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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

tambem para portuguezes os salarios dos trabalhadores (Apoiados.) E se suppozermos que o sr. ministro dos negocios estrangeiros se enganou quando affirmou que os trabalhadores seriam chinezes, o que acontecia o que aconteceu no Transvaal, quando ali se descobriram as minas de oiro, accorrerem mineiros da Austrália e da Califórnia, então a colonia pelo peso da nova população tornar-se-ía rapidamente ingleza.

Mas, dir-se-ha, esses chinezes, esses trabalhadores fixar-se-hão na colonia, o far-se-ha assim a colonisação.

Outro engano, outro erro.

A emigração chineza é Uma emigração temporaria, é uma emigração do ida o volta. (Apoiados.)

Não ha exemplo nenhum dos chinezes se fixarem nas colonias para onde vão trabalhar.

Os chinezes não têem repugnancia, têem horror a estabelecer-se nas terras estrangeiras para onde vão trabalhar.

Quando os chinezes chegam a qualquer paiz, o primeiro cuidado que têem é formar sociedades que lhes garantam, no caso de morrerem, que os seus cadaveres serão transportados para a China, o que tem feito dizer nos paizes para onde os chinezes vão: «Nós importamos chinezes vi voa, exportâmol-os manufacturados e mortos».

Já vê, portanto, v. ex.ª e já vê a camara que com os trabalhadores que se chamem por este meio a Moçambique que não se fará á colonisação. (Apoiados.)

Mas, dir-se-ha talvez, deixarão uma grande parte d'aquillo que ganharem na colonia.

Outro erro, outro engano tambem.

Os chinezes ganham o mais que podem, gastam é monos que lhos e possivel, esmagam com a sua concorrencia todos os outros trabalhadores e retiram-se. (Apoiados.)

Uma parte dos Estados Unidos está em sublevação quasi constante, por causa da emigração chineza. As colonias inglezas das ilhas da Oceania estão quasi nas mesmas circumstancias; o se não fossem os tratados de commercio que os Estados Unidos e a Inglaterra lêem com a China, ha muito tempo que teria sido prohibida a emigração dos culis.

Já se vê, portanto, que por este meio tambem se não póde alcançar nenhuma vantagem para a provincia de Moçambique.

Eu vou ler á camara, como testemunho do que estou dizendo, um trecho do uma obra sobre colonisação, obra que está sobre a mesa do sr. ministro da marinha, como s. ex.ª declarou no prologo que escreveu a um livro, obra cujo auctor já foi citado aqui como auctoridade pelo sr. ministro da fazenda:

E a obra de Leroy-Beauliéu sobre colonisação. Diz elle: »A immigração dos culis n’uma grande escala é talvez ainda mais perigosa do que a manutenção da escravatura. Nós não nos collocámos aqui no ponto de vista da moral e da liberdade humana, que raras vezes são respeitadas n'esses contratos quasi sempre viciados pela fraude ou pela ignorancia fallâmos unicamente no ponto do vista economico, social e politico.

«A introducção d'estes milhares de operarios estrangeiros com Costumes, linguagem e religião completamente differentes; a corrupção asiática que esses aventureiros da escoria das sociedades indiana e chineza inoculam nas colonias europeas; a instabilidade que resulta d'esta vasta população fluctuante que nada prende á terra que cultiva, as crises monetarias ou alimenticias que se multiplicam, ou pela derivação dos metaes preciosos que produz periodicamente a partida dos culis para a sua patria, levando as suas economias no fim do seu contrato, ou a necessidade permanente de pedir ás Índias alimentos especiaes, os unicos que os culis se prestam a consumir; o espectaculo desta sociedade sem homogeneidade, sem laço algum, sem communidade do interesses, sem subordinação real; é a nosso ver uma cousa para affligir e para dar inquietações. Os governos têem animado demasiadamente esta institui cão viciosa; em logar de auxiliar o seu desenvolvimento, teria sido maia conveniente procurar restringil-o. A immigração dos culis perpetua com effeito o estado do cousas que a escravatura tinha creado: a cultura exclusiva e a todo o transo dos generos do exportação, a ausencia de espirito de progresso e de investigação do que resultaram tantos males no passado, e que gerará ainda sem duvida bastantes males no futuro.»

Todos os demais escriptores concordara com este em que a emigração dos chinezes perpetua o estado de cousas crear; do pela escravatura e em que com tal emigração não só funda nada.

Mas diz-se «lucrará o commercio.» Mas eu pergunto qual será a direcção do commercio? Quem ha de dar a direcção ao commercio são os capitalistas e os trabalhadores; mas como nem uns nem outros são portuguezes, está claro que a direcção do commercio não será para Portugal.

Mas diz se «lucrará a colonia.» A colonia lucrará alguma cousa pelo menos por algum tempo. Mas aqui a questão está mal posta; não se deve encarar a questão simplesmente pelo lado da utilidade da colonia; mas pelo lado da utilidade da colonia combinada essa utilidade com a nossa, e não sacrificando a uma utilidade momentanea, pouco solida, outra mais duradoura, mais real

Se queremos simplesmente a utilidade da colonia, então entreguemol-a a qualquer nação mais poderosa do que nós que a colonia lucrará com isso; mas eu penso que não se trata da colonia simplesmente considerada como uma região, mas da prosperidade d'essa região combinada com a prosperidade portugueza.

Mas diz-se «lucrará o mundo». Lucrará o mundo sim, mas a questão não é esta, a questão está mal posta, e ainda mais mal posta agora do que pela primeira vez.

O mundo ganhará com a massa de novas riquezas que entram em circulação; mas Portugal perderá ou não? E é isto o que se deve investigar.

O que diria a camara do um individuo, que tratando dos negocios da sua casa, para saber se devia fazer ou não qualquer contrato, perguntasse a si mesmo: lucra o meu vizinho, os meus vizinhos todos, a humanidade, e nunca estabelecesse a questão por esta fórma — lucro eu sem offender os outros?

Não seria insensato esse homem?

A Inglaterra, essa não faz nunca senão politica ingleza; a França tem feito politica ingleza, politica italiana, politica prussiana, mas d'essas politicas generosas tirou Sédan. Não façamos nós politica que não seja portugueza para não encontrarmos o Sédan das nossas colonias; investiguemos se lucra o mundo; mas investiguemos antes se lucra Portugal; e Portugal perdiria. Tinhamos um grande valor na colonia; lançavamol-o do graça na circulação; sentíamos os effeitos na proporção da nossa grandeza com a grandeza do resto do orbe, davamos milhões, recebiamos um maravedi; fizeramos politica humanitária, mas não politica portugueza; fizeramos politica do eremitas, politica de ascetas, politica tambem de prodigos, mas não politica de nação sensata, não politica de governos reflectidos.

Dir-se-ha, nós ganhámos pelo menos 6 1/2 por cento; mas eu confesso que não me pareço que seis e meio a troco de cem seja um grande contrato. Parece-me um contrato do estroinas que vendem a herança futura e opulenta dos seus ascendentes por uma bagatella; um processo de selvagens, que corta uma arvoro para colher um fructo.

Consideremos agora a concessão de terrenos. As grandes concessões de terrenos estão reprovadas pela sciencia, não pela sciencia á priori, mas pela sciencia do factos, por experiencias tristes e por experiencias felizes.

Se olharmos para o Brazil o para os Estados Unidos, vemos que a emigração agricola para o Brazil é infelicíssima; consultando-se escriptores brazileiros e não brazilei-