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SESSÃO N.° 39 DE 2 DE AGOSTO DE 1909 5

So no anno 1908-1909 nada menos de 3.779:197, quer dizer perto de 4.000:000 de communhões!

Aqui tem V. Exa. como o povo se acha envolvido pelo bando negro e veja V. Exa. como o bando negro está invadindo o país inteiro e qual o grau de fanatização a que sentem chegado.

Mas ainda ha mais. Permitta-me agora V. Exa. e permitta-me a Camara que eu faça um bocado de leitura, porque neste logar a leitura quando é interessante ainda se pode tolerar.

Vou ler alguns trechos d'este relatorio, que é a chronica do Apostolado. Note-se que por todo elle ha um estendal do numero das devoções feitas durante o anno em cada um dos circulos locaes, novenas, triduos, exercicios das almas, do Coração de Jesus, missas, etc., etc.

Para exemplo escolho o de pag. 21, referente a Guimarães (Santa Clara), e onde ao par das communhões, que espirituaes (51:000), quer sacramentaes (21:000), se notam rosarios (4:000), terços (52:000), coroas diversas, coroinhas do coração de Jesus (4:000), injurias soffridas em silencio (990), soffrimentos supportados com paciencia (5:000), victorias sobre o defeito, predominante (7:000), assinaturas de bons jornaes (150), jornaes e livros maus eliminados (30), etc., etc., na mais ridicula, e na mais fanática das estatisticas.

Peço a attenção da Camara para esta, leitura, para que os representantes da nação vejam o mar de beatice que váe por este país.

(Leu).

O Sr. Affonso Costa (interrompendo): - Isso é uma calinada!

O Orador: - Eu não posso garantir a autenticidade destes numeros que veem no relatorio, mas o que posso garantir é a autenticidade do relatorio que aqui está e se encontra á venda na Rua do Quelhas.

Aqui tem Sr. Presidente, a prova real do espirito de fanatização, em que uma grande parte do povo se encontra. Pois não significará isto a fanatização do povo?

O povo acha se dominado pelo bando clerical, cuja acção sé está fazendo sentir em toda a parte!

Mas esse espirito de fanatização o Sr. Presidente, por igualem todas as congregações, sejam ellas jesuiticas, como a que dirige o Apostolado, sejam de outra ordena qualquer. E o caso dos franciscanos por exemplo, que actualmente andam em violenta guerra com os jesuitas. Mas com estes solidarizando-se em fanatizar o povo. É ver.

Ha em Braga um collegio chamado de S. Boaventura, que não é mais do que o disfarce, perante os decretos de Hintze Ribeiro, de uma congregação ali abrigada no convento de Montariol.

Esse collegio tem uma revista mensal, a Voz de Santo Antonio, que é sempre acompanhada de um boletim, o Boletim mensal, em que se relatam festas, triduos, novenas e mil outras formas de devoção que se fazem por aquellas provincias, e que se agrupam sob o titulo de movimento franciscano. Ora em todos os numeros apparecem petições varias, em que os devotos pedem a Santo Antonio varias cousas, como arranjar um emprego, e lhe offerecem esmolas mais ou menos valiosas, todo serve, dez tostões, dez mil réis, etc., se o santo lhes alcançar a graça pedida.

Peço a attenção da Camara para um numero que tenho aqui e de que vou ler alguns trechos. Vae ver a Camara se isto não; é um extremo de fanatização, que se não pode tolerar e que chama pela guerra de todos os homens liberaes. (Lê).

Em todos os numeros do boletim vem a mesma immundicie, a mesma vergonha!

O Sr. Affonso Costa: - Isso é que estraga a religião, isso é que é mesquinha e vergonhoso. Só a chicote!

O Orador: - Mas, Sr. Presidente, o periga do clericalismo ainda é mais grave. V. Exa. sabe muito bem coma se estabeleceu a alliança, ao que parece indissoluvel, entre os jesuitas e o partido nacionalista, para entrarem na dominação do país. Tenha V. Exa. a certeza de que todo este movimento, realizado nos ultimos tempos como provocação ao povo liberal, é apoiado no partido nacionalista. (Apoiados). Jesuitas e nacionalistas fazem hoje um só partido politico.

Note V. Exa. que não estou dizendo cousas que não tenham sido publicadas.

Isto está nos relatos do congresso nacionalista de Viseu, que a Liga do Clero Parochial acaba de fazer, congresso em que se não deu a menor attenção ás instancias que esse clero fez para lhe deixarem ouvir a voz supplicante; isto está nos artigos de jornaes publicados por jesuitas e franciscanos, que entrando agora em guerra aberta teem deixado escapar verdades preciosas. É o Mensageiro do Coração de Jesus e o Restaurador pela parte dos jesuitas; é a Voz de Santa Antonio pela outra banda.

N'essa guerra, em que jesuitas e franciscanos se devoram uns aos outros, e tão aquelles a defender a alliança das congregações com um partido politico unico, a partido catholico, ao passo que a outra ordem sustenta o direito dos catholicos de votarem em candidatos de qualquer outro partido politico. Daqui um odio feroz, o mais feroz dos odios, o odio clerical. Daqui o saberem-se muitas cousas, d'aqui o saber-se que o partido nacionalista está enfeudado ao jesuitismo.

Ninguem nega ao partido nacionalista o direito de se associar seja a quem for. Mas o que se nega é o direito de se servir de armas desleaes no combate da politica. Não se pode recusar o partido nacionalista o direita de se alliar com a Companhia de Jesus. Mas o que se lhe deve recusar é o direito de usarem da religião para d'ella fazerem arma politica.

Pois saiba V. Exa. que nesta alliança a Companhia de Jesus chega a recusar a absolvição no confissionario a quem não se fique no partido nacionalista. O confissionario transformado em arma politica!

O Sr. João de Menezes: - Até aos que assinam e leem jornaes que não sejam dos da facção.

O Orador: - E digam depois que somos nos que atacamos a religião. Não são cousas que se inventem, são factos documentados, são cousas que se escrevem nos proprios jornaes que elles publicam.

O Sr. Presidente: - Previna V. Exa. que faltam apenas cinca minutos para se entrar na ordem do dia.

Vozes: - Fale, fale. Leia isso tudo.

O Orador: - Tinha ainda por dizer tantas cousas que os cinco minutos me são de todo insufficientes.

Dizia eu que o abuso do confessionario para a luta politica está documentado. Ouça V. Exa., ouça a Camara, este trecho de um artigo publicado pelo Restaurador, jornal jesuita, em que se diz claramente, que o voto é um dever cujo cumprimento deve ser julgado no tribunal da penitencia.

(Lê).

Eis o que os jesuitas, escrevem. Quer-se melhor prova do abuso do confissionario para a exploração do voto dos cidadãos? Quer-se melhor prova do irreligiosismo d'essa seita, com quem se alliou o partido nacionalista? (Apojados). Quer-se melhor prova de que o jesuitismo só trabalha para dominar o povo português? (Apoiados). Nós, porem, não o havemos de consentir, nos aqui estamos prontos, a ir até o fim. (Apoiados). Este assunto é muito