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6 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

necessarios para a sua conveniente reparação, e por isso tudo tem chegado a um tão deploravel estado que, o que antes se fazia, com uma despesa relativamente pequena, terá hoje de absorver fatalmente capitaes de uma certa Importancia, se não quisermos ver paralysado o movimento commercial d'aquella, fertilissima região.

Consta-me que S. Exa. o Ministro das Obras Publicas tenciona realizar uma operação financeira, para fazer face á reparação das estradas, visto o Governo ter exhaurido todos os recursos do Thesouro, numa applicação bem diversa da que mereciam.

Se assim é, peço a S. Exa. o faça quanto antes e applique essa somma unica e exclusivamente na reparação das estradas, não acompanhando os seus collegas no pessimo systema administrativo, seguido até aqui, qual é o de antepor á dotação do material, o prurido de alargamento de quadros e augmento de vencimentos, sob pretexto de reorganização de serviços.

O mal que aponto é gravissimo, e, se se lhe não der remedio prompto, pode vir lançar uma maior perturbação no nosso meio economico, tão combalido no momento actual.

O que se dá no Algarve succede naturalmente no resto do país, e, a continuar tal desleixo, veremos em breve completamente inutilizados 11:000 kilometros de estradas, que tantos sacrificios custaram ao país.

Não regatearei louvores a S. Exa. se encarar este importantissimo problema com firmeza e vontade decidida de deixar assignalada a sua passagem pelas bancadas do poder, com uma medida de tão incontestavel alcance e valia.

O Sr. Presidente: - Faltam apenas 5 minutos para se entrar na ordem do dia.

O Orador: - Vou ser o mais breve possivel.

Raras vezes falo nesta casa, e quando o faço é sempre com pouco tempo, o que aliás é bom para mim e sobretudo para a Camara.

Passo agora a tratar de uma das grandes aspirações da região do sotavento do Algarve; refiro-me á construcção do caminho de ferro de Faro a Villa Real de Santo Antonio, linha que desde ha muito devia estar construida, para se poder considerar attingido o terminus natural do caminho de ferro do Algarve.

Infelizmente não succede assim, e foi necessario que Suas Magestades se dignassem honrar aquella provincia com a sua visita, para que o Governo de então mandasse proceder aos estudos do caminho de ferro a Villa ReaI de Santo Antonio, e construcção do pequeno troço de Tunes a Portimão.

O Governo mandou proceder a esses estudos, e em 16 de janeiro de 1898, o Conselho de Administração dos Caminhos de Ferro apresentava dois traçados para a saida de Faro: um, contornando a cidade, em curvas apertadas de 250 metros de raio; outro que, partindo da estação de Faro, ia ao sopé do castello, deixando uma doca, e para o serviço d'esta, uma ponte movel de 6 metros de vão. O Conselho Superior de Obras Publicas, em consulta de 14 de março de 1898, foi de opinião unanime a favor d'esta ultima solução, e o Governo progressista, que então estava no poder, reconhecendo as vantagens que para o Estado adviriam do maior movimento que esta linha havia de ter logo que attingisse o seu terminus natural - Villa Real de Santo Antonio - deliberou dar começo immediato aos trabalhos, embora lentamente, devido aos poucos recursos que o Thesouro podia dispensar.

Caindo a situação, ficavam parados os trabalhos, com grande surpresa minha e de todos os que conhecem a importancia extraordinaria que d'esta linha adviria, não só ao Algarve em particular, mas ao Estado em geral.

Tratei, pois, de inquirir a causa, podendo averiguar que a Camara Municipal de Faro havia reclamado contra a directriz do caminho de ferro, porque ia perigar a hygiene da cidade! Era a corporação administrativa que intervinha nas condições technicas do traçado!!

Allegava a douta corporação as grandes despesas que acarretaria a ponte movel, e pedia estudo de uma variante que, obrigando a uma reversão, fizesse passar a linha ao norte da cidade.

E fazia estas indicações relativamente a uma obra, no estudo da qual estavam homens technicos de tão reconhecida competencia!

S. Exa. o Ministro, muito preoccupado, mandou ouvir o Conselho de Administração que, como era natural, respondeu que sem o estudo da variante, não podia fazer o confronto entre os dois traçados, embora a priori lhe repugnasse a reversão que difficulta extraordinariamente o movimento e esta condemnada em toda a parte.

A variante foi repudiada pelo Conselho Superior de Obras Publicas, porque não constituia nenhuma vantagem, visto que tinha uma rampa enorme e ia causar grande aumento de despesa! (Apoiados).

Mas o Sr. Ministro, como habil politico que é, não quis assumir a responsabilidade de uma prompta solução.

Como uns queriam a reversão, e outros a linha directa, lembrou-se S. Exa. da nomeação de uma commissão, composta de Pares, Deputados, e dos engenheiros os Srs. Justino Teixeira, Fernando de Sousa e Joaquim Pires de Sousa Gomes; os dois primeiros, membros do Conselho de Administração, e o ultimo, um dos mais distinctos algarvios.

Quando tive conhecimento d'esta commissão, desanimei, porque notei que representava apenas um expediente dilatorio da parte de S. Exa. o Ministro. A commissão era numerosa, era boa para embaraçar o serviço - E alem d'isso composta de algarvios, que tão conhecida fama teem de faladores.

Esperava S. Exa. que a naquella proverbial dos meus conterraneos fizesse com que as sessões se prorogassem e não se chegasse a uma solução definitiva! Não succedeu assim. O Algarve deu uma lição de moderação e de protesto!... Hora e meia depois de terem reunido, eram tão infundadas as reclamações da Camara de Faro e tão sem razão a sua argumentação, que, á vista de uma exposição erudita do Sr. Fernando de Sousa, se resolveu que a linha seguisse a directriz fronteira a Faro, direita ao sopé do castello, e, o que, é mais importante, para os povos de Sotavento, que a construcção se fizesse immediatamente, insistindo com o Governo para que a linha attingisse o mais rapidamente possivel o seu terminus natural - Villa Real de Santo Antonio. (Apoiados).

A commissão foi mais longe; avançou que era absolutamente inadiavel a construcção d'esta linha ferrea, que é uma das mais importantes do país, como S. Exa. o Ministro não ignora.

S. Exa. não o pode ignorar, porque alem de ser um engenheiro distinctissimo, tem o seu nome ligado ao estudo de um traçado de caminho de ferro do Faro a Villa Real de Santo Antonio, e hoje devo ter a mesma opinião que tinha então, de que este caminho de ferro, não só é de uma grandissima importancia, pela fertilidade da região que atravessa, mas pelo desenvolvimento que ha de trazer ao commercio externo, pois logo que esteja construido, far se ha a ligação de Gibraleon com Ayamonte, porto fronteiro a Villa Real de Santo Antonio, tornando se assim internacional e trazendo a esta linha o trafico da Andaluzia, que hoje se faz por Badajoz com muito maior dispendio de tempo e dinheiro. As despesas que se fizerem hão de ser bem compensadas, e é exactamente o caso em que se podem e devem aconselhar aos Governos porque são largamente reproductivas. Isto é de tal natureza que até o meu illustre collega o Sr. Oliveira Mattos, que vota contra todos os augmentos de despesa, não votará decerto contra este.

Esta é d'aquellas despesas que honram os Ministros que as propõem, e não será um encargo para o Thesouro,