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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

que applicâmos o principio com que s. ex.ª argumentava outr'ora. (Apoiados.)

Introduzia companhias inglezas em Moçambique? Será Moçambique dos inglezes; dar-lh'o-ha um plebiscito.

E não se julgue que eu estou fazendo poesia, dizendo que havia do ser um plebiscito. Como é que a Inglaterra annexou o Transvaal?

Os boers predominavam no Transvaal; mudaram as cousas, diz um escriptor, desde que as minas de oiro attrahiram uma população heterogenea, em que predominava o elemento inglez. O presidente da republica do Transvaal vem á Europa; o Transvaal trava guerra com os bassoutos.

Armaram-se mercenários inglezes o allemães, e desde esse momento começou a haver viva agitação em favor da annexação á Inglaterra. Fizeram-se muitas petições para essa annexação, e por fim, o governador da colonia do Cabo, a 12 do abril de 1877, decretou a annexação do Transvaal á Inglaterra. E sabem como entrou no Transvaal?!

Não foi com um grande exercito; entrou com vinte e cinco soldados e uma philarmonica. (Riso.). Uma voz: — Já houve um ministerio que subiu assim ao poder.

Outra voz: —J á se saíu tambem com musica.

O Orador: — E como ha de saír este governo, mas a musica ha de ser maior. (Riso.)

Mas, continuando, porque rasão não houve necessidade de lucta para a annexação do Transvaal? Porque as condições da população se tinham modificado.

Aprenda Portugal n'este facto como se perdem colonias o como é verdadeira a maxima assignada do sr. presidente do conselho «quem dá o dinheiro, dá o governo», maxima que me parece a primeira do programma de s. ex.ª, a lei e os prophetas da sua politica.

Alem d'isto, supponha o governo que ámanhã se levanta um conflicto entro a empreza e os indigenas ou com qualquer povo selvagem; ha de o governo, portuguez mandar lá um exercito para defender essas emprezas, esses mineiros ou ha de consentir que lá vá um exercito inglez, arriscando-se assim á perda da colonia?

Não vê tambem a camara que, se todas as colonias quando chegam a um certo grau de prosperidade, ainda que a população seja originaria da metropole, se tornam independentes, com maior rasão isso acontece quando essa população originaria seja diminuta e haja uma invasão do trabalhadores estrangeiros?

Eu repito outra vez: «quem dá o dinheiro, dá o governo». E a maxima do sr. presidente do conselho.

Diz-se em defeza das concessões do decreto mas as outras nações icem feito concessões identicas. E admiravel. O governo tão escrupuloso em investigar differenças, quando se lho objectavam as idéas do sr. ministro da marinha, com relação a grandes companhias, as da junta consultiva do ultramar; agora para a defeza basta-lho uma analogia fictícia.

Em que nação é que encontram concessões analogas? Procurem e vejam se acham.

Ha alguma nação, que não tendo nas colonias população nacional, fizesse grandes concessões a estrangeiros, compromettendo assim a posso do colonia?

Citam muitíssimas companhias na Austrália; mas inglezas ou estrangeiras? muitíssimas ou uma só?

Quem inventou já um monstro como este do decreto?

Na Califórnia havia em 1867, 3:000 companhias, e isto só para a mineração do oiro, e concedendo-se a todos a pesquiza de minas não descobertas, e na Zambezia concede-se a um homem a exploração de todos os metaes que lá houver, e mais do todo o carvão de pedra, e, porque isto não basta, dão-lho ainda terrenos, dão-lhe ainda florestas!

Permittam-me que eu diga, isto é insensato.

E queriam que uma companhia que podesse explorar

tudo isto, fosse submissa como um amanuense de secretaria, e conservasse a colonia para Portugal!

Repito a maxima do sr. presidente do conselho: «Quem dá o dinheiro, dá o governo».

Mas o governo pergunta-nos: «O que quer a opposição que nós façamos? querem-nos dar os centenares, os milhares de contos que a Hollanda gasta com as suas colonias?»

O nobre ministro, apontando-nos as despezas da Hollanda com as colonias, esqueceu-se de nos indicar a receita que a Hollanda tira dellas; esqueceu-se do nos dizer que annos tem havido, em que a receita das colonias salvou a Hollanda da bancarota, e que todos os annos lho vem das colonias um dos seus principaes rendimentos; esqueceu-se tambem que ha Colónias militares, colonias commerciaes, colonias do plantações e colonias agricolas, o que se as colonias de plantações exigem vastos capitães, as colonias agricolas os não exigem tão grandes; e que renovando a pena de degredo, mal abolida pelo partido regenerador; organisando este; não fazendo penitenciarias na metropole, onde só são machinas do fazer loucos; mas fazendo-as nas colonias, para combinar a prisão com o trabalho; estabelecendo ali collegios de missões; fazendo que os da metropole sejam o que devem ser; delimitando pequenos lotes de terrenos, como nos Estados Unidos; dando-os ou vendendo-os a portuguezes e a indigenas, é mesmo a estrangeiros, comtanto que esses se não podessem tornar predominantes, se póde colonisar pouco a pouco, sem se despenderem capitães que excedam as forças da nação.

Quanto gastastes vós na penitenciaria de Campolide? dizei-me se um edificio d'essa ordem construido nas colonias, se esse dinheiro gasto nas colonias não seria mais proveitoso? (Apoiados.)

Mas se nem para isso temos dinheiro. Eu não acredito.

Eu julgava que o estado da fazenda publica ora necessidade absoluta de dar dinheiro, mesmo a quem o não podia, por falta do cofres em que elle se arrecadasse, o que assim como as arvores attrahindo as aguas espalhadas e em suspensão na atmosphera, a distribuiam em regatos e fontes, evitando as grandes inundações, assim o governo vendo as arcas publicas a rebentar de repletas, e receiando-algum diluvio do oiro que subvertesse cidade e homens, construiu canaes de irrigação, grandes e pequenos, para por meio d'elles distribuir os dinheiros publicos. (Riso.)

Todos os symptomas são do estado plethorico da riqueza publica.

Com effeito, dinheiro ao conselho do districto que o não pedia; á commissão da junta geral; um bibliothecario e um official de bibliotheca em lyceus cujos livros são: um La Place, um diccionario latino o pouco mais; professores das escolas superiores do paiz passeando e recebendo os ordenados; outros jubilados, depois desjubilados para se tornarem a jubilar com mais um terço do seu vencimento, e passeando sempre, como acontece com um cunhado do sr. ministro da fazenda; reformas continuas de empregados; augmento continuo de empregados, (Apoiados.) e a boa theoria que são 50:000$000 ou l00:000$000 réis; pois isto destroe o systema? (Apoiados.) Descansem a. ex.ª não destroe o systema, porque é n'isso exactamente que consiste o systema. (Apoiados.)

Este governo não tem dinheiro para aquillo que é util e necessario, tem-no para o que é inutil e superfluo. Acontece a esse governo nefasto, como aos chefes de familia pouco honestos, que têem dinheiro para todas as aventuras, e não o encontram nunca para sustentar e educar a familia. (Apoiados.)

Diz-se que é necessario colonisar a Africa e civilisal-a,

Sessão de 11 de março de 1879