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se prestam ás mesmas operações, e ás mesmas pro violencias. Seria absurdo pertender que o mesmo Ministro com as mesmas idéas economicas obrasse da mesma maneira em circumstancias diversas. Talvez que se eu tivesse tido a honra de me sentar nestes logares, quando se sentaram alguns dos meus nobres antecessores, tivesse feito tanto Como elles, menos, ou peior não quero dizer que elles fizeram peior, mas menos bem. Porem sendo chamado a este logar em circumstancias excepcionaes, e achando difficuldades, que só se pódem apresentar nas angustias do Gabinete, o Governo intendeu que devia seguir os dictames da sua consciencia, sem offender os principios economicos que são reconhecidos em todos os paizes, e em todos os tempos, pelo menos no tempo moderno, tomando as medidas que a situação reclamava imperiosamente.

Eu tambem respeito os capitaes e não sou capitalista; tambem quero que se tirem dos capitaes todos os proveitos que se devem tirar para o desenvolvimento de todas as industrias, do paiz, e organisação definitiva das Suas finanças. Mas, Sr. Presidente, não levo o meu enthusiasmo tão longe como o illustre Deputado; não sacrifico ao idolo; quero que os capitaes reconheçam os deveres que lhes impõe o estado da sociedade, em que se acham, e que auxiliem não só os Governos destes ou daquelles homens, mas os desenvolvimentos materiaes do paiz, de todas as industrias, e o augmento da prosperidade publica. Se os capitaes desconhecem estas tendencias de ordem e de beneficio; se os capitaes se apartam das estradas que não lhes convem seguir; não ha de ser o Governo que ha de ir atraz delles, que os ha de seguir em todos os seus desvarios, e que os ha de seguir em todas as suas más tendencias. (Apoiados) Não ha de ser o Governo que ha de ir curvar a cabeça diante do imperio dos capitaes, que não é reconhecido em parte alguma, se não quando elles se empregam a bem da causa publica, e dos interesses da sociedade.

Sr. Presidente, disse-se que é erronea a idéa de que algumas medidas do Governo não influem fóra das Cidade de Lisboa e Porto. Esle principio não é absolutamente, mas é muitas vezes verdadeiro. O nobre Deputado que deseja que o Governo preste a devida consideração ao imperio dos capitaes, vê nelles, e vê bem, porque faço justiça ao seu talento, O á sua intelligencia, um grande elemento de prosperidade publica; mas esses capitaes a que o illustre Deputado alludiu, prestam o devido auxilio aos nossos melhoramentos? Por exemplo, o Banco, entre nós, tem elle prestado os serviços que lhes eram reclamados imperiosamente pelas circumstancias, em que se achava o paiz? Tem estes capitaes sido, para este paiz, fecundo ás diversas industrias; têm posto alguns meios para remediar quaesquer desarranjos ou prejuizos de que as provincias se ressentem, e de que a usura se aproveita avidamente? Onde, Sr. Presidente, em qualquer dos angulos do reino se tem manifestado a influencia benefica desses capitaes? O que apparece é a usura desgrenhada, absorvendo todos os meios, aproveitando-se do producto do suor dos cultivadores, sem prestar absolutamente nenhuns dos recursos que tinha imperiosa obrigação de prestar'. (Apoiados) E póde sentir-se pelas provincias do reino a falta dessa influencia benefica? Onde está ella? Neste caso, muitas medidas que se tomam a respeito de sertos Estabelecimentos, não passam além das portas da Capital. (Apoiados)

Tambem eu digo, Sr. Presidente, que não desconheço tanto as obrigações a meu cargo, que não saiba qual é proveito immenso que resulta da reducção de juro; mas a reducção que o Governo fez nos juros, deve ser encarada debaixo de outro ponto de vista; essa reducção teve outros motivos e outras causas. Seria absurdo persuadir-me que a reducção nos juros da divida fundada tornava mais facil o desenvolvimento das industrias do paiz; mas o que é necessario reduzir é o juro dos capitaes; e não me tenho esquecido disso. Mas pergunto eu: o que é necessario para a reducção dos juros dos capitaes? Na minha opinião a primeira cousa indispensavel para isso se conseguir é a organisação da Fazenda. Em quanto esta não existir, é impossivel essa reducção de juros, porque os capitaes são absorvidos constantemente nas operações que o Thesouro é obrigado a fazer, e que lhes dá um lucro muito superior ao que elles podem ir procurar lá fóra no desenvolvimento dessas industrias. Está presente o Sr. Avila, que foi Ministro, e a quem presto o tributo de respeito que me merecem as suas qualidades, a quem eu ouvi dizer muitas vezes, que a primeira necessidade do paiz era acabar com o deficit; que o deficit era o peor de tolos os impostos e o mal que mais temivelmente concorria para aggravar o estado das nossas circumstancias. (O Sr. Avila: — Apoiado) Pois se isto é assim, como eu reconheço que é, póde accusar-se o Governo, porque empregou os meios que póde, para acabar com esse mal? Póde sim combater-se o Governo, dizendo que não empregou meios mais fortes, mas accusa-lo de ler empregado os que empregou, para. acabar com esse cancro, com o qual não póde haver organisação de Fazenda Publica, parecia-me que seria uma cousa que pelo menos devia ser desculpada da parte do Governo. (Apoiados)

Eu, Sr. Presidente, na situação em que me acho, não posso prever qual é o ponto de ataque dos illustres Deputados, estou collocado n'uma posição desvantajosa, e não posso neste caso senão seguir, quanto possivel, o discurso do meu illustre amigo e adversario nesta questão, e procurar responder, quanto o permittirem as minhas debeis forças, aos seus aliaz seductores argumentos; porque são seductores, e eu sou ò primeiro a confessa-lo.

Disse o illustre Deputado, que o Governo, que eu particularmente, porque neste ponto dirigiu se especialmente á minha pessoa, disse que eu devia confessar que me tinha enganado; que o erro tem acompanhado muitas vezes os grandes homens, e por isso não admirava que eu, que sou pequeno, me enganasse tambem, e que devia até seguir o rifão do Sr. ministro do Reino. Ora eu não sei que o Sr. ministro do Reino tenha como rifão o enganar-se, creio mesmo que o Sr. Ministro do Reino ha de protestar contra isso. (O Sr. Carlos Bento: — Tem-se enganado mais) Não admira, porque tem vivido mais; ainda que não é isso effeito da idade; eu tenho conhecido velhos que se tem enganado muito, o moços que se tem enganado pouco, e as avessas.

Sr. Presidente, eu enganei-me! Confesso solemnemente diante de v. Ex. da Camara, e do meu paiz que me enganei; mas não no sentido que indica o illustre Deputado. Não me persuadi nunca que o Decreto de 30 de Agosto podesse deixar de produzir as