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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

queria abolir, como aboliu, antes da guerra e depois da guerra.

O sul construiu dois corsários, o Alabama e o Florida, que foram o terror do commercio do norte em todos os mares do globo, destruindo mais de cem navios, que por elles foram saqueados e apresados.

Estes dois corsários romperam muitas vezes o bloqueio terrivel que os estados do norte-americano tinham posto aos estados do sul, e o resultado foi que acabada a guerra, a America do norte pediu a Inglaterra uma indemnisação de guerra, tão exagerada como foi a indemnisação que a França ultimamente teve de pagar á Allemanha, em consequencia da Inglaterra haver considerado como belligerantes os estados do sul, e consentido que nos seus portos se construíssem áquelles dois corsários.

Esteve proximo a arrebentar a guerra, mas a diplomacia tudo asserenou, e constituida a Suissa como arbitra para julgar este grave conflicto, os Estados Unidos contentaram-se com uns poucos de milhares de libras que lhe deu a arbitragem.

Aqui está outro resultado por causa da escravidão, e aquella indemnisação por este motivo infligida á Inglaterra pela sua antiga colonia, de certo que deve ter ferido e magoado muito os sentimentos nacionaes d'aquella grande potencia.

E não é só agora. Antigamente acontecia o mesmo.

Permitta-me a camara que eu faça ainda uma divagação. _

Nós sabemos o que foi o imperio romano. O imperio romano era um imperio colossal que dava leis a toda a Europa. Ainda hoje estudamos o direito romano como servindo de base á legislação de todos os povos cultos.

Todas as cidades conquistadas se enthusiasmavam quando lhes eram dados os fóros de cidades romanas.

Ainda hoje o que existe na Italia, em architectura, em esculptura, em construcções, em tudo emfim o que era grande e bello, é devido á civilisação d'aquelle imperio.

Mas sabe v. ex.ª o que acontecia? Tinha na sua legislação artigos terriveis, que haviam de concorrer para o seu desmoronamento, que haviam de concorrer para se deluir e baquear.

Permittia-se a escravidão. Havia capitulos inteiros nos seus codigos que tratavam dos escravos, dos servos e dos libertos, e do direito jus vita et mortis sobre estes infelizes, existia o trafico da escravatura, que devia mais tarde ser a causa da morte d'aquella assombrosa organisação politica. (Apoiados.)

Quando o imperio romano estava mais rico e era mais dominante, appareceu um homem, mas um homem de maneiras simples e agradaveis, de physionomia sympathica, que principiou a pregar a igualdade entre os homens, essa idéa cresceu e desenvolveu-se debaixo de grandes perigos e hecatombes humanas, e o imperio degelou-se e baqueou debaixo da idéa irresistivel de igualdade para todos, proclamada por Christo. (Muitos apoiados.)

Por consequencia, fique a camara sabendo bem que todas as desgraças que temos soffrido nas provincias ultramarinas tem por origem a escravidão.

As desgraças que os Estados Unidos soffreram n'essa grande guerra a que ha pouco me referi, tiveram origem na escravidão; as desgraças que a Hespanha está soffrendo em Cuba e ha de soffrer ainda tem por origem a escravidão, porque ha ali tres milhões de escravos que mais tarde ou mais cedo hão de ser um elemento poderoso para fazer baquear aquella colonia; as desgraças que Franca soffreu nas suas Antilhas no fim do seculo passado, com o morticinio dos brancos pelos pretos, tiveram por origem a escravidão.

E Tocqueville presume ainda para o fim d'este seculo um grande desastre no Brazil, onde existem quatro milhões de escravos, porque estes quatro milhões de escravos postos em inferioridade em presença da raça branca mais tarde ou mais cedo hão de vir ás mãos com ella.

Posto este ponto, dada uma idéa ligeira do que tem sido a escravidão no ultramar, passei, como v. ex.ª viu, na ultima sessão a descrever as nossas possessões em Moçambique.

Passei o Cabo da Boa Esperança, e a terra do Natal, e entrei na primeira possessão portugueza, que é a bahia de Lourenço Marques.

Descrevi a v. ex.ª e á camara o grande conflicto que tinhamos lido com a Inglaterra sobre a posse d'esta bahia, e os motivos que tenham dado logar aquelle conflicto, assim como a maneira favoravel para nós por que a França tinha resolvido aquelle conflicto.

N'essa occasião não pude deixar de tecer os maiores elogios ao sr. Andrade Corvo o a um cavalheiro que foi nosso collega, mas que infelizmente já hoje não existe, o sr. visconde de Paiva Manso, que foram os que dirigiram o negocio e prepararam os documentos de tal modo que o resultado foi a França resolver a favor de Portugal. E não foi só a essa arbitragem a que me referi.

Tambem me referi á" arbitragem relativa á questão do Bolama, em que o sr. marquez d'Avila se mostrou um grande diplomata e preparou os documentos de modo que a arbitragem dos Estados Unidos da America tambem foi igualmente favoravel a Portugal.

E agora referir-me-hei a factos que devem ser agradaveis ao meu collega o sr. Rodrigues de Freitas.

Uma arbitragem franceza e uma arbitragem americana, tomadas por accordo entre governos monarchicos para decidirem os seus aggravos, por força que deve ser caso agradavel ao meu illustre collega, que defende as idéas republicanas, e para cujos governos recorrem os governos monarchicos.

Lourenço Marques é um grande porto; é o maior que existe na costa oriental da Africa, o talvez seja a maior bahia do mundo.

Desaguam sete rios n'aquella bahia, e quatro d'elles são grandes e navegáveis. Depois da decisão da arbitragem a Inglaterra já não nos inquieta a respeito d'aquelle nosso dominio, nem ali commerceia clandestinamente.

Alem d'isso, por um tratado feito era 1870, pelo ministro da marinha o sr. Camara Leme, foi delimitado o nosso terreno com o dos boers pela montanha do Libombo, o territorio que fica para cá das montanhas pertence-nos, aquelle que fica por detraz da montanha pertence aos boers que são os habitantes do Transwall, hoje annexado á Inglaterra.

A Inglaterra tomando o anno passado conta do Transwall, ratificou esse tratado, que foi um grande passo que se deu.

O nosso territorio estava ali ainda por delimitar, e esse tratado foi um grande serviço que se fez ao paiz; porque se não se tivesse feito esse tratado, depois de estar, como está o Transwall, reunido á Inglaterra, seria muito mais difficil obter a devida delimitação do nosso terreno.

Mas pense bem o camara em que todo aquelle territorio está despovoado. todos os terrenos banhados por áquelles sete rios, estão como no primeiro dia da conquista, e apenas existe na margem direita do rio do Espirito Santo a povoação portugueza de Lourenço Marques; o mais está tudo abandonado, e é necessario dar esses terrenos a companhias ou a individuos, e chamo sobre isto a attenção da camara, para que quando este ou outro governo faça alguma concessão, não venhamos depois accusal-os de governos perdulários, de que deram aquillo que não podiam dar, mas que hoje nada, nem nunca póde valer sem ser colonisado. (Apoiados.)

Saindo da bahia de Lourenço Marques, costa acima, encontrámos Inhambane, outro governo militar. A povoação mais sadia e das mais ricas e mais abundante da provincia de Mocambe, mas com uma area de terreno todo