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SESSÃO N.° 39 DE 2 DE AGOSTO DE 1909 3

ABERTURA DA SESSÃO - Ás 3 horas da tarde.

Acta - Approvada.

EXPEDIENTE

Telegramma

Cortes, Lisboa. - Dignissimo Presidente da Camara dos Senhores Deputados. - Obrigado por motivos de ordem particular a não poder manifestar-me pessoalmente na grandiosa manifestação de hoje, participo, porem, a V. Exa. estar em tudo nella de alma e corpo. = Jaime de Sousa Sabrosa.

Para a acta.

O Sr. Presidente: - Cumpre-me o dever de communicar á Camara o fallecimento do Sr. Antonio Lopes Coelho, antigo Deputado representante da cidade do Porto e presidente que foi da Associação Commercial d'aquella cidade.

Proponho que na acta da sessão de hoje se lance um voto de sentimento por tão infausto acontecimento e se de communicação deste facto á familia do illustre extincto.

O Sr; Presidente do Conselho de Ministros e Ministro do Reino (Wenceslau de Lima): - Sr. Presidente, em nome do Governo associo-me ao voto de sentimento que V. Exa. acaba de propor.

Tive a honra de conhecer o illustre extincto e estar com elle nesta Camara como meu amigo e correligionario, representando a cidade do Porto, onde desempenhou cargos de importancia e onde mostrou dotes de elevada intelligencia, caracter e probidade.

O Sr. Rodrigo Pequito: - Em nome dos meus amigos politicos deste lado da Camara associo-me ao voto de sentimento que V. Exa., Sr. Presidente, acaba de propor.

O Sr. Pereira dos Santos: - Em nome da minoria regeneradora associo-me ao voto de sentimento que V. Exa. acaba de propor pelo fallecimento do antigo Deputado o Sr. Lopes Coelho, que tanto honrou a classe commercial.

O Sr. Moreira Junior: - Sr. Presidente: pedi a palavra para, em nome do partido progressista, que tenho a honra de representar nesta casa, me associar ao voto de .sentimento que V. Exa. acaba de propor.

O Sr. Affonso Costa: - Sr. Presidente: em nome da minoria republicana associo-me ao voto de sentimento proposto por V. Exa. pelo fallecimento do antigo Deputado Sr. Lopes Coelho.

O Sr. Roberto Baptista: - Sr. Presidente: pedi a palavra para me associar ao voto de sentimento proposto por V. Exa. pela morte do antigo Deputado Sr. Lopes Coelho.

O Sr. Presidente: - Não havendo mais ninguem inscrito e em vista da manifestação da Camara, considero approvada a minha proposta.

Tenho tambem que declarar á Camara que recebi duas representações, uma da Junta Liberal e outra da Associação Promotora do Registo Civil, que vão ser lidas:

Leram se.

Vou consultar a Camara sobre se permitte que estas representações sejam publicadas no Diario do Governo.

Foi autorizada a publicação.

O Sr. Presidente: - Vou inscrever os Srs. Deputados que quiserem usar da palavra antes da ordem do dia.

O Sr. Miguel Bombarda: - Sr. Presidente: peço á Camara me seja permittido falar hoje,, não só como Deputado, mas ainda como presidente da Junta Liberal, da associação que, acompanhada pelo povo de Lisboa, acaba de se dirigir ao Parlamento e que nas ultimas semanas resurgiu na nossa sociedade em defesa dos interesses da paz, da familia e da patria.

Sr. Presidente: como presidente da Junta Liberal não posso neste momento deixar de accentuar o meu enthusiasmo pela manifestação que acaba de realizar se
V. Exa., Sr. Presidente, deve ter visto que, acompanhando a commissão executiva da Junta Liberal, que vinha apresentar ao Parlamento a representação que acaba de ser lida, vieram seguramente 100:000 pessoas.

Não tenho duvida em assegurar que nesta grande manifestação a favor da liberdade estava, se pode dizer, o povo inteiro de Lisboa, e se de fora de Lisboa não houve maior representação é que só á ultima hora se teve na provincia conhecimento da nossa manifestação.

Digo que na manifestação de hoje esteve o povo inteiro de Lisboa porque, sendo a população da capital de 400.000 pessoas, 200:000 são mulheres e 100:000 são crianças. Foi assim o povo de Lisboa que hoje se dirigiu ao Parlamento, no mais ordeiro, no mais disciplinado dos cortejos que se poderiam organizar.

Em face d'isto, em face do enorme numero de pessoas que de fora de Lisboa se nos aggregaram e dos milhares de assinaturas que teem chegado do país inteiro, eu não tenho duvida em dizer que a representação da Junta Liberal é apoiada pela grande massa da população portuguesa. (Apoiados).

Eu continuo affirmando que o clericalismo constitue, hoje, um perigo nacional e esse perigo vae-se aggravando todos os dias, em presença da invasão clerical, sempre crescente, e das ameaças constantes e cada vez mais abertas da subordinação do poder civil ao poder de Roma.

Este é o verdadeiro, o grande inimigo, e se-lo-ha para todos, qualquer que seja a forma do Governo, desde a forma absolutista até a forma anarchista, se as duas palavras se podem conciliar, qualquer que seja a origem do poder, venha elle de um rei, venha elle do povo. A dignidade do Estado exige sempre que o poder civil se levante em guerra aberta contra toda a interferencia da Igreja no governo da nação.

Eu repito o que tenho dito vinte vezes, mas que é preciso que penetre no espirito das massas populares repito o que é absolutamente a expressão sincera e honrada da minha consciencia, que nem a Junta Liberal nem os liberaes portugueses aggridem a religião de alguem; (Apoiados). Assim como entendemos dever ter a liberdade de seguirmos a religião que quisermos, ou mesmo de não seguir nenhuma religião, assim temos a obrigação estricta da tolerancia e do respeito pela religião de todos (Apoiados).

Porem, religião e clericalismo são duas cousas absolutamente distinctas. (Apoiados).

Eu ataco o clericalismo com todo o vigor da minha alma, mas respeito as crenças religiosas de cada um, como quero que respeitem as crenças ou as descrenças religiosas de todos. (Apoiados).

Era minha intenção neste momento denunciar este gravissimo perigo nacional que é o clericalismo, mas a verdade é que, em presença da manifestação que acaba de se realizar, em presença, das massas de povo que atu-