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672 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Nas commissões temos apenas a confiança necessaria para não parecermos com ellas descortezes.
Todos temos immenso que fazer. Portanto não ha tempo para madurezas. Discutimos o que é facil, porque o é, e deixâmos muitas vezes sem discussão os orçamentos do estado.
Os ministros pouco tempo têem para trabalhar. Ha parlamentos onde elles nunca vão. Queremos que aqui estejam, não para os amar, mas para os martyrisar.
Eu não acreditava em martyres, mas hoje creio; e para me penitenciar da minha pouca fé, prometto levar um ou dois á gloria. Quero que me devam a salvação eterna. (Riso.)
Pensa alguem em abafar uma discussão em que tudo está dito? Desgraçado! Não ha nome feio que lhe não chamem!
O governo e a maioria permittem todos os desabafos? Não escapa á censura. É um governo inepto, servido por uma presidencia de camara muito debil.
Chegam, finalmente, a fadiga e o calor!
Então manifesta-se a peior das dictaduras, a dictadura por atacado, a dictadura de afogadilho, a dictadura da ultima hora, a dictadura parlamentar em pleno parlamento!
O deficit augmenta. Como fazer? Recorre-se ao emprestimo. Aqui de El-Rei; vamos caminho da bancarota! Então recorre-se ao imposto. Não podo pagar-se mais, e são os deputados da minoria, que não querem crear difficuldades ao governo, os portadores das representações contra os impostos! N'esse caso a que recorrer? Recorra-se ao terceiro meio. Não se descobriu ainda. Então recorram a outro.
Encerrou-se, finalmente, a sessão. Ahi fica o governo a braços com a questão financeira.
Se não recorre á dictadura, morre. Se recorre, dictadura o espera.
E é este o circulo visiono, onde nos conduziram desvios de liberdade, e anda se quer e pede mais!
Desculpe me a camara esta franqueza, mas eu penso e penso de ha muito, que só nós e todos nós somos os unicos culpados das dictaduras, e que só nós temos em nós o remedio.
É uma questão de reforma de regimento por um accordo commum. Sessões largas; palavra limitada ao assumpto, que o mesmo e dizer limitada a tempo. Cada orador será então forçado a condensar as suas idéas, e a dizer somente o util. Estudar-se-ha mais e melhor. Os governos encontrarão facilidade na adopção das providencias que trouxerem á camara; e perderão a mania das dictaduras. Quando esta reforma não pareça sufficiente, lembraria outro meio: - a creação de um tribunal consultivo composto de cincoenta decanos dos nossos tribunaes, que, nos iriterregnos parlamentares, fosse o avaliador da opportunidade das dictaduras, e assumisse a responsabilidade moral pela consulta, ou a deixasse inteira aos governos. Não queiramos mais liberdade do que tem as nações que podem dar-nos lições de liberdade.
Se a opposição acha muito grande a rolha não a queime em dictadura, e arrolhe-nos com ella a bôca palreira quando formos opposição.
Nada de generalidades nem reticencias. A hora é propicia.
Não querem?
Vamos faltando e cantando caminho do calvario, arrastando a liberdade pelas das da amargura, até cairmos de inanição abraçados com o cadaver da patria, dos filhos e da liberdade.
Querem?
Ainda me convencerei que com os homens d'este lado apesar da seus decretos, e com os homens d'aquelle lado, apesar dos seus defeitos, poderemos legar patria, lingua, exemplos e gloria a um milhão de gerações, em cujas arterias bata sangue vivo e generoso, o que herdámos do selvagem mais patriota, que conheço na historia - o fundador da monarchia.
Sr. presidente, peço a v. exa. que me reserve a palavra para a sessão immediata. Ainda não disse tudo.
Vozes: - Muito bem, muito bem.
(O orador foi muito comprimentado.)
O sr. Presidente: - A ordem da noite é a mesma que estava dada.
Está levantada a sessão.
Eram seis horas da tarde.

O redactor = Sá Nogueira.