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SESSÃO N.° 46 DE 2 DE ABRIL DE 1902 7

A fertilidade, o clima, o socego e a belleza das terras açoreanas attrahiram e prenderam muitas colonias estrangeiras. As familias e os companheiros dos flamengos: Yoost van Hurter no Faial, Villem van der Hurter em S. Jorge, e Jacob van Brugge na Terceira; uma suspeitada colonia francesa em S. Miguel; numerosas familias hebrêas e outras de povos varios em todo o archipelago; foram, segundo noções historicas e tradições correntes, outros tantos nucleos antigos, hecterogeneos e caracteristicos do povo açoreano, ainda não de todo homogeneizado em feitio social e ethico, mormente se observado em ilhas diversas e distantes, mas tendo já, ainda assim, um caracter ethnographico geral propriamente seu, feito da combinação e das modificações reciprocas entre os caracteres plasticos e psychicos dos povos que ali se alliaram e fundiram.

O Sr. Presidente: - Faltam 5 minutos para se entrar na ordem do dia.

O Orador: - Vou terminar, Sr. Presidente, pedindo, mais uma vez, ao Governo e á Camara a devida dedicação pelas ilhas dos Açores, por aquellas obscuras e um pouco esquecidas terras que, pela sua situação geographica e por outras qualidades naturaes, devem fatalmente interferir, e muito, num futuro mais ou menos proximo, nas relações commerciaes, e outras, entre os velhos e os novos continentes...

Aquellas ilhas, Sr. Presidente, exigem e merecem, dos governos portugueses, estudos, protecção, melhorias e vigilancia especiaes-mormente neste momento historico em que as grandes nações industriaes, a Inglaterra, á Allemanha e (mais que todas as outras) a America do Norte, se preparam, num crescendo collossal e invasor da sua industria e do seu imperialismo, para as grandes lutas commerciaes e economicas que serão, Sr. Presidente, os grandes acontecimentos d'este seculo...

Mas, Sr. Presidente, falhando ao que me impus e expus no principio d'este meu já muito longo arrazoado, afastei-me do meu assumpto restricto. A elle volto, portanto, passando abruptamente, para terminar depressa, da vasta expansão commercial da Inglaterra, da Allemanha e da America do Norte á modesta ampliação do caes do Porto de Pipas, do Lyceu Nacional e da Escola de Desenho Industrial de Angra do Heroismo.

Em 26 de agosto ultimo, a Associação Commercial d'esta cidade representou a Sua Majestade e ao Governo sobre a impreterivel urgencia do primeiro d'estes melhoramentos publicos.

Na sua representação, de que possuo copia, a referida corporação fez considerações importantes, algumas das quaes vou, muito resumidamente, expor a Camara:

"A obra de que se trata será de facil e pouco dispendiosa construcção e de enormes vantagens commerciaes. Mas o melhor e o maior dos seus grandes resultados será a salvação de vidas, pois que só ali poderão encontrar abrigo e refugio as tripulações dos navios surtos na bahia de Angra, quando os repentinos e frequentes temporaes do sul e do sueste as obrigarem a abandonar, como é de regra, as suas embarcações".

Por estas e outras considerações, mas, sobretudo, pela ultima - a salvação de vidas (e muitos naufragios e muitas mortes teem havido, na bahia de Angra, Sr. Presidente, á mingua de abrigo e refugio), - peço ao Governo (e especialmente ao nobre Ministro das Obras Publicas), no meu dever e no meu direito do Deputado pelo districto de Angra do Heroismo, que, attendendo á mais que demonstrada necessidade da obra reclamada, mande proceder aos estudos necessarios para que o projecto, o orçamento e a conveniente e possivel dotação da mesma possam ter a devida approvação dentro do actual anno economico.

Neste sentido, e sobre as pedidas reformas do ensino publico no districto de Angra do Heroismo, vou mandar para a mesa algumas propostas minhas e uma representação da Junta Geral do referido districto.

E tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem.

O orador foi muito cumprimentado).

O Sr. Presidente do Conselho de Ministros (Ernesto Rodolpho Hintze Ribeiro): - Dois minutos apenas, e com o fim de mui cordialmente cumprimentar o illustre Deputado, que acaba de falar, pela prova brilhante que S. Exa. vem de dar do seu provado talento, da sinceridade das suas convicções e da maneira, tão nítida e justa, como expõe as suas idéas adquiridas.

Sr. Presidente: trouxe a opposição a esta Camara as suas mais finas e elegantes espadas, os seus mais notaveis oradores de combate, os seus mais profundos homens de sciencia; temo-los ouvido a todos com deferencia-se não posso dizer que a todos com agrado, porque, ás vezes, as suas accusações teem sido violentas mas, em todo o caso, a todos temos escutado com o respeito e a attenção que se devem a quem trabalha e lida em proveito do seu país, com sinceridade e convicção, embora com vehemencia na sua palavra.

Mas, Sr. Presidente, trouxe tambem a maioria a par de talentos provados como brilhantes, talentos de homens moços que o país ainda não conhecia, e que folga de apreciar e conhecer como esperanças novas em que põe confiados olhos (Apoiados). Todos os dias, aqui na Camara, ouvimos discursos, verdadeiras apologias do que pode e deve ser a causa do país, no seu mais nobre e mais levantado sentido; todos os dias, nesta casa, temos ouvido discursos em que a palavra fluente, em que a convicção arreigada e em que ao mesmo tempo o caracter nobre, o mais acrisolado e o mais puro, se põe ao serviço da nação!

Isto, Sr. Presidente, é para mim, que vejo nesta maioria os meus amigos politicos, a maior satisfação que eu posso ter na minha vida publica.

Porque, gasto já pelos combates da vida politica e de Governo, prevejo não poder ir muito longe na minha carreira (Muitas vozes: - Não apoiado) e tenho a consolação de que, assim, ficam ao serviço do meu país apostolos devotadas, estrenuos, cheios de convicções as mais sinceras e as mais enraizadas, e ao mesmo tempo capazes de, pela sua illustração, pela sua experiencia e pelo seu conhecimento dos homens e das cousas, amparar a causa do país em qualquer transe por que elle tiver de passar.

Esta é a minha convicção, e ao mesmo tempo a minha maior e mais intima alegria.

Pelo que respeita, Sr. Presidente, ás palavras do illustre Deputado o Sr. José de Lacerda, fluentes como raras vezes me foi dado ouvir, ricas de altos conceitos, dos mais nobres que se podem apresentar nesta assembléa, illuminados de uma critica tão alevantada e, ao mesmo tempo, trazendo a justeza precisa e sobria que emprestam as orientações rigorosas, essas palavras do illustre Deputado, terei eu, Sr. Presidente, o orgulhoso jubilo de commentar aqui, dizendo que mais uma vez me honro de pertencer aos Açores, aonde nasci.

É que tive hoje um momento de sincero prazer em ouvir o illustre Deputado; porque desde que os Açores teem propugnadores que, como S. Exa., tão alto erguem as suas nobilissimas aspirações, invocando as tradições do passado - de que a Ilha Terceira é um testemunho immorredouro - e, ao mesmo tempo, referindo-se ao presente e appellando para o futuro numa invocação tão cheia de conceitos bem formados e de observações tão justas, pode-se ter a certeza de que a sua causa não morre, desde que possua, de entre os seus mais sinceros e devotados apologistas, um talento tão brilhante, tão formoso e tão sincero como o do illustre Deputado. (Apoiados).

Vozes: - Muito bem.

(O orador não reviu).