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892 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

centuar-se, por ter diminuído a exportação e que se tem aggravado depois mais, tinha por causa principal o facto de que os indivíduos, que tinham ganho até essa epocha 3 libras (13$500 réis) liquidas, por cabeça de gado vaccum exportado, não podiam continuar a auferir esse lucro, em consequencia da concorrencia do gado exportado da America, e de outros pontos, para a Inglaterra, e estavam decididos a renunciar a esse ramo do commercio, não por não ser ainda assim lucrativo, mas por não lhes render o lucro liquido a que elles estavam costumados.
Tive o cuidado de saber se se tinham feito outras tentativas mais para o sul do paiz para a exportação do gado vaccum, e fui informado, por uma casa respeitavel de Lisboa, que se tinha tentado isso, mas sem resultado.
O negocio da exportação de gado vaccum no norte do paiz estava monopolisado por duas ou tres casas inglezas, com as quaes não poderia concorrer a firma de Lisboa; por isso mesmo que esta não tinha podido arranjar carga certa para mais de dois embarques em cada mez, quando estava averiguado que desde o momento que não houvesse quatro ou seis cargas certas por mez para a exportação de gado para a Inglaterra, o negocio não se podia sustentar sem prejuízo para a empreza de Lisboa.
N'essas circumstancias, já vê v. exa. que não posso affirmar que não seja muito digna de attenção a crise da exportação do gado vaccum para Inglaterra, que se dá no norte do paiz, mas devo ponderar mais, se essa crise se dá, é necessario tambem attender a que a população, que ella affecta, está tambem altamente interessada na crise dos cereaes, em relação ao milho e em relação ao trigo.
Vamos á questão dos cereaes.
Tem-se querido fazer acreditar que á questão cerealífera na parte central do paiz estão apenas ligados os interesses de cinco ou seis lavradores abastados, o que é um outro erro.
Já tive occasião de relatar mais de uma vez essa idéa no ministerio das obras publicas, e tenho-a rebatido sempre que me tem sido possível fazel-o.
A questão é simples.
As pessoas que affirmam que a questão dos cereaes interessa a meia duzia de indivíduos, estão completamente ignorantes no assumpto, assim como o estão quando dizem que só para meia dúzia de lavradores é que o preço de venda de 600 réis para o trigo é remunerador.
O affirmar-se que esse preço não é remunerador para as classes productoras de trigo tambem menos abastadas, é um outro erro, porque a verdade é que desde que o preço de 600 réis seja remunerador para o grande proprietario ou lavrador, tambem o é para o pequeno. (Apoiados.)
Talvez em outra occasião tenha melhor ensejo para desenvolver este ponto, mas em todo o caso o que desejo é que fique bem assente que a crise cerealífera, não só affecta o grande lavrador ou proprietário, como affirmam alguns, mas tambem affecta e muito os pequenos lavradores. (Apoiados.)
Mas ha mais. Com a crise cerealífera soffre, não só aquella população que está dispersa na região mais escassamente povoada, a que se refere o tal artigo do jornal, mas tambem soffre, e talvez ainda mais, pelo contrario, a população mais densa do norte.
Chamo para este ponto a attenção da camara, porque a maior parte da gente ignora que tem havido desde eras remotas uma emigração em certas e determinadas epochas do anno, de um maior ou menor numero de indivíduos do norte com direcção ao centro e ao sul do paiz, em busca de emprego nos trabalhos agricolas da cultura cerealífera.
Essa gente, emigrando temporariamente, vinha e vem buscar o seu peculio para se manter no inverno, e só depois de arranjado esse pecúlio volta para o norte.
Não se diga, pois, porque é uma idéa falsa, uma asserção inexacta, que a crise cerealífera, que se dá no centro e no sul, affecta apenas uma região escassamente povoada do paiz e não affecta todo o paiz.
Creio, sr. presidente, ter provado até á saciedade que os factos desmentem o principio apresentado, de que a crise cerealífera que atravessamos, affecta sómente a parte central e a parte sul do paiz, pois julgo ter mostrado como é que essa crise tambem affecta directamente as províncias do norte, das quaes parte uma corrente de emigração para as regiões do centro e para as immediatamente ao sul d'essas.
Ha um argumento ainda mais forte, que é preciso estabelecer, e esse argumento prova tambem que a crise cerealífera affecta o paiz todo.
Pergunto eu: quando se percorre todo o paiz, do norte ao sul, o que é que se vê?
Mais para aqui mais para ali, vê-se sempre e em toda a parte a cultura dos cereaes, quer seja centeio, quer seja milho, quer seja cevada, quer seja aveia, quer seja trigo.
Mas ha ainda uma outra circumstancia, que constitue tambem um erro inventado não sei por quem, e contra o qual é indispensavel reagir, porque é uma utopia; é querer que todos comam pão branco de trigo.
E na verdade basta lembrar que esses paizes mais adiantados, por exemplo, na Allemanha, e em outros paizes, a alimentação da população varia conforme as localidades e as regiões.
Querer que todos comam pão branco, de primeira qualidade, é que não póde ser.
Pergunto aos indivíduos, que sustentam esta idéa:
Quererão s. ex.as levar tambem á pratica esta idéa do socialismo ou communisino, em relação a tudo o mais?
Deveriam procurar conseguil-o, para serem coherentes.
Esta idéa é uma idéa contra a qual me tenho insurgido sempre que o tenho podido fazer, porque a verdade é que na pratica nunca poderá apresentar um beneficio para a população portugueza, para o paiz.
Cada população de uma dada região, ou província, tem a sua alimentação propria e geral.
A idéa socialista, que combato, é infelizmente concomitante de umas certas exigencias da parte das classes trabalhadoras, não só em relação á retribuição em dinheiro do trabalho que fazem, mas ainda com relação á retribuição em generos.
Sr. presidente, eu peço desculpa a v. exa. e á camara de me ter espraiado n'estas considerações, mas entendo que era todas as questões, que interessem ao paiz, como a questão agrícola, todos nós devemos estar dispostos a cooperar com o governo para que todas as leis, todas as medidas que se submetiam á apreciação do parlamento, todas as medidas adoptadas pelo governo, sejam o mais possível completas e perfeitas; e direi de passagem, que não comprehendo, que haja ministros, que venham á camara trazer projectos de lei, que interessem ao paiz e que de caso pensado estejam resolvidos a não acceitar uma ou outra emenda, apresentada com o fim de aperfeiçoar os actos governativos.
Deve estar presente a todos que não ha ninguém infallivel.
Por ultimo, dirigindo-me mais directamente ao governo, direi que desejaria que o sr. ministro da fazenda, independentemente das promessas que mais de uma vez nos têem sido feitas com respeito ás boas disposições, em que todos os srs. ministros estão, de resolver a questão agricola, desejava que o sr. Marianno Cyrillo de Carvalho, a exemplo do que se fez na legislatura que findou em 1884, quando prometteu solemnemente em nome do seu partido que, logo que subisse ao poder o imposto do sal seria abolido, desejaria, repito, que s. exa., com a grande intelligencia com que a Providencia o dotou, com o estudo aturado que as suas forças physicas lhe permitem fazer de todas as questões, e com o grande tirocínio que tem dos negócios de administração, e isso por circumstancias na aprecia-