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DIARÍO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

sertão, que é necessario colonisar, o que se nós não podermos povoar e cultivar, haverá mais tarde alguem que o faça por utilidade publica.

Deixando a povoação de Inhambe o continuando a navegar pela costa, chegámos a outro governo militar, o governo de Sofala.

Já disse a V. ex.ª hontem, que Sofala é onde existem as minas de Quiteve, n'outro tempo muito exploradas, e d'onde as chronicas e documentos officiaes dizem que saíu o oiro para o templo de Salomão, no Egypto.

Hoje o terreno de Sofala está todo invadido pelos cafres, assim como o Quiteve, e v. ex.ª que está vendo todos os dias a correspondencia official a respeito de Moçambique, sabe isto melhor do que eu; a povoação mudou se para a ilha fronteira chamada Chiloane, porque os habitantes sujeitos a continuas invasões dos cafres, tomaram esta precaução de segurança, passando com os seus haveres para aquella ilha.

Pelo tratado de 1817, de Vianna d'Austria, depois da guerra Napoleonica, foi garantido o nosso dominio na costa oriental de Africa, desde Lourenço Marques até ás ilhas de Cal>o Delgado, por nos pertencer por direito de conquista, mas hoje este direito é muito fraco, o devemos occupar tudo, por que o exercicio da posse, é o unico que póde consolidar o nosso dominio africano, e se nós não o occuparmos, continuarão os conflictos com as nações estrangeiras, e n'esse caso seria melhor vender ou dar isto a alguem para exploração por utilidade da humanidade.

Mas deixando Sofala e continuando a navegar na costa, entramos n'outro governo militar, que é o governo de Quelimane, onde ha o Prazo de Luabo, que fica junto á barra e que pertenceu aos jesuitas e hoje ao estado, e que seria a concessão mais agradavel e primorosa que o governo portuguez podia fazer a qualquer companhia agricola, no interesse da provincia de Moçambique e do estado.

Na correspondencia do marquez de Pombal, relativa aos jesuitas, feita em 1700, veêm inventariados todos os seus haveres; e n'esse inventario vem tambem a exposição do que produziu o praso Luabo.

A produção do milho, fava, feijão, mandioca, era uma cousa espantosa!

Eu não acreditava, e perguntei a muita gente se aquillo era exacto, mas ninguem me sabia responder, e pelo exame d’este inventario e outras informações a que procedi depois, convenci me que a concessão do prazo Luabo seria uma grande concessão para um particular ou companhia; hoje está abandonado e perdido.

Repito; desejaria que o governo concedesse o prazo de Luabo a qualquer companhia que o quizesse explorar, porque podia ser muito feliz e de grande utilidade para a provincia de Moçambique que precisa que a cultivem.

O prazo Luabo tem atrás de si e muito perto a povoação de Quelimane, que o defendo e offerece este prazo mais garantias de estabilidade do que as concessões feitas aos srs. Paiva Rapozo e Paiva de Andrada e a muitos outros, que são no interior e sujeitas a muitas invasões (Apoiados.)

Se eu tivesse a idade que tinha quando pela primeira vez fui a Africa, e me fosse concedido o prazo do Luabo, dava-se-me uma preciosidade, era uma enorme concessão. Se tivesse qualquer companhia que me auxiliasse a despender dinheiro para pagar aos pretos no commettimento d'esta industria agricola; seria isto no meu entender o maior favor que o governo portuguez me poderia fazer ou a outro qualquer que o quizesse explorar; no interesse de todos a roteação dos terrenos cria materia collectavel (Apoiados.)

Deixando Quelimane e as margens do Zambeze, e continuando pela costa, encontrámos mais adiante as ilhas de Angoche.

V. ex.ª sabe que as ilhas de Angoche eram um centro de escravatura e contrabando, e que, uma grande parte

da escravatura que se fazia no canal de Moçambique saia d'aquellas ilhas.

Fizeram-se differentes tentativas para acabar com este estado de cousas o organisou-se uma expedição portugueza e ingleza, composta de navios inglezes o portuguezes, em 1810, que levando muita tropa de desembarque que havia em Moçambique, commandada por um official habil do cerco do Porto, o sr. major Antonio Alves de Azevedo Campos; lanchas a vapor, dirigiram se aquellas ilhas proximas a Moçambique; houve um grande tiroteio, desembarque de tropa, queima de barracões para escravos, mas não se póde tomar conta das ilhas o voltou a expedição só com áquelles resultados de intimidação.

Mais tarde o sr. Tavares de Almeida que era um cavalheiro muito digno e homem dedicado ao serviço da sua patria, sendo governador de Moçambique foi mais feliz, porque combinou-se com um poderoso habitante do Quelimane, o qual com uma força de pretos armados por terra, e outra do estado pelo mar, forçaram valentemente a povoação de Angoche, tomando conta d'aquellas ilhas.

Constituiu-se ali um governo subalterno, e depois d'aquelle feito militar os rendimentos da alfandega de Moçambique têem augmentado progressivamente.

Deixando as ilhas de Angoche approximamo-nos de Moçambique. Mas antes de entrarmos ahi apparece a bahia chamada do Mocambo, que seria de uma grande vantagem que o governo tambem a concedesse, porque tem atraz de si um grande territorio todo inculto e nas mãos dos indigenas.

Entra-se depois no porto de Moçambique (ilha) aonde está o governador geral, os auctoridades principaes da provincia e a alfandega da capital, que é a mais rendosa, acima de 200:000$000 réis, o terreno fronteiro á ilha apenas é cultivado no espaço de uma légua para o interior, e mal cultivado.

Deixando o porto de Moçambique entramos na bahia da Conducia, aonde foi prisioneiro o Charles et Jeorge, por cujo conflicto com a França, em 1857, foram magoados e offendidos os sentimentos nacionaes. (Apoiados.)

Esta bahia está abandonada e tambem precisava ser occupada; é o logar da provincia aonde ha mais madeiras de construcçâo.

Segue-se a bahia do Fernão Veloso, no mesmo estado em que a encontrou Vasco da Gama, á espera de cultivadores, e que a occupem.

Encontra-se adiante a bahia de Pembe, formosa bahia o com um territorio muito productivo; está deserta, e á espera que tenham dó d'ella, e que a cultivem; foi n'esta bahia que o sr. marquez de Sá lançou uma colonia saída -de Lisboa em 1859, na escuna Pembe da qual falharei logo.

Mais adiante damos com as ilhas de Cabo Delgado, capital, a povoação chamada Ibo, estas ilhas vão prosperando lentamente por falta de população; estão constituidas n'um governo subalterno

Continuando a navegar entramos na grande bahia do Tungue, sobre a qual bahia temos ainda uma pendencia com o Isman de Mascati, hoje com o sultão de Zanzibar, porque Mascate está hoje separado da ilha de Zanzibar; são dois governos, governados por dois irmãos, depois do fallecimento do ultimo sultão de Mascate, e são tambem governos independentes por disposição do mesmo sultão.

Agora vou demorar-me alguns instantes e tratar da bahia de Tungue.

Em 1854, quando me retirava para a Europa de Moçambique, o governo auctorisou-me para eu ir á ilha de Zanzibar tratar de delimitar o nosso dominio na bahia o Tungue o terminar a pendencia sobre esta bahia, que estava n'estas circumstancias,.quando o governo portuguez queria estabelecer ali uma alfandega, não o podia conseguir porque o sultão de Zanzibar indispunha indirectamente contra nós os indigenas do sertão, e quando elle

Sessão de 4 de março de 1879