752 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
Em obediencia a este pensamento do grande mestre, é forçoso reconhecer que a actual organisação das tropas da nossa artilheria é deficiente para satisfazer ás crescentes exigencias do combate moderno.
Assim o reconheceu o fallecido estadista Fontes, quando no relatorio que precedo o projecto de lei apresentado ás cortes era 1884 escreveu: «a artilheria, mesmo depois do augmento proposto, é que fica muito abaixo do indispensavel, segundo a proporção moderna, para um exercito, ainda quando não seja maior de 100:000 homens.
«30 baterias ou 180 bocas de fogo, sem contar algumas peças de montanha, não chegam a representar 1,8 da força total em 1:000 homens. Seria preciso o dobro, pelo menos, para que esta arma. ficasse em boas condições. Não permittem, comtudo, as nossas circumstancias financeiras, desde já, que se eleve tão consideravelmente a despeza. O melhoramento que se propõe é muito importante e n'outra occasião mais propicia será elevada a artilheria ao ponto que é necessario attingir, para que esta arma satisfaça, numericamente fallando, ás exigencias da guerra na actualidade.»
Isto é effectivamente verdadeiro, pois que não só o numero de bôcas de fogo por 1:000 homens é muito inferior ao limite minino adoptado nos principaes exercitos europeus, mas ainda a proporção entre o numero de baterias é muito pequena em relação ao numero de batalhões de infanteria que, segundo a actual organisação, devemos ter em tempo de guerra; assim é que temos apenas 36 baterias para 108 batalhões do infanteria, emquanto que na Belgica ha 40 baterias para 78 batalhões; na Grecia 12 baterias para 21 batalhões; o exercito frances; tem 437 baterias para 606 batalhões; o exercito allemão, 364 baterias para 503 batalhões; e, finalmente, a Dinamarca, 24 baterias para 31 batalhões; de sorte que, se entre nós se estabelecesse a mesma proporção, deveriamos ter 55, 151, 77, 78 ou 83 baterias montadas, conforme adoptassemos a proporção seguida n'aquellas nações pela ordem em que ficam enumeradas.
Até a Turquia duplicou agora a sua artilheria. Segundo a ultima organisação, o exercito ottomano compõe-se de 274 batalhões de infanteria, 141 baterias montadas, 27 baterias de montanha e 18 a cavallo, isto ò, 159 baterias montadas e a cavallo para 274 batalhões!
O que fica dito prova que temos um limitado numero de baterias de campanha, quer se considere a relação que deve existir entre o numero de baterias e o numero de batalhões, quer só attenda á proporção adoptada entre o numero de bôcas de fogo e 1:000 homens.
O projecto de organisação das tropas de artilheria que temos a honra do apresentar, pouco attenda este inconveniente, para remediar, o qual seria necessario avultada despeza.
A artilheria em tempo de guerra fica com o mesmo numero de baterias que está estabelecido na actual organisação; isto é, 36 baterias de campanha a 6 bôcas de fogo, ou sejam 216 peças e mais 6 baterias de montanha a 8 peças.
A principal vantagem do projecto é tornar effectiva a mobilisação das 36 baterias, que agora é completamente impossivel, o, facilitar o tornar mais expedita a passagem ao pé de paz ao pé de guerra, não crescendo, n'essa occasião, novas unidades, mas sómente reforçando com praças de reserva os effectivos das baterias já existentes e organisadas em tempo de paz
Augmentar o numero de unidades, o numero de bate rias na mobilisação, como está prescripto na organisação de 1884, é grave erro, contrario aos principios e regras actualmente seguidos.
[texto em francês]
Assim Blume no seu estudo Stratégie escreve: «Le pas-sagc du pied de pais: au pied de guerre amène dês frottc-ments móvitables et si uombreux, que l'on ne doit rien uégligcr pour Ics dimmuer. Or, on atteiut évidemment cê dernior résultat, si lê commandemcnt du temps de paix est lê môrne que celui du ternps do guerre, si lês tropos qui doivent opérer ensemble à Ia guerre sont déjà unies entre elles par Ia formation de paix, et si, au moment de l'ou-verture dês hostilités, cheís et tropes se connaissent déjà
«Pour dês coiibidérations múltiplos, il n'est pás toujours possible d'appliquer complètement cês príncipes. Mais plu» Ia formation de paix se rapprochera de cello du temps da gaorre, plua ou est súr d'avoir à Ia guerre une arméo bien organisée.» E ainda Lewal na Reforme de 1'armée nos diz: «L'armée doit toujours ôfre mobilisable en quelques jours, et lês corps píêts à faire mouvement en quolques heuresí.
No actual projecto suppõe-se que o exercito só compito do dois divisões militares, quatro das quaes constituem, em tempo de guerra dois corpos de exercito de duas divisões cada um, ficando independentes as suas divisões restantes, como consta ter sido proposto no plano de mobilisação elaborado pelo corpo de estado maior.
Para conveniente agrupamento da artilheria de campanha do exercito activo, e sua distribuição nas divisões militares e corpos do exercito, dividimos a artilheria em artilheria divisionária c artilheria de corpo.»
[texto em francês]
Como justificação d'esta divisão citaremos o que escreve Lewal no Etudes d?s guerres: «L'artilheric divisionnuire n'aura pás toute 1'intensité de feux désirable à certains moments. Ellc doit pouvoir trouver un renfort, et co n'est pás à une autre division qu'elle lê demandera ordinaire-ment. L'apparition mopiriée do quelques batteries, durant Ia lutte, est toujours d'un grand cffet, et cc iôle ne peut appartenir aux batterics divisionnnires. L'obligation d'oc-cuper dês positions avant 1'arrivée dcs troupes, de combler dês lacunes daus lê fiont de combat, cTaquérir dês diver-sions à distance, de donner dês secours à un voisin dans l'embarra's, necessito une force d'artilherie dispomblo dont ou puissc faire usage, sans nuire aux opérations cntiepri-aes, sans toucher aux batteries divisionnaires.
a Lê príncipe de rospecter 1'organisation divisionnaire a pour corollaire force 1'existence de 1'artillerio de curps.
«L'artillerie de corps d'armée presente de très-nombroux avantages et elle a bieri dês motifs d'exister.»
A «artilhem divisionaria» compõe-se de 3 regimentos a 8 baterias, que fornecem um grupo de 4 baterias a cada uma das 6 divisões militares, sendo cada um dos grupos commondado por l major. Os coroneis e tenentes coroneis dos regimentos divisionarios são aggregados aos quarteis generaes e fazem parte do estado maior dos commandantes das divisões a que são distribuidos os grupos de baterias.
A «artilheria de corpo» compõe-se de 2 regimentos a 6 baterias, pertencendo um regimento a cada corpo de exercito. Cada um dos regimentos forma dois grupos de 3 baterias, commandadas por majores, sendo os dois grupos reunidos commandados, em tempo de guerra, pelo tenente coronel. O coronel, commandante do regimento, é aggregado ao quartel general e faz parte do estado maior do commandante do corpo de exercito a que pertencer o seu regimento,
Em tempo de guerra, cada bateria dos regimentos do artilheria, divisionaria ou de corpo, terá 6 peças, 6 carros