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SESSÃO DE 12 DE JUNHO DE 1890 651

porque desejava limitar-se a pouco mais que dirigir umas perguntas ao governo, e que estavam no espirito de todos.
Antes, porém, de fazer essas perguntas, desejava fazer uma declaração ácerca do proceder da opposição parlamentar na sessão nocturna de hontem.
Não fora o receio dos trabalhos parlamentares, nem as irregularidades que se deram na sessão diurna, que a forçaram a assim proceder; mas porque, tendo o sr. ministro da marinha declarado que estava á espera de informações, entendia que se lhe devia dar tempo para que elle as recebesse e as podesse dar á camara.
Declara que a opposição não pronunciara palavra alguma de menos respeito para com o sr. presidente, por quem tinha a maior consideração.
A todas as perguntas que se faziam ao governo, este respondia que nada sabia, que nada podia dizer, e agora o sr. ministro dos negocios estrangeiros arranjara uma outra phrase, que era a seguinte: ponho a questão politica, ponho a questão de contiança.
Pedia ao sr. ministro da marinha que d'esse á camara as informações que tinha recebido com relação aos acontecimentos do Chire, o quaes as providencias que tinha tomado.
(O discurso do sr. deputado será publicado na integra, e em appendice a esta sessão, quando s. exa. o restituir.)
O sr. Ministro da Marinha (Julio de Vilhena): - Sr. presidente, recebi do governador de Moçambique dois telegrammas. Um foi recebido ao meio dia e refere-se a assumpto diverso d'aquelle de que a camara se está occupando, e o outro foi-me entregue agora ao entrar nesta casa. Ignoro ainda o assumpto de que elle trata, porque, como o illustre deputado muito bem sabe, estes telegrammas vem em cifra.
Mandei buscar a cifra, e daqui a algum tempo, meia hora, talvez, poderei informar o illustre deputado e a camara sobre se o telegramma se refere ao assumpto que nos occupa.
E com relação a este ponto é o que tenho a dizer.
O sr. Carlos Lobo d'Avila: - Creio que interpreto os sentimentos de toda a camara, fazendo o requerimento que vou formular.
Nós não podemos entrar n'outros assumptos, estando este pendente; (Apoiados.) e, como o sr. ministro da marinha disse que d'aqui a meia hora nos poderá informar, eu requeiro que seja consultada a camara sobre se quer que a sesaão se interrompa até o sr. ministro da marinha poder dar as informações a que se referiu.
O sr. Presidente: - Vou consultar a camara sobre o requerimento do sr. Carlos Lobo d'Avila.
A camara resolveu que fosse interrompida a sessão.
O sr. Presidente: - Está interrompida a sessão.
Eram tres horas.
Ás tres horas e vinte minutos continuou a sessão.
O sr. Presidente: - Tem a palavra o sr. ministro da marinha.
O sr. Ministro da Marinha (Julio de Vilhena): - O telegramma que recebi não se refere ao assumpto de que se trata, refere-se a um assumpto diverso; refere-se a uma ordem de serviço.
Eu podia dizer ou não dizer á camara qual é o assumpto d'este telegramma, porque elle se refere apenas a uma ordem de serviço, mas vou dizel-o.
Tinha eu dado ordem para Moçambique a fim de que partisse um certo numero de praças para fazerem serviço em Angola, e o telegramma diz-me que ellas não podem partir por causa do temporal no cabo da Boa Esperança.
É o que tenho a dizer.
O sr. Ressano Garcia: - Não ouvira o sr. ministro da marinha ler á camara o telegramma que recebera, do governador geral de Moçambique; mas constava-lhe pelos seus collegas que elle não se referia aos acontecimentos do Chire.
Achava extraordinaria a situação do governo, não tendo mais informações do que aquellas que tinha toda a camara, e que tendo a noticia dos acontecimentos do Chire sido publicada nos jornaes de terça feira á tarde o governo ainda não tivesse informação official.
A opposição refreara a justa anciedade que tinha de conhecer o estado das negociações com a Inglaterra, para não crear num a menor difficuldade á acção do governo, para não suscitar nem sombra de um pretexto com que mais tarde se podesse justificar o mallogro das negociações, mas tudo tinha um limite, e se continuasse n'essa reserva seria um crime de que a nação o não absolveria.
Se o governo tinha responsabilidades a opposição tambem as tinha perante o paiz.
Á tolerancia e proceder correcto da opposição tinha o governo correspondido com o seu proceder menos correcto nas suas relações com o parlamento na questão africana e nas informações deficientes, ambiguas e por vezes contradictorias, que lhe dava.
Os factos que se estavam insistentemente dando na provincia de Moçambique pareciam denunciar um grande cataclismo, que havia de sobrevir mais tarde, da mesma forma que as grandes commoções do globo são denunciadas por pequenos abalos.
Ia expor summanamente quaes tinham sido as relações do governo com o parlamento no que respeitava á questão africana.
Em 17 de março chegava a Lisboa a noticia de que os inglezes haviam occupado a povoação do Chilomo, e a Gazeta de Portugal e todos os jornaes ministeriaes declaravam que o governo não sabia onde era o Chilomo, e que o mandara perguntar ao governador de Moçambique.
Se o governo se tivesse dado ao incommodo de ler o relatorio que tinha em seu poder, do valente explorador Serpa Pinto, já saberia onde ficava Chilomo.
Se o governo não conhecia as peças do processo, como havia de defender os interesses do paiz?
O sr. ministro dos negocios estrangeiros dissera que por parte do governo inglez, se reclamara do portuguez a absoluta manutenção do statu quo, assim como o governo portuguez o reclamava da Inglaterra; mas perguntava: respeitou o governo inglez com a occupaçao do Chilomo o statu quo?
Dissera tambem o sr. ministro dos negocios estrangeiros que entrara como elemento nas negociações o haver com a Inglaterra a livre navegação do Zambeze; mas a Inglaterra mandara já construir uns navios proprios para navegarem n'aquelles rios, e lord Salisbury declarara no parlamento inglez que não julgava a navegação d'aquelles rios exclusiva de Portugal.
Perguntava se com os factos recentes occorridos no Chire, factos que tinha quasi a certeza que eram authenticos, o governo inglez tambem mantinha o statu quo?
O governo, sempre que se fazia qualquer pergunta relativa aos acontecimentos africanos, respondia que nada sabia.
Fora o que se dera quando se lhe pediram explicações ácerca do massacre da expedição Valladim. O sr. ministro da instrucção publica associara se a um voto de sentimento pelo fim trágico dessa expedição, e dias depois o sr. ministro da marinha declarava que não sabia o fim que ella teve.
Já sabia qual era a sorte que esperava a proposta do sr. Navarro, o que elle tambem assignára; já sabia que o governo não discutiria nem ouviria qualquer exposição de factos feita pelo sr. ministro dos estrangeiros, e por isso pedia aos membros do governo e da maioria que fossem coherentes, e que, se não queriam que se discutisse, que se levantasse uma voz no parlamento para tratar esta questão, que não continuasse nas suas provocações.
O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros (Hintze Ribeiro): - Sr. presidente, é tão profunda e tão refle-