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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

dou o canal de Moçambique fez tratados com os regulos proximos com a bahia em que estes regulos reconheciam a soberania ingleza, e a Inglaterra dirigiu para ali navios commerciaes n'este intuito; d'aqui a decadencia e estacionamento de Lourenço Marques, e os queixumes do governo portuguez.

Finalmente accordou-se que a França fosse arbitra d'este pleito entre Portugal e a Inglaterra, e a França decidiu a nosso favor; desde este momento Lourenço Marques tomou alento, e hoje vae em caminho de prosperidade, e para esta muito deve concorrer o caminho de ferro para o Transvaal.

Quando o sr. Rodrigues de Freitas ha dias perguntou ao ministro dos negocios estrangeiros se a Inglaterra havia solicitado de Portugal permissão para entrar, pela bahia de Lourenço Marques, tropas para a guerra dos zulus, fiquei immensamente satisfeito com a resposta do ministro, que disse que alguma cousa havia a este respeito, e que quando fosse occasião viria á camara pedir alguma auctorisação se fosse necessario.

Este facto é muito significativo.

A Inglaterra, que tinha tanta facilidade em mandar pela costa oriental reforço ao seu exercito em operações contra os zulus, não o fez comtudo, e veiu pedir á sua alliada esta permissão de que se trata.

Isto mostra que aquella potencia respeita a arbitragem de París.

Vindo pedir-nos permissão para a passagem das suas tropas, o que podia deixar de fazer se, porventura, não fosse aquella arbitragem, a Inglaterra reconhece os nossos direitos e a grande justiça d'aquella arbitragem.

Deixando a bahia de Lourenço Marques, vamos seguindo pela costa abaixo, e entremos em Inhambane.

E uma terra muito commercial e laboriosa, a povoação da provincia aonde ha mais brancos, e muito saudavel.

Diz-se no continente africano que Inhambane é a Cintra da Africa.

Tem já muitas familias brancas, e teve lá um governador, o pae do sr. Arouca, nosso collega, que deixou ali muitas sympathias e muitas saudades, concorrendo muito para a prosperidade d'esta povoação.

Continuando a nossa navegação, entremos em Sofala.

Sofala é onde estão as minas do oiro, chamadas as minas do Quiteve.

O nosso estabelecimento aqui é muito pequeno; está hoje muito reduzido, e o sertão invadido pelos indigenas, as auctoridades portuguezas e quasi todos os habitantes passaram do continente para a ilha que lhe está em frente — a ilha de Chiloane.

Ali é que está o governador e mais auctoridades portuguezas, e em Sofala conservámos apenas um destacamento e uma fortaleza.

Continuemos a navegar, e entremos em Quilimane.

Quilimane é uma das terras mais ricas da provincia.

O Zambeze, com as suas cheias, deixa n'aquelles terrenos uma grande quantidade do nateiro, e o arroz, o feijão, as ervilhas, emfim todos os vegetaes proprios para comer produzem ali extraordinariamente. Pôde dizer-se que é como o Egypto a este respeito.

E agora, que estamos tratando de concessões, ha uma cousa que vou lembrar a todos os meus collegas, porque emfim póde haver alguem que queira aproveitar esta lembrança.

Diz-se que esta concessão, que o governo fez, é muito valiosa. Pois eu vou citar á camara a maior concessão que o governo podia fazer.

É a do prazo Luabo, praso que foi dos jesuitas.

Na verdade é uma pena não haver alguem que intente fundar ali uma colonia. Tenho dito a muita gente que se podia estabelecer ali uma rica colonia, mas não tem havido ninguem que o queira fazer, porque a tendencia toda da nossa população é fugir para o Brazil, e não para a Africa.

Este prazo pertencia aos jesuitas, como disse, e vou mostrar á camara o que elle vale.

Li toda a correspondencia para os capitães generaes de Moçambique, e tropecei nas ordens do marquez de Pombal mandando prender os jesuitas para que fossem enviados, para Goa, e tirando-lhes todos os bens que possuiam em Quilimane.

Realmente fiquei espantado do que produzia o prazo Luabo, á vista do inventario a que o capitão general Mello o Castro mandou proceder em 1760, segundo presumo.

O marquez de Pombal, quando expulsou a ordem dos jesuitas, deu ordens para Moçambique e Goa para que os os que ali existissem fossem presos, inventariando-se todos os seus haveres.

Chegou o navio com a ordem a Moçambique, e não communicou com a terra; o capitão foi o unico que saltou em terra, entregou as ordens regias (cartas de prego) ao capitão general, e depois de dadas as providencias necessarias, a respeito da prisão dos jesuitas e arrestacão dos seus bens, é que o navio communicou com a terra. Fazendo-se tudo em segredo, tive occasião de ver em toda a sua plenitude toda a producção inventariada do prazo Luabo. Fiquei admirado do quanto a natureza ali era pródiga em producção — milho, ervilha, feijão e mandioca — era tudo aos milhares de alqueires.

Hoje aquelle prazo está quasi abandonado, e a concessão d'elle a uma companhia agricola para o explorar seria de grande conveniencia para essa companhia e para a provincia de Moçambique, porque alem d'aquelles productos pela sua enorme extensão é muito apto para a cultura do assucar e do café.

Quando o sr. José Maria Eugenio de Almeida comprou o paul do marquez de Niza junto a Villa Franca, eu vi um documento em que se dizia que aquelle paul era a melhor terra de Portugal. Este paul foi dado por El-Rei D. João 1 á filha de João das Regras; e no documento em que tal dadiva era feita, dizia-se: «Dou-vos este terreno por n'este paiz não haver terra melhor com que galardoar os serviços que vós me fizestes nas côrtes de Coimbra — 1385».

Quando vi este documento, tinha os olhos pregados no prazo dos Quintos (Luabo), que no meu entender seria a melhor concessão a fazer a quem tivesse amor pelo engrandecimento do nosso ultramar. (Apoiados.)

Agora vou passar a tratar dos outros pontos relativos á occupação e á exploração de terrenos; mas não podendo concluir hoje, e estando quasi a dar a hora, peço a v. ex.ª que me reserve a palavra para a sessão immediata.

Vozes: — Muito bem

(O orador fui comprimentado por alguns srs. deputados.)

O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros (Andrade Corvo): — Mando para a mesa uma proposta de lei sobre uma convenção postal universal, que tem por fim modificar algumas das bases da convenção antiga.

(Esta proposta será publicada no fim da proxima sessão.)

O sr. Presidente: — A ordem do dia para ámanhã é a continuação da que estava dada.

Está levantada a sessão.

Eram cinco horas da tarde.