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SESSÃO NOCTURNA N.º 44 DE 28 DE AGOSTO DE 1897 767

sabem, vim aqui a esta camara e pronunciei, na discussão do orçamento,
aquelle discurso em que dizia, na referencia ao facto do ser precisa a
collaboração de todos para só sair da situação em que nos encontravamos, que eu no governo não poderia ter administrado melhor.

Era assim que eu procedia, é os illustres deputados de certo se recordam, que n'essa occasião a situação do thesouro era grave, e que se não podia dispensar a collaboração de ninguem.

O partido progressista não tinha os elementos de governo necessarios; era pois preciso ajudar os meus adversarios; declarei que a minha resolução politica, devida a situação em que nos encontravamos, era que se podia contar com o meu concurso.

Depois adoptou-se o programma que foi diametralmente opposto ao primeiro, e nem por isso houve pela nossa parte falta de probidade politica.

Foram as circumstancias que determinaram pôr de parte, o primeiro programma e fazer outro diverso.

Póde o sr. João Franco dizer só não é verdade que o acompanhei durante muito tempo em. tudo quanto estava nas minhas forças, sem favores de qualquer ordem.

O governo entendeu que devia dissolver as camaras, que tinham feito serviços importantes, e dissolveu-as tumultuaria e revolucionariamente, e sem a maior necessidade.

Mas durante aquelle tempo ninguem podia apoiar o governo com mais lealdade e com mais desinteresse.

Ora na verdade, a situação do para é grave; não digo que seja desesperada, não a julgo assim, mas é bastante grave; com alguns sacrificios e com encargos para todos e para o paiz, pondo de parte os interesses pessoaes e partidarios, póde resolver-se.

Mas os srs. regeneradores; a quem prestei o modesto concurso da minha
cooperação, emquanto elles o quizeram acceitar e receber, procuram agora crear toda a ordem de dificuldades "o governo progressista! E o sr. João Franco creio que sabe, que eu não vim para este logar por vontade; vim, porque sou escravo do meu dever. Chefe de um partido politico, á hora propria, quando me chamaram sem eu praticar nenhum acto ostensivo que d'esse rasão aos meus adversarios para julgarem que tinha ambições, obedeci; e obedecendo, esqueci os meus interesses, individuaes e particulares, estando aqui com sacrificio d'elles.

E devo dizer que, quaesquer que sejam esses sacrificios, não sairei d'aqui sem ter cumprido o meu dever.

(Vozes: - Muito bem.)

Esta é que é a situação.

Os srs. regeneradores saíram do governo, exhaustos de recursos e talvez
tambem exhaustos do idéas, porque se as tivessem, seguramente não saíam. (Apoiados.)

Ninguem os expulsou do poder! (Apoiados.)

No paiz reinava profunda paz e quietação publica; opposição parlamentar, não a havia. O partido progressista tinha abandonado o parlamento; não tinha difficuldades apparentes, nem internas nem externas.

Porque saíram então?! Quem os obrigou a sair; quem os poz fóra do poder?!

Nós, os progressistas, que estavamos fóra do parlamento; que não tinhamos, aqui, sequer, representantes, que tinhamos abandonado completamente os nossos direitos e as nossos aspirações a ser governo, nós, não fomos de certo!!

(Apoiados.)

Então porque caíram s. exas.?

Caíram porque não poderam governar. (Apoiados,) Francamente, se tinham idéas
governassem com ellas; só tinham recursos, governassem com elles!

Pois deixam-me occupar esto logar, a mim, que não trabalhei para cá vir, que estava muito quieto e socegado em minha casa, que estou fazendo enormes sacrificios pessoaes, para mo manter no governo; deixam-me para aqui vir, e apenas entro no governo, desatam a fazer-nos uma guerra furibunda?!

Então a situação transacta caiu, ainda são decorridos alguns mezes apenas, e já está outra vez habilitado a governar?!

Isso não póde ser. Permittam-me s. exas. que á boa paz lhes diga, que se se persuadem que assim se approximam do poder, enganam-se.
(Apoiados.) Não é assim que só caminha. Diz-lhes isto um amigo sincero e leal.

Todos reconhecem que estamos n'uma situação grave. Quando fallei aqui,
appellei para o concurso do s. exa.; não ouviram as minhas palavras, que eram de concordia e de benevolencia para todos; tenho-as confirmado mais de uma vez com o meu exemplo. E como têem s. exas. correspondido a esse appello? Creando ao governo embaraços e dificuldades de toda a ordem. Para que? E a ambição do poder? Se querem governar, digam-no claramente.

Digam quaes são os seus planos do governo, quaes são as suas idéas e os
meios com que coutam! Eu não estou aqui senão para cumprir um dever; e logo que veja que não o posso cumprir, sairei. (Vozes: - Muito bem.)

Mas, digo eu, saíram do governo, sem idéas o sem recursos; fizeram como
ultima tentativa esse mallogrado emprestimo dos 3:000 contos de réis, que se realisou graças ao concurso do sr. conde de Burnay, que me está ouvindo, e que lhes valeu n'aquelles apuros e n'aquella extrema afflicção.

Este emprestimo, sabem-no todos, não se pôde realisar, porque, creia, que não é segredo para ninguem, a situação em que este governo herdou o poder dos seus antecessores, não póde permittir a emissão de titulos lá fóra, porque não eram cotados!

Esse emprestimo dos 3:000 contos de reis está era carteira.

Dos outros projectos apresentados á camara, tambem não havia esperança que podessem produzir um plano que salvasse o paiz.

Como é então que s. exa. combatem agora o governo?

Se ha outros recursos, se ha outros meios com que se possa salvar o paiz da crise que estamos atravessando e que herdámos, porque todos sabem que a nossa administração tem sido a mais economica; se ha outros meios, digam os illustres deputados quaes elles são. (Apoiados.)

Estou aqui faltando com a idéa clara e pratica de quem deseja harmonisar-se com s. exas.; mas infelizmente não ouço d'esse lado da camara sento insinuações e criticas acerbas. (Apoiados.).

Aquella benevolencia que esperava da parte dos meus antigos companheiros de trabalho em 1893, essa, só apparece convertida em violencias de linguagem, em accusações ferinas, e em diatribes na imprenso., mais inflammados que a situação permitte. (Apoiados.)

Ora o projecto de que. se trata é deploravel? Temos outro recurso? Vamos a elle.

Vamos a discutir á boa paz.

Mas ainda não vi até hoje senão criticas severas contra as propostas
ministeriaes.

(Pausa.)

Ora, sr. presidente, n'esta situação é necessario que nos convençamos de uma cousa: nós temos grandes pagamentos a fazer no estrangeiro, e precisamos de os fazer. A situação cambial é gravo, e ainda mais se aggravara se o governo não tiver meio de trazer o oiro de que se carece para o paiz. Este projecto póde dar ao governo precisamente o oiro de que se necessita, e habilital-o, pela conversão dos tabacos, n'um futuro proximo, com 50:000 contos de réis em oiro.

Quaes são os encargos que elles trazem para o paiz? Soarem os revendedores dos tabacos, e podem soffrer os fumistas, mas a verdade é, que o seu commercio, a sua agricultura, que é a sua maior força, esses não soffrem;