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SESSÃO DE 6 DE MARÇO DE 1888 695

porque lembrar-me-ía certamente de uma regra que por muitas vezes tenho visto esquecida, que e aquella regra do esto brevis et placebis, e ainda porque tambem sei, que quanto mais tempo mo demorar faltando, mais ficaria provada a minha insufficiencia. Tomarei por isso pouco tempo á camara e tratarei simplesmente de fazer algumas considerações com relação ás aggressões que têem sido feitas ao governo, e ao modo como os illustres oradores da opposição parlamentar têem discutido o parecer da commissão de resposta á mensagem da corôa.
Alegra-me realmente ver em frente de nós uma opposição tão numerosa, illustrada e energica; o governo certamente ha de alegrar-se com isso, e deve tambem alograr-se o paiz, porquanto uma opposição assim, é um penhor de bom governo no presente o no futuro.
No presente, porque os ministros que hoje se assentam n'aquellas cadeiras, certamente serão mais cautelosos nos seus actos, e ao mesmo tempo seguirão os bons conselhos dos amigos; no futuro, porque esta opposição que ali está, ha de estar no poder amanhã, indo por consequencia dotar o paiz com um governo forte, e capaz de fazer aquillo que nós porventura não podemos fazer.
E para isso que s. ex.as estão na opposição, não estão para outra cousa.
Quando se está na opposição, não se está senão preparando para ser governo.
E, ao mesmo tempo que me alegro em ver uma opposição tão violenta, tão energica e tão illustrada, permittam-me s. ex.as que lhes diga que me entristeço ao ver que ella está possuida de uma certa inquietação e impaciencia, que lhe tem sido prejudicial.
Eu não sou um antigo parlamentar, mas sou um homem velho; e se a idade fosse por si bastante para dar direito a dar um conselho, eu diria á illustre minoria parlamentar que uma das maiores virtudes que póde ter um homem politico é saber esperar; e portanto direi á illustre opposição que espere, mas que saiba esperar; acceite as lições da experiencia e aproveite até mesmo os erros que o governo possa praticar, para, quando for governo, não cair em erros iguaes. Não aconteça o que aconteceu em 1881. V. exa., sr. presidente, lembra-se bem de que em 1881 a opposição parlamentar tambem foi inquieta e impaciento; e depois, o que lhe aconteceu?
O governo progressista demittiu-se; veiu um ministerio regenerador; quando nós lhe perguntavamos, não de onde vinha, porque bom o sabiamos, mas para que vinha, o ministerio respondeu pela boca do sr. Lopo Vaz que não tinham um pensamento collectivo, que não tinham systema algum, precisavam ir estudar, e por isso íam decretar o adiamento da camara.
Eu então disse lhes aqui: o paiz, não precisa de ministros que estudem, precisa de ministros que saibam.
Mas como não se tratava de dar ao paiz aquillo de que elle precisava, decretou-se o adiamento Depois, quando se abriu novamente a camara, apresentaram-se aqui sem terem estudado nada.
E o que fizeram?
Pediram-n'os a lei de meios para governar. Nós votava-mos ainda mais do que isso! Votava-m'os-lhes o orçamento, cuja discussão já ia adiantada, mas não quizeram.
Quizeram apenas a lei de meios, para d'ahi a poucos dias se constituirem em dictadura
Eu trago este facto porque vi os illustres deputados da minoria fazerem ainda da dictadura um ponto de accusaçção contra o governo
Trago para aqui tambem esta dictadura, porquanto a dictadura póde ser um grande mal e póde ser um grande bem.
Em todo o caso a dictadura justifica-se pela necessidade, justifica-se pelas circumstancias.
Têem havido dictaduras de conquistadores, dictaduras de restaurador es e dictaduras de pacificadores; mas aquella a que me refiro, a de 1881, foi, permitta-se-me a expressão usada nas academias, foi a dictadura dos cabulas. (Riso.)
Agora o governo foi accusado por ter feito dictadura j e accusado por quem?
Exactamente pelos dictadores anteriores: pelo sr. Dias Ferreira, que folgo de ver presente, e pelo sr. Lopo Vaz.
Ambos estes cavalheiros foram dictadores; mas em que circumstancias? That is the question. Esta é que é a questão.
Póde alguem justificar a dictadura de 1881? «Não póde. (Apoiados.)
As circumstancias não a justificam, emquanto que as circumstancias em que o governo actual fez dictadura, justificam-a completamente.
Eu pediria ao sr. Dias Ferreira, que me dissesse simplesmente, com aquella imparcialidade com que s. exa. só apresenta n'esta casa, ou pelo menos com que diz que se apresenta, pediria a s. exa. que me dissesse se, sendo chamado ao poder na occasião em que foram chamados os actuaes ministros, s. exa. acceitaria o poder sem a condição de fazer dictadura!
S. exa. conhece perfeitamente as circumstancias que se davam; sabe que o governo regenerador, já gasto e muito gasto, teve de deixar o poder; o em que circumstancias?
Qual era o estado da fazenda publica?
Qual era o estado da administração?
Era possivel a um governo qualquer, que não fosse regenerador, governar sem dictadura?
A um governo, que não fosse regenerador, era impossivel governar, não digo já um anno ou dois, mas alguns mezes, sem fazer dictadura. S. exa. ha de concordar com isto.
V. exa. ha de convir que ora inteiramente impossivel.
Mas estes dictadores depois o que foram? Uns despotas, e primeiro que tudo uns imprevidentes e uns esbanjadores; abusaram do poder e desperdiçaram os dinheiros publicos.
Não poderam reprimir a desordem, e os illustres deputados da opposição que encetaram o debate, principiaram até por intimar o governo a que saisse já d'aquellas cadeiras, porque não poderá manter a ordem, etc.
E é notavel que na occasião em que havia alguns tumultos no reino, estes cavalheiros apresentaram se aqui e diziam ao governo: «sáia d'ahi porque ha tumultos!» Mas é exactamente o contrario d'aquillo que deviam fazer. (Apoiados)
Os deputados da opposição, quando ha tumultos, unem-se ao governo para restabelecer a ordem e depois de restabelecida, chamam o governo á responsabilidade; assim é que tem feito, assim é que se faz em todos os outros parlamentos. (Apoiados.)
Houve tumultos, dizem os illustres deputados, e o paiz está agitadíssimo? Oh! senhores, eu olho para todo o paiz com muita attenção, e não diviso symptoma de agitação.
Pergunto, quem é que está agitado no paiz? Está agitada a opposição parlamentar, a imprensa, e nada mais: a opposição parlamentar está agitada aqui no parlamento, porque lá fóra os srs. deputados vivem muito tranquillos, sem inquietações, e cumprindo em santa paz os seus deveres civis e religiosos. (Apoiados.)
Não ha tal agitação.
Houve. Mas ,porque houve os tumultos? No Pombal, por exemplo, houve tumultos por causa do inquerito agricola. Mas então os illustres deputados viessem aqui e Dissessem: «O inquerito agricola é uma cousa muito má, o povo não póde soffrer o inquerito agricola, que é uma iniquidade, uma injustiça que ao povo se faz; o povo já reclamou contra elle, o povo já representou ao governo, ao parlamento e ao chefe do estado contra o inquerito agricola, mas foi desattendido e por consequencia revol-