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SESSÃO N. 41 DE 18 DE AGOSTO DE 1897 711

O sr. Moreira Junior: - Sr. presidente, é com os lagrimas nos olhos e com a dôr a torturar-me o coração que tenho o dever, tristissimo dever, de participar á camara a noticia que ha pouco me foi transmittida, da morte de um dos mais lucidos, se não o mais lucido e peregrino talento, da figura mais sympathica e de um dos caracteres mais puros do quantos têem esmaltado a medicina portugueza.

A morte do dr. Sonsa Martins, meus senhores!

O brilhantismo da sua intelligencia formosissima, a grandeza da sua estatura moral, o affecto profundo, o enthusiasmo caloroso que Sousa Martins soube despertar em quantos a conheceram, são bem sabidos, porque nada se ignorava sobre esse homem, que é a gloria mais subida da sua classe e uma das honras mais proeminentes da nossa desgraçada terra, que na crise que atravessâmos, profundamente angustiosa, vê ao mesmo tempo desapparecerem os filhos que pelo talento mais o nobilitaram. (Vozes: - Muito bem, muito bem.)

Sr. presidente, é com o espirito perturbado e com o coração esmagado pela dôr que tenho de proferir algumas palavras sobre aquelle homem verdadeiramente superior, talento assombrose, cuja palavra era uma maravilha pela fluencia torrencial e pela galharda envergadura que a caracterisava. (Vozes: - Muito bem, muito bem.)

Sabio, na accepção mais ampla do termo, elle era o trabalhador infatigavel e constante que sabia profundar todos as descobertas mais vigentes dos tempos que correm e lhes avultava o alcance com a intuição poderosissima da sua phantasia deslumbrante. (Muitos apoiados.)

Mestre, elle era o enlevo, de quantos o escutavam embevecidos na regencia da sua cadeira; era o idolo dos que o seguiam na sua clinica hospitalar, em que nitidamente revelava os dotes primorosissimos de observador sagaz, que elle possuia.

Orador, era o mais notavel de quantos tenho ouvido. A sua palavra arrastava, seduzia, era um encanto, tinha todos os primores, todos os tons, possuia todas as vibrações dos oradores geniaes.

Gigante da palavra, assombrava pela alteza das concepções, mas extasiava tambem pela fórma elegantissima dos seus discursos, soberbos no conjuncto, levantados o primorosos na idèa. (Vozes:- Muito bem, muito bem.)

Caracter diamantino, limpido como o crystal de rocha, a ninguem rebaixou jamais, tamanha era a sua superior e magnanima generosidade.

Pois, este grande homem, morreu!

Morreu este homem, cujo talento deslumbrava, e cujo verbo torrencial sabia explendir todo o brilho da sua fecunda intelligencia e todos os dotes da sua alma formos!
Este homem, que soube adejar como aguia por todas as instancias do saber humano, este homem morreu. Foi uma perda irreparavel, uma perda nacional; por isso, sr. Presidente, creio que não será de mais que na acta se consigne um voto de sentimento, em que se consubstancie o sentimento que nos anima e a dôr profunda que nos esmaga. ( muitos apoiados em ambos os lados da camara.)

O Sr. Ministro da Justiça (Francisco Beirão): - Sr. presidente, acabo de ser dolorosamente surprehendido pela infausta noticia da morte do illustre professor, o sr. dr. Sousa Martins, que era uma gloria nacional.

A camara comprehende que não é n´esta occasião que se póde commemorar condignamente este doloroso acontecimento, nem eu sou a pessoa mais auctorisada para fazer o elogio funebre e historico do fallecido professor; mas comprehende tambem a camara que, sendo o unico membro do governo que se acha presente, me devo associar, viva e dolorosamente, ás palavras proferidas pelo meu illustre collega n´esta camara, o illustre deputado o sr. dr. Moreira Junior. .....

Conheci muito de perto Sousa Martins para que possa deixar esquecer na sombra, n´este momento, a sua memoria.

Por isso, associo-me, commovido, com todo o sentimento - e tenho pena de o não poder fazer com toda a eloquencia-ás palavras do illustra deputado; e esta expressão, não só traduz o meu sentir pessoal, mas o sentir do governo.

Como deputado da nação, só me resta associar-me ao voto de sentimento proposto, e pedir á camara que o vote por acclamação.

O sr. Franco Castello Branco: - Sr. presidente, este lado da camara associa-se convicta e completamente ao voto de sentimento proposto pelo sr. dr. Moreira Junior, e á proposta que acaba de fazer o sr. ministro da justiça.

Eu, pela minha porte, sem querer, por fórma alguma, ter a pretensão de fazer o elogio condigno e devido áquelle grande espirito, e aquelle grande caracter, e louvando-me nas eloquentes e expressivas palavras que acaba de proferir o sr. dr. Moreira Junior, quero apenas dizer que, alem de todas as qualidades que possuia aquelle prestante cidadão, e que foram por s. exa. apontadas, tinha ainda mais uma - a de ser não só dedicadissimo ao seu paiz, mas a de estar sempre prompto a honral-o com os seus serviços e com as suas faculdades quando lhe eram solicitados. (Apoiados. - Vozes: - Muito bem.)

No tempo em que dirigi a pasta do reino foi preciso realisar em Veneza uma conferencia medica para adoptar medidos preventivas contra a invasão da peste bubonica.

Dirigi-me a Sousa Martins, que tão brilhantemente tinha representado o nosso paiz no congresso que anteriormente se reunira, a pedir-lhe que nos desse a honra de representar Portugal n´essa conferencia. Já então a sua saude não era boa, e evidentemente a perda de tempo representava para elle uma perda de interesses; pois, não obstante isso, immediatamente aquelle grande clinico e aquelle grande patriota se poz á disposição do governo, com as condições que ao mesmo governo aprouvesse, para representar o paiz.

Nunca Portugal, em qualquer circunstancia identica, foi nem mais digna, nem mais eminentemente representado do que n´aquella occasião. (Apoiados. - Vozes: - Muito bem.)

A perda, pois, de uma tão grande individualidade é uma perda nacional, e por isso associo-me, e commigo todo este lado da camara, (Apoiados da esquerda.) quer ao voto proposto pelo sr. dr. Moreira Junior, quer á proposta do sr. ministro da justiça, para que esse voto seja

camara, considero como approvado por acclamação o voto de sentimento proposto pelo sr. dr. Moreira Junior.

O sr. Dias Costa: - Sr. presidente, mal pensava eu, ao pedir a palavra, que havia de ser surprehendido com a triste noticia que ha pouco foi communicada á camara, e que enche de luto o paiz.
Sr. presidente, era um profundo admirador de Sousa Martins, porque admirava n´aquelle homem, não só a grandeza do seu saber, mas a grandeza do seu caracter.

Uma grande qualidade brilhava no coração d´aquelle homem, o amor ao seu paiz, como muito bem accentuou o illustre leader da opposição.

D´esse amor deu grandes provas, e uma d´ellas foi, servindo, na commissão da subscripção nacional, que acaba de entregar ao governo o primeiro cruzador da marinha real, um navio que representa, não só uma força da nossa esquadra, mas tambem uma parte elevada do coração e do sentimento nacionaes. (Apoiados geraes.)

Sr. presidente, o meu intuito, ao pedir a palavra, era para recordar á camara que n´uma hora bem angustiosa para a nação portuguesa um grupo de cidadãos, sem distincção de côr politica, nem de hierarchia social, animados pelo sentimento do santo amor á terra querida, se reuni-