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(los, esse Acto Addicional foi logo infringido nesta tão gabada disposição; porque houve um Ministro do Negocios Estrangeiros, que não só não pensou em trazer os Tractados á Camara; mas queria ale negocial-os sem ouvir os seus Collegas, nem a propria Soberana. Infracção sobre infracção do Acto Addicional, e no entanto o Sr. Deputado acha que a Camara foi muito bem dissolvida. Eu intenderia que sim, seria da opinião do meu illustre Collega, se o Ministerio que lançou mão do Acto Addicional, tivesse bastante paciencia e resignação para ouvir a sentença do paiz. Mas o que fez o Ministerio? A capitalisação encalhou na Camara, a capitalisação foi rejeitada por um numero maior de votos do que a Proposta da amortisação; o Governo recorreu a quantos meios pôde recorrer para que a Junta do Credito capitalizasse, a Junta resistiu até certo tempo; mas não sei como é que o Sr. Ministro da Fazenda teve a magia de abrandar o Saul irritado da Junta do Credito Publico, e aquelle Ferrabraz (Riso) que parecia querer engolir o mundo, e que dias antes n'um requerimento do Sr. Pastor e dos possuidores dos titulos da divida fundada linha escripto «Não posso passar as cautellas, porque o Decreto de 3 de Dezembro depende da Sancção do Corpo Legislativo» cedeu depois que o Sr. Ministro da Fazenda teve a idéa luminosa de crear a Secretaria das Obras Publicas; creação que mostra a sagacidade e o tino politico de S. Ex.ª que veiu acabar com muitas resistencias, porque satisfez muitas pretenções, alisou muitissimas difficuldades; prebenda magnifica, sinecura escandalosa, que converteu certos opposicionistas em eunuchos ministerialissimos. A Secretaria das Obras Publicas teve a habilidade de dar força de Lei, conforme annuncia agora a Junta do Credito Publico, a um Decreto quando dias antes essa mesma Junta tinha dito — Não o posso cumprir, porque depende da Sancção do Corpo Legislativo!.. Sr. Presidente, não paro por mais tempo diante de um espectaculo ião hediondo! Tenho nojo, e opprime-me a vergonha quando vejo homens publicos e de idade madura procederem tão pouco dignamente.

Sr. Presidente, não seria eu Ministro da Fazenda, mas se a boa ou má estrella deste paiz me levasse áquellas cadeiras (as do Ministerio) e intendesse que devia publicar o Decreto de 3 de Dezembro, e que devia capitalisar quatro semestres, a Junta havia de me capitalisar os quatro semestres sem eu empregar ninguem nas Obras Publicas; havia de capitalisar, porque o Governo na minha mão seria o Poder, e o Poder seria a foiça. Não havia de ter só idéas, como disse o Sr. Ministro da Fazenda, havia de ler mais que idéas, havia de ter vontade tenaz e energica para pisar e esmagar aos pés todos aquelles que contrariassem e se oppozessem a uma medida, da qual eu fizesse depender a salvação do meu paiz (Apoiado do Sr. Ministro da Fazenda) Mas o Sr. Ministro da Fazenda o que fez? Disse — Tive idéas. Mas não tive vontade para sustentar essas idéas, porque o Decreto de 3 de Dezembro esteve um anno sem ser cumprido; S. Ex.ª é que nos póde contar por que arte magica abrandou a irritação dos Paladinos da Junta; é um segredo que o Sr. Ministro da Fazenda nos deve revelar. S. Ex.ª abrandou-os, eu não procederia assim; havia de fazer cumprir o Decreto do 3 de Dezembro ainda que tivesse de inverter em Inscripções de 1 por cento os Membros da Junta do Credito Publico (Risadas).

Sr. Presidente, fallo com a mais ingenua franqueza; a minha organisação não é dominada por odio, no meu coração não se alverga nem por minutos o rancor, não tenho nenhum sentimento de aversão contra os Srs. Ministros, de SS. Ex.ªs tenho só recebido attenções e delicadezas; mas se ha no Ministerio algum Cavalheiro por quem eu tenha sympathia, é o Sr. Ministro da Fazenda. S. Ex.ª pela sua idade merece-me mais consideração que os homens encanecidos no chamado serviço publico, e que não têem assignalado a sua carreira senão por actos nocivo» ou estereis, homens que compõem um arruamento fastidioso, sem merecimentos que fascinem, sem abnegações que penhorem, sem dedicações que enthusiasmem. Se procuro os seus Escriptos, não sei aonde escreveram; se procuro as suas obras, não as vejo; se procuro as suas acções, não me prostro adiante dellas; homens, Sr. presidente, que o acaso elevou, porque tambem a palha sobe muito alto ás vezes, para pouco depois se sumir, ou caír enterrada nos lamaçaes.

Mas o Sr. Ministro da Fazenda, é necessario fazer-lhe justiça, apezar de se atirar pelo declive dos arrojos e dos precipicios, tem nos seus defeitos qualidades que os outros não têem nas suas apreguadas virtudes; o Sr. Ministro da Fazenda até subjuga pela franqueza da sua vaidade. (O Sr. Ministro da Fazenda — Obrigado — Riso).

Senhores! Tive a infelicidade de por mais de uma vez declarar nesta Camara que a minha opposição cia systematica e acintosa; a Camara ouviu indignada esta tremenda heresia. Confesso que se reprovar tudo não é bom, approvar cegamente tudo não é máo, n maioria deve concordar neste ponto comigo. estou prompto a entrar numa composição com a maioria; no momento em que a maioria rejeitar qualquer Proposta do Governo, eu comprometto-me a approvar no dia seguinte outra Proposta. (Riso) Se a maioria não acceita este meu accordo, se é systematica e acintosa no seu ministerialismo, permitta que eu tambem o seja na minha opposição. Pois a maioria quer o monopolio do systema e acinte para si só! Offereço vos um documento da minha condescendencia: no dia em rejeitardes uma medida do Governo, eu comprometto-me a votar por outra no dia seguinte. Ja vê a Camara que não sou tão intractavel como me julga.

O Sr. Ministro da Fazenda respondendo ao meu illustre Amigo o Sr. Carlos Bento disse que não tinha destruido o Credito; mas, Sr. presidente, esta asserção do Sr. Ministro pode ser um bom desejo, mas não é um facto; porque a realidade é que o Credito da nossa praça é muitissimo pequeno, e por que não posso considerar Credito os pagamentos em dia. Estamos em grande erro quando julgamos que os pagamentos se fazem em dia, estamos enganados, Senhores, os pagamentes fazem-se em dia apenas em Lisboa e Porto, nas outras terras ha atrazo e atrazo grande.

Mas os pagamentos estão em dia! E por que estão elles em dia, em Lisboa e no Porto? Por que o Sr. Ministro da Fazenda deixou de pagar quatro semestres de juros, appropriou-se de um semestre que havia em dinheiro, fez uma conversão que reduziu os juros na quantia de 300 contos, e com estas re-