784-B DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
está fazendo, mas depois de feita é um contrato, e esse contrato é necessario respeital-o (Apoiados.)
E citou-nos s. exa. uns poucos de nomes de homens importantes, como Tarquini, como Bonnald, Olivier, Liberatore, Fenclon e outros, collocou até alguns que já falleceram ha muito no numero dos vivos, interpretou lhes a seu talante as doutrinas, e tudo isto, para dizer, como um doesto, ao sr. ministro dos negocios estrangeiros que elle era mais jesuita do que os jesuitas!
Quem é que BC atreve n'esta casa, quando se falia no padioado, a atirar a palavra jesuita como doesto?! Jesuita em S. Francisco Xavier, o christianisador das Indias, o fundador d'esse padroado! (Apoiados.}
Continua o illustre deputado o sr. Arrojo e diz; «na carta do cardeal Rampolla não ha uma unica phrase verdadeira», e dopais acrescenta: «Segundo se lê n´essa carta, o Padre Santo mandou fazer um inquerito sobre o estado das christandades de Ceylão; eu pergunto ao governo portuguez onde está o sou inquerito?»
Então parece, em primeiro logar, que já houve uma phrase verdadeira na carta do cardeal Rampolla; em segundo logar, o governo portuguez não tinha necessidade de mandar fazer inquerito algum; o inquerito do governo portuguez estava feito; no Livro branco, em diversas partes, encontra-se perfeitamente descripta a situação das christandades de Ceylão, que estavam sujeitas ao padroado portuguez
Em Ceylão, vê-se na segunda parto do Livro branco, na nota n.° 46, o padroado portuguez tem presentemente as seguintes christandades ou igrejas sujeitas a um vigario geral portuguez:
catholicos
l.ª Missão de Colombo com 560
2.ª Missão de Nogombo com 715
3.ª Missão de Mannar com 1:058
4.ª Missão de Mantote com l:173
3.506
Alem d'isto, o governo portuguez tinha terminado as negociações, não podia fazer mais do que pedir, e como não podia fazer mais do que pedir, o inquerito não podia augmentar nem diminuir o valor do seu pedido. (Apoia dos.)
Continua ainda o illustre deputado, o sr. Arroyo, analysando a carta, e diz: «Na carta diz se que ha apenas vinte familias pertencentes ao padroado portuguez !
Peço perdão a s. exa., não está lá isso; a carta do cardeal Rampolla não diz que haja simplesmente vinte familias que queiram estar sujeitas ao padroado portuguez, o que a carta diz é o seguinte:
«O resultado d'este inquerito, levado a effeito por pessoas imparciaes, foi adquirir-se a certeza de que não ha n'aquella ilha mais de oito ou dez individuos que decididamente queiram subtrahir-se á jurisdicção dos bispos ali recentemente estabelecidos; que não haverá mais de umas vinte familias que estejam esperando uma resolução final das diligencias feitas em Lisboa para se decidirem a submetter-se, e que o resto da população anteriormente sujeita ao arcebispo de Goa em Colombo, Negombo, Duwa e nos diversos districtos de Jaffna, vae agora regularmente ouvir missa ás igrejas dos actuaes ordinarios e a elles recorre para a administração dos sacramentos.»
A carta reconhece que ha em Ceylão alguns catholicos decididamente revoltados contra a jurisdicção não portugueza, mas que esses revoltados são apenas dez individuos, e que vinte familias esperam uma resolução final, para se decidirem a submetter-se. Mas isto não quer dizer que não haja mais que não pertençam ao padroado portuguez, ou que não desejem pertencer-lhe.
Não estão pois em contradicção as affirmações que n'esta carta se encontram com as affirmações da petição que foi feita á camara dos dignos pares. (Apoiados.)
Continúa ainda o illustre deputado, o sr. Arroyo: «O movimento é geral, é a ilha inteira de Ceylão que se agita!»
Se porventura não conhecesse a {Ilustração do nobre deputado, eu perguntar-lhe-ía que idéa faz s. exa. de Ceylão?
Ceylão tem 2.500:000 almas; d'essas, 250:000 são catholicos, e desses 250:000 catholicos só 3:506 é que estavam sob o padroado, e estes 3:506 pertencentes a quatro missões, distantes umas das outras, dispersas pela costa occidental. Supponhamos mesmo que representavam todos, que se agitavam todos, onde é que estava Ceylão inteira? (Apoiados.)
E eu preciso notar que n'essas representações apresentadas na camara dos dignos pares, 1:200 individuos são representados por um empregado da igreja; é o empregado da igreja que assigna por esses 1:200 individuos.
Se quizermos ver alguma cousa mais a este respeito, eu tenho aqui um folheto inglez intitulado: Some remaria on the concordat with Portugal addressed to englishmen and british catholies by an english clerggman. - Algumas observações sobre a concordata com Portugal, dirigidas aos catholicas inglezes e britannicos, onde, a pag. 28, só lê o seguinte: «A agitação ficticia que se faz em favor da retenção de alguns vestigios do padroado em Ceylão não tem rasão nenhuma, nem sequer de sentimento, que a justifique».
Conta depois o mesmo folheto a perda do padroado em Ceylão, para a qual contribuiu deixarmos Cochim sem bispo durante muitos annos; e conta tambem, o que tambem consta da nossa historia, que no acto da separação de Ceylão do padroado, o Pontifice poz á frente dos catholicos de toda a ilha um oratoriano goanez, o padre Vicente do Rosario, para ser seu primeiro bispo e vigario apostolico, seguindo-se a este outro portuguez, mas que uma porção de eurasianos em Colombo pediram ao Papa que os tirasse da jurisdicção d'estes bispos, por serem portuguezes, e que lhes désse um bispo inglez ou irlandez, o pouco tempo depois, por occasião d'um scisma, collocaram-se outra vez sob a jurisdicção do arcebispo de Goa.
Eu não recordarei que com um procedimento analogo a este dos seus antepassados, os peticionarios, em janeiro passado, fecharam violentamente as igrejas, e obrigaram a abandonar a ilha os excellentes sacerdotes de Goa que n'ella residiam, e, que ali tinham sido deixados, como parochos, mesmo depois de ali abolido o padroado.
Dizia ainda, continuando, o illustre deputado, que, se se satisfizesse o pedido dos padroadistas de Ceylão, o sr. Barros Gomes teria que demittir-se, e que foi para sustentar a miseravel vaidade de um homem, que não se attendeu esse pedido.
Não, sr. presidente, não foi para sustentar a miseravel vaidade de um homem; foi para cumprir um compromisso que se tinha tomado, que nós apenas pedimos.
Se o illustre deputado é partidario das bancarotas financeiras, e tambem quer bancarotas de compromissos em materia de concordatas, eu não sou partidário nem do unias nem de outras. (Apoiados.}
Disse s, ex.ª: «Se o Pontifice deferisse a pretensão dos peticionarios, o sr. Barros Gomes teria de demittir-se».
Não; não teria do demittir-se; porque, se s. exa. julgasse que haveria alguma falta do decoro para si em ser satisfeito o pedido, não acceitaria as moções que em ambas as casas do parlamento se votaram, não as levaria perante o Summo Pontifice. (Apoiados.}
Se approvou que se fizesse o pedido, se se prestou a communical-o, é porque não lhe seria penoso, é porque lhe seria grato que fosse deferido. (Apoiados.}
Digamos, sr. presidente, duas palavras serenas e francas, a respeito da questão do padroado.