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consequencias que ou desejava; enganei-me, porque não esperava encontrar n'uma corporação respeitavel deste Paiz uma resistencia mais que tenaz..: não sei como a qualifique. (Apoiados) Não esperava por certo que o Banco de Portugal não tivesse comprehendido a sua missão, e a opportunidade das circumstancias que o Governo lhe offerecia, para se collocar decididamente ao seu lado, e pôr-se a frente dos melhoramentos materiaes, reclamados pelo Paiz. Se aquelle Estabelecimento tivesse comprehendido melhor os seus interesses se eu me não tivesse enganado em suppôr que alli devia dominar mais a cabeça do que o coração, de certo que o Decreto de 30 de Agosto havia de ler produzido os fructos naturaes que o Governo esperava: mas não aconteceu assim, O Governo chamou o Banco. É preciso applicar tudo; estamos chegados ao momento solemne; o Governo está debaixo de uma responsabilidade tremenda, e tem absoluta necessidade de se explicar o justificar diante do Paiz. lin tenho deixado pairar sobre mim incolumes calumnias de toda a sorte; tenho sido accusado, assim como os meus Collegas do Gabinete, de que somos contrarios ao Systema parlamentar; e eu ambicionava o momento da reunião do Parlamento para elle. me julgar; quero ser julgado com toda a severidade; quero e espero que o hei de ser imparcialmente por esta Camara. O Governo está forte na sua consciencia; está muito seguro della; não leme apresentar-se diante da Camara e do Paiz a dar-lhes conta dos seus actos, e do seu procedimento; está prompto para responder por todos elles; e espero, á vista da sua defeza, bem merecer do Paiz. (Muitos apoiados),

O Decreto de 30 de Agosto era concebido para um grande fim; e se os meios não são approvados pelo illustre Deputado, ao menos seja desculpado o fim que o Governo com elle tinha em vista.

O illustre Deputado contenta-se com um caminho de ferro; a mim custa-mo a contentar com dois; tenho pena de não poder cortar o meu Paiz devias de communicação desta natureza Desgraçadamente esse desenvolvimento e para nós uma utopia. O Governo comprehendeu a necessidade que havia de dar um grande desenvolvimento ás vias de communicação. O Governo intendeu que nas circumstancias em que estava a Europa, no desenvolvimento que tinham tomado estes meios de communicação em quasi todos os paizes, nos não deviamos limitar a fazer estradas ordinarias, que nos deixavam muito atraz de outros povos, onde o estado de celeridade em viação publica se tem tornado muito mais adiantado do que entre nós, e por isso, procurando reduzir as despezas publicas por todos os modos que era possivel, intendeu que devia ao mesmo passo fomentar a riqueza nacional, habilitando assim mais tarde o Thesouro com meios, que eram indispensaveis para outros grandes melhoramentos. Procurou pois seguir o exemplo de outras nações proporcionando os meios para estabelecer vias ferreas — uma que ligasse este, Paiz com o reino visinho, pondo-nos assim em contacto com o resto da Europa — a outra que estreitasse os vinculos de parentesco, por assim dizer, no Paiz — parecia ao Governo um grande beneficio financeiro para o Thesouro, e para o mesmo Paiz. Por consequencia o Decreto de 30 de Agosto tinha por fim, não habilitar o Governo para com os meios que elle fornecia immediatamente fazer aquella linha ferrea, mas habilitar o Governo a poder contractar vantajosamente. Eu penso que o illustre Deputado não me faz a injustiça de suppôr que o Governo se persuadia, que com 500 contos de reis, por exemplo, que com aquelle rendimento do Fundo de Amortisação (depois de deduzidos Os encargos que o Decreto trazia comsigo ao Thesouro) havia o Governo de ír empreender a feitura do caminho de ferro. Isso era um absurdo de uma ordem muito grande, para que o illustre Deputado, que é meu amigo, m'o attribuisse. Mas o Governo acabava de contractar havia pouco a construcção do caminho de ferro chamado de Leste; quero dizer, tinha feito a concessão provisoria, que é o que podia fazer naquella época. O caminho de ferro de Leste é reputado por todos não só um grande elemento de riqueza para este Paiz, mas tambem um dos melhores empregos de capitaes, que póde existir actualmente na Europa; não ha muito que li isto em uma obra curiosissima ingleza, que não é suspeita, e que até, no seu poetico enthusiasmo, chega a dizer que em poucos annos, feito aquelle caminho, sómente rivalisará com Lisboa a cidade de Londres Isto diz uma obra ingleza, uma obra curiosa (que o Sr. Deputado de certo conhece) sobre caminhos de ferro na Europa ultimamente.

Ainda mais, Sr. Presidente, eu não tomo esta especie de fanfarronada que nos attribue o Escriptor Inglez no ponto em que elle dizia; não supponho que Lisboa rivalisaria com Londres, mas supponho que Lisboa ganhava extraordinariamente na sua importancia desde que este caminho de ferro se estabelecesse. (Apoiados) Dizia elle tambem nessa occasião que era esta tinha o melhor emprego de capitaes que se conhecia então. Os estrangeiros, Sr. Presidente, fazem por vezes mais justiça ao Governo que os nacionaes, e é bem facil de perceber a razão: as sympathias e as antipathias praticas que entre n.is nos fazem ver de diversa maneira os mesmos objectos, não existem lá por fóra; e é natural que o estrangeiro, que é justo e que é imparcial pelas suas circumstancias, veja de uma maneira mais exacta as nossas cousas do que aquelles que estão dentro do Paiz; estes estão mais perto dellas, é verdade, comtudo são influido» pelo prisma das suas paixões, atravez do qual veem sempre deturpados os pensamentos do Governo, e as suas obras.

Um illustre Deputado, que muito lido, e não lhe faço nisto elogio, não faço senão repetir o que todos sabem, terá visto que ainda ha pouco a Revista dos Dois Mundos — e posso cita-la porque não me e nada favoravel — fazia um grande elogio ao Governo por elle ler emprehendido as obras do caminho de ferro, e dizia mais que era provavel, que era natural, (elle escrevia antes destes ultimos acontecimentos) que os credores inglezes, vendo na confecção do caminho de ferro um grande elemento de prosperidade para o Paiz, viessem auxiliar, apesar dos sacrificios que se lhes impunham, este grande pensamento, que ía habilitar de futuro necessariamente o Thesouro, para poder satisfazer melhor aos seus encargos. Enganou-se porém o Governo nas consequencias do Decreto de 30 de Agosto; enganou-se; e enganou-se, porque não contou que existisse nesta terra uma corporação de individuos — corporação, como já disse respeitavel, porque eu trado todos como devo tractar no seu logar — que visse tão apaixonadamente os interesses apparentes, note-se bem, do Estabeleci-