel a minha ‘situação; estou — debaixo de imputações tremendas, e de uma responsabilidade, que eu por certo não desconheci nunca, e de que espero dar conta a esta Camara, e ao meu paiz; mas que nem por isso me torna mais suave a situação em que me acho actualmente. Eu reconheço o talento e sagacidade do nobre Deputado; ninguem lhe faz mais justiça do que eu, que sou seu antigo amigo, e que tenho combatido com elle nas mesmas posições por muitas vezes.

Sei quanto elle é habil em aproveitar os recursos que lhe dá o seu talento, para collocar-se n'um terreno apparentemente vantajoso contra os seus adversarios politicos. Foi com este-intento que o Sr. Deputado seguiu e adoptou uma grande idéa, idéa que não póde ser repudiada dos bancos dos Ministros, nem das cadeiras dos Srs. Deputados, que é a idéa do Credito publico! Entrincheirou-se na necessidade da manutenção do Credito publico, idéa que é grande, nobre, e necessaria, e foi atacar o Governo, como se elle pertendesse destruir o Credito, á custa das verdadeiras theorias economicas, que nenhum de nós desconhece!

Sr. Presidente, eu não sei qual é a escola que exerce uma certa pressão sobre o Governo; não sei quaes são os representantes dessas escólas dentro, nem fóra do paiz: para mim a escola em materia de finanças que tenho seguido, é aquella que tenho lido, que tenho visto recommendar pelos distinctos Economistas, é aquella que me tem aconselhado os meus poucos recursos intellectuaes, e os meus fracos talentos: as medidas tomadas pelo Governo parlem só delle, da sua consciencia, e da sua cabeça, não são influídas por ninguem; e o Governo seria indigno de occupar estas cadeiras, se se prestasse a influencias estranhas para adoptar medidas que fossem adversas ao seu paiz, e que não estivessem de accordo com a sua consciencia. (Apoiados) Não sei se o nobre Deputado se refere á escola antiga, esta que tem sido empregada por Homens de Estado, que tem exercido os logares de Ministros ha muitos annos neste paiz. Ninguem primeiro dogue eu faz justiça aos distinctos Caracteres, que se tem aqui sentado; mas nem todos temos obrigação de ver as cousas da mesma maneira, nem-Iodas as circumstancias

VOL-II-FEVEREIRO-1853

48