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6 DIARIO DA CAMARA DOS SEHHORES DEPUTADOS

tancia e encomenda excepcionaes ao mundo commercial e economico...

Não ha ainda muito tempo, Sr. Presidente, que Sua Magestade El Rei e Sua Augusta Esposa, dois dos actuaes Ministros da Coroa, e mais algumas individualidades importantes da sociedade portuguesa, visitaram os Açores, onde tiveram recepções calorosas e brilhantes, feitas da espontanea alegria dos humildes e da fidalga gentileza dos poderosos. Mas, Senhor Presidente, os Augustos visitantes e os seus Ministros - que só viram as terras principaes do archipelado quando ellas, adrede preparadas para a visita regia, exhibiam um estado anormal de luxo, alegria e festa - poderam colher, conseguiram fixar, impressões perfeitamente juntas, noções rigorosamente exactas, sobre o trabalho, a industria, e commercio, a intruducção, e caracter ... sobre as aptidões e as necessidades, em fim, de toda a ordem, do povo açoreano? A verdade Sr. Presidente, e esta é necessario dizê-la, aqui, bem alto - é que nem tudo, nos Açores, é luxo e festa; é que nem tudo, por lá, é alegria ...

Convem analysar um pouco o reverso da medalha ...

É o que muito summariamente vou fazer, pedindo para este assumpto importante a boa attencção da Camara e do Governo.

A emigração legal e clandestina, e dominantemente esta, de todas as ilhas dos Açores, e principalmente das Ilhas de S. Jorge, Graciosa, Pico, Faial e Flores, para a America do Norte, é verdadeiramente assustadora, Sr. Presidente, e ameaça proximo e grave despovoamento de algumas d'quellas ilhas.

Fugidos ao serviço militar - a que teem horror tradicional por deficiencia ou falta absoluta de instrucção - é a pequenez dos salarios, ou mancebos açoreanos das classes pobres, os mais sadios, fortes e prestantes, emigram delirantemente, nos contos, aos milhares, aos rebanhos, para a California e para outros Estados da União, onde as suas qualidades congenitos de honestidade e de trabalho os tornam - espantosamente rudes e incultos como quasi todos vão - apreciados para labutas braçaes. (Apoiados).

Muitos d'estes foragidos, fugindo ainda (na hypothese ao terem do regressar á patria) á acção das nossas leis militares, naturalizam-se; numa ausencia total e triste de civismo, mercê da ignorancia crassa em que o seu país os deixa, bisonhos e analphabetos cidadãos da livre e instruida America.

Mas a maior parto d'elles não regressa, Sr. Presidente; adapte se depressa e bem á nova patria, onde - porque o trabalho é bem pago e a vida bem mantida - melhor trabalha e melhor vive do que na patria antiga.

D'antes, regressavam limitou d'elles aos Açores, depois de 5 ou 6 annos de labuta brava, cada um com 3:000 ou - 4:000 dollars de economias avidas, dispostos a trabalhar e a cavar nas suas terras.

Actualmente, o emigrante açoriano não se repatria; vaqueiro, ovelheiro, mineiro, pequeno agricultor ou pequeno negociante em varias regiões da California; operario fabril, baleeiro, peccador ou carrejão de Fall-River, New-Bedford ou Boston; raramente aventureiro na Arizona ou no Mexico; o ilhéu que está na America não quer saber mais das ilhas. Americaniza-se o melhor que pode e, em vez de visitar os paes e de lhes mandar dinheiro como outr'ora fazia, arrasta-os, agora, para a America tambem.

Expatriam se familias inteiras de animo feito a não mais voltar a patria.

An mulheres, em virtude de uma lei physiologica imperiosas e respeitavel, deram em emigrar tambem, aos centos. É o exodo natural o logico de futuras mães; determinado pelo exodo exagerado e crescente dos seus noivos naturaes.

Assim, emquanto as colonias açoreanas, em algumas estados da União Norte-Americana, repullulam, a população, a vida, a mocidade, a infancia, em muitas terras dos Açores, esmorecem.

A agricultura, extremamente rotineira e atrasada nas pequenas ilhas, afrouxa. Detinham ou terminam as pequenas industrias locaes.

E ao passo que o trabalho, cada vez mais difficil e peor, diminue; em impostos, cada vez mais vexatorios e injustos, augmentam. Impostos cada vez mais vexatarios e injustos, sim, Sr. Presidente, sim, Sr. Ministro da Fazenda, porque grande parte da gente (e da mais pobre) dos Açores, que crescentemente vae contribuindo para viação, para instrucção publica e para muitas outras cousas que outras terras vão tendo, não tem estradas, nem escolas, nem recebe, a bem dizer, o menor beneficio do Governo...

Este esboço de quadro, que se refere especialmente, a muitas populações das Ilhas de S. Jorge, Graciosa, Pico, Flores e á pequena e interessante Ilha do Corvo, pudera parecer a V. Exa., Sr. Presidente, ao Governo e á Camara exagerado, mas é perfeitamente exacto.

E isto não é de agora, Sr. Presidente, vem de muito longe e aggrava-se.

Ora este estado do cousas, cheio de problemas graves porque interessam gravemente a vida intellectual e economica de alguns centos de milhares de cidadãos portugueses, exige, evidentemente, da parte dos poderes publicos, analyse o remedio efficazes e urgentes. (Apoiados).

Não é só pelo futuro que os Açores se impõem á consideração immediata dos governos portugueses. Terras que - mal cuidadas como são e foram sempre - contribuem para as despesas do Estado com cifra não inferior a 2.000:000$000 réis de impostos annuaes, merecem bem, é evidente, a attenção e o estudo dos nossos poderes publicos.

E não é só pelos seus dons naturaes - em regra muito pouco e muito mal explorados - que os Acures teem jus á mais aberta benevolencia do país; e, tambem, Sr. Presidente, pelas qualidades de trabalho o de valor intellectual dos seus nem sempre bem aproveitados habitantes. Terras que - mal cuidadas como são e foram sempre - teem dado á nação homens como: Anthero de Quental, Theophilo Braga, o Padre Senna Freitas, João Teixeira Soares e Ernesto do Canto, na litteratura, na philosophia e nos estudos historicos; Hintze Ribeiro e Antonio José de Avila, na politica (Apoiados); Francisco Chaves e Arruda Furtado, nas sciencias naturaes e physicas; Sousa Pinto, na pintura; Francisco de Lacerda, na musica; Antonio Maria Barbosa, Philomeno da Camara e Curry Cabral, na medicina e na cirurgia; e muitos outros homens de trabalho e do valor que todas as maneiras do saber; não devem, Sr. Presidente, não podem ser postas de parte - no esforço de regeneração que imperiosamente se impõe a toda a gente portuguesa! (Apoiados).

O povo açoreano, Sr. Presidente, que, pela sua ethnogenose complexa e pelo seu habitat especial, tem, em muitas faces da sua vida economica e moral, feições propriamente suas, não inteiramente portuguesas, carece, nessas feições, de providencias e leis especiaes.

O archipelago dos Açores, - que representa, talvez, com os da Madeira, de Cubo Verde e das Canarias, algumas das mais altas serranias da mysteriosa Atlantida cuja existencia e cuja submersão proto-historicas parecem até certo ponto confirmadas por antigas tradicções phenicias, cartilaginosas e gregas, e por modernos dados scientificos, (Apoiados) - descoberto, em 1432, pelo navegador português o henriquino Goncalo Velho Cabral, primeiro donatario de Ilha de Santa Maria (a primeira, das 9 de archipelago, que elle viu e povoou), - não foi colonizado comente pelos portugueses, ao invés do que em geral de suppõe, em ilhas o epocas diversas ali se foram fixar.