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11 SESSÃO NOCTURNA N.° 42 DE 20 DE MARÇO DE 1902

Resultado final: gastam-se agora 40:281$025 réis. A economia negativa é de 22:364$000 réis.

Não ha nada mais barato.

Mas, imagine V. Exa. que o Sr. Ministro da Guerra installou o serviço de torpedos, mas foi preciso que o Ministerio da Marinha lhe mandasse pessoal habilitado, porque o que lá tinha não era sufficiente para se haver com o serviço.

Mandaram-se desembarcar, do cruzador D. Carlos, officiaes e praças que hoje estão ás ordens do Ministério da Guerra.

Era este pessoal que fazia este serviço no Ministerio da Marinha.

O que se ganha com isto?

Até agora acho apenas de ganho um deficit de 22:000$000 réis.

Pode ser que de futuro se venha a ganhar com isso, actualmente não vejo outros resultados.

Quanto aos barcos torpedeiros que estavam, no seu quartel de inverno construído em Paço de Arcos, e que já foi aqui dito que custou umas centenas de contos do réis, estão hoje debaixo do um telheiro alugado e arriscados a que um dia sejam esmagados quando aquelle telheiro desabar, o que ameaça seriamente.

O que se ganha com estas modificações?

Ganha-se apenas uma economia negativa de 22:000$000 réis.

Segundo a opinião do Sr. Ministro da Marinha todo este material do torpedos não é cousa que valha a pena ser aqui discutida.

Foi esta a opinião que S. Exa. revelou na Camara dos Dignos Pares quando o Sr. Conselheiro Sebastião Telles alguma cousa lhe disse a esto respeito.

O que foi que S. Exa. lhe respondeu? S. Exa. respondeu-lhe o seguinte:

"Não é technico, mas a respeito de questão tão comesinha permitte-se ter uma opinião assente. Os torpedos fixos ficara pertencendo ao Ministerio da Guerra por serem destinados a defender o porto de Lisboa, o que é cousa muito differente de serem lançados ao mar".

S. Exa. disse que os torpedos fixos ficavam pertencendo ao Ministerio da Guerra.

Pois, apesar d'isto tudo, sabe V. Exa., Sr. Presidente, quem está encarregado de os ir buscar o de os tratar? É o pessoal do Ministerio da Marinha.

O Sr. Ministro já ha muito tempo prometteu, pela boca de Sua Majestade, no Discurso da Coroa, que faria a reforma do Corpo de Marinheiros.

Pedia ao Sr. Ministro da Marinha o favor do empregar a sua boa vontade a este respeito, porque, afinal, na dictadura que se fez, e em que se publicaram varias cousas, não se introduziu este regulamento.

Não foi por má vontade de S. Exa., naturalmente, foi porque houve qualquer duvida; mas, seria um grande favor feito, não a mim mas ao serviço publico, e que todos lh'o agradecerão.

O regulamento que está em execução é uma trapalhada e traz grandes dificuldades.

Vão um official dá uma ordem em cumprimento de um dos regulamentos, mas essa ordem vão logo contrariar qualquer dos outros regulamentos, do maneira que ninguem se entende.

Não ha duas pessoas que se entendam, e para se fazer idéa imagine até V. Exa. que o mestre da banda do musica dos marinheiros, teve que assentar praça como grumete, porque não havia meio de entrar na armada por outra forma.

Teve de assentar praça, e hoje é um primeiro grumete estando a receber como primeiro sargento. Imagine V. Exa. que trapalhada!

É necessario, portanto, uma reforma, e espero que S. Exa. não se demorará em trazer um projecto á Camara.

Ha pouco, o Sr. Ministro da Marinha, quando respondia ao Sr. Antonio Cabral, procurou justificar o augmento de 11:000$000 réis, nos serviços hydrographicos, soccorros a naufragos, pesquisas no Minho, etc.

Ora, francamente, a razão que S. Exa. deu não me convenceu, porque, do anno passado para cá, não se deu razão alguma para este augmento.

Seria para fazer concorrencia aos commissarios do Governo?

E possível. Mas o que é verdade é que o augmento deu-se.

Com relação aos operários provisorios do Arsenal, ha tambem um augmento do 5:000$000 réis, mas o que é que se faz no Arsenal?

Está-se construindo, por conta particular, um navio que é pago por subscripção aberta no Brasil, e não ha ali trabalhos a executar por conta do Estado, e porque é que se ha de augmentar com 5:000$000 réis a verba dos operarios provisorios?

Outra cousa, Sr. Presidente. O Sr. Ministro da Marinha reformou, neste interregno, a Escola Pratica de Artilharia Naval. Mas nesta reforma ha uma cousa curiosa e engraçada!... Indica-se no artigo 2.° que todos os alumnos matriculados nesta escola sejam ensinados com o material mais aperfeiçoado e tudo quanto haja de melhor. Entretanto vem no orçamento, para acquisição de material para essa escola 8:000$000 réis!

Mas, Sr. Presidente, se o Sr. Ministro da Marinha quisesse satisfazer este numero segundo do seu regulamento, teria de gastar proximamente 40:000 libras, o não seria muito para o organizar.

E agora, Sr. Presidente, vou referir-me, muito ligeiramente ao regulamento d'esta Escola Pratica. Imagine V. Exa., que nesta escola, aonde se vão matricular os artilheiros, para sor artilheiro de 1.ª classe ó preciso ter a classificação de 14 valores; mas para poder dar tiros com bala, ó preciso ter 15 valores!... Este regulamento admitte a possibilidade de haver artilheiros... como lhe chamarei.., gazosos! Porque realmente atiram; mas só fazem combustão de pólvora sêcca, empregam unicamente os gazes !...

De modo que artilheiros de l.ª classe, que toem um valor a menos, na pratica, só dão tiros de pólvora sêcca: ha só fumo, gazes e mais nada!...

Mas, Sr. Presidente, esses homens, caso não possam trabalhar a bordo do navio escola, por não haver material, vão fazer exercício a bordo dos navios que estejam mais bem organizados. E diz o artigo 3.° do regulamento:

"Fará os tiros com material de combate". Mas porque é que S. Exa. não tomou resolução sobre uma proposta que tem no seu Ministerio - proposta nacional, se não me engano - para o fornecimento de balas exactamente para exercícios, a fim de que ficassem muito mais baratas e não só estragasse o material com os tiros que se fizessem?!...

Mas isso ficará para quando houver vagar.

Calculando em 80 artilheiros a 50 tiros cada ura, o que não será demasiado para a sua instrucção, são 4:000 tiros que em 8 peças, o maximo que existem nos nossos cruzadores, daria 500 tiros a cada peça, numero que está do sobejo provado ser muito superior aos que com ellas se podem dar.

Quer dizer, com. esta disposição, ou os artilheiros não podem dar tiros com bala, ou as peças ficam estragadas.

Isto não pode pois continuar assim, e espero que o Sr. Ministro da Marinha quando tiver tempo, modifique estas disposições.

O meu illustre collega o Sr. Antonio Cabral referiu-se tambem a um ponto, a que igualmente se referiu o Sr. Ministro da Marinha, mas do tal forma que não fiquei percebendo nada.