790 DIARIO DA CAMARA DOS SENSHORES DEPUTADOS
apresentará aqui o mais breve que lhe seja possivel para dar conta dos seus actos a este respeito.
O sr. D. José de Saldanha: - Agradeço ao sr. ministro da marinha as palavras que me dirigiu e que me dão a esperança de que e governo tomará na devida consideração o que eu disse.
O sr. Pedro Monteiro (por parte da commissão de instrucção primaria e secundaria): - Mando para a mesa o parecer da commissão sobre a proposta que organisa a instrucção secundaria para o sexo feminino, a fim de ser enviado á commissão de fazenda.
O sr. Fuschini: - Mando para a mesa os seguintes requerimentos:
(Leu.)
O primeiro pedido é facil de ser satisfeito, porque o contrato devo estar impresso; peço o, apenas, para facilitar um pouco o meu trabalho.
Quanto ao segundo, sei que a estreiteza do tempo não permitte que os documentos me sejam enviados por copia.
Todavia o sr. ministro podia mandar para a mesa os originaes, ou confiar-m'os particularmente, tomando eu a responsabilidade de lh'os restituir.
Peço desculpa de requerer estes esclarecimentos tão tarde; mas apenas hontem, occasionalmente e á ultima hora, soube que este projecto devia entrar brevemente em discussão.
Não culpo ninguem por este facto, que attribue ás preoccupações que a todos nos causa esta ebulição politica, especialmente a mim.
Estando com a palavra, referir-me-hei a assumpto que diz respeito á pasta do reino.
A ausencia de s. exa. o ministro do reino não obsta ás minhas observações, porque está presente um membro do ministerio, e os ministros são solidarios em todos os negocios inherentes ao poder executivo. O assumpto é grave e geral; não é provavel, portanto, que não tenha sido discutido em conselho de ministros; se só discutiu, bem está, o sr. ministro da marinha me responderá; se não se discutiu, ou se s. exa. não conhece a questão, s. exa. o dirá, e pedirá em seguida ao sr. José Luciano de Castro que compareça n'esta casa para dar as explicações necessarias.
Mas, antes de entrar n'este assumpto, permitia me v. exa. que muito modestamente me refira ás idéas ha pouco apresentadas pelo sr. D. José de Saldanha.
Estou de accordo com s. exa. em admittir que uma classe agricola está atravessando uma crise, maior ou menor, na sua existencia economica.
No que não estou, porém, de accordo, e por isso quero deixar consignada a minha opinião, aliás já apresentada por mais de uma vez n'esta camara, é com a affirmação de que o paiz soffre uma crise geral economica.
Se o sr. D. José de Saldanha se desse ao trabalho de percorrer os annaes da camara; desde que ha systema representativo entre nós, havia de encontrar esta phrase repetida todos os annos e em todas as sessões: o paiz está em crise geral.
(Áparte do sr. D. José de Saldanha.)
O illustre deputado affirmou que o paiz atravessa uma crise geral e grave; eu digo que nos cincoenta annos, que tem de existencia o systema representativo, se tem affirmado isto constantemente, mas que, apesar de tudo e contra tudo, tem quadruplicado, ou quintuplicado, a riqueza publica.
O paiz não está á beira de um abysmo; póde encontrar-se em posição mais ou menos difficil, devido á falta de attenção e de cuidado da nossa parte, á ausencia de um bom regimen parlamentar, mesmo, se quizerem, a accumullação de erros provenientes dos nossos vicios, da nossa incuria e até da nossa ignorancia; mas d'aqui ao abysmo uma distancia immensa.
Deixemo-nos d'estas affirmações, que desalentam os fortes, e intimidam os fracos. Isto chega a ser um bordão.
É demais! cincoenta annos a apregoar se, que o paiz está n'uma situação grave, quasi á beira do abysmo, e o paiz a manifestar o contrario! A demonstrar que não ha rasão para dizer tal; porque, emfim, ninguem póde desconhecer, que em progresso intellectual e em riqueza geral alguma cousa temos caminhado. (Apoiados.)
Eu, como o sr. D. José de Saldanha, tambem aconselho ao ministerio que resolva rapidamente a questão cerealifera, que é a principal, tambem recommendo isso ao governo; mas faço notar a v. exa. e á camara, que esta questão não envolve apenas os interesses de uma classe importante do paiz, mas que abrange a sua totalidade. Torno pois a repetir ao governo, representado n'este momento pelo sr. ministro da marinha, o que disse já n'esta camara haverá um anno; tomem cuidado com a simples elevação dos direitos sobre a importação do trigo, processo empirico na maior parte das vezes inutil quando não contraproducente.
Bem sei que o governo ha de ver-se obrigado a apresentar ao parlamento, bon gré mal gré, alguma medida sobre este assumpto; o congresso agricola, que foi principalmente uma manifestação de força, não se realisou senão para impor aos poderes publicos uma certa e determinada marcha; não me queixo de que se fizesse essa imposição, peço só que aquelles a quem tem de submetter-se a resolução d'essa importantissima questão, (importantissima, porque interessa a todo o paiz), sejam cautelosos, prudentes e que estudem.
(Interrupção que não se ouviu.)
Vamos andando; a assembléa era numerosa, mas era tambem um pouco facciosa; e a respeito de liberdade do discussão, temos conversado. (Apoiados.)
Confesso francamente a v. exa. que me fez impressão aquella restricção dos dez minutos para cada orador apresentar as suas idéas.
V. ex.ªs querem que lhes conte uma aneedota interessante a este respeito? Não conto porque leva muito tempo.
Vozes: - Conte, conte
O Orador: - Realisou-se ha alguns annos, em Vienna d'Austria, um congresso de hygiene, ao qual, como a camara naturalmente sabe, concorreram dois delegados portuguezes, homens illustradissimos; os sabios allemães haviam determinado tambem, que se fallasse apenas durante dez minutos.
Aconteceu que todos os delegados das nações latinas protestaram, dizendo: anos não podemos dizer nada em tão curto espaço de tempo; a indole das nossas linguas, as nossas disposições naturaes, os nossos habitos de discussão fazem com que dez minutos sejam o tempo apenas sufficiente para estabelecermos os prolegomenos das nossas opiniões».
E os sabios allemães transigiram, o que é difficil entro sabios, principalmente allemães, e o congresso concedeu meia hora a cada orador.
Pois cá no congresso agricola não se concedeu mais que dez minutos!
Por isso tambem nunca se entrou em materia. (Riso.)
Uma voz: - Houve discursos de uma hora.
Outra voz: - E o leader?
O Orador: - Esse é que fallou uma hora! Pudera, pois, o sr. Pinto Coelho nem ao menos havia de desenvolver o que a assembléa tinha de chancellar?
Eu assisti das galerias a todas as sessões e dou a minha palavra de honra a v. exa., que, francamente, se os relatorios que foram apresentados trazem alguns elementos, ninguem pôde côlher da discussão um só esclarecimento util. Era por causa dos taes dez minutos.
Refiramo-nos agora, ainda que ligeiramente, á parte do discurso do illustre deputado o sr. D. José de Saldanha, em que s. exa. alludiu com elogio ao projecto apresentado