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4 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

realmente mais a fazer, na minha resposta, do que agradecer-lhe o seu applauso insuspeito».

Em todo o caso, pela muita deferencia que me merece o Sr. Vellado da Fonseca, não posso ficar só nesta resposta, e desejo que as minhas explicações sejam completas. Oxalá que, d'esta vez, as minhas palavras não soem mal ao ouvido do illustre Deputado, para que neste assumpto se não ergam mais duvidas.

Não tive o prurido de reformar; só tive o que todo o homem publico deve de ter: o desejo de attender a reclamações justas, e, em materia de ensino, o de o melhorar tanto quanto possivel, em harmonia com as forças do Thesouro.

Não se podem satisfazer as aspirações de todos; não se podem satisfazer totalmente as aspirações de um instituto de ensino; porque ás vezes essas aspirações vão alem da possibilidade, e quem legisla tem o dever de ficar nos limites que as circumstancias marcam. (Apoiados}.

O que eu fiz foi proceder nesse assumpto com absoluta e inteira boa vontade, não me inspirando em circumstacias de qualquer ordem, que não fossem orientadas pelos bons desejos de melhorar o ensino universitario.

A Camara sabe que apresentei no anno passado o projecto de lei da reforma da Universidade. Esse projecto, por circumstancias que não vêem a proposito discutir, não pôde ser approvado, e eu entendi dever sobreestar na publicação d'essa reforma, quando mais tarde tive auctorisação parlamentar para o fazer. E não a promulguei, porque entendi que em assumpto de tanta monta, que interessava de maneira tal ao ensino, eu devia proceder prudentemente, cuidadosamente, livre da suggestão perigosa do prurido de reformar. Mas, quando me detinha em meio das minhas intenções, o illustre Deputado, que é membro d'aquella Universidade, sabe muito bem o que se passou então.

Reuniu-se o Claustro Pleno, onde todas as faculdades se fazem representar e onde todos podiam, portanto, apreciar o pensamento da reforma e até o modo de a levar a effeito.

Não solicitei a reunião d'esse Claustro Pleno; elle reuniu-se por iniciativa propria. (Apoiados).

Fez-se a reunião; os professores discutiram e resolveram enviar-me uma delegação sua, composta de 1 lente de cada faculdade.

Por parte da faculdade de philosophia veiu um dos mais respeitados ornamentos do corpo docente da Universidade, o Sr. Dr. Julio Henriques.

Ora, note a Camara. Já antes de ter apresentado á Camara a proposta de lei relativa á reforma do ensino na Universidade de Coimbra, eu tinha, por meio de uma circular, convidado as differentes faculdades a dizerem quaes as modificações, os melhoramentos que mais instantemente se lhes afiguravam convenientes, para que o ensino pudesse acompanhar o movimento evolutivo da sciencia.

Nessa occasião, as differentes faculdades enviaram ao meu Ministerio as suas reclamações, indicando quaes eram os pontos respectivos á leccionação que poderiam ser com vantagem melhorados.

Se eu quisesse fazer questão de palavras com S. Exa., e se tivesse desejo de ficar com o adverbio que tão mal soou ao illustre Deputado, eu diria que a faculdade de philosophia, tendo sido convidada a indicar o que era indispensavel, pediu menos do que eu lhe fiz; e, podia, portanto, sustentar que tinha satisfeito completamente as reclamações d'aquella faculdade.

O Sr. Vellado da Fonseca: - V. Exa. deve lembrar-se da recommendação que fez áquella faculdade, de que fosse moderada nos seus pedidos.

O Orador: - Mas que outra recommendação lhe podia eu fazer que mais acommodada fosse não só aos interesses da Universidade, como aos interesses do Thesouro?

O illustre Deputado desejava a perfeição.

Se nenhum de nós é perfeito, como é que pode ser perfeita qualquer criação nossa?

Eu fui até onde as condições actuaes o permittiam.

Foi ouvida, portanto, a faculdade de philosophia, como o foram todas as outras, antes de apresentar a minha proposta de lei, ,e ella pediu aquillo que no seu criterio justo entendeu ser mais indispensavel, e mais do que isso lhe foi attendido.

Não passou nas Côrtes essa proposta pelas razões a que já, ha pouco, alludi.

Reuniu-se o Clautro Pleno, e cada uma das faculdades discutiu o assumpto e assentou numa resolução, que era a de me vir pedir que pusesse em discussão o projecto que apresentara ás Côrtes, com algumas modificações, que entretanto se tinham podido ajustar.

Veiu, como disse, por parte da faculdade de philosophia o Sr. Dr. Julio Henriques, assim como varios representantes, tambem dignissimos, por parte das outras Faculdades.

Ouvi-os, com a consideração e a deferencia que devia usar para com tão auctorizados representantes do primeiro estabelecimento de ensino do meu país, e tive o cuidado de, a cada um d'elle de per si, em relação á faculdade que representava, perguntar se, attendendo ás reclamações que estavam feitas, e publicada a reforma como estava redigida, eu satisfazia ás differentes faculdades no que ellas entendiam justo, necessario e conveniente para o ensino.

Cada um d'elles, a começar pelo Sr. Dr. Julio Henriques, disse-me que a sua faculdade ficava satisfeita, desde o momento em que publicasse a reforma nos termos em que estava redigida. (Vozes: - Muito bem).

Pode ter havido má interpretação minha em referencia ás reclamações que me foram feitas, e, publicada a reforma, pode ella não corresponder nos seus termos aos desejos manifestados pelas differentes faculdades?

Mas, se assim succedeu, o que era natural era que alguma reclamação sobreviesse, e não só nenhuma reclamação foi apresentada, como, em vez d'isso, tive a satisfação de receber de novo no meu gabinete os representantes das differentes faculdades, apresentando-se, por parte da de philosophia, por não poder vir o Sr. Dr. Julio Henriques, o Sr. Dr. Sousa Gomes, que é tambem um lente considerado d'essa faculdade, trabalhador, intelligente e que bem merece do conceito de todos.

E, porque já então eu tinha tido a honra de, nesta casa do Parlamento, responder ao Sr. Egas Moniz, e porque já então tambem, em virtude da minha resposta, o Sr. Vellado da Fonseca mandara uma nota de aviso previo para a mesa, vindo, por esta razão, uma duvida ao meu espirito, sobre se eu não interpretaria com justeza o sentido da faculdade de philosophia, perguntei ao Sr. Dr. Sousa Gomes se na reforma que estava publicada, cujos termos eram conhecidos, eu satisfazia effectivamente e por completo as reclamações que me tinham sido feitas, moldadas pelos limites das circumstancias de occasião; e o Sr. Dr. Sousa Gomes affirmou-me que sim.

Já S. Exa. vê que, neste assumpto, em que S. Exa. é mais entendido do que eu, porque é um lente intelligente, estudioso, dedicado da faculdade de philosophia, a que eu sou estranho, a reforma, no dizer auctorizado dos seus collegas, satisfez de facto ás mais instantes reclamações.

Não poderia ir mais longe? Quer isto dizer que as aspirações da faculdade de philosophia, no que toca á remodelação do ensino, á applicação das lições praticas, não podiam ser mais completamente satisfeitas?

Talvez, e eu sou o primeiro a reconhecê-lo; mas o que quis dizer é que, no momento, eu concedi mais de que me era pedido; e, em todo o caso, tanto quanto foi necessario para satisfazer ás reclamações que me eram dirigidas. (Apoiados).