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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

distinctos e de entre os mais notaveis homens de letras e homens d'estado e de governo d'esta terra. Não creio que alguem possa offender-se com esta distincção que eu faço, ou com esta menção especial, porque me parece que ninguem póde ter direito a ter inveja do variado, profundo e distincto talento do sr. Latino Coelho, nem das qualidades que tornaram tão notavel o sr. Rebello da Silva na sua passagem por aquella repartição do estado (apoiados).

Todos estes homens têem procurado dar ás nossas colonias as communicações indispensaveis, a protecção, a policia e segurança, ás quaes são obrigados todos os tutores para com os tutelados.

Cumpre, como que mergulhar, n'aquelles terrenos tão ferteis e ainda virgens, e por tanto tempo abandonados, um braço do tronco velho da metropole que vá ali fortificar; esse braço é o navio; o navio para a protecção aos capitaes que ali principiam, depois que o homem deixou de ser escravo, a procurar um emprego mais productivo do que caçar o homem preto para o ir vender ao imperio do Brazil ou ás outras possessões, onde elle era obrigado a fazer o serviço de machina.

Propõe o relatorio, porém, que essa protecção se restrinja na importante provincia de Angola e que o serviço seja reduzido a uma corveta, uma canhoneira e a um hiate.

O hiate para guarda de uma costa que tem 13 ou 14 graus, como é a costa da provincia de Angola! Creio que não será posta em duvida a proficuidade das suas funcções n'este serviço, nem mesmo pelo mais subtil defensor das economias.

Não tendo eu conhecimento especial e pratica das cousas das colonias, pois a minha instrucção a este respeito e a minha opinião provém unicamente dos trabalhos feitos pelo illustre marquez de Sá da Bandeira, e outros de differentes officiaes e governadores das provincias ultramarinas, e dos relatorios e mais documentos que têem sido enviados para a metropole, digo que este projecto vae deixar completamente abandonados os filhos d'este paiz, que ali estão trabalhando e tratando de desenvolver a agricultura e estreitando as relações entre a patria e aquellas possessões, as quaes nós temos obrigação de velar e administrar devidamente.

O sr. Latino Coelho, de quem não me cansarei de citar á camara a opinião competente (apoiados), opinião conscienciosa, porque ninguem póde duvidar da grande consciencia com que aquelle homem d'estado tratou de reformar a repartição que lhe foi confiada, dizia o seguinte:

«Os successos d'este seculo mudando inteiramente as condições da nossa vida social, foram determinando a progressiva reducção da nossa armada, até que não ha ainda muitos annos, pelas graves difficuldades do thesouro, parecia imminente e inevitavel a sua inteira decadencia, recente e viva ainda a da tradição dos brilhantes serviços que prestára na restauração das liberdades nacionaes.

«A marinha de guerra portugueza não podia porém, sem que renunciassemos aos fóros de nação, deixar vazio o logar que tão honradamente ganhára por seus feitos admiraveis e por suas gloriosas expedições. Algum impulso se foi dando ao seu melhoramento, segundo o iam consentindo os recursos de que podiamos dispor.

Será um erro deploravel não attender aos aperfeiçoamentos e progressos da nossa força naval. Uma nação que possue ainda tão vastas e productivas provincias ultramarinas em tão afastadas regiões do globo, é forçosamente uma nação maritima, e a decadencia total da sua marinha significaria a sua tacita abdicação como paiz colonial.

«E é principalmente para o serviço dos dominios portuguezes no ultramar que devemos calcular as nossas forças navaes, sem deixar de attender os serviços importantes que para a defeza do nosso litoral e dos nossos portos póde prestar a marinha nacional convenientemente organisada.»

Eu não occuparia a attenção da camara com a leitura d'este documento, que de certo os illustres deputados terão meditado no remanso do seu gabinete, se effectivamente me sentisse com auctoridade necessaria para emittir aqui opinião minha, e por isso peço desculpa de fazer esta leitura na parte em que me parece essencial.

Eis o que diz o sr. Latino Coelho:

«Duas corvetas grandes, tres navios mais pequenos movidos por vapor, um navio de véla destinado a servir de navio escola de marinhagem, e um outro em que esteja instituida a escola de artilheria, são sufficientes para o serviço do continente, se lhes dermos por auxiliares indispensaveis dois navios couraçados, pelo menos, do systema mais accommodado á defeza dos nossos portos.

«O serviço colonial exige tres estações: a primeira deve comprehender a Africa occidental e a America do sul; a segunda, a Africa oriental e o Oceano indico; a terceira, o mar da China, o Japão e a Oceania.»

Se não fosse conhecida a delicadeza, a vivacidade, o relevo e as qualidades distinctas de que o sr. Latino Coelho tem dado provas como escriptor, para honrar o nome d'esse cavalheiro, bastava dizer: aqui está o que elle escreveu.

(Mostrando o livro á esquerda da camara.)

Não era preciso mais.

Diz ainda mais o sr. Latino Coelho: que a marinha é a segurança das colonias e defeza do litoral no continente.

Note bem a camara.

Fallando da estação de Angola, para a qual a commissão propõe 1 corveta, 1 canhoneira e 1 hiate, dizia o sr. Latino Coelho que era preciso o seguinte:

1 Corveta de maior lotação.

2 Corvetas menores.

4 ou 5 Canhoneiras a vapor.

Para a estação de Macau propoz o sr. Latino Coelho:

1 Corveta a vapor.

2 Canhoneiras.

A commissão propõe para Angola 1 corveta, 1 canhoneira, não torno mais a fallar no hiate, porque me parece que o hiate tinha de representar o papel que os hulanos representaram no sitio de París, isto é, preencher o vacuo entre uma corveta e uma canhoneira.

Collocava-se a corveta na extremidade do sul da nossa costa da provincia de Angola, a canhoneira ao norte, e o hiate ficava preenchendo este espaço de 13 a 14 graus entre um e outro ponto. É admiravel!

Que dirá a isto o sr. Latino Coelho? Posso eu de maneira alguma duvidar que a força que o sr. Latino Coelho propoz é absolutamente indispensavel para a estação de Angola?

O sr. Latino Coelho que procurou reduzir na repartição a seu cargo, principiando pelo concelho ultramarino, todas as despezas que julgou indispensaveis, não escrevia o que a camara ouviu, nem o propunha ao parlamento se julgasse que o serviço se podia fazer mais economicamente (apoiados).

Dou muito pela opinião de s. ex.ª a este respeito.

Entretanto visto a commissão dizer que este serviço se póde fazer com 1 corveta e 1 canhoneira, não fallando no hiate; se a opinião do sr. Latino Coelho não fosse sufficiente, citaria a opinião do sr. Rebello da Silva, com o mesmo cuidado, com o mesmo zêlo e com a mesma dedicação pelo ultramar, no exercicio do cargo que tanto honrou (apoiados), tambem propunha a mesma força que o sr. Latino Coelho, não porque não considerasse que era precisa muito maior, mas unicamente porque os recursos, de que podia dispor o não habilitavam para satisfazer tanto quanto era necessario ao serviço naval d'aquella provincia, que temos obrigação de zelar, e zelar com todo o cuidado.

No total da nossa força naval propunha o sr. Latino Coelho 2 corvetas grandes, 3 navios mais pequenos movidos por vapor, 1 navio de véla destinado ao serviço e escola de marinhagem, e outro bem que estivesse empre-