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4 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

lharam as das de Lisboa, desde a praça do Camões até aqui, em presença da ordem que reinou em toda a manifestação e por um simplos annuncio nos jornaes tinha recommendado, a verdade é que não tenho medo! (Apoiados).

O povo liberal ha de sair victorioso, ha de triunfar de toda á reacção (Apoiados), quer ella esfeeja nos conventos, quer esteja nas sachristias, que esteja em quaesquer com os do obscurantismo, quer esteja no Governo, quer esteja no proprio Parlamento!... (Apoiados).

A reacção clerical não ha de vencer porque nos, os homens da liberdade, estamos prontos a sacrificar absolutamente todas as nossas commodidades, todos os nossos interesses, estamos dispostos a correr todos os riscos, na defesa da liberdade, porque acima da liberdade, dentro das fronteiras da nossa terra, não ha absolutamente nada; não ha familia, não ha amizade, não ha commodos, não ha absolutamente nada que seja superior a este sentimento intimo que ha de explodir por todas as formas possiveis, e que ha de vencer.

E digo dentro das fronteiras da nossa terra porque ainda em meu peito arde resto de atavismo, que á luz fria da razão é um preconceito, do amor pela minha patria. Quero ver-me acorrentado dentro da patria, não quero que a patria pertença a outrem. E por isso digo, dentro das nossas fronteiras, no seio da nossa terra, a ideia e o sentimento, da liberdade estão acima de tudo. E pela liberdade, todos os que aqui viemos, estamos dispostos a tudo sacrificar.

O perigo é menor do que se me afigurava antes da manifestação, mas nem por isso deixa de existir; e para que elle seja vencido é preciso que nos, os liberaes, estejamos attentos e vigilantes.

E, senhores, precisamente porque, durante alguns an-,nos, nos, por assim dizer, adormecemos, é que a reacção se levantou numerosa e provocadora, como em tempo nenhum.

Provocadora, insultante, caluiimiadora, aviltante, tudo ella tem sido.

Por todos os modos se querem incutir no espirito do povo ideias falsas, por todos os modos se andam a desafiar e a insultar os liberaes, e chega-se até o impudor de se proclamarem as maiores falsidades sem sombra de rebuço, sem qualquer escrupulo de consciencia.

Ainda ha poucos dias aqui n'este proprio recinto, se ouviu dizer que a Inquisição fora uma instituição politica. E foi isto dito por um homem que é professor!

Teve elle a ousadia de, perante a assembleia mais illustrada que se pode reunir no pais, proferir essa enorme falsidade, como-se estivesse falando a uma assembleia de botocudos!

Querem então que traga aqui as bullas de Sixto IV e de Clemente VII, que instituindo a Inquisição a fundaram para perseguir e castigar a heresia. Tudo quanto eu disser ha de ser devidamente documentado e se neste momento é difficil a apresentação dos textos completos dessas bulias vejam como ellas estão minuciosamente relatadas por aquelle mesmo por cujo auxilio clamavam, por aquelle mesmo cujas cinzas foram revolver para lhe deturpar os sentimentos e as ideias, por Alexandre Herculano na sua Historia do estabelecimento da Inquisição em Portugal, de quem agora querem fazer um clerical!

O Sr. Affonso Costa: - Até estão violando a memoria de Alexandre Herculano!

O Orador: - O illustre Deputado Sr. Affonso Costa tem perfeitamente razão. E violar a sepultara de um homem, é ultrajar a sua memoria, querer d'elle fazer o defensor de ideias que em sua vida sempre combateu com o maior vigor.

A Inquisição é uma arma politica! Vejam que qualidade de ensino pode ser ministrado por essa alluvião de institutos de educação que vivem sob a direcção clerical, sob a direcção jesuitica.

Digam se é licito a um professor adoptar, uma tal opinião, falsificando toda a historia, e ir amanhã affirmá-la aos seus discipulos, dizer-lhes que a Inquisição foi uma instituição politica, como se isto não chegasse a ser uma affronta a todos nos, criaturas de razão, uma affronra a uma Camara que não é formada por idiotas ou imbecis.

Como se não fosse conhecido de toda a gente que a Inquisição foi uma instituição religiosa, que só serviu para perseguir judeus e para queimar herejes!

Toda a documentação ha de vir, como veio ao Parlamento francês, em 1901 e em 1903, em discussões celebres, em que todavia ninguem ousou defender a Inquisição.

Toda a documentação ha de vir, porque á questão não morre hoje (Apoiados), e nos aqui estamos para combater a reacção até ao fim. (Apoiados).

Vozes na esquerda (repetindo): - ... até ao fim.

O Orador: - Até ao fim... E assim como ousaram essa enorme falsidade, assim houve aqui quem tivesse a coragem de comparar a Inquisição á Revolução Francesa, porque nesta tinham morrido milhares de pessoas... Pois é possivel que haja alguém que venha fazer affirmações d'esta ordem!...

Quem é que ousa aggredir a Revolução Francesa, essa revolução em virtude da qual nos estamos aqui?! (Apoiados).

Se não fosse ella, aonde estaria o senhor (referindo-se ao Sr. Pinheiro Torres) e aonde estaria eu?... Eu já tinha sido reduzido a cinzas no Rocio (Apoiados) e o senhor não estava aqui, estaria na profissão humilde de seus pães, se humilde é a sua ascendencia, e os seus eleitores não teriam feito de si um legislador.

A Revolução Francesa, que veio abrir os horizontes á humanidade, a iniciadora do espantoso desenvolvimento da sciencia, do progresso, da civilização, que foi todo o século passado, a Revolução Francesa, que foi a alavanca poderosa para o progredimento dos povos latinos, a Revolução Francesa, que veio proclamar os direitos do homem,. (Apoiados).

A Revolução Francesa, que representa a luz, comparada com as trevas da Inquisição, que nem mesmo a luz projectada por todas as suas fogueiras conseguiu nunca dissipar... (Apoiados).

Sr. Presidente: o momento é solemne, é grave, mas, embora menor do que se me afigurava, estamos em presença de um grande perigo. Esse perigo está primeiro na fanalização dos espiritos.

Aqui está o relatorio referente a 1908 do Apostolado da Oração, essa instituição jesuitica que todos conhecem como tal... (Apoiados) e se tem estendido pelo país inteiro.

O Apostolado da Oração tem cerca de 1.065:000 associados. É possivel que haja algum corte a fazer neste numero, e que se digam associados quando apenas sejam meio associados. Mas são os numeros que nos fornecem e d'elles me sirvo.

Nesse relatorio está a inscrição de todos os centros locaes distribuidos por esse pais, elevando-se a nada menos que 890, ou sejam 397 mais que no anno anterior!

Tambem se inscreve tudo o que se refere ao negocio das congregações jesuiticas de Portugal, numero de associados, de zeladores, de devoções varias, triduos, praticas, etc., e, como bons estatisticos que são, chegam os jesuitas que trabalham para o Apostolado a fazer a conta do numero de communhões praticadas durante o anno. E quer saber a Camara qual é a somma d'ellas?!