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626 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

blica, por estar no seu fim o presente anno lectivo e ser preciso que, pelo respectivo ministerio, se tomem algumas providencias sobre o ensino, applicaveis ao anno proximo. Estou, porém, tão ferido, tão profundamente indignado pelo modo por que vejo succederem-se e accumularem-se factos, que tanto interessara a honra e o brio nacional, que entendo que, perante o acontecimento que hoje nos preoccupa, todas e quaesquer questões e incidentes se deverão preterir e reservar.
Aguardo, pois, também, a vinda do sr. ministro da marinha, e peço a v. exa. me inscreva desde já e me conceda a palavra para poder entrar, a seu tempo, na apreciação do incidente qne se prepara, e cuja discussão não póde deixar de ser ampla e desafogada, por se tratar de questões que não podemos porque representâmos uma parte do paiz - deixar correr á revelia, por maior que seja o cuidado e o segredo com que o actual ministerio pretenda sequestrar acontecimentos, de tão grave alcance e ponderação, da critica e exame, a que não podem deixar de estar sujeitos.
Nem póde haver segredos absolutos, sr. presidente, quando se trata do brio e da honra portugueza, quando se trata de justificar perante a Europa que o velho Portugal, esse Portugal glorioso mas não vilipendiado, vencido mas não deshonrado, ainda vive e se não presta ao triste papel, a que pretendem
obrigal-o, papel já hoje salpicado de sangue pela brutal crueldade, de um agente inglez que, abusando indignamente da nossa situação colonial, está reclamando prompto e severo castigo.
Nem ha muito que esperar da Inglaterra; não lhe está no animo nem nas tradições ser justa e digna com os povos, que não dispõem de esquadras formidaveis ou de exercitos poderosos.
Não impede isso, porém, que saibamos viver e até morrer com honra e que, apesar do nosso modesto papel de uma pequena potencia europeia, devamos usar das grandes virtudes o dos altos sentimentos de brio e de dignidade, que os povos só abandonam, quando n'elles se esphacelou por inteiro a honra nacional e a coragem resignada, que pode e deve leval-os até o suicidio, quando este for o unico e supremo remedio, que lhes evite uma existencia covarde ou affrontosa.
Desistindo, portanto, da palavra, por agora, reservo-mo para a discussão que, sobre o incidente Buchanan, vae estabelecer-se, dentro em pouco, n'esta casa parlamentar. (Muitos Apoiados.)
Vozes: - Muito bem.
O sr. Barão do Paço Vieira (Alfredo): - Mando para a mesa o parecer relativo á eleição dos srs. Joaquim Pedro de Oliveira Martins e Caetano Pereira Sanches de Castro.
Peço a v. exa. se digne consultar a camara sobre se dispensa o regimento para que entre desde já em discussão.
Leu-se na mesa o seguinte:

PARECER N.° 125

Senhores. - A vossa primeira commissão de verificação de poderes foram presentes os processos eleitoraes relativos a todos os circulos do continente e ilhas adjacentes, e bem assim as synopses organisadas pelas tres commissões de verificação de poderes, onde se acham exarados todos os votos obtidos pelos diversos candidatos a deputados por acummulação.
D'estes documentos se vê que os cinco candidatos mais votados foram por sua ordem os seguintes cidadãos:

José Maria de Alpoim Cerqueira Borges Cabral.... 56:092 votos
Luiz Gonzaga dos Reis Torgal.... 46:477 votos
Francisco José de Medeiros.... 38:093 votos
Joaquim Pedro de Oliveira Martins.... 30:849 votos
Caetano Pereira Sanches de Castro.... 33:588 votos

E como os tres primeiros foram já proclamados deputados da nação e nenhuma duvida se apresenta relativamente á eleição dos dois ultimos, é parecer da vossa commissão que elles devem ser proclamados deputados.
Sala das sessões da primeira commissão de verificação de poderes, em 10 de junho de 1890. = Pedro Victor da Costa Sequeira = Marcellino Mesquita = Luciano Monteiro = José Estevão de Moraes Sarmento = L. Bandeira Coelho = Barão de Paçô Vieira (Alfredo), relator.
O sr. Alpoim: - Pedia a v. exa. a fineza de me dizer a quem se referem esses pareceres, porque não ouvi bem.
O sr. Presidente: - O parecer concluo, dizendo que devem ser proclamados deputados os srs. Joaquim Pedro de Oliveira Martins e Caetano Pereira Sanches de Castro.
Consulto a camara sobre se dispensa a impressão d'este parecer para que possa ser desde já discutido.
Assim se resolveu, e lido novamente o parecer, foi approvado sem discussão.
O sr. Emygdio Navarro: - Do mesmo modo que os meus collegas da opposição parlamentar, tambem desejo fazer algumas perguntas sobre assumpto extremamente grave, e por isso peço a v. exa. que me reserve a palavra para quando esteja presente o sr. ministro da marinha ou o sr. ministro dos negocios estrangeiros.
O sr. Almeida e Brito: - Pedi a palavra para mandar para a mesa um requerimento, requisitando, pelo ministerio do reino, copia ou o processo original relativo á dissolução da confraria de S. Pedro Gonçalves, de Ponta Delgada.
Careço com urgencia d'este documento, porque desejo apresentar uma nota de interpellação ao sr. ministro do reino sobre os actos do governador civil d'aquelle districto, com respeito á dissolução da confraria a que me refiro.
Já que estou com a palavra, requeiro a v. exa. que, apenas chegue a esta camara o sr. ministro da marinha ou o dos negocios estrangeiros, se suspenda a discussão do bill e se dê a palavra aos srs. deputados da opposição que desejam occupar-se de um assumpto da maior gravidade. (Apoiados.)
(S. exa. não reviu.)
O requerimento vae publicado na secção competente.
O sr. Fuschini: - Sr. presidente, fui hontem procurado por uma commissão de sapateiros, que me encarregou de apresentar á camara uma representação, na qual em nome da sua classe, expõem assumptos da sua justiça o do seu interesse.
Este documento é importante e carece de larga publicidade, porque de facto envolve questões serias e define as condições economicas de uma classe numerosa; é, portanto, um subsidio valioso para estudo completo, que se queira fazer sobre as condições do trabalho nacional.
Sr. presidente, vou fazer uma breve exposição doutrinal sobre o assumpto.
A classe dos sapateiros entende dever expor ao parlamento as pessimas condições economicas, em que se encontra, e pedir, para as melhorar, medidas de protecção. Os argumentos, ou para melhor dizer os factos, que esta representação aponta são importantes e em dois ou tres minutos vou expol-os á camara.
Sr. presidente, haverá trinta annos, dizem os sapateiros, creou-se um largo mercado para esta industria no Brazil, correspondendo a esta creação um desenvolvimento consideravel de trabalho o portanto grande augmento do numero de operarios da classe.
D'este mercado, que se tivesse sido honradamente explorado, constituiria, uma fonte de riqueza para o paiz e para a classe dos sapateiros, apoderaram-se certos intermediarios commerciaes, que procuraram explorar por um lado os operarios, reduzindo-lhe quanto possivel os salarios, e por outro os consumidores brazileiros dando-lhe artefactos mal feitos, em que se empregavam pessimas materias-primas; o que fez com que perdessemos o mercado