690 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
Bem sei que Grevy caiu... mas quererão com isso significar que o impelliu á queda a campanha da diffamação? Terão os illustres deputados, que me interrompem, os intuitos de affirmar, que foi a diffamação, a campanha do descredito, justificada ou não, que derribou o presidente da republica franceza? n'esse caso, não me apresentem corno modelo instituições, que não sabem, ou não podem resistir aos impulsos da calumnia triumphante. (Apoiados.)
Não me parece, pois, que o governo tenha a preoccupar-se muito cora estas intimações, que todos os dias lhe silo feitas, para abandonar o poder. O governo, pelo contrario, devo manter-se no seu posto de honra, porque peior que a diffamação, peior que ti propaganda do descredito, seria a saneio do precedente. (Apoiados.)
O governo deve ficar, e ficará, porque é necessario desterrar, de uma vez, a lenda falsa ou verdadeira, que uma agitação artificial qualquer, um tumulto qualquer, é indicação constitucional para derribar situações e elevar outras. (Apoiados.)
O governo deve ficar, porque é necessario desenganar, que e impotente a politica da intimidação e da ameaça. (Apoiados.) O governo deve ficar, porque a historia convenceu a todos, quanto foi funesta a queda do governo progressista em 1881, por inopportuna e precoce. (Apoiados.)
O governo deve ficar, porque ninguem duvida quanto custou em atrazo financeiro e reorganisação administrativa e politica a queda da situação em 1881. (Apoiados )
E deve ficar, porque comprehende as suas responsabilidades, e porque a sua queda n'estas condições seria o triumpho da desordem, e na sua queda iria o desprestigio das instituições.
Tenho concluido.
Vozes: - Muito bem, muito bem.
(O orador foi comprimentado por muitos srs. deputados e pelos membros do governo.)
O sr. João Pinto dos Santos (sobre a ordem): - Pedi a palavra no projecto de resposta ao discurso da coroa, porque, tendo-se inscripto d'este lado da camara oradores de todos os partidos, e sendo ou membro do partido a que pertence o digno par do reino o sr. Vaz Preto, não queria que se suspeitasse que o silencio d'este partido n'esta camara podia significar que não estava de accordo com os outros na guerra à outrance ao governo. (Apoiados.)
As opposições, seja qual for o seu ideal, sejam quaes forem os seu principios, na guerra ao governo estão todas colligadas, e dão logo combate no projecto de resposta ao discurso da corôa, que, constitucionalmente, é a primeira questão a discutir-se e aquella em que se aprecia toda a responsabilidade politica do gabinete (Apoiados.)
Dito isto, tenho muito prazer em responder ao sr. Eduardo José Coelho, que é um orador distincto, e senti sómente que s. exa., que tinha grangeado no parlamento a fama de um orador enthusiasta o apaixonado, d'esta vez não quizesse pôr o seu enthusiasmo e o seu sentimento a favor do governo e preferisse fazer um discurso didactico e doutrinario, que realmente póde considerar se como a condemnaçãs dos actos ministeriaes. (Apoiados.) Se s. exa. pozesse a sua eloquencia apaixonada em defeza doa actos do governo ainda mostrava assim alguma fé, alguma crença na bondade das medidas decretadas pelo partido em que milita; mas criticando a frio c como um professor escalpellisando todos os actos do partido regenerador com respeito a bispos, parece que s. exa. procurou fugir á discussão da marcha governativa para fazer recriminações aos seus adversarios; parece que o seu intento visava a deixar no escuro os actos do governo que se propunha defender. (Apoiados.)
Respondendo ao distincto orador que me precedeu, começo pelo primeiro ponto em que s. exa. tocou.
O sr. Lopo Vaz, leader da opposição regeneradora, quando se referiu á creação de cinco penitenciarias, fel-o
incidentalmente, e nem por sombras quiz emittir uma opinião hostil a esses estabelecimentos: simplesmente ponderou que nas circumstancias que o thesouro atravessa não lhe parecia occasião opportuna para fazer essas penitenciarias. Nunca podia suppor-se que s. exa. hostilisasse quaesquer reformas das prisões, porque a nossa legislação deve lhe incontestavelmente a reforma do ultimo código penal que s. exa. promulgou. (Apoiados.)
Depois o sr. Eduardo José Coelho disse que o sr. Carlos Lobo d'Avila, meu amigo e antigo condiscipulo, tinha feito um discurso primoroso em defeza do governo. Eu concordo com a. exa. que foi primoroso, como é tudo que é obra d'aquelle illustre parlamentar, porque é um dos membros mais importantes da camara e dos oradores mais distinctos d'este paiz; (Apoiados.) mas o discurso de s. exa. foi de finissima opposição. (Apoiados.) Desde que o sr. Lobo d'Avila declarou que não hypothecava o seu voto a nenhum ministro, e desde que n'uma questão importante que o outro dia se discutiu, se retirou da sala para não votar, parece que não se collocou ao lado do governo. (Apoiados.)
Se todos os membros da maioria procedessem como s. exa. o governo n'aquella coujunctura tinha-se encontrado ao lado dos seus amigos, mas lá fóra nos corredores, (Riso.) Se isto realmente é ser ministerial, e se a attitude que a maioria tornasse em frente do governo fosse esta, então o governo via-se forçado a sair dos bancos do poder, porque não tinha nem se quer quem lhe votasse uma moção de confiança, nem quem sustentasse os actos que por parte da opposição provocavam algum debate.
Pois se os oradores ministeriaes fallarem e procederem como o sr. Carlos Lobo d'Avila, hão de fazer muito bem ao governo! (Apoiados.)
Mas não foi só n'este ponto que s. exa. foi amavel com o governo: foi-o em muitos outros.
S. exa. declarou que a situação financeira não era tão prospera, como a pinta o sr. presidente do conselho. (Apoiados.)
S. exa. não se mostrou muito admirado com todas as habilidades do sr. Marianno de Carvalho e disse muitas cousas que contrariam as affirmativas do sr. presidente do conselho, (Apoiados.) e as de muitos oradores da maioria. (Apoiados.)
Ora se chamam a isto ser ministerial, então o governo que se applauda por ter quem lhe dê assim o seu voto e ponha a sua palavra a defendel-o d'esta forma. (Apoiados.)
O sr. Eduardo José Coelho fallou depois nas retaliações dos partidos, e declarou que este processo não podia deixar de se pôr em pratica, porque era necessario conhecer as discussões parlamentares para bem se interpretarem as leis e era indispensavel estudar os precedentes dos partidos para bem se apreciarem as suas medidas.
Se o processo das retaliações significasse simplesmente isto, eu applaudiria s. exa., porque eu queria que aquillo que se affirmava quando se era opposição, fosse posto em pratica quando se fosse poder (Apoiados.) Queria que as investigações archeologicas feitas no Diario do governo servissem como arma de combate contra os que rasgassem os seus principios anteriormente sustentados; mas as retaliações, que se invocam, não são d'estas, são differentes. (Apoiados.)
Retaha-se, como retaliou hoje o sr. Eduardo José Coelho, quando, pretendendo defender os actos do sr. ministro da justiça, accusou os actos do sr. Lopo Vaz. (Apoiados.)
Os actos do sr. Lopo Vaz não estão em discussão; (Apoiados) já foram discutidos, e até por individuos pertencentes ao mesmo grupo, como foi o sr. Julio de Vilhena. (Apoiados.)
Portanto, o que se deve discutir agora são os actos do governo, e os precedentes dos regeneradores não poderá