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Governo tinha aquella divida, que estava fundada, a cargo da Junta do Credito Publico, e dotada convenientemente no Orçamento; — intendeu que com isto não creava uma divida nova; fez a inversão do que existia, e que de certo o habilitava a levantar na Praça de Londres os fundos de que carecia, não para fazer um caminho de ferro; por que o illustre Deputado bem sabe que 800 ou 1:000 contos não chegam por fazer um caminho de ferro; mas chegavam para associar-se em uma grande escalla a empreza, e habilita-la a dar começo a essa grande obra do caminho de ferro. Foi este o grande pensamento do Governo, o qual não pôde conseguir levar avante em virtude das declarações do Banco de Portugal, das suas reclamações, dos seus protestos, e mais ainda do procedimento inqualificavel que tem tido aquelle estabelecimento na presença do Governo, tanto dentro como fóra do paiz. (Apoiados)

Sr. Presidente, que nós cá dentro da nossa casa tractemos dos nossos negocios, e procuremos obter justiça do Governo, ou de todo outro qualquer Poder do Estado, é uma cousa que não deve estranhar-se; e uma cousa rasoavel e justa mesmo; mas que vamos ás Praças estrangeiras pôr o ferrete da ignominia na fronte do paiz a que pertencemos, é indigno. (Muitos e repelidos apoiadas)

Sr. Presidente, se os nobres Deputados querem, eu mostrarei documentos e testimunhos insuspeitos de homens respeitaveis daquellas Praças que dizem, que não ha exemplo de proceder similhante d'um estabelecimento monetario, que vive do Governo. (Muitos apoiados) Sinto, Sr. Presidente, que tivesse apparecido um documento tal; posso aqui senti-lo; por que sou portuguez. (Repelidos apoiados) — Podia reclamar no paiz. (Apoiados) Estavam a reunir-se as Côrtes, tinham o Governo a quem reclama', se não achava recurso no Governo, tinha recurso para a Representação nacional (Apoiados); mas pôr tudo isto de parte, e recorrer para o Stock-Exchange, e para mais Praças estrangeiras, e affixar proclamações por todos os angulos do Reino, convidando á desobediencia ao Governo, é um procedimento inaudito!.... (Apoiados repelidos) A longanimidade do Governo foi extrema. (Uma voz do centro: — Apoiados). O Sr. Cunha Sotto-Maior. — Apoiado, não. O Orador: — Apoiado sim. O Sr. Cunha Sotto-Maior: — Apoiado não, repito, e o Sr. Deputado Dias e Sousa que está dizendo apoiado pela boca pequena, diga apoiado que todos ouçam.

O Sr. Dias e Sousa: — Apoiado, digo, sim Senhor. (E muitas vozes: — Apoiado, Apoiado).

O Sr. Ministro do Reino: — Sim, ou não, e o mesmo.

O Sr. Cunha Sotto-Maior: — Não e o mesmo, e eu lhe mostrarei quando fallar.

O Sr. Ministro do Reino: — Veremos como o mostra, e se o mostra.

O Orador (continuando): — O nobre Deputado o Sr. Cunha, cujo saber e capacidade eu lhe reconheço e todos nós lhe reconhecemos, tem a palavra; ha de explicar-se, e explicar-se bem, como sempre costuma; mas quer apoie, quer não apoie, o que o illustre Deputado não póde, nem poderá destruir, é a impressão altamente desagradavel que produziu no amor proprio nacional o procedimento daquelle estabelecimento (Longos e repelidos apoiados) — Isso é que o nobre Deputado não póde destruir; nem ninguem. (Apoiados).

Sr. Presidente, se eu quizesse fazer o processo ao Banco de Portugal, traria aqui aquelle celebre documento, que mandou para as Praças estrangeiras, para ser affixado nas esquinas daquellas Praças e nas de todos os angulos do nosso paiz — Se aquella doutrina se contaminasse, dentro em pouco nas ruas, nas repartições, e nos quarteis se estabeleceria a anarchia (Apoiados repetidos) em toda a parte a auctoridade publica seria desacatada; mas felizmente aquella opinião não era a opinião do paiz (Muitos apoiados) porque se o fosse, O contagio devia manifestar-se necessariamente (Apoiados) e nó, Governo seriamos então réos de Lesa-nação, e altamente indignos destes logares, se não tivessemos sabido desviar os effeitos de um procedimento que passava todas as raias do justo e do rasoavel (Apoiados, apoiados). O Governo contou com a opinião publica, e fez bem (Apoiados). O Governo não quiz igualar o procedimento inqualificavel e inaudito da Direcção daquelle Estabelecimento, digo, Direcção, e digo o de proposito, sem querer offender os homens que a compõem, por que ninguem quero offender; eu estou discutindo um facto publico (Apoiados). não quero estender a solariedade da sociedade neste procedimento da Direcção: os Accionistas não tem culpa do procedimento inqualificavel de alguns homens, que podem ler, creio até mesmo que tem, sentimentos muito honrados e muito dignos, mas que se precipitaram deploravelmente neste negocio. (Apoiados) — Eu tambem tenho ali amigos, se a palavra amigo não é um termo venal, e estou certo que com relação áquellas pessoas a quem me refiro, o não é, tenho ali amigos; e eu não sou inimigo de ninguem; não sou inimigo de pessoa alguma. Como Ministro tenho as minhas opiniões; defendo-as a todo o trance, morrerei com ellas, se fôr preciso. Repilo, não sou inimigo de ninguem; a minha situação hei de defende-la por bem da minha honra, e por ella a cada individuo pertence defender a situação em que se colloca; e eu já que me colloquei nesta, hei de defende-la, e oxalá que possa defende-la ião bem como eu desejo.

Mas o illustre Deputado julgou que o Governo tinha commettido uma falta, e uma falta grave, quando appellava para os capitaes estrangeiros, em vez de os levantar no Paiz; e eu estou de accôrdo com o illustre Deputado neste ponto, se visse a possibilidade de levantar no Paiz os capitaes, que o Governo precisava para aquella obra. E digo mais: o Governo não declarou nunca que não queria levantar os capitaes no Paiz, e não só o não declarou, mas não tinha tenção de os ir procurar ao estrangeiro. E esses capitaes se se prestassem, o Governo não havia de repudia-los; isso não cabe na cabeça de ninguem, e menos no espirito recto do illustre Deputado, que eu acredito que quando se engana, é sempre de boa fé. O Governo quiz levantar os capitaes no Paiz, mas não sabe o illustre Deputado que o contagio, a que eu ainda agora me referi, não ficou só no Banco, passou a todos os outros Estabelecimentos monetarios, e que o Governo por esse facto não tinha esperança alguma de poder levantar esses meios? Mas por ventura deprehende-se isso do Decreto a que se allude? Não temos visto que