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Camara (apoiados), é uma das mais venerandas reliquias do exercito libertador, a que todos nós devemos a patria e liberdade (apoiados); e sem o qual de certo não teriamos a honra de assentar-nos n'estas cadeiras (apoiados).

É preciso que não fiquem no esquecimento e sem retribuição condigna tão assignalados serviços (apoiados).

Pela minha parte hei de pugnar sempre, para que se conceda a maxima consideração aos bravos patriotas, que arriscaram a sua vida em cem batalhas, no memoravel cerco da invicta cidade do Porto e na decisiva batalha da Asseiceira, onde os voluntarios da rainha se portaram com um denodo heroico (apoiados); sendo seu digno commandante por essa occasião condecorado com a commenda de Christo; havendo já sido condecorado com a medalha da antiga o muito nobre ordem da Torre e Espada, por occasião de ser ferido gravemente no alto do Covello em 1832.

V. ex.ª, sr. presidente, e toda esta camara me acompanham n'este proposito firme, e no justissimo empenho do que sejam reconhecidos e galardoados os prestantissimos serviços d'este benemerito cidadão patriota (apoiados).

Visto haver-me cabido a palavra, e não esperando tão cedo tornar a caber-me, aproveitarei esta occasião para chamar a attenção de s. ex.ª, o sr. ministro das obras publicas, que sinto não ver presente, sobre dois pontos de interesse publico, principalmente do circulo que tenho a honra de representar.

O primeiro, diz respeito ao estudo da estrada municipal de Anadia para S. Lourenço de Bairro, para cuja construcção já se concedeu a auctorisação legal para um emprestimo.

E de toda a urgencia, que o governo mande proceder pelos seus engenheiros ao estudo d'esta estrada; é o que a camara municipal do concelho de Anadia pede, e o que eu tenho a honra de recommendar á solicitude de s. ex.ª o sr. ministro das obras publicas do commercio e industria.

O segundo, refere-se ao pedido da camara municipal do concelho da Mealhada, que requereu ao governo, para que este mande proceder quanto antes á construcção do primeiro e pequeno lanço da estrada da Mealhada á Figueira, desde a povoação até á estação do caminho de ferro na dita Mealhada.

Esta estrada, sobre cuja utilidade já tive a honra de chamar a attenção d'esta camara e do sr. ministro, sendo auxiliado e apoiado por todos os meus collegas, deputados pelos districtos de Aveiro, Coimbra e Vizeu, é da maior conveniencia para a communicação dos povos dos ditos districtos, e sobretudo para o commercio dos vinhos dos paizes viticolas da Bairrada e da Beira (apoiados).

Mas o pequeno lanço, cuja construcção a camara municipal da Mealhada pede ao governo com a maior instancia e o mais promptamente que seja possivel, é de todos os lanços da dita estrada aquelle cuja construcção é reclamada pela mais urgente necessidade do commercio dos tres districtos, porque o curto espaço de terreno que ha de atravessar o dito lanço de estrada, está destinado á construcção de armazens para deposito de vinhos, cereaes e muitas outras mercadorias, especialmente dos productos agricolas, que constituem a principal fonte de riqueza d'estes tres interessantes districtos de Aveiro, Coimbra e Vizeu (apoiados).

Já vê portanto esta camara e s. ex.ª o sr. ministro das obras publicas, que estando proxima a abertura do caminho de ferro do entroncamento a Coimbra e ao Porto, é de instante necessidade proceder quanto antes á construcção do primeiro lanço da estrada da Mealhada á Figueira, passando por Cantanhede, cujo estudo, segundo as ultimas informações que pude obter do digno director das obras publicas do districto de Coimbra, se acha quasi concluido, restando apenas umas poucas de rectificações de nivel.

Esperámos portanto, eu e os meus illustres collegas, mais directamente interessados n'estes importantes melhoramentos, que s. ex.ª o sr. ministro das obras publicas prestará a sua attenção ao justissimo pedido da camara municipal do concelho da Mealhada (apoiados).

O sr. F. L. Gomes: — Mando para a mesa dois pareceres da commissão do ultramar.

O sr. Frederico de Mello: — Pedi a v. ex.ª a palavra para chamar a attenção do sr. ministro das obras publicas sobre a necessidade de se prolongar o caminho de ferro de Beja.

Sinto que não esteja presente o sr. ministro das obras publicas, porque não desejo fallar sobre o objecto, que passo a expor, na ausencia de e. ex.ª, a quem tencionava fazer algumas perguntas; mas tendo a palavra não deixarei de fazer uso d'ella, pedindo comtudo a v. ex.ª que queira inscrever-me de novo.

O nobre ministro foi assistir á inauguração do caminho de ferro da cidade de Beja, e examinou toda a linha que vae do Barreiro até aquella cidade. Creio que s. ex.ª reconhece que é de conveniencia publica o prolongamento d'aquelle caminho de ferro.

Entendo que a continuação da linha ferrea, a que alludo, é de grande utilidade para o meu paiz, e que não pôde ficar em Beja; o prolongamento d'ella é uma necessidade.

Mas para que logar deve ser prolongado este caminho? Isso é que eu não sei por ora, e é esta a pergunta que eu vou fazer ao nobre ministro das obras publicas, pedindo a s. ex.ª que queira ter a bondade de me dizer, quando vier a esta casa e julgar opportuno, se tenciona prolongar o caminho de ferro de Beja, e o ponto em que deve terminar este prolongamento.

Tenho feito ver por differentes vezes nesta casa a conveniencia que resultaria para as duas ricas e importantes provincias do Alemtejo e Algarve, e em geral para o paiz, se continuasse o caminho de ferro de Beja até Mertola. Tive a honra de mandar para a mesa n'uma das sessões do anno passado tres representações das camaras municipaes das villas de Castro Marim, Mertola, e da cidade de

Tavira, nas quaes se fazia sentir a necessidade do prolongamento do caminho de ferro até ao ponto a que alludi, e se pedia ao poder legislativo que quizesse apresentar uma proposta de lei, que tivesse por fim realisar este melhoramento.

Associando-me e unindo o meu voto ao dos illustres signatarios d'aquellas representações, tive a honra de apresentar á camara em uma das sessões passadas um projecto de lei, que tem por fim a continuação do caminho de ferro de Beja até Mertola.

Não é esta a occasião propria de discutir este projecto, reservo-me para o sustentar quando vier á discussão, no caso de ser impugnado. Não desejava por isso tomar tempo á camara; mas em vista das considerações que acabo de ouvir ao meu illustre collega, que me precedeu, o sr. João Antonio de Sousa, e do projecto de lei apresentado em uma das sessões passadas pelo meu illustre collega, o sr. Silveira da Mota, para o prolongamento do caminho de ferro de Beja até Faro pela serra, e na direcção de S. Bartholomeu de Messines, não posso deixar de fazer tambem algumas considerações tendentes a mostrar as vantagens que resultariam para o meu paiz, se tivesse a fortuna de ver approvado o meu pensamento, e que só tive em vista com este meu projecto de ligar em pouco tempo e com a economia possivel pela viação accelerada as duas ricas provincias do Alemtejo e Algarve.

Permitta-me V. ex.ª e a camara, que eu diga que o meu projecto na presente conjunctura é muito preferivel ao do sr. Silveira da Mota.

Não se pense que eu tenho só em vista, com o melhoramento que indico, em beneficiar o circulo, que tenho a honra do representar n'esta casa, não é esse só o fim do projecto; o que n'elle principalmente se teve em vista, foi o estabelecimento de uma facil e rapida communicação entre o Alemtejo e o Algarve. Ninguem mais do que eu deseja ver prosperar os concelhos, que constituem o circulo que represento, e pugnarei sempre e tanto quanto as minhas debeis forças permittirem pelos seus legitimos interesses; mas devo declarar a v. ex.ª e á camara que eu não pediria o melhoramento que indiquei, se não tivesse o profundo convencimento das grandes vantagens que elle ha de trazer ao paiz, porque se reconhecesse que as despezas que se faziam com o caminho de ferro eram enormissimas, e que se não auferiam lucros que compensassem aquellas despezas, e que só melhorava a minha localidade, com graves prejuizos para o meu paiz, eu seria o primeiro a retirar o meu projecto. Tenho, como já disse, os maiores desejos de ver prosperar e florescer os concelhos do meu circulo; tenho muita estima e deferencia pelos habitantes d'elles, mas acima de todas estas considerações está o meu dever e estão os interesses geraes do meu paiz, que eu devo sempre preferir, quando elles não estiverem em harmonia com os interesses especiaes de uma ou de outra localidade. Mas harmonisando se os interesses especiaes da minha localidade com os interesses geraes do paiz, pelas grandes vantagens que necessariamente hão de resultar com o melhoramento a que alludo, eu não posso deixar de insistir para que elle venha a ser uma realidade

Pelo que deixo dito já se vê que eu não quero que o caminho de ferro fique em Mertola, se assim fosse não se realisava o «meu pensamento; desejo o melhoramento do rio Guadiana e a construcção de um caminho de ferro no litoral do Algarve, que deve começar em Villa Real de Santo Antonio e chegar pelo menos até Faro; é esta a minha idéa, que expendo nas considerações que precedem o meu projecto. Se não inseri n'elle um outro artigo para complemento do meu pensamento, foi porque não combinei com os nobres deputados pelo Algarve, e eu não queria sem ouvir ss. Ex.as indicar este grande melhoramento nos seus circulos, e mesmo pelo mau estado era que na actualidade se acha o rio Guadiana; reservo me para pedir a muito importante coadjuvação dos mesmos srs. deputados, quando este projecto vier á discussão, e espero por essa occasião que ss. ex.ª farão inserir n'elle, no caso de approvarem o meu pensamento, mais dois artigos, um em que se estabeleça um barco a vapor de Mertola até Villa Real de Santo Antonio, e outro para a construcção de um caminho de ferro no litoral do Algarve. Se ss. ex.ª não estiverem de accordo com a minha idéa, por entenderem que o caminho de ferro deve ter uma direcção diversa da que indico, pedirei eu na occasião em que o mesmo projecto vier á discussão, que se insiram n'elle estes dois artigos, porque só assim fica completo o meu pensamento.

Não deixarei passar uma asserção que ha pouco avançou o meu illustre collega, que me precedeu, o sr. João Antonio de Sousa. Disse o illustre deputado que = só o sr. Silveira da Mota, deputado por um dos circulos do Algarve, mas que não é natural daquella provincia, apresentou um projecto de lei para que o caminho de ferro fosse de Beja a Faro, sendo para sentir que nenhum outro deputado pelo Algarve levantasse até hoje a sua voz pedindo este melhoramento para aquella provincia.

Permitta me o illustre deputado pelo Algarve que eu lhe diga que não está bem informado, e que foi menos justo nas apreciações que acaba de fazer, sem duvida na melhor boa fé.

Não tenho, em vista com esta declaração que faço, censurar o illustre deputado, que muito respeito, e a quem faço a devida justiça, porque sei quaes foram as suas intenções, e que toma o maior interesse pelos melhoramentos do Algarve, bem como o illustre deputado que apresentou o referido projecto, o sr. Silveira da Mota; mas s. ex.ª ha de conceder-me que fallou com inexactidão, sem duvida porque não estava bem informado quando tratou de apreciar, com manifesta injustiça, o procedimento n'esta camara pelos nobres deputados pelo Algarve.

Como já disse, faço justiça ás boas intenções do illustre deputado, mas ha de permittir-me que lhe diga que não é exacta a asserção que avançou os illustres deputados pelo Algarve não carecem da minha defeza, ss. ex.ª sabem muito bem defender-se da arguição immerecida que se lhes fez, e saberão responder triumphantemente a ella; mas sendo testemunha presencial do que se passou em 1858 n'esta camara, na occasião em que se discutia o caminho de ferro para Evora e Beja, e sabendo quaes os desejos dos srs. deputados pelo Algarve, faltaria a um imperioso dever se não levantasse a minha voz e declarasse aqui que 88. ex.ª queriam n'aquella occasião o que têem querido sempre, desde aquella epocha até hoje, a continuação do caminho de ferro de Beja até ao Algarve.

Quando em 1858 se discutia n'esta camara o projecto do caminho de ferro das Vendas Novas a Evora, mandou-se por essa occasião uma proposta de lei, assignada pelos meus illustres collegas do districto de Beja, e tambem por mim, como deputado d'aquelle districto, para que houvessem dois ramaes do caminho de ferro, um para Evora e outro para Beja.

Foi felizmente approvada esta proposta, e decretado daquella epocha, 1858, aquelle caminho de ferro. Os nobres deputados pelo Algarve prestaram nos n'aquella occasião a sua muito importante coadjuvação, assignando tambem a nossa proposta, e muito contribuiram para que o melhoramento n'ella indicado fosse realisado.

Reconhecendo os mesmos srs. deputados a conveniencia publica do caminho de ferro de Beja, manifestaram n'aquella mesma occasião os maiores desejos de que elle continuasse para o Algarve, pelas vantagens, que resultariam para aquella provincia, d'aquelle grande melhoramento. Têem os mesmos srs. deputados tomado sempre n'esta camara o maior interesse pelos melhoramentos d'aquella provincia, e portanto parece-me menos justo que se diga que = só o sr. Silveira da Mota se lembrou da construcção de um caminho de ferro para o Algarve, apresentando para esse fim um projecto de lei =.

Permittam pois os nobres deputados pelo Algarve que eu faça esta declaração unicamente por amor da verdade, e pelo conhecimento que tenho dos desejos de as. ex.ª sobre o prolongamento do caminho de ferro para aquella provincia, e não porque tivesse em vista defende los, porque s. ex.ª não necessitam da minha fraca defeza, e mesmo porque estou certo que hão de destruir a injusta arguição que se lhes fez com a proficiencia com que sempre costumam tratar as questões.

Posto isto, passarei a tratar da conveniencia publica de se prolongar o caminho de ferro de Beja a Mertola. A construcção de um caminho de ferro entre estes pontos traz comsigo grandes vantagens ao paiz. Tenho a plena convicção de que o Algarve utilisa muito mais preferindo-se o pensamento do meu projecto ao do sr. Silveira da Mota. Se tivesse a fortuna de ver approvada a minha idéa, tinhamos em muito pouco tempo, e com muito maior economia, ligadas pela viação accelerada as principaes povoações do Algarve com a provincia do Alemtejo, e por consequencia com a capital do reino e grande parte do paiz. A construcção de um caminho de ferro em todo o litoral do Algarve, como eu desejo, e que é o complemento da idéa do meu projecto, dá necessariamente estes excellentes resultados, e não se dão estes por certo continuando o caminho de ferro de Beja até Faro pela serra. As mais importantes povoações do Algarve, como as cidades de Tavira, Lagos e Silves, e Villa Nova do Portimão, Olhão e outras importantes povoações ficam sem caminho de ferro. E poderá ser vantajoso para o paiz um caminho de ferro de Beja a Faro na direcção da serra? Entendo que nos não dá vantagens, que ha de trazer comsigo grandes sacrificios para o paiz, e que os lucros que d'elle se hão de auferir não compensam por certo as avultadissima despezas, que têem necessariamente da fazer-se se chegar a construir-se.

Todos sabemos que de Beja a Faro ha uma grande extensão de terreno, mas não é esta só a difficuldade, sr. presidente, muitas outras difficuldades se apresentam para a realisação d'aquelle melhoramento, e sabe v. ex.ª quaes ellas são? São os grandes obstaculos que a cada passo se encontram nos terrenos por onde devo passar aquella linha ferrea. São estes terrenos todos elles muito accidentados, encontram se ali grandes montanhas e muitas ribeiras. As cortaduras das serras para realisar este melhoramento succeder-se iam umas ás outras, teriam de construir-se alguns túneis e muitas pontes. Já se vê portanto que com a construcção d'este caminho não podiam deixar de se fazer muitas obras de arte. E estará o nosso thesouro nas circumstancias de poder fazer este caminho de ferro? Poderá este realisar-se com prejuizo de outros melhoramentos importantes, e de que o paiz mais necessita? Entendo que não pôde.

A construcção de um caminho de ferro de Beja a Mertola, a carreira de um barco a vapor, no Guadiana, que deve começar n'esta villa e chegar a Villa Real de Santo Antonio, e a construcção de um caminho de ferro, que deve começar n'esta villa e seguir por todo o litoral do Algarve não está nas mesmas circumstancias, porque todos estes melhoramentos se fazem em muito menos tempo, e com muito menos despezas em relação ás que por certo se fariam se o caminho de ferro fosse prolongado pela serra do Algarve. Os terrenos de Beja a Mertola prestam-se com facilidade á construcção de um caminho de ferro, não se encontram por ali difficuldades, nem ha mesmo muitas expropriações. A desobstrucção dos vaus do rio Guadiana tambem é muito facil, e não são necessarias sommas avultadas para a realisação d'aquella obra, e a construcção de um caminho de ferro em todo o litoral do Algarve é tambem muito facil.

Portanto parece-me que as provincias do Alemtejo e Algarve utilisavam muito mais, bem como o paiz, com a appro-