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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

isto pensasse na constituição de seminarios que lhe dessem missionarios para todo aquelle vasto paiz, que eu da melhor vontade o ajudava.

Elle olhava para mim, admirado de que um ministro liberal podesse ter este desejo e esta linguagem a respeito de missões e missionarios.

Eu disse-lhe que não tinha duvida em lhe dizer o que lhe dizia, porque não tinha duvida em dizel-o no parlamento.

Quanto ao ensino civil e religioso deve-se aos brancos e aos pretos. Se effectivamente os nossos ensaios não têem dado os resultados que desejámos, tentemos de novo; modifiquemos as leis, mas tentemos sempre até se chegar a algum resultado; não desanimemos, ou aliás havemos de renegar os principios liberaes sobre que assenta a actual administração politica e civil.

O governo está pois resolvido a redobrar de esforços para o conseguimento do ensino nas nossas possessões.

Pelo que respeita ao militarismo da India, que vejo está ainda a levantar apprehensões no animo do sr. Jayme Moniz...

O sr. Jayme Moniz: — Apprehensões nenhumas.

O Orador: — O illustre deputado imagina que eu vou restabelecer na India aquelle terrivel phantasma do exercito que foi dissolvido cruamente pela espada gloriosa do meu illustre amigo.

O que eu quero fazer na India? Quero ver se dou pão, com proveito de Portugal, a muita gente que lá está a morrer de fome desde o tempo do governo do illustre deputado; quero ver se melhoro o estado de muitas familias, que não podem jazer no abatimento em que têem jazido, dando-lhes meios de viverem honradamente, servindo como poderem o seu paiz. Desejo aproveitar forças e faculdades que se estão consumindo em pura perda na sua forçada inercia.

Fizeram bem em dissolver o exercito na India; elle não servia para nada, excepto para se revoltar até contra os seus bemfeitores. Agora, porém, depois de longo e merecido castigo, é obrigação do governo portuguez não deixar aquella gente lançada ás feras, e sem que as possa engordar por causa da propria magreza.

Dissolveu-se o exercito com inteira justiça, e não serei eu que venha restabelecel-o; agora o desejo do governo é crear na India um corpo, não sei se um regimento, se um batalhão (mas não lhe hei de chamar exercito, descance o illustre deputado), com o intuito de destacar d'este corpo as forças que forem precisas ás necessidades do serviço, para a Africa oriental, para Timor e talvez para Macau. Isto tem as vantagens de não sacrificar as forças europeas que não podem viver na Africa; evitar os transportes de tropas, muito caros para o estado; poupar em prets e soldos uma rasoavel quantia, e obter soldados que se alimentam facilmente em todas as latitudes, poupando penosissimos trabalhos a um corpo europeu, que nunca ha de fazer o serviço que este póde e ha de fazer. (Apoiados.)

Não tenho, porém tenção de destinar a força da India para o serviço da India. Por ora a minha opinião, a não ser que estudos posteriores me façam mudar de idéa, é mandar d'aqui contingentes para ter em respeito aquelles povos.

Ora aqui tem o illustre deputado o que tenciono fazer do soldado da India simples e exclusivamente: é por um lado alliviar o thesouro da metropole, com transportes, por outro lado ter soldados mais baratos, e por outro lado ter gente mais prestimosa para aquelles paizes, onde se dão perfeitamente os indios e onde se dão muitissimo mal os europeus.

Peço perdão á camara do tempo que lhe tomei, e se for preciso direi mais alguma cousa, tornarei a pedir a palavra.

Vozes: — Muito bem, muito bem.

O sr. Visconde da Arriaga: — Este incidente continua ámanhã?

O sr. Presidente: — Sim, senhor.

O sr. Visconde da Arriaga: — Então faça v. ex.ª favor de me inscrever.

O sr. Secretario (Alfredo Peixoto): — A commissão de redacção não fez alteração alguma aos projectos n.ºs 12, 13 e 14. Vão ser expedidos para a outra camara.

O sr. Presidente: — A ordem do dia para ámanhã é a continuação da de hoje e alem d'isso os projectos n.ºs 16, 17, 18 e 19.

Está levantada a sessão.

Eram cinco horas e meia da tarde.