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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Discurso do sr. deputado Mariano de Carvalho, pronunciado na sessão de 15 do corrente, que deveria ler-se a pag. 627, col. 2.ª

O sr. Mariano de Carvalho: — Pedi a palavra quando estava fallando o sr. deputado Alcantara a respeito de um projecto que vem acompanhando o parecer da commissão de fazenda sobre o orçamento de marinha.

Esse projecto releva o governo da responsabilidade em que a commissão julgou que elle incorreu, pela infracção da carta de lei de 24 de abril de 1867, cujo artigo 5.° manda demittir os aspirantes extraordinarios a guarda marinhas, que no fim de dois annos não se mostrem habilitados com a primeira cadeira de mathematica e o curso geral de physica.

O artigo 3.º do mesmo projecto releva o governo da responsabilidade em que a commissão julga que elle incorreu pela falta de cumprimento do decreto com força de lei de 26 de dezembro de 1868, que, revogando o decreto com força de lei de 7 de julho de 1864, extinguiu a classe de aspirantes addidos a guarda marinhas.

O illustre deputado foi de opinião que o bill não é necessario, não só em relação a este governo, mas aos que o têem antecedido n'estes ultimos annos, porque não houve infracção de lei tanto á respeito dos aspirantes extraordinarios como a respeito doa aspirantes addidos.

Tendo pedido a palavra n'esta occasião, e cabendo me agora, aproveita-la-hei não só para responder ao illustre deputado a este respeito, mas para desde já me explicar ácerca de alguns pontos em que me declaro vencido no parecer da commissão.

Vou primeiramente á questão dos aspirantes.

Digo que o bill de indetonidade proposto ao governo pelo artigo 1.° d'aquelle projecto não deve ser rejeitado, mas precisa ser ampliado em relação aos aspirantes extraordinarios, porque não houve só infracção dê lei por terem sido conservados depois de dois annos no; serviço; mas ha muitas outras que devo citar á camara. É necessario dar aquelle artigo maior amplitude, para que possa absolver os diversos governos que têem estado á frente dos negocios publicos de todas as faltas em que tenham incorrido a esse respeito.

Passo a enumerar á camara todas as infracções que se têem commettido, e com ellas motivarei uma substituição ao artigo 1.º do projecto que em occasião opportuna hei de mandar para a mesa.

A classe dos aspirantes extraordinarios existe pela carta de lei de 24 de abril de 1867. Está carta de lei no artigo 2.° estabelece as condições com que podem ser nomeados aspirantes extraordinarios, a saber: 1.°, idade de dezoito annos; 2.°, ausencia de defeitos physicos; 3.°, que os

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candidatos estejam matriculados na 1.ª cadeira de mathematica da escola polytechnica, universidade de Coimbra ou academia polytechnica do Porto e no curso geral de physica.

Sustento que ha infracção de lei em relação ao n.º 1.° d'este artigo.

Vejo-me obrigado, para mostrar melhor á camara que a rasão está do meu lado, quando me refiro ás repetidas infracções de lei, a citar nomes de individuos, o que é sempre repugnante, a citar datas e a explicar o modo como essas infracções têem sido commettidas.

A l.ª condição para ser admittido como aspirante extraordinario é que a idade não exceda a dezoito annos.

A nota que tenho aqui prova repetidas infracções, a saber:

Eduardo João da Costa e Oliveira, sendo aspirante addido de 1862, foi admittido a extraordinario em 1868 com vinte e um annos;

Antonio Theodorico da Costa e Silva, addido de 1862, admittido em 1868 com vinte annos;

Fernando Augusto do Nascimento, addido de 1863, admittido em 1869 com dezenove annos;

Thomás Diniz dos Santos Pereira, addido de 1863, admittido em 1870 com vinte annos;

Francisco Vieira de Sá, addido de 1862, admittido em 1870 com dezenove annos;

Antonio Maria de Fontes Pereira de Mello Ganhado, addido de 1863, admittido em 1869 com dezenove annos.

Todos estes têem excesso de idade para a admissão no quadro de aspirantes extraordinarios.

Bem sei que se me póde argumentar com o artigo 6.° dos transitorios da carta de lei de 7 de julho de 1864, que deixou ficar certo numero de addidos não habilitados. Mas com relação a esta classe de addidos o artigo 6.º dos transitorios dispensa unicamente a idade para entrarem no quadro dos aspirantes ordinarios; de modo nenhum foi dispensada a idade para entrada no quadro dos extraordinarios, que ainda não existia n'essa epocha.

Não podia haver dispensa para os extraordinarios, nem a houve na lei de 1867.

Manifesta infracção de lei, e mais censuravel, porque ha prejuizo dos dinheiros publicos, como é facil de provar.

O aspirante admittido para o quadro extraordinario é o que se matricula no primeiro anno do curso de mathematica e physica em qualquer das escolas polytechnica, universidade de Coimbra e da academia polytechnica do Porto; e só se verifica a admissão na classe de aspirante ordinario quando se matricula na escola naval um ou dois annos depois.

Se estes aspirantes não tivessem sido admittidos contra lei, na minha opinião, só seriam admittidos quando chegasse a occasião de se matricularem na escola naval. Por consequencia têem estado a estudar um ou dois annos, subsidiados pelo estado, quando deviam estudar á sua custa.

Infracção de lei em relação á idade, infracção de lei e prejuizo dos dinheiros publicos.

No n.º 3.°, o artigo 2.° da carta de lei de 1867, determina que os aspirantes extraordinarios não possam ser admittidos sem estarem matriculados no primeiro anno do curso de mathematica e no de physica das tres escolas a que alludi.

Entretanto o que succedeu com o aspirante Antonio Maria de Fontes Pereira de Mello Ganhado foi ser admittido, não obstante não estar matriculado no anno de physica. Infracção manifesta da lei; admittíu-se um aspirante que não estava nas condições legaes, não estava matriculado senão no primeiro anno de mathematica, e não estava no de physica.

Note-se que n'isto houve infracção e preterição de direitos, porque em cada anno não póde ser admittido senão um numero limitado de aspirantes extraordinarios. Desde que se commetteram as infracções citadas podiam ser prejudicados individuos mais habilitados.

Mais infracções. O aspirante extraordinario no fim de dois annos ou é demittido ou é admittido no quadro ordinario, e entra na escola naval. O aspirante Antonio Maria de Fontes Pereira de Mello Ganhado, entrou no quadro em 20 de fevereiro de 1869, e como 20 de fevereiro de 1869 não é epocha de matricula, conclue-se que se matriculou em outubro de 1868; portanto o praso de dois annos terminou ou em outubro de 1870, ou quando muito em fevereiro de 1871. Entretanto em fevereiro de 1871, este alumno não só não tinha acabado o curso que lhe era necessario para se matricular na escola naval, mas ainda n'este momento está matriculado no curso de physica. Por conseguinte, ainda que n'este anno saia approvado, esteve na classe de extraordinario tres annos, em logar de dois que a lei lhe permitte. Logo aqui temos outra infracção de lei.

Vê-se que não emitti proposição que não podesse demonstrar, quando affirmei á camara que provaria, não uma, mas muitas infracções da lei de 1867. E finalmente digo mais, que ainda ha a infracção das leis de 7 de julho de 1864 e de 19 de maio de 1845, porque, por motivos faceis de conhecer, a lei de 7 de julho de 1864, no seu 6.° artigo transitorio, dispensava a idade aos aspirantes addidos, mas só para o facto de entrarem no quadro legal dos aspirantes ordinarios, e de se matricularem na escola naval.

Este artigo tinha por fim resalvar os direitos de todos os alumnos addidos que havia n'aquella epocha, e de modo nenhum conceder qualquer outro beneficio a esses alumnos. A idéa do legislador foi garantir as vantagens que a lei tinha concedido aos aspirantes já existentes, mas de nenhum modo acrescenta-las. E comtudo foram acrescentadas contra esta lei de 1864, e tambem contra a de 1845.

A lei de 1864 determina que os alumnos se matriculem na escola naval até aos dezesete annos, o maximo até aos dezoito. E pela legislação anterior, a lei de 1845, os aspirantes podiam matricular-se na escola naval até aos vinte annos. Determinando, pois, a nova lei a admissão á matricula na escola naval até aos dezesete e dezoito annos, e não concedendo mais nada, tem-se entretanto concedido muito mais, porque estão ainda no quadro de addidos, e passaram de addidos para extraordinarios, alumnos que, tendo dezoito annos, não só não tinham completado o curso da escola polytechnica, mas nem ainda se tinham matriculado n'esse curso. Por consequencia, infracção da lei de 1845, que mandava demittir os aspirantes, que aos dezoito annos não tivessem completado o curso da escola polytechnica; e infracção da lei de 1864, que exige este curso ainda mais cedo.

Vê-se, portanto, que o artigo 1.° do bill de indemnidade, proposto pela commissão de fazenda, temos de concede-lo aos governos que precisem de ser relevados da responsabilidade, não só de não terem demittido aspirantes extraordinarios que tinham obrigação de demittir, mas tambem de terem admittido como extraordinarios aspirantes que como taes não podiam admittir.

A segunda parte do bill de indemnidade refere-se aos aspirantes addidos, e digo que tambem aqui ha infracção de lei, e que por isso o 3.° artigo do projecto, no qual se contém essa segunda parte, deve ser approvado.

A classe dos aspirantes addidos foi creada pela lei de 7 de julho de 1864; mas o decreto com força de lei de 26 de dezembro de 1868 diz no seu artigo 61.° e ultimo: «Fica revogada a lei de 7 de julho de 1864», e por conseguinte todas as suas disposições, porque não exceptua nenhuma. Comprehende-se perfeitamente que a lei de 1868 revogasse a de 1864; era porque em 1868 já não podia haver nenhum aspirante addido nas condições da referida lei de 1864; pois se elles tinham uns dezoito annos e outros mais, e nem ainda estavam matriculados na escola polytechnica, está claro que deviam ter sido demittidos.

Por conseguinte, o decreto de 1868 revogou, como mostra a sua prescrípção expressa, todo o decreto de 7 de julho de 1864, o qual dava a existencia á classe de aspirantes

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addidos, e extinguiu essa classe. E ainda é mais claro que revogou esse decreto por outros motivos. O decreto de 30 de dezembro de 1868 estabelecia novas prescripções em relação á admissão dos aspirantes de marinha, taes como a idade, as habilitações que devem apresentar e a fórma por que hão de ser preferidos por meio de concurso nas admissões.

Estas disposições são contrariadas expressamente pelo artigo 6.° dos transitorios do decreto de 7 de junho de 1864.

O decreto de 30 de dezembro de 1868 revogou toda a legislação em contrario; mas a disposição do artigo 6.° dos transitorios do decreto de 7 de julho de 1864 são contrarias aquelle decreto; logo esse artigo e3tá revogado e portanto extincta a classe dos addidos.

Por conseguinte a este respeito, é preciso relevar o governo da responsabilidade em que tem incorrido, porque com infracção do decreto de 30 de dezembro de 1868 conserva ainda aspirantes addidos, que, tendo dezenove, vinte ou vinte e um annos de idade, nem ainda estão matriculados na escola polytechnica. Se vamos por este caminhar, só quando os cabellos lhes começarem a alvejar pela velhice, serão officiaes de marinha e poderão dedicar-se á vida de mar.

Nada mais tenho a acrescentar, porque me parece haver demonstrado sufficientemente á camara, que effectivamente tem havido repetidas infracções das leis que regulam a admissão dos aspirantes extraordinarios, bem como infracção pela existencia da classe dos aspirantes addidos.

Cumpre-me agora fazer algumas considerações sobre a questão que foi tratada n'esta casa com relação ao commando geral da armada. Devo dize-lo francamente, porque costumo tomar a responsabilidade dos meus actos, que na commissão de fazenda quem primeiro lembrou a extincção d'esse commando fui eu.

Eu e outros membros da commissão tratámos de justificar a extincção do commando geral da armada e da respectiva repartição, pelas disposições legaes que indicam as attribuições d'ella.

A camara ouviu sustentar a necessidade do commando geral da armada, não só pelas necessidades da disciplina, como pelas da unidade do commando, e porque do alto da nossa legislação quatro seculos contemplam o commando geral.

Devo dizer que a legislação relativa ao commando geral da armada, tal qual hoje existe, prova que na nossa terra, em tudo singular, ha mais a singularidade que a unidade da acção, de commando se manifesta na lei pela diversidade ou pela multiplicidade.

E diz-se que é necessario conservar se o commando geral da armada, porque se deve conservar na marinha a unidade de commando!

Ora, vejamos se a legislação vigente não for revogada, qual será a unidade de commando.

O commandante geral da armada é o commandante superior de todos os officiaes de marinha, e é tambem chefe do corpo de capellães da armada. Parece me bem. Que seria de nós e das colonias se os capellães não tivessem um commandante official general? Até acho pouco. Está até em propôr um almirante ou um vice-almirante para commandar exclusivamente o corpo dos capellães.

O commandante geral commanda não só o corpo dos officiaes de marinha, mas o de officiaes de fazenda, que devia ser mais propriamente dirigido pela repartição de contabilidade de marinha. Commanda ainda os marinheiros e veteranos, bem como os facultativos navaes.

Vamos a ver manifestar-se o como a unidade do commando se acha bem traduzida na legislação vigente.

Temos, como disse, sob a direcção do commando geral da armada os officiaes de fazenda, os capellães, os facultativos, os officiaes de marinha militar e os marinheiros militares.

Quer v. ex.ª saber quem commanda os machinistas, que

são a alma dos navios, e quem commanda os officiaes marinheiros? E o superintendente do arsenal de marinha!

Temos a bordo dos navios essas duas classes de funccionarios, se assim se lhe póde chamar; os officiaes do marinha, os capellães, os officiaes de fazenda e os facultativos estão sujeitos ao commando geral da armada... os machinistas e os officiaes marinheiros estão sob o commando do superintendente do arsenal. Tudo por causa da unidade do commando! Se não fosse esta necessidade da unidade do commando, haviamos de ter um individuo só para commandar todos os serviços; mas desde que precisámos da unidade do commando temos dois individuos para commandar estes dois serviços!

E assim que se comprehendem as cousas em Portugal!

Sendo precisa a unidade, para realisa-la cria-se a dualidade e até a pluralidade!

Na historia tambem a unidade se manifesta, porque tivemos, na opinião do nobre ministro da marinha, para praticar a unidade o commando confiado a um conselho do almirantado composto de muitos individuos. E tudo por causa da unidade de acção. Se todos os individuos que constituiam o conselho do almirantado eram um só, ha aqui uma especie de mysterio que a minha rasão não póde comprehender, exactamente igual a outro que a minha religião me obriga a respeitar.

N'este caso não ha dogma religioso que me leve a admittir a unidade na pluralidade. Creio, pois, que o mysterio fica reduzido ás proporções de um modesto absurdo.

Pretendo agora mostrar á camara como são uteis todas as attribuições que tem o commandante geral da armada. Se me é permittido, cito estas attribuições paralelamente com as da direcção geral da marinha. É necessario saber-se como o machinismo funcciona para se ver se uma mola é ou não indispensavel.

Esta auctoridade importante, alem de commandar os capellães e os facultativos, commanda o corpo de marinheiros militares; mas o quartel dos marinheiros, por lei, já não está debaixo da inspecção, da fiscalisação e das ordens do commandante geral da armada. Por causa da unidade do commando, os marinheiros militares estão debaixo das ordens do commandante geral da armada, e o quartel d'elles está na dependencia do intendente geral da marinha!

Vejamos quaes as attribuições do commandante geral da armada. Alem do commando, pertence-lhe:

A superintendencia e inspecção dos navios desde que armam, isto é, de quatro ou cinco, porque todos os outros estão longe de Lisboa;

Transmittir as ordens do ministro e faze-las executar;

Propor o que julgue mais proficuo para a marinha;

Indicar em lista triplice os officiaes para o commando, operação engenhosa, porque ou o ministro perde a liberdade de acção na escolha de commandantes pela sujeição á lista triplice, ou não faz caso d'essa lista, e obriga o commandante geral a formular tantas listas tríplices que entre n'ellas a final o individuo que o ministro quer;

Visar as nomeações e guias de desembarque dos individuos não pertencentes aos corpos do seu commando;

Propor os officiaes para promoção e recompensas;

Conceder licenças até oito dias;

Nomear officiaes para conselhos de investigação e de guerra e fazer executar as sentenças;

Mandar escripturar os livros mestres dos corpos do seu commando.

Quer v. ex.ª saber quaes as attribuições que pertencem á direcção da marinha, secretaria militar, que tem por chefe um official superior da armada?

Esta direcção tem duas repartições, a do pessoal e a do material.

A primeira repartição, a que se chama do pessoat, pertence:

A organisação, constitoiçlo e movimento das forças navaes;

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A disciplina, instruc‡„o e serviço da corpora‡„o da armada;

A nomea‡„o dos commandantes e a fixa‡„o das lota‡”es dos navios;

A promo‡„o dos officiaes e a forma‡„oo da lista da antiguidade;

O armamento e desarmamento dos navios;

A forma‡„o das instruc‡”es para os navios;

As habilita‡”es scientificas das diversas corpora‡”es da armada;

A justi‡a militar maritima, as recompensas, reformas, mercˆs e medalhas militares. A segunda reparti‡„o, ou do material, incumbem: Os aprovisionamentos dos navios e dos homens; O material naval;

O armamento dos navios e as suas guarni‡”es.

Não ha parallelismo mais completo, nem mais clara duplica‡„o de expediente. Quer v. ex.¦ saber como esta machina funcciona? Eu exemplifico.

O ministro pretende dispor de um navio para um servi‡o, chama o director geral de marinha e d -lhe as ordens necessarias para que o navio v  de um ponto dado para outro. Cuida v. ex.¦ que o director geral de marinha manda expedir, pela 1.¦ direc‡„o, as ordens do ministro ao commandante do navio para que as execute? N„o, senhor, não faz isso. O director geral de marinha manda por um continuo um officio ao commandante geral da armada, no fundo do corredor, dizendo-lhe que o ministro manda que tal navio se ponha em movimento; e depois o commandante geral da armada expede a ordem ao commandante do navio.

Se n¢s podessemos supprimir o corredor do ministerio da marinha, podiamos supprimir o commandante geral da armada (riso).

Pertence mais   reparti‡„o do pessoal e ao commando geral, a disciplina, instrucçâo e serviço da corporação da armada e tudo quanto for util para a armada.

Parece que se este serviço pertence a uma repartição dirigida por um official superior, n„o ha necessidade de que dependa ao mesmo tempo de outro official e de outra reparti‡„o.

Creio que se prescinde bem do commando geral da armada, porque tudo quanto elle podia propor como necessario para a marinha, a direc‡„o geral de marinha o p¢de propor tambem. E se n„o vejamos.

Trata-se de nomear um commandante para um navio. O processo é engenhosamente simples. O commandante geral da armada forma uma lista triplice dos officiaes que julga aptos para o commando dos navios, e manda essa lista em officio ao director geral para que elle a leve ao ministro. O ministro faz a escolha e o director communica a ao commandante geral.

Isto por causa da disciplina! Ora, se   testa da direc‡„o geral est  um official de marinha de patente superior, porque ‚ que este n„o ha de formar a lista triplice e leva-la ao ministro para escolher?

Pertence tambem ao commandante geral a fixa‡„o da lota‡„o dos navios, mas essa lota‡„o n„o p¢de ser determinada sem que o director geral a approve! Tudo isto ‚ engenhoso! Ao commandante geral da armada s„o conferidas attribui‡”es relativamente   promo‡„o dos officiaes, como ‚ por exemplo, preparar os elementos para se formar a lista por antiguidades. O commandante geral da armada prepara os elementos para se formar a lista de antiguidades, e se por acaso fosse a direc‡„o geral quem preparasse esses elementos, estaria perturbada a unidade do commando?! Mas preparados os elementos, o commandante geral transmitte-os   direc‡„o geral, a qual forma a lista de antiguidades. Sem esta unidade de commando estava de certo perdida a marinha!

Uma voz: - E as colonias.

O Orador: - De certo que sem ella perdiamos tambem as colonias. � essencial para manter as colonias, que um prepare os elementos para a lista de antiguidades e outro fa‡a a lista!

O armamento e inspec‡„o dos navios pertence ao commandante geral da armada e ao chefe superior das reparti‡”es de marinha; mas aqui apresenta se uma difficuldade, qual ‚ a de que sem o commandante geral n„o ha quem fa‡a a inspec‡„o do armamento e desarmamento dos navios. Por‚m, n„o havia nada mais facil do que a direc‡„o de marinha nomear um official para fazer este servi‡o.

Tambem ao commandante geral da marinha pertence a fixa‡„o da lota‡„o para os navios, a discrimina‡„o de quaes devem ser as habilita‡”es scientificas dos officiaes de marinha, assim como propor os individuos que devem formar os conselhos de investiga‡„o, de disciplina e de guerra, e fazer executar as sentenças; e mais propor os officiaes para as recompensas, mercˆs e medalhas. Se formos examinar as attribui‡”es do director geral da marinha, encontr mos que a elle cabe, a este respeito, exactamente o mesmo que ao commandante geral,

Foram estas as ras”es que, apresentadas na commiss„o de fazenda, levaram esta commiss„o, creio que por unanimidade, a votar a extinc‡„o do commando geral da armada.

Mas, se a commiss„o podesse prever as difficuldades que na camara se haviam de levantar, ella proporia, primeiro a extinc‡„o do corredor, e depois a do commando geral. O projecto,est  imperfeito, principalmente porque primeiro devia propor a destrui‡„o do corredor.

Em todo o caso, entendo que no fim do projecto se deve fazer uma modifica‡„o muito pequena, que eu ali s j  tinha lembrado na commiss„o e que naturalmente foi esquecida na redac‡„o; estou certo de que a commiss„o n„o ter  duvida em aceitar essa modifica‡„o, por isso que corta todas as difficuldades (apoiados).

O projecto n.§ 14-C, diz no artigo 2.§: ®As attribui‡”es do commando geral passam a ser exercidas pela direc‡„o geral da marinha¯. Entendo que para salvar difficuldades, ‚ melhor dizer-se: ®As attribui‡”es do commando geral passam a ser distribuidas pela direcção geral da marinha e pela intendencia do arsenal (apoiados), como o governo julgar mais conveniente¯.

Aproveito a occasi„o para advertir que bem cedo come‡ou a posteridade justiceira para um cavalheiro que honra o partido a que perten‡o, e que devemos contar como uma das principaes illustra‡”es d'esta casa! Ainda ha pouco grande numero de jornaes do paiz condemnavam o procedimento do ministro da marinha, o sr. Latino Coelho, accusando-o asperamente de desorganisar completamente o servi‡o da marinha. Dizia-se na outra casa do parlamento, que os estabelecimentos da marinha tinham ficado em tal estado de desordem e anarchia, que f“ra necessario reorganisar aquelle servi‡o, passar uma esponja por toda a contabilidade! Agora esses mesmos jornaes, e alem d'elles o sr. Barros e Cunha, cuja opinião n„o p¢de ser suspeita a respeito d'aquelle distincto cavalheiro, viram todos applaudir por justas e rasoaveis as reformas feitas pelo sr. Latino Coelho. Desde que as paix”es se calaram e poderam manifestar-se a justi‡a e a imparcialidade, os proprios inimigos do illustre ministro reformista vieram prestar ao sr. Latino Coelho a homenagem que lhes ‚ devida!! (Apoiados.)

Digo a verdade, salvo alguns pequenos defeitos que reconhe‡o e que s„o inherentes a todas as obras humanas, a organisa‡„o da marinha feita pelo sr. Latino Coelho era a mais racional, a mais logica, a mais harmonica e a mais economica de todas (apoiados). Segundo a reforma d'aquelle ex-ministro, o servi‡o da superintendencia do arsenal era muito superior ao que existe hoje pela legislação vigente. Basta comparar estas duas leis e ver como o servi‡o estava organisado na primeira reforma, sera a confus„o de expediente e de formalidades inuteis da segunda, para se reconhecer esta verdade (apoiados).

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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Não quero deixar de apontar, n'alguns traços simples, a superioridade de uma das legislações sobre a outra.

Á verdade é que a direcção do arsenal, por causas mais politicas que de administração, não tem sido quasi nunca logica nem racional!

O que é o arsenal? O arsenal é primeiro uma fabrica e depois um deposito onde está o material necessario para o serviço da marinha. Se o arsenal é uma fabrica, e se no paiz ha engenheiros navaes, não posso nem é possivel com prehender a vantagem de dirigirem as obras de fabrico os officiaes de marinha e não os constructores navaes!! A principal missão do official de marinha é sustentar a honra da bandeira e defender e dirigir os navios. Pergunto, pois, quem dever dirigir o arsenal, é o engenheiro ou o official de marinha? E de certo o engenheiro naval. (Apoiados.) Ninguem que tenha o animo imparcial e conheça os serviços, póde ter outra opinião.

Na organisação feita pelo sr. Latino Coelho, estabelecia-se entre outras providencias, que a cordoaria seria dirigida por um engenheiro naval ou um official de marinha; e dizia = um engenheiro ou um official =, porque sendo pequeno o numero de engenheiros navaes, poderia ser necessario recorrer aos officiaes combatentes (apoiados).

Porém a reforma feita posteriormente em 1869, estabelece que o director da cordoaria seria necessariamente um official de marinha!!

Não posso comprehender como, no intervallo de um anno, se descobriu que tem maior competencia para dirigir o estabelecimento, onde se fazem cabos, um official combatente que o engenheiro naval!! Rasões desta singular anomalia ninguem as deu e ninguem as sabe.

Outro facto. O sr. Latino Coelho tinha creado no arsenal de marinha um conselho de serviço technica. Este conselho foi pela novissima reforma substituido por um conselho de trabalho.

O conselho de serviço technico tinha por fim preparar os planos das construcções que o governo intentasse mandar fazer; o conselho de trabalhos apenas tem que examinar os planos para os approvar.

Como se tratava de serviço technico de construcção, o sr. Latino Coelho constituiu este conselho na sua maioria de engenheiros constructores navaes; lá estavam officiaes de marinha, mas em menor numero. Assim era conveniente e rasoavel.

Veiu, porém, a ultima reforma que denominou aquelle conselho, conselho de trabalhos, restringiu as suas attribuições e deu a maioria no conselho aos officiaes de marinha.

A intenção podia ser boa; todos errámos, todos podemos enganar-nos, embora animados dos melhores desejos de acertar; mas aqui é difficil a justificação de quem excluiu de certos serviços os homens mais habilitados para desempenha-los. Pois a ingerencia dos officiaes combatentes na direcção das construcções navaes devia, pelos tristes resultados que tem dado, obstar a este erro.

Não está longe da memoria de nós todos, que ha tempo se construiu no arsenal uma lancha a vapor, que apresentava qualidades náuticas rarissimas.

Esta lancha maravilhosa mostrou se óptima para estar parada, excepto nos casos em que recuava, quando a corrente era maior ou o vento refrescava; de avançar é que a boa da lancha nunca foi capaz (riso).

Nada d'isto aconteceria se o conselho de engenheiros navaes tivesse sido consultado n'esta construcção.

Não é só isto.

Construiu-se precipitadamente a corveta Duque da Terceira, e pouco tempo depois verificou-se que estava a apodrecer.

Quiz se mudar a attilheria da corveta Estephania, e depois de feitas as carretas verificou-se que as peças não podiam servir nas carretas.

Comprou-se a Hawk e para a celebre fragata projectada adquiriu-se madeira meio podre por preço superior ao do mercado.

Tudo isto mostra que a organisação do arsenal da marinha, pelo modo por que está, é impossivel e insustentavel.

A propria legislação do sr. Latino Coelho peccava em muitos pontos; não tenho duvida em o dizer, porque não ha sentimento de amisade nem consideração politica que me obrigue a occultar a verdade, quando se trata de assumptos d'esta ordem; mas, comparativamente com anteriores e posteriores, posso dizer que era excellente (apoiados).

O defeito de todas estas organisações está no seguinte.

Na engenheria militar e na engenheria civil ha as distinctas categorias; mas o engenheiro, é engenheiro, fórma os planos, executa as obras e tem a responsabilidade d'ellas. Na engenheria naval não ha engenheiros se não o chefe; os mais não podem pela lei passar de apontadores; d'aqui resulta que o conselho de trabalhos tem approvado planos de obras de navios, a que faltavam muitos dos elementos necessarios para serem levados á execução com segurança. O chefe das construcções navaes é o unico que tem a attribuição de planear e dirigir a construcção dos navios; os outros são meros ajudantes, e a sua funcção principal é vigiar as obras que se fazem. Em nenhum á elles se suppõe iniciativa capaz para tomar a direcção d'essas construcções. Não é porque faltem ali officiaes, cujo merito seja reconhecido, mas é porque não se quer aproveita-los. Conhecido o defeito, é facil imaginar a emenda. Convém que os engenheiros sejam engenheiros, e tenham acção e responsabilidade. Não é isso o que se tem feito!

Por consequencia é necessario modificar profundamente esta legislação, e desattender os ciúmes e as rivalidades do engenheira chefe com os seus subordinados, e dos officiaes combatentes contra os engenheiros.

Houve quem se queixasse de serem excessivas as gratificações doa individuos que fazem parte do corpo de engenheiros navaes. Considerando, porém, que n'uma corporação por tal fórma limitada o accesso é excessivamente moroso, ha de achar-se que as gratificações não são excessivas relativamente fallando.

Qual é o meio de evitar o excesso de despeza? E estabelecer para a marinha o que está estabelecido para o exercito.

Assim como o engenheiro militar é official combatente, assim tambem o engenheiro naval deve ser official combatente.

Para isso não é preciso fazer mais do que cortar algumas excrescencias no curso respectivo, e apresentar-lhe as cadeiras unicamente destinadas aos officiaes de marinha e que são apenas duas. Tambem d'este modo ficarão mais completas as habilitações do engenheiro, porque não comprehendo como um engenheiro naval possa desempenhar bem os deveres da sua arte sem conhecer a theoria da navegação e sem ter tambem pratica da manobra e apparelho.

Feitas que sejam estas modificações, os engenheiros podem fazer parte do quadro dos officiaes combatentes, e póde-se diminuir-lhe as gratificações, com grande proveito do thesouro e sem prejuizo para ninguem.

Bem sei que é acertado entregar o que é exclusivamente fabrico a quem sabe fabricar, e o que é dirigir o navio e combater aos officiaes que têem a educação technica especial para serem officiaes de marinha; mas em todo o caso entendo que o engenheiro naval póde tambem ser official combatente, e não deve ter accesso sem tirocinio de embarque e pratica de construcções no arsenal.

Emquanto não trouxermos estes principios ao campo da pratica, creio que não teremos nem boa administração do arsenal, nem engenheiros navaes, nem facilidade e efficacia no serviço, nem nenhuma das condições necessarias para a marinha prosperar e florescer,

O que digo do corpo de engenhem naval refléctese em parte na escola naval e em quasi todos os estabelecimentos dependentes do ministerio da marinha.

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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Ainda que fosse aceita por todos a idéa de enviar a escola naval para bordo de um navio, não creio que tenhamos navio nas condições necessarias para esse serviço; mas é necessario quanto antes cortar as excrescências que ha na escola naval.

Existe n'essa escola uma cadeira onde se ensina calculo differencial e integral, e principios de mechanica. Pois nós não temos em Lisboa a escola polytechnica? Para que é esta duplicação de serviço em dois edificios tão proximos?

Podem dizer me que estas materias são mais desenvolvidas na escola polytechnica do que na escola naval, mas eu respondo desde já a essa objecção.

Sou lente substituto da escola polytechnica, e, não sobrevindo alguma circumstancia extraordinaria, estou condemnado a não fazer nada.

Ora, se a lei determinar que eu, ou um collega meu, reja ou no edificio da escola polytechnica ou no edificio da escola naval um curso de calculo différenciai e integral, e de principios de mechanica para uso da escola naval, segundo o programma formulado por esta, economisar-se-ía uma gratificação a um official de marinha, aproveitar-se-ía mais um individuo habilitado para o serviço de mar, e o estado fazia uma economia sem prejuizo do ensino. Ao mesmo tempo deixaria de perder-se um professor, porque se inutilisara os que estão afastados do ensino, como aos substitutos succede.

As ultimas reformas tiraram aos lentes da escola naval a propriedade das cadeiras, e entendo que é necessario restituir lh'a. Desde que se fizer dos tentes encyclopedicos, de maneira que o lente de astronomia e navegação possa ser obrigado a reger as cadeiras de direito e historia maritima, ou outra em que não possua conhecimentos especiaes, não ha professores nem ensino serio.

Na escola naval não são precisas mais de quatro cadeiras de ensino especial para os officiaes de marinha e engenheiros navaes, e as outras materias que não são da especialidade d'essas duas classes podem ser professadas pelos lentes substitutos da escola polytechnica, que se perdem por não terem que fazer. Quatro professores proprietarios, um auxiliar para o curso de machinista e outro para o de desenho, constituem o quadro essencial da escola.

Estas questões prendem-se tanto que, sem fazer um discurso académico a respeito das nossas glorias passadas, ou a respeito do futuro das colonias, nem fazer um dos discursos tabellas, que estão em moda (riso), poderia tomar á camara uma sessão ou mais, enumerando-lhe todas as reformas e modificações que me parecem necessarias no ministerio da marinha. Não o farei, porque não julgo este ensejo proprio, mas não posso deixar de me referir a alguns dos pontos especialmente tratados pela commissão de fazenda no seu parecer e a outros connexos.

Ha pouco tive occasião de notar as infracções de lei que se têem commettido na legislação naval; o ministerio da marinha, por graça de Deus, é useiro e vezeiro de infracções de todas as especies. Vou referir outra relativa aos facultativos navaes auxiliares, e a respeito d'estes não posso deixar de mandar para a mesa um projecto de lei, porque é necessario emendar a legislação actual, com o fim de evitar futuros abusos.

O sr. Latino Coelho, no decreto de 26 de dezembro de 1868, estabeleceu o seguinte:

«Em caso de urgente necessidade o ministro póde, ouvida a junta consultiva de saude naval, admittir para o serviço de bordo exclusivamente facultativos auxiliares, comtanto que o seu numero não exceda a tres.»

Veiu a reforma de 1869 e alterou esta legislação de modo que permittiu o abuso que ainda hoje existe, e que é necessario destruir. Diz a lei de 1869:

«Em caso de urgente necessidade o ministro da marinha póde, ouvida a junta consultiva de saude naval, admittir facultativos navaes auxiliares:

1.° Para serviço de bordo, ainda que estejam preenchidos todos o logares do quadro de facultativos navaes;

2.° Para outros serviços, sómente quando houver vacaturas no dito quadro e de modo que o numero de facultativos auxiliares não exceda o d'aquellas vacaturas.»

Isto parece claro e simples. Não se póde admittir facultativos auxiliares senão em casos de urgente necessidade de serviço, isto é, quando não haja facultativos para embarque, ou para os quadros de terra.

Os quadros de terra compõem-se de dois facultativos para a secretaria, um para o corpo de marinheiros, e quatro para o hospital de marinha.

Alem da necessidade de attender a estes serviços de embarque e de terra não póde haver casos de urgente necessidade.

Pois estavam todos os navios providos dos seus facultativos, tinha o corpo de marinheiros um facultativo, havia dois na secretaria, e no hospital não havia os quatro que o quadro marca, mas seis, e conservaram se dois facultativos auxiliares!

Pergunto, desde que a lei diz, em casos de urgente necessidade, o que é senão uma infracção de lei, um abuso, conserva assim dois empregados que a lei manda despedir?

E preciso acabar com este abuso; é preciso não permittir a admissão de novos facultativos auxiliares desnecessarios; melhor talvez é substituir esta condição «somente quando houver vacaturas» por outra que está enunciada no projecto de lei que eu hei de mandar para a mesa e que não tem o mesmo inconveniente, porque sob pretexto e haver vacaturas foram sem urgente necessidade conservados os auxiliares.

Ha outro ponto em que julgo haver infracção de lei; mas não posso afiança-lo á camara sem receber informações do sr. ministro da marinha.

O decreto de 30 de dezembro de 1869 determina no artigo 9.° que os capitães dos portos sejam officiaes de marinha effectivos ou reformados, comtanto que os effectivos não excedam seis, alem do do porto de Lisboa. Vinha portanto a ser permittido o maximo de sete officiaes effectivos para capitães de portos.

A legislação posterior, substituindo as intendencias de marinha pelos departamentos maritimos, permittiu admittir mais dois para chefes de departamentos maritimos do Porto e Faro, desempenhando cumulativamente as funcções de capitães de portos.

Nove é, pois, o maximo de officiaes de marinha em serviço effectivo que podem ser capitães de portos. Quer v. ex.ª saber quantos ha? Ha um capitão de porto, capitão de fragata, em Angra do Heroismo; ha um capitão tenente, capitão do porto de S. Martinho, outro em Ponta Delgada, outro em Caminha, outro em Tavira, outro em Aveiro, outro em Vianna, um primeiro tenente em Villa Real, outro na Horta, um segundo tenente na Figueira, outro em Lagos e até um contra-almirante, creio eu, no Funchal!

São doze officiaís e incluindo os chefes de departamentos maritimos de Lisboa, Porto e Faro, ha quatorze officiaes em effectivo serviço, com exercicio de capitães de portos em logar de haver só os nove, que a lei permitte. Talvez o sr. ministro da marinha me prove, que não existem officiaes reformados idoneos para desempenhar estas funcções; mas provisoriamente duvido de que, pelo menos, as funcções de capitães de portos tão pouco importantes como o de S. Martinho, de Caminha, de Tavira e de Aveiro, e outros assim, não possam ser exercidas por alguns dos quarenta e dois officiaes reformados que o orçamento menciona. Se o sr. ministro não me demonstrar a falta ou a incapacidade dos officiaes reformados, proporei mais um bill de indemnidade, porque é necessario por uma vez acabar com estas infracções de lei e uma das maneiras de terminar com ellas é releva-las o parlamento, porque o perdão, no meu entender, envolve a condemnação do acto praticado (apoiados). A proposito vem manifestar, que tenho por justo e util

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que haja certo numero de commissões em terra pelo exercicio dos quaes se conceda alguma qualificação, a fim de que o official de marinha que volta com a saude deteriorada, e cansado do serviço de bordo e principalmente do serviço no ultramar, possa descansar por algum tempo sem que os seus vencimentos sejam muito cerceados; mas uma cousa é o uso e outra cousa é o abuso (apoiados). O abuso dá-se n'este caso como em todos os outros. Por exemplo, tinhamos em 31 de dezembro de 1870 e temos um capitão de fragata vigiando de Lisboa o serviço dos pilotos da barra! (Apoiados.) Realmente é uma commissão tão importante que só póde ser exercida por um capitão de fragata! Tinhamos e temos outro capitão de fragata encarregado do recenseamento maritimo de Lisboa! No exercito este serviço é feito por officiaes reformados; na marinha deve ser feito tambem por officiaes reformados.

Emfim, se percorrermos a lista da armada, referida a 31 de dezembro de 1870, veremos que o maior numero de officiaes de marinha têem exercicio em terra. Officiaes generaes temos seis, todos com commissões em terra; de capitães de mar e guerra, que deviam ser 8 ha 11, e d'este numero está embarcado 1, em terra 7, no ultramar 2, e prompto para o serviço 1! De 20 capitães de fragata que existem, em logar de 18, estão 4 embarcados, 11 com commissões em terra, 1 no ultramar e 4 promptos para o serviço. Não preciso ter á camara qual é a collocação de outros officiaes das differentes classes da armada, porque seria cansar a sua attenção; basta indicar que ha apenas 78 officiaes embarcados, contando mesmo aquelles que fazem serviço no Tejo, e que os officiaes desembarcados são 113! Isto não é uso racional, economico e prudente, é abuso (apoiados), isto não póde ser, não póde continuar assim (apoiados).

Remuneremos optimamente por todos os modos que as circumstancias permittam, com postos e soldos, os officiaes de marinha que embarcam, que trabalham e que soffrem em consequencia do serviço prestado nas longiquas e doentias paragens do ultramar; mas não remuneremos de modo nenhum os officiaes de marinha que navegam constantemente em estabelecimentos publicos, na secretaria, nas capitanias de portos, em mil sinecuras (apoiados).

Tambem aqui ha abuso de outra especie. Nem sempre a commissão remunerada em terra é dada ao official que vem cansado e doente do ultramar, e que precisa descansar algum tempo; a commissão remunerada especialmente é considerada como monopolio de um certo e determinado individuo (apoiados). Creio que na nossa armada ha capitães de fragata e capitães de mar e guerra que nunca commandaram navios! (Apoiados.)

Uma voz: — Nem mesmo embarcaram!

O Orador: —Talvez! Isto não póde ser e cumpre acudir com remedio prompto. Penso que um dos mais efficazes estaria na contagem do tempo de serviço em uma certa proporção: ou contando o tempo de embarque com mais um quarto ou um quinto, ou diminuindo-o na mesma proporção aos que estão em terra.

Não me proponho legislar n'este ponto, não sei se esta idéa tem alguns inconvenientes, mas entrego-a ao talento e ao patriotismo do sr. ministro, que deve evitar um abuso prejudicialissimo para o serviço, que desmoralisa a classe, que desfalca o thesouro e que indigna os officiaes que trabalham (apoiados). São estes abusos e estas injustiças que quebram a disciplina e a unidade do serviço (apoiados). Não se póde consentir que um official de marinha passe constantemente a sua vida em terra, gosando grandes vencimentos, emquanto que outros seus camaradas são obrigados sem descanso a fazer estações em climas doentios e perigosos. O official que só vive em terra, e que não está bem senão aqui, perde o habito de vida do mar, usurpa a remuneração de que não é digno, e prejudica a sua classe. O proprio sentimento do amor patrio, salvo em corações excepcionalmente generosos, desfallece nas victimas de tão revoltantes injustiças.

Não se diga que a commissão de fazenda quiz destruir a marinha portugueza. Parece-me que posso affirmar, em nome de todos os membros da commissão, que nunca nenhum de nós abrigou tal pensamento (apoiados), bem pelo contrario. O que a commissão quiz foi que não continuassem os dinheiros publicos a ser gastos em escandalos ou com uma marinha como a que possuimos. Não temos navios de combate, nem transportes, nem navios de caça, o até a commissão sabe que os officiaes de marinha muitas vezes vêem arriscada a sua vida, embarcando em navios em que eu não quereria embarcar no Tejo. A commissão de fazenda não quiz que continuassem a estar armados navios que hoje estão podres, e que em logar de andarem para diante, andam para traz, como são o Pedro Nunes, a D. João I e outros muitos (apoiados).

Quando o sr. ministro da marinha disse na commissão que ella, como epilogo da sua obra, devia votar um credito para se renovar o material e fazer a acquisição de alguns navios, a commissão respondeu: « Consulte v. ex.ª as corporações e os homens competentes, traga a indicação dos navios que quer adquirir, digo as condições com que os pretende, porque todos lhes votaremos meios, visto que todos queremos o augmento da marinha, mas não queremos mais Hawks, nem Bartholomeu Dias, nem mais chavecos incapazes. Declare o que julga necessario, porque a commissão não hesitará em conceder os meios que forem indispensaveis; recusa-lhe uma auctorisação illimitada, mas está resolvida a conceder quanto for util para a prosperidade da marinha». E isto o que se occulta quando se quer censurar a commissão, que nem podia ter nunca na sua mente afrontar a corporação dos officiaes da armada, uma das mais dignas (apoiados), nem oppor-se ao desenvolvimento da marinha militar.

Estranha-se que a commissão negasse meios para o armamento de navios que é impossivel armar! Mas não se vê que ella só pretendeu evitar, á sombra de armamento, despezas não auctorisadas. Onde se viu no orçamento alguma verba para a construcção do quartel de marinheiros? Onde verba para a construcção do observatorio da Ajuda? Onde verba para o hospital Estephania? A despeza com o primeiro saíu illegalmente da verba destinada aos armamentos navaes, que não se verificaram, porque não havia navios em estado de ser armados. Saiu da verba do armamento naval do mesmo modo que os facultativos auxiliares saíram illegalmente das vacaturas do quadro, e que o excesso de aspirantes de marinha, que ha muito deviam ser demittidos, saíu das vacaturas de segundos tenentes. Cortar, portanto, as verbas que não podem gastar-se é boa e saudavel economia, porque obsta ao dispêndio dos dinheiros publicos em casos não auctorisados por lei. Em vão se redargue que o governo póde abrir creditos extraordinarios e supplementäres; uns e outros exigem formalidades que coarctam o arbitrio ministerial. Os grandes escandalos e as grandes illegalidades têem sido praticados á sombra das verbas excessivas do orçamento.

Diga-se a verdade, a commissão não cortou senão aquillo que julgou inutil e illegal. E não esqueça que ha duas especies de economias: a que resulta da reforma e simplificação dos serviços, e a que resulta de despender o minimo com um serviço organisado de certo modo. A primeira é a mais importante, mas nem por isso deve desprezar-se a segunda.

Não póde haver disperdicio e má applicação da verba destinada para armamento de navios, logo que não se note no orçamento senão o indispensavel para os navios que é possivel armar. A triste experiencia do passado deve precaver-nos para o futuro. Se o governo entende que precisa de dinheiro para quaesquer despezas, tenha a fealdade e a franqueza de confessar qual é a verba precisa; mas não diga no orçamento que pretende armar doze navios, para applicar mal o dinheiro destinado a tres ou quatro que estão incapazes; não diga que tem vinte aspirantes com uma

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certa remuneração, quando a realidade é que ha muitos mais com remunerações superiores. Contra estas faltas de verdade nas leis e no orçamento devemos andar acautelados.

Se houve até quem, perante a commissão, defendesse a existencia do commando geral da armada, pela necessidade que julgava haver de remunerar os relevantes serviços de um official! Á falta de outras rasões inventou-se esta!!

Reconheço os relevantissimos serviços do official que hoje é commandante da armada, estou prompto a remunera-los, mas quero que se diga ao paiz: «Não ha na marinha commissão para dar a este distincto official, convem remunerar os seus serviços, dê-se lhe uma pensão». Aceito este procedimento franco e leal, mas não admitto a existencia de uma repartição inutil e prejudicial, unicamente para remunerar os serviços de um official.

Isto é o que a commissão não quer, e foi o que tratou de evitar. Dizem certos espiritos facciosos e apaixonados, que a commissão de fazenda, nova communa, especie de horda de vândalos que invade e tala os serviços publicos, quiz destruir o hospital da marinha. Mas não foi isso o que a minoria da commissão de fazenda sustentou. Reconheceu ella que no hospital de marinha não só se gasta todo o vem cimento das praças de marinhagem que para ali vão, mas ainda se devora um subsidio do governo; pareceu-lhe que é uma grave injustiça mobilar sumptuosamente um edificio á custa dos pobres marinheiros, e não só á custa dos pobres marinheiros, mas á custa do estado. Entendeu que não foi para isto que se organisou o hospital. Outra consideração os moveu.

Todos sabem que o hospital de S. José não tem o espaço suficiente para o numero de doentes a seu cargo, e que a sua direcção precisou lançar mão de edificios improprios, e de alguns dos quaes paga avultadas rendas. No bairro de Alfama existe accumulada a população mais pobre, ha fabricas e a estação principal do caminho de ferro; a commissão julgou de grande utilidade o estabelecimento, ali, de uma succursal do hospital de S. José, não só porque elle não tem muito espaço disponivel, mas ainda porque precisa de um edificio para receber os doentes d'aquelle bairro.

A commissão entendeu que em logar do hospital de S. José ter como annexo o arruinado edificio do Desterro, e uma pequena casa alugada na calçada de Sant'Anna, que não tem as condições necessarias para hospital, poderia receber o edificio de Santa Clara, situado no centro de um bairro pobre e populoso. Os doentes da marinha iriam para o hospital do exercito, onde teriam enfermaria especial.

Não vejo que no hospital da Estrella a accumulação seja tal, que não possa ter mais doentes. O illustre deputado, o sr. Alcantara, encarregou se de esclarecer a camara a este respeito, dizendo que no hospital militar cabem 295 doentes, e que não estão lá em circumstancias normaes senão cento e tantos.

O sr. Alcantara: —Nâo sou eu que o digo, é o director do hospital que o diz.

O Orador: — O director pela bôca de s. ex.ª disse, que no hospital militar estão ordinariamente 130 a 140 doentes, que cabem lá sem difficuldade 270, que com alguma difficuldade poderiam caber 295, e que em circumstancias extraordinarias tem cabido 400. Ora, em circumstancias ordinarias não precisâmos mandar para o hospital militar senão 40 ou 50 doentes alem dos 130 que lá estão. Cabem per- feitamente, e fica espaço para mais (apoiados).

Ainda outra observação. Em caso extraordinario, quando no hospital militar não houvesse espaço sufficiente para receber os doentes do exercito e da armada, aproveitar-se-ía o edificio dos Marianos, que pertence aquelle hospital, e onde ha todas ag accommodaçftes para receber os doentes. Emfim havia mil meios de resolver a difficuldade (apoiados), evitando a existencia de dois hospitaes militares.

(Internação do sr. Alcantara que se não ouviu.)

O que a commissão entendeu, ou o que. pelo menos, eu entendo é que tendo nós um exercito tão minguado, e uma armada tão diminuta, é laxo, é superfluidade, é disperdicio dos dinheiros publicos termos dois hospitaes para estas duas corporações (apoiados); devemos combinar as cousas de modo que, sob a mesma direcção, sejam tratados os doentes d'estas duas corporações (apoiados), embora, se quizerem, e não vale a pena discutir essa questão, os marinheiros recebam um tratamento melhor que os soldados. Note-se que no hospital de marinha as cousas correm com tal regularidade que, emquanto ás praças de marinheiros se absorve todo o seu vencimento, por uma verdadeira espoliação, a policia civil, os guardas da alfandega e os soldados da guarda municipal são tratados por 6$000 réis cada mez ou 200 réis por dia!

O hospital de marinha como está, como uma nuvem de empregados, enorme despeza com poucos doentes, serve só para explorar o estado, defraudar os fundos publicos, e espoliar os marinheiros, que são tratados tão bem como outros individuos que pagam menos (apoiados).

O facto é que o movimento medio do hospital da marinha apenas exige uma enfermaria.

(Interrupção do sr. Alcantara, que se não ouviu.)

Estimaria que s. ex.ª provasse, que no hospital militar os doentes do nosso exercito morrem de fome. É mais uma noticia curiosa que se dá ao paiz, dizendo-lhe que, apesar do que se gasta, os doentes militares morrem de fome. Se s. ex.ª justificar isso, estimarei porque é mais uma prova de que este paiz, tem sido bem administrado (apoiados). É mais um elemento para glorificar perante os contribuintes, os homeas publicos que tem gerido o paiz, e para se ver a maneira como os fundos publicos são malbaratados (apoiados).

(Interrupção do sr. Alcantara, que não se ouviu.) O que está provado é que, com um exercito tão pequeno e com armada tão minguada, não ha necessidade de dois hospitaes (apoiados).

(Interrupção do sr. Alcantara, que não se ouviu.) Entendo perfeitamente isso, e tambem quero que se augmente a marinha. Quando a marinha estiver augmentada concedo que haja um hospital de marinha (apoiados); mas para o pessoal actual, e emquanto este se conservar no mesmo estado, não percebo que haja dois hospitaes (apoiados). (Interrupção do sr. Alcantara, que não se ouviu.) Eu não propuz a compra de navios, disse que votava os creditos necessarios desde que a compra se fizesse em boas condições; não votei a continuação da má administração, nem conservação de navios que não servem para nada (apoiados).

Eu concordo em que haja um hospital especial de marinha, quando s. ex.ª nos der muitos navios em boas condições, quando tiver mais officiaes, quando tiver mais marinheiros, quando chegarem os taes dois monitores, e as trinta e duas corvetas, e não sei que mais, com que havemos de assombrar todas as potencias da Europa. A poesia, se não na fórma, ao menos na idéa, já chegou á marinha. O assumpto é proprio para dar largas ás imaginações poéticas, mas seria bom que só fizessem poesia rasoavel.

Proclamou-se que devemos ser uma potencia naval, quer-se ter uma esquadra com que impunhamos respeito ás nações, creio que de todo o mundo, e por fim os espiritos poéticos receitam-nos dois monitores e trinta e duas corvetas, força que supponho ser inferior á marinha da Hollanda, desconfio que o será á da Grecia e á da Dinamarca, mas que com certeza faria rir a Hespanha e o Brazil.

Em todo o caso, quando gastámos 6.000:000)5000 réis, como se disse, para termos, não a marinha colonial, que é n'este ramo a nossa primeira necessidade, mas a sonhada marinha de combate, que se comporá de dois monitores e trinta e duas corvetas, quando tivermos a marinhagem precisa para essa esquadra, então careceremos de um hospital.

Um illustre deputado, cujas talentos perfeitamente reco-

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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

nheço e admiro, mas que n'esta questão devaneou um pouco, sustentou tambem que devemos ter um arsenal prompto para grandes construcções, porque nem sempre, em occasiôes de guerra, é possivel adquirir por intenvenção da industria particular o material necessario para occorrer ás necessidades da luta. E a este respeito trouxe á memoria o conflicto suscitado entre a Inglaterra e os Estados Unidos a proposito do Alabama, mostrando assim que corremos o perigo de não poder comprar navios.

Desejava que esse illustre deputado, o sr. Barros e Cunha, nos dissesse que utilidade haveria em ter um grande arsenal para nos fornecer de navios em caso de guerra. Vejo só n'isso um dispendio enorme, sem nenhuma consequencia util; qualquer que fosse o arsenal, ainda a quilha do primeiro navio couraçado não estaria completamente assente, e já a guerra teria terminado.

As nossas condições peculiares hão de sempre fazer com que fabriquemos mais caro que a Inglaterra e a America, por isso entendo, e entendo com a commissão, que o nosso arsenal de marinha deve ser um estabelecimento simplesmente destinado a reparações (apoiados). A respeito da cordoaria, e não quero desenvolver agora esta ultima questão, porque espero ainda que outro illustre deputado nos venha mostrar quanto custa um cabo feito n'aquelle estabelecimento, a minha opinião é que deve ser supprimida, porque a industria particular nos póde fornecer mais barato tudo quanto precisâmos.

Descobriu-se uma cousa muito notavel na commissão de fazenda, é que os cabos feitos na cordoaria nacional têem um excellente aspecto por fóra, mas infelizmente não prestam por dentro.

Se fossem igualmente bons por dentro e por fóra, ainda se podia desculpar o que nos custam, mas infelizmente são bonitos por tora e maus por dentro. Creio mesmo que os acontecimentos que se deram no Mediterraneo com a corveta Estephania não se devem attribuir senão ao mau estado e á má qualidade dos cabos novos d'aquelle navio, cabos provenientes da cordoaria nacional.

Pico por aqui, mas quero ainda justificar uma proposta que julgue essencial.

Examinando por simples curiosidade o orçamento do ministerio da marinha e o orçamento do ministerio da fazenda, notei uma incongruencia, que para mim não tem explicação, e que me parece não poder facilmente explicar-se.

No orçamento do ministerio da marinha pedem se em diversos capitulos 42:000$000 e tantos mil réis para a esquadrilha da fiscalisação das alfandegas, esquadrilha cuja edificante historia espero seja contada á camara quando se discutir o orçamento do ministerio da fazenda.

Ora, é preciso ter em vista que esta despeza com a esquadrilha de fiscalisação, em ultima instancia, é paga pelo ministerio da fazenda.

No ministerio da marinha estão auctorisados, como disse, para a esquadrilha de fiscalisação 42:000$000 réis, que hão de ser pagos pelo ministerio da fazenda; mas no ministerio da fazenda vejo apenas a verba de 30:000$000 réis para pagar esses 42:000$000 réis.

A operação ha de ser difficil, e, como receio que o ministerio da marinha perca n'este negocio, por isso vou mandar para a mesa uma proposta para que do orçamento d'este ministerio sejam excluidas todas as verbas que digam respeito á esquadrilha de fiscalisação, e para que essas verbas sejam todas lançadas no orçamento do ministerio da fazenda, embora a direcção technica, a fiscalisação e a contabilidade continuem a cargo do ministerio da marinha.

N'isto não ha difficuldade alguma, creio eu. O ministerio da marinha dirige a parte technica do serviço, fiscalisa a, faz a sua conta, e depois remette-a para o ministerio da fazenda, que a paga.

Mando tambem um projecto de lei para cohibir o abuso existente em relação aos facultativos navaes auxiliares, e hei de mandar, não já, porque não o tenho redigido, um projecto de additamento ao bill de indemnidade apresentado á camara a respeito dos aspirantes extraordinarios e um additamento ao projecto de lei do commando geral da armada, para que as attribuições d'este commando sejam distribuidas, como o governo julgar conveniente, pela direcção geral de marinha e superintendencia do arsenal (apoiados—Vozes: — Muito bem.)

(O orador foi comprimentado por muitos srs. deputados).

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