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SESSÃO NOCTURNA N.º 40 DE 18 DE MARÇO DE 1902 5

com que costumo tratar assumptos d'esta importancia, sem faltar a nenhuma cortezia, nem ao que devo a este logar e a mim proprio; e digo isto, porque o nobre Ministro da Guerra, falando e muito bem, como sempre, sentiu-se satisfeito e orgulhoso com as palavras que lhe dirigiu o Sr. Villaça em determinados pontos da sua apreciação sobre o Orçamento, e até disse que estimara muito não ter feito uso dos estudos especiaes que fizera sobre os Orçamentos para responder a accusações e censuras que não lhe tinham ainda sido feitas, mas que a virem, e decerto viriam, o achariam preparado!

Seria a consciencia a manifestar-se?!

O illustre Ministro tinha-se de antemão preparado para responder a accusações que não lhe tinham sido feitas, mas que já esperava!

Esse papel ingrato das accusações e recriminações antevistas está-me reservado, parece que terá de ser o meu, visto ser o unico orador inscripto, por parte da opposição, para responder a S. Exa., e lá vae diminuir, se não desapparecer de todo, a sympathia e consideração de S. Exa. por mim, se é que ainda alguma lhe resta da que por vezes manifestou com aprazimento meu.

Descanse porém S. Exa. o remoque preventivo não me fará afastar uma linha do plano que tracei, de ser mais sereno e justo do que aggressivo e apaixonado, em demasias de phrase. E se, com certeza, lhe não posso ser tão agradavel como o meu amigo e collega Sr. Villaça, nada direi que aqui se não possa dizer, nem farei affirmação alguma que não tenha como verdadeira, fugindo a insinuações desagradaveis como as que andam na imprensa politica e de que me não quero fazer echo.

Com toda a verdade, sinceridade e honestidade, apreciarei o Orçamento em discussão, e embora discorde da opinião de S. Exa., como em muitos pontos de administração discordo, não terei uma phrase que o possa maguar, não citarei um documentos, não apresentarei um calculo, ou um argumento, que não sejam de boa lei. Nem é necessario, para cada um expor livremente neste logar a sua opinião com a independencia que deve a si e ao logar que occupa, descer a processos de combate violentos, provocantes, condemnaveis por arruaceiros e sediços, já fora de moda e que fizeram o seu tempo. (Apoiados).

Eu sou do tempo d'esses processos, das opposições com grandes arruaças. Por elles alguns homens publicos, deputados de valor, e depois pares do reino, subiram ás cadeiras do poder e fizeram a sua carreira politica, rapida e triumphantemente.

Está-se alem a rir disfarçadamente o meu velho amigo, o illustre leader da maioria. Não admira.

É que o meu prezado amigo Sr. Arroyo está-se a recordar... dos saudosos tempos passados, já tão longe.

Nós somos nesta casa do tempo das celebres arruaças, em que as opposições ganhavam as cadeiras do poder com argumentos fortes, energicos, de voz grossa e pulso rijo, e tão decisivos que, nalgumas lutas a que assisti, ficavam completamente derrotadas bancadas inteiras de pouco resistentes carteiras! (Riso).

Isso é que eram opposições temiveis e de recear! Não eram como as de agora, ás vezes tão pacificas e boas que se combatem a golpes ferozes de elogios e amabilidades.

Sr. Presidente: de envolta com esses destroços das aguerridas batalhas, em que ás vezes nem só as carteiras ficavam esmigalhadas, houve energias gloriosas e valentias bom premiadas, para aquelles vencedores que herdavam os apetecidos despojos dos adversarios.

As pastas conquistavam-se a golpes de audacia, com talento, mas tambem com fortes pulmões e com não me nos fortes pulsos, e com diatribes e verrinas de ensurdecer.

Ás vezes, no ardor da refrega, proferia-se uma phrase mais azeda, mais provocante, que levava briosamente os contendores para outro campo mais serio e perigoso; mas as pugnas eram mais energicas do que agora, mais brilhantes, diga-se a verdade, sem offensa para ninguem; porque realmente, nos debates e lutas parlamentares de então, louve uma extraordinaria e sympathica nota de enthusiasmo, de brilho e de energia, houve uma coragem e uma attitude impressionaveis, no meio de todos esses desvarios alevantados e honrosos, e os homens que os praticavam, no outro dia, pouco depois, eram chamados ás cadeiras do poder e revelavam-se dignos d'isso. Os tempos mudaram, agora podemos mais pacificamente empregar estes novos recessos de discussão, em que ás vezes parece não haver divergencia nem opposição, dizendo cada um o que pensa, que sente e o que deseja, sem verrinas nem azedumes, tendo todos o mesmo respeito e consideração que uns os outros devemos. Melhor será assim. Este processo moderno é pelo menos mais commodo.

Sr. Presidente: discordo por completo dos processos administrativos e orçamentoloicos do Sr. Ministro da Guerra, vou dizer as razões justificativas da minha discordancia, em preoccupações de partidarismo que me não dominam, justiticá-las-hei com documentos officiaes, que o são todos aquelles de que me vou servir na discussão.

Vou francamente e serenamente, tanto quanto puder, discutir o orçamento do Ministerio da Guerra e dizer o que se me offerece acêrca d'esse documento, que não acho tão exactamente nem tão escrupulosamente confeccionado como se afigura ao Sr. Ministro da Guerra e como elle os quer convencer que está.

Nas considerações que o Sr. Ministro da Guerra fez para mostrar a sua orientação sobre as cousas do exercito, tentando attenuar o mau effeito do grande augmento e despesas, e para demonstrar o seu estudo, foi buscar para comparação um periodo bem longe da nossa administração actual, que mal serve ao intento.

E nesta divagação o nobre Ministro da Guerra, para mostrar decerto a sua muita erudição, que eu respeito, e o seu estudo d'aquella epoca, pouco a proposito foi buscar o periodo da nossa administração militar de 1891-1892, de tão triste recordação para todos nós; o anno terrivel, a epoca do inicio dos nossos maiores desastres, o começo da grande derrocada em que a nação portuguesa se viu obrigada a acceitar, em nome da salvação que lhe promettiam, o pesadissimo imposto de sangue, da fome, que ainda hoje figura na cruel reducção dos ordenados do seu funccionalismo, com umas percentagens tão grandes que mal se pode tolerar um encargo tal, encargo que aliás deve ser diminuido, se as circumstancias financeiras teem melhorado, como se diz.

Os annos de 1891-1892, que S. Exa. foi buscar tão longe, e que para nada aproveitavel podiam vir ao debate, não me vão servir a mim de base para contestar os argumentos apresentados pelo illustre Ministro; mas nos meus apontamentos, para condemnar os seus actos de esbanjadora administração, recentes, ha datas e factos muito mais elucidativos e modernos, que estão na memoria de todos, porque são de menos tempo, são de hontem e de hoje.

Eu vou mostrar á Camara e ao país, com irrefutaveis documentos, que o Sr. Ministro da Guerra tem augmentado, muito mais do que seria para desejar, as despesas do seu Ministerio; e sem querer, dar uma nota politica irritante a este debate, porei em confronto o orçamento da pasta da Guerra do seu antecessor, relativamente ao anno de 1900-1901, com o presente. S. Exa. verá pelas notas verdadeiras que terei de apreciar qual é a differença que existe entre um e outro, e se o seu orçamento é realmente um espelho da verdade, como S. Exa. ousou affirmar.

Será espelho, mas imperfeito, manchado, reproduzindo as figuras que lhe puserem deante, com verdade, mas com todas as manchas e defeitos que o vidro tem e não pode occultar. E eu o provarei a S. Exa. e á Camara, quando fizer a analyse e confronto dos dois orçamentos, o ultimo