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652 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

ctida a convicção das gravissimas responsabilidades que sobre mim impendem, n'este assumpto, que eu calarei o sentimento ardente, o impulso natural e o desejo justificado, de satisfazer a vontade ao illustre deputado, discutindo bem publicamente, bem amplamente, as responsabilidades do governo. (Apoiados.)
Permitia-me, porém, o illustre deputado que lhe diga, sem offetisa, que s. exa. abusa da posição em que o governo está collocado, vendo-se forçado a guardar um silencio - que não é certamente aos seus proprios interesses que especialmente aproveita. (Muitos apoiados da direita.)
S. exa. não ignora, porque as minhas declarações têem sido claras, francas e terminantes, que não ha nem investidas por mais duras, nem aggressões por mais crueis, nem palavras por mais vigorosas, nem reptos por mais energicos, que me possam fazer arredar um apice sequer da posição que tomei. (Muitos apoiados da direita.)
Não ha nem argumentos, nem doestos, nem seja o que for, que me leve a dar explicações extemporaneas ao parlamento, a apresentar documentos intempestivos sobre uma negociação pendente, a proferir qualquer declaração que tenha como contraria e nociva aos interesses do meu paiz.
Não e nunca! (Muitos apoiados da direita.)
Caisse eu ante as mais duras recreminações, desencadeasse-se contra mim uma tempestade medonha, perseguisse-me a indignação do meu paiz e a suspeição dos homens publicos, ferisse-me o anathena da camara - embora! Eu cairia firme e tranquillo na minha conscienci, sobranceiro ás paixões que contra mim só condensassem, desde que a convicção de bem servir o meu paiz me alentasse a dominar as injustiças mais crueis. (Muitos apoiados da direita.)
Diz o illustre deputado que a attitude parlamentar da opposição tem sido correcta e digna, que a opposição tem respeitado a reserva do governo, que não tem provocado discussões que possam ferir qualquer vantagem que da negociação possa resultar para o paiz.
Pois se essa é a attitude nobre, digna e alevantada da opposição parlamentar para que falta agora a ella? (Muitos apoiados da esquerda.)
Pois se essa reserva se impõe, não para salvar a minha responsabilidade individual, mas para não prejudicar as vantagens de uma negociação que está pendente, para que é que a opposição abandona agora essa posição correcta alevantada e digna? (Muitos apoiados da direita.)
E para que é que vem suscitar aqui um debate que, se eu o acochasse em toda a sua plenitude, não sei onde nos levaria, embora o interesse pessoal e partidario me esteja segredando - não ser eu, nem o meu partido, o mais prejudicado? (Muitos apoiados da direita.)
Vozes da esquerda: - Venham os documentos.
O Orador: - Mas então em que ficamos: em discutir ou em não discutir? (Muitos apoiados na direita.)
Se o governo declara que a discussão é inopportuna e prejudicial, para que me dizem: venham os documentos? (Apoiados na direita.)
Uma de duas: ou a dignidade e a correcção da attitude da opposição está em respeitar a reserva do governo, e não pedem os documentos, ou não está, e então para que vêem alardear uma correcção que não mantêem, fazendo titulo do gloria do um commedimento que não seguem?
Disse o illustre deputado: «nós temos guardado silencio, estando sobresaltados, compungidos, cheios do justa anciedade e desejando ardentemente sabor a orientação, o rumo, que têem seguido as negociações com a Inglaterra.»
Permittam-me lhes diga que não fazem mais do que aquillo que um justo patriotismo lhes devia aconselhar.
O sr. Ressano Garcia: - Apoiado.
O Orador: - Mas só isto deve ser apoiado, então para que querem faltar a este principio? (Muitos apoiados.)
Querem sessão secreta! Eu oxplico logo quaes as rasões por ue o governo não deseja a sessão secreta.
Vou contar o que se passou, não ha muitos annos, nem ha muitos mezes, mas até ha muito poucos dias antes do ministerio progressista cair, quando as negociações se perturbaram, quando a linguagem dos jornaes, era Inglaterra, era já ameaçadora, quando a atmosphera estava prenhe de tempestades a desabar sobre o nosso paiz, quando era muito natural e muito justa a anciedade da opposição parlamentar d'aquelle tempo por indagar o que se passava com a Inglaterra, e por saber o que havia e a que resultado podiamos chegar.
Na outra casa do parlamento, a que tenho a honra de pertencer, fazia-se uma interpellação, tão justificada que d'ahi a poucos dias vinha o ultimatum e caia o governo progressista, - pois quando se fazia essa interpellação, eu, - e todos sabem que não era pouco ardente nos meus ataques ao ministerio, eu que não podia ser suspeito de transigir com o governo em desproveito do paiz, ou sequer do meu partido; eu que podia ser por vezes luctador denodado, mas que não era de certo capaz de illudir a missão que me estava confiada, separando-me do meu partido, quando essa interpellação se annunciou, eu a quem todos accusavam de ser demasiadamente energico e até verrinoso, levantei-me para dizer que só o governo era o juiz da opportunidade das suas declarações, e que, qualquer que fosse a minha anciedade por saber o que se passava, se o governo declarava que as negociações estavam pendentes, não podiamos discutir. Para mais tarde reservava o direito de lhe tomar as responsabilidades que lhe coubessem.
Isto fazia eu. Porque não fazem os illustres deputados agora o mesmo?
E porque fazia eu isto? Era para ser agradavel ao ministerio? Não; era porque eu tinha o bom criterio de comprehender que, quando as negociações estão pendentes, não se devem perturbar no parlamento. O echo do que aqui se diz vae reproduzir-se lá fora e isso é prejudicial e nocivo...
O sr. Ressano Garcia: - V. cxa. está confundindo o caso da sessão publica com o da sessão secreta.
O Orador: - E que o illustre deputado esquece-se de uma cousa, e é que foi em uma sessão publica que s. exa. fallou, que s. exa. accusou, que s. exa. fez considerações sobre tudo isto e eu tenho que justificar as rasões por que não acceito o repto do illustre deputado, recusando-me a trazer documentos, para não entrar desde já em mais amplo debate com s. exa.
S. exa. provocou-me, e por consequência preciso mostrar bem claramente ao paiz, que o illustre deputado está no fundo da sua consciencia dando-me rasão.
O sr. Ressano Garcia: - Não dou tal.
O Orador: - Pois tanto peior para o illustre deputado. Eu só queria fazer justiça á sua recta consciencia, ás suas intenções justas, e o muito respeito que tenho por s. exa. é que me levava a acreditar que no fundo da sua consciencia me dava rasão.
Mas, sr. presidente, a opposição tem, ao que parece, movimentos de bom senso parlamentar, respeitando esta reserva do governo, tal qual como alguem póde ter sezões.
Esse bom senso é intermittente.
De vez em quando a opposição esquece o respeito pela reserva do governo, e lança na discussão notas que era melhor callar, como eu provarei em poucas palavras.
Disse o illustre deputado: «Veja a camara; n'este ponto a opposição tem sido correcta e digna, é verdade, mas chegou o momento em que o silencio seria um crime.»
O silencio seria um crime?!... Porque?!... E ácerca de que?!...
Ácerca das negociações com a Inglaterra?!...
Permitta-me o illustre deputado que lhe diga que um verdadeiro crime seria trazer á publicidade negociações que