8 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
réis a mais, nos dois annos, em confronto com o ultimo orçamento da gerencia progressista do Sr. Sebastião Telles.
E ahi fica demonstrado, com verdade e irrefutavelmente, à Camara e ao país, quem é que sabe e pode administrar com mais economia; e se valia a pena ter feito uma tão cruel e violenta guerra á reforma e á tão discutida base 17.ª, do Sr. Sebastião Telles, em que se não augmentava a despesa, para a substituir por esta bella obra que ahi se está vendo, não falando nas glorias de Trajouce, na desorganização dos serviços militares, incompletos em toda a parte, e neste extraordinario augmento de despesa, com que o país não pode, e que neste momento e nas circumstancias em que nos encontramos, se torna mais censuravel ainda do que em qualquer outra occasião. (Apoiados).
Agora talvez alguem menos justo pense que eu me interesso pouco pelo exercito, por combater o augmento de despesas do Ministerio da Guerra e a desastrada orientação economica do Sr. Ministro; mas isso é um erro e uma grave injustiça que se me faz. Eu não regateio, porque não posso, nem quero, nem devo, ao brioso e valente exercito do meu país, aquillo que elle necessite para a sua digna e honrosa representação. Reconheço o seu importante papel preponderante na gloriosa defesa da patria, na sustentação das Instituições, na manutenção da ordem publica; tenho, como todo o bom cidadão, o mais alto respeito e consideração pelos seus meritos e nobres exemplos e valentia e civismo, elogiaveis, como ainda ultimamente tem provado na nossa Africa; mas, Sr. Presidente, por esses factos, que todos reconhecemos, ha de sacrificar-se toda a economia do país ao desenvolvimento das instituições militares, e sobretudo á má administração de um ministro perdulario e esbanjador como nenhum outro? E as outras classes e instituições sociaes, o commercio, a industria, a agricultura, a navegação, a instrucção publica, o funccionalismo civil, não hão de merecer tambem alguma consideração e attenção?
Parece-me que sim. E é necessario attender ás necessidades e ao prestigio de umas, sem sacrificios e ruina para outras.
É por desejar que a todas se attenda, e que se administrem os dinheiros publicos com rigorosa economia, para chegarem para todas as despesas, para haver equidade na distribuição de beneficios, que me insurjo contra os esbanjamentos do Sr. Pimentel Pinto, como contra todos, e tantos são, do actual Governo!
O Sr. Ministro da Guerra é um mãos largas! Seria talvez um bom ministro para um país rico, para a França, para a Allemanha, para a Russia, ou para Inglaterra, onde pudesse gastar á vontade, sem conta, peso nem medida, como é seu costume.
Para um país pequeno, pobre e arruinado, como o nosso, é um pessimo Ministro, e a sua permanencia no Governo representa uma das maiores calamidades que podem pesar sobre a economia nacional.
Mais de 700:000$000 réis de augmento de despesa, como accusam os dois ultimos orçamentos que analysei, como se deprehende dos seus algarismos e dos calculos a que elles se prestam, é muito, é demais, e o país não pode com tanto!
Veja V. Exa., Sr. Presidente, e veja a Camara, o que revela uma differença nos dois annos, para mais, d'esta enorme importancia! Não quero tirar d'aqui argumentos para accusar violentamente o Sr. Ministro da Guerra não creio mesmo que S. Exa. applicasse mal, desviasse ou pretenda desviar dos seus fins estas verbas; o que lamento é que fossem inopportunamente gastas, o que me custa, o que não posso deixar de condemnar, é que neste momento angustioso para nós todos S. Exa. assim corte tanto á larga, sem se preoccupar com a ideia de onde ha de vir o dinheiro. (Apoiados)
Se o país, se o Thesouro, estivessem a nadar em riquezas, se tivessemos as finanças em melhores condições, se o contribuinte não estivesse sobrecarregado até mais não poder, se os credores externos não estivessem a ameaçar-nos com mais pesadas exigencias, que o convenio ha de trazer, então não me importaria tanto que o illustre Ministro tivesse d'estas larguezas; mas o que me revolta neste momento é a inopportunidade.
Combato todas as despesas que não sejam de reconhecida urgencia e proveito para a nação, porque as acho inopportunas neste momento, seja em que ramo de administração for. Reputo um crime augmentar as despesas publicas, e muito mais por esta forma, no Ministerio da Guerra, fazendo reformas que ninguem pedia, que eram escusadas, e que podiam muito bem, sem perigo da patria, ter sido adiadas para occasião mais opportuna.
Mas realmente será só de 6:000 e tantos contos de réis a verba que se gasta pelo Ministerio da Guerra a pretexto do exercito, como se quer fazer acreditar pelos calculos do orçamento?
Devo agora dizer ao nobre Ministro da Guerra que está erradissimo este calculo de quem fez o seu orçamento e da illustre commissão que o approvou; porque se nós calcularmos que alem de 3:000 e tantos contos de réis temos a augmentar ás despesas ordinarias as despesas extraordinarias, e um credito pelo menos de 570:000$000 réis, numeros redondos, como o do anno passado, veremos que a despesa é muito maior, o que ha de ser ainda maior o credito especial que o Sr. Ministro da Guerra ha de pedir ao Thesouro; porque se já o anno passado, em que as reformas ainda não estavam em execução, teve de recorrer a esse credito, porque os 20:000 homens não chegavam para o serviço, como ha de chegar agora, que a nova reforma exige muito maior numero de praças? Muito maior ha de ser esse credito, repito, no fim do actual anno, se o Sr. Ministro teimosamente levar essas reformas á execução, como parece que ha de acontecer, porque, para se não cumprirem, para os corpos ficarem nas crias, como ironicamente lhe chamam, então era melhor não as fazer, e esperar melhor monção para reformar com opportunidade e acerto.
Tambem devo dizer ao Sr. Ministro da Guerra que está em manifesta contradicção com o que disse ha pouco em resposta ao Sr. Villaça, de que era de opinião que não fazia bem ás instituições militares a instabilidade, que as mudanças eram quasi sempre prejudiciaes. Mas o que tem S. Exa. feito senão mudar tudo, desfazer por completo o que os outros fizeram, tudo revolvendo e anarchizando?
S. Exa. e os seus amigos foram, como eu já disse, adversarios violentos e intransigentes da sensata reforma do seu digno antecessor, modesta e economica, e da celebre e decantada base 17.ª, com que aqui nos atormentou a opposição por tanto tempo e por todos os modos.
E o que fez S. Exa. apenas chegou ao poder?
Fez apenas uma censuravel dictadura, sem necessidade que a justificasse, unicamente para não ficar atrás aos seus collegas dictadores, e dar satisfação á sua vaidade e dos seus amigos e companheiros de combate. Porque era realmente urgente, inadiavel, impunha-o a salvação publica, que S. Exa. fizesse a toda a pressa os quatro decretos que fez e publicou; dependia d'elles o prestigio e engrandecimento militar, o melhoramento do exercito e a elevação do seu nivel moral. Sem aquella grande obra dictatorial perigavam as instituições militares!
O que nós vemos, o que resalta ao primeiro exame, é que esses decretos não foram feitos e publicados senão para destruir a obra que estava feita, substituindo-a levianamente por outra, sem vantagem alguma.
E então mais uma vez o nobre Ministro é, apanhado em contradicção; diz uma cousa e faz outra. É contra a mobilização, mas mobiliza tudo! Quer estabilidade, mas só para o que fizer, para a sua grande obra!
Eu espero, quando S. Exa. deixar essa cadeira e um outro ministro o substitua, substituindo a sua obra, como