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654 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Sobre a questão Valladim, o governo deu as explicações que podia dar. Infelizmente as noticias que vieram, confirmaram effectivamente que Valladim tinha sido morto.
Pelo que toca ao intendente geral de Gaza, s. exa. foi cruel e injusto para com o meu collega que foi ministro da marinha. Todos os factos que se relacionam com a questão de Africa, são factos importantes, mas s. exa. foi ministro da marinha...
(Interrupção do sr. Ressano Garcia.)
Mas posso asseverar ao illustre deputado que o intendente geral de Gaza partiu a instancias do sr. Arroyo.
E depois d'isto, s. exa. para justificar as palavras acerbas com que condemnou o meu silencio, perguntou se eu ignorava que o paiz estava realmente sobresaltado, se podia acreditar que o paiz estava contente com a minha declaração attenciosa, desde que assumia inteira e completa a responsabilidade das negociações pendentes, e isto n'uma questão que vae envolver a dignidade do paiz.
Sr. presidente, que o paiz está sobresaltado, não é necessario que o illustre deputado o diga; que é uma questão que affecta a honra e a dignidade nacional, tenho-o sentido muito de perto. (Apoiados.) Apregoar que são altaneiras as declarações que fiz, é desconhecer completamente os espinhos da situação em que me encontro. (Apoiados.) N'esta situação póde haver a necessidade de manter a dignidade do paiz, atravez de tudo, o que nunca póde chamar-se-lhe, porém, é sentimente altaneiro. (Apoiados.)
«Se as negociações se mallograrem, disse s. exa., será votado á execração publica o ministro dos negocios estrangeiros!» Mallograram-se as negociações que duraram uns poucos de annos, mallograram-se quando veiu o ultimatum de 11 de janeiro, e aonde é que está votado á execração publica quem tomou a responsabilidade d'essas negociações?! Se as suas intenções foram correctas e justas, como eu creio, se a bem do paiz envidou todos os esforços a fim de o bem servir e defender, aonde está a condemnação aviltante, que no entender de s. exa. seria o unico meio de castigar?
Disse s. exa. «que eu apaguei o sentimento sympathico que havia por toda a Europa!» Quem o disse? De onde vem a affirmação de s. exa.?
O sr. Ressano Garcia: - Dos factos.
O Orador: - Quem attesta esses factos? Deixe s. exa. apresentar os documentos e s. exa. verá se eu apaguei o sentimento sympathico das outras nações da Europa.
Diz s. exa. que eu tambem alieno o apoio do parlamento. Em que paiz, havendo negociações pendentes e graves, veio um ministro dos negocios estrangeiros dar conta completa ao parlamento do estado dessas negociações e dos seus actos para bazear-se no apoio das camaras? Não tenho conhecimento d'isso. Do que eu tenho conhecimento, na historia politica parlamentar, é de n'uma certa occasião, um ministro dos negocios estrangeiros vir á camara alta do seu paiz expor-lhe as dificuldades com que luctava e pedir-lhe que, sem mais explicações, lhe desse um apoio forte, que significasse o pensar e o sentir geral, que fosse em voto de confiança, emfim.
O que sei é que todos os partidos, ainda os mais hostis, aquelles que faziam opposição mais violenta ao ministerio, todos lhe deram esse voto de confiança. (Apoiados.)
(Apartes.)
N'essa occasião não entrara o governo em promenores, nem a opposição lh'os pediu e reclamou.
Então ninguem ali accusou de menos patriota o ministro por não dar explicações sobre negociações pendentes. Então, quando o ministro chegava á camara e dizia «Nós temos um problema grave, o problema colonial; temos uma questão difficil, a questão de Africa, temos difficuldades graves, são aquellas com que o paiz se vê a braços em frente de uma nação como a Inglaterra e precisâmos, a lima de tudo, salvar os interesses de Portugal.» Então ninguem lhe perguntou mais nada. (Vozes: - Muito bem.)
Não lhe disseram que elle era um falso patriota. Não lhe disseram que elle não conhecia os deveres para com o parlamento, ou as obrigações que lhe impunha o desempenho do seu cargo. Desde o momento que o ministerio affirmára que era necessario salvar os interesses de Portugal, deram-lhe um voto pleno de confiança; não lho regatearam. Não lhe perguntaram a que partido pertencia, nem de que governo fazia parte. Lembraram-se do paiz e de mais nada. (Vozes: - Muito bem.)
É isto o que a opposição parlamentar faz n'este momento, quando me vê a braços com difficuldades que eu não creei? (Vozes: - Muito bem.)
É isto que a opposição parlamentar faz, quando me vê a braços com uma situação grave, melindrosa e difficil, de que eu não tenho responsabilidades? (Apoiados.)
O que fazem os illustres deputados? Vêem porventura dizer-me: «Conte com o apoio da camara dos deputados. Aqui está o nosso voto de confiança; é a traducção do sentir do paiz».
E' isto que fazem? Não.
O que fazem é provocar explicações em que eu não posso entrar; (Apoiados.) é discutir factos que melhor era guardar para mais tarde. (Apoiados.)
Um tal procedimento parece-me que não representa a justa comprehensão e o nobre sentir dos que se interessam pela causa do Portugal. (Apoiados.)
O que têem feito é vir accusar-me pelo que eu não fiz, é lançar-me em rosto responsabilidades que não me cabem, é não me darem esse voto de confiança amplo, generoso, desinteressado, que nós démos ao sr. Barros Gomes. (Apoiados.)
O sr. Ressano Garcia: - Não foi voto do confiança; foi cousa muito differente.
O Orador: - Então o que foi?
O sr. Ressano Garcia: - Foi uma moção em que o parlamento exprimiu o seu sentimento; e nada mais. Não era uma questão politica. (Riso.)
O Orador: - Era uma moção em que representantes dos differentes partidos nos uniamos em causa commum, num só pensar, para affirmarmos aos ministros que então estavam no poder os nossos sentimentos e para que elles levassem o echo da nossa voz até ás potencias estrangeiras, a fim de affirmar o nosso interesse pelos sagrados direitos de Portugal. (Apoiados.)
(Interrupção.)
Votou-a a opposição d'aquelle tempo.
(Susurro.)
O sr. Presidente: - Peço ordem.
O sr. Emygdio Navarro: - Apresente o sr. Pinheiro Chagas uma moção como essa que nós votamol-a. (Apoiados da esquerda.)
O Orador: - Eu por parte do governo acceito a substituição da proposta do sr. Pinheiro Chagas por outra similhante áquella que foi votada ao ministerio progressista, desde que a camara comprehenda que eu não posso dar mais explicações sobre o assumpto.
(Interrupção.)
Então querem por um lado votar-me uma moção que mo invista no dever de traduzir o pensamento e o sentimento do paiz, e querem por outro lado comprometter o resultado d'essa moção? (Apoiados.)
Vozes: - Não senhor, não senhor.
O Orador: - Pois chegámos á moção. Eu declaro que ponho a questão de confiança; não é a questão de confiança partidária, é a questão de confiança independente do partido, no bom exito d'esta causa, quo, pela força das circumstancias, me está confiada. Mais nada. Qualquer moção neste sentido podem os illustres deputados votal-a; era isso que eu queria; era que me dessem força para defrontar o meu paiz, na máxima unanimidade possivel, com a nação com quem negociava. E não me perguntassem mais nada emquanto mais nada podesse dizer.