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716 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

ou expostos aos assaltos dos ferozes indigenas do Zambeze.
Attente s. exa. que, ao cabo de tres seculos de ligação politica, nem um unico navio portuguez dobra o Cabo da Esperança, nem um fardo de mercadorias nos chega daquellas longinquas paragens, estrangeiras para Portugal, a não ser pelas exiguas guarnições que ali mantemos e pelos empregados officiaes que lá mandâmos!
E Macau? E Timor? E a India? Poupe-me a camara a tocar n'estes florões murchos da nossa corôa colonial!... Poupe-me a camara o dizer a este respeito algumas palavras verdadeiras, mas que podem não soar bem em todos os ouvidos, já que infelizmente n'este paiz se entende por patriotismo estar-se cada um conscientemente a illudir !...
Em todo o caso persisto na minha anterior affirmação: o futuro colonial de Portugal está na Africa occidental, isto é, em Angola e nas ilhas que de certo modo podem ser consideradas como dependencias desta magnifica provincia. Para ahi devemos fazer convergir todos os nossos esforços de nação colonisadora, para ahi devemos reservar a melhor parte dos recursos, que para nada chegarão se loucamente os andarmos gastando pelas outras possessões que ainda temos, que eu não quero que se abandonem, note-se bem, mas que desejo ver governadas por um systema diverso do que se deve inaugurar e estabelecer em Angola.
Quando um novo regimen colonial começar a vigorar na nossa Africa do occidente e muito especialmente em Angola. ..
(Interrupção.)
Moçambique! Diz-me outra vez o illustre deputado por aquella colonia.
Eu digo já a v. exa. sobre este ponto com toda a franqueza a minha, opinião.
Para mim, e creio que para todos que de boa fé estudam estas questões coloniaes Moçambique não ? uma colonia e muitos menos uma colonia portugueza.
Não nos illudamos, nem com a sua extensão, nem com as suas riquezas naturaes.
Na primeira exercemos apenas urna precaria soberania nominal; as segundas não as aproveitâmos nós, mas os estrangeiros que commercialmente as exploram.
Moçambique é actualmente para Portugal o mais eloquente testemunho da sua incapacidade governativa, da sua quasi esterilidade colonisadora contemporanea, do triste desleixo e da triste incuria que tem pesado e ainda pesam sobre o nosso ultramar!
São as colonias apenas titulos de vaidade nacional, que devem servir meramente para lisongear o nosso amor proprio, quando no mappa mundi apontamos os legares por onde ellas se estendem, ainda que não seja senão no papel?
Não o creio, sr. presidente!
Se queremos resolver de um modo serio o importante problema colonial, que em parte a Europa se vae encarregando de resolver por nós, e o que peior é, contra nós, comecemos por corajosamente dizer a verdade toda.
Quando se chega ao estado em que nos encontramos, não curo agora de saber por culpa de quem ou de que, o primeiro dever patriotico a cumprir é a - sinceridade.
Nada de illusões ! Bastante têem ellas prejudicado o nosso credito e os nossos mais legitimos interesses!
Falla-me o illustre deputado das colonias inglezas!
Oh! sr. presidente, mas as colonias inglezas são o mais esmagador contraste que podemos oppor ás nossas!
S. exa. póde continuar a dizer (apontando para o sr. Elvino de Brito) que isto não é verdade; mas nas circumstancias economicas em que se encontram as colonias britannicas, como por exemplo a colonia do Cabo e a propria colonia do Natal, que, apesar de relativamente atrazada, está muito acima em adiantamento até da nossa Angola, não ha approximação possivel com Moçambique. Sem fallar de outros elementos de riqueza, as colonias inglezas africo-austraes têem cada uma d'ellas uma importante população europêa e entretem com a mãe patria um lucrativo commercio de muitas mil libras esterlinas. E a nossa colonia da Africa oriental?
O sr. deputado que responda!
Concordo, sr. presidente, em que devemos empregar to dos os esforços para que Moçambique melhore de condição e se levante do abatimento em que está.
Sobre esse ponto não póde haver duvida; mas d'ahi até querer que appliquemos a esta colonia o mesmo regimen, que não podemos deixar de applicar a outras que têem um mais largo futuro nacional, vae uma grande distancia. Da mesma forma seria grave erro estender desde já a Angola uma medida que, applicada a Moçambique, consequencias algumas graves póde ter, attendendo ao que nós podemos exigir dessa colonia.
Moçambique vae materialmente florescendo, não o nego, graças a uma certa ordem relativa, que ultimamente se tem introduzido no governo d'esta possessão, assim como no das demais; graças aos baixos direitos aduaneiros da pauta que ali vigora; e graças sobretudo ao regimen que ali se adoptou para a repressão do tranco da escravatura; mas, não o occultemos, são os estranhos e quasi exclusivamente os estranhos que lucram com esta prosperidade relativa. Para Portugal, Moçambique continua a ser tão estrangeira ou mais ainda do que nos tempos da sua maior decadencia!
Quem desconhece que o commercio de Moçambique se desnacionalizou completamente, a ponto de se realisar na sua totalidade ou pouco menos com os portos de França, principalmente com Marselha, tendo desapparecido todas as relações com Lisboa, Porto ou outra qualquer praça da metropole?!
Ora a desnacionalisação do commercio é o symptoma mais grave da desnacionalisação da colonia. Que nos resta ali pois? Um deficit orçamental para directamente mais aggravar as nossas finanças, e um deficit commercial para indirectamente mais abater a nossa expansibilidade.
Approvo, pois, que em tal caso, e já que a desnacionalisação é irremediavel, se salve ao menos por medidas ampla e rasgadamente liberaes a prosperidade material de Moçambique, tanto mais que com taes medidas nada tem a perder a navegação portugueza, que para alem do Cabo da Boa Esperança não existe. Mas com relação a Angola a situação é diversa.
Se nações poderosas, como a Allemanha e a Inglaterra, podem ter uma justa vaidade em policiar grandes tratos de territorio para que os outros povos possam negociar n'elles livremente, não me parece que tal sentimento, embora sympathico e humanitariamente muito levantado, deva exclusivamente predominar em uma nação, que está destinada fatalmente, para poder conseguir algum resultado, a concentrar toda a sua actividade colonisadora em certos e determinados pontos, em virtude do seu fraco desenvolvimento industrial, da sua pequena população especifica e absoluta, dos seus poucos capitaes disponiveis, do seu commercio colonial rudimentar e de outras circumstancias ainda, que nos obrigam a ter sempre em vista, nas nossas emprezas ultramarinas, o conhecido aphorismo: qui trop embrasse, mal étreint.
Não estranho, que o illustre deputado, pelo menos, por um nobre sentimento de gratidão para com os seus eleitores, levante um brado enthusiastico em favor de Moçambique, que eu, como o illustre deputado, desejo ardentemente beneficiar, mas não, ao que parece, pela forma por que s. exa. o deseja.
Infelizmente para nós, repetil-o-hei, já que s. exa. me interrompe de novo, Moçambique tem sido e continuará a ser uma colonia estrangeira.
Portugal durante tres seculos não tem podido ali exercer nem o dominio politico integral a que tem direito, nem