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DIARI0 DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

á commissão do instrucção publica a fim de dar o seu parecer com a maior brevidade, visto que o negocio do que se trata é instante.

A engenheria portugueza sempre se honrou de contar no seu seio o nome de Mousinho de Albuquerque. Póde dizer-se que o primeiro fundador d'ella foi o fallecido general Mousinho de Albuquerque, que caía no campo da honra defendendo a liberdade em Torres Vedras, deixando um nome honradissimo e illustrado por trabalhos da mais alta monta. (Apoiados.)

O pae do requerente chamava-se Mousinho de Albuquerque, e foram taes o tão relevantes os serviços que prestou como engenheiro, que julgo desnecessario encarecel-os, recommendam-se bastante por si.

Por todos estes motivos entendo e espero que não só a commissão de instrucção publica não deve ter duvida alguma em dar um parecer favoravel sobre este projecto de lei, mas tambem que a camara se associará em praticar este acto de grandissima justiça. (Apoiados.)

Mando para a mesa o projecto de lei e peco a urgencia delle.

Já que estou com a palavra, aproveito a presença do nobre ministro do reino para lhe fazer uma singela pergunta á qual espere que s. ex.ª me responderá.

Não ignora v. ex.ª de certo, nem ignora a camara, que n'estes ultimos tempos um dos nomes mais sympathicos, um dos homens de talento mais esclarecido em Portugal, um homem que é conhecido não só pelas suas admiraveis producções poeticas, mas pelo amor entranhado que sempre tem mostrado a todas as grandes manifestações de progresso, a todas as generosas e humanitarias aspirações da democracia, João de Deus, inventou um methodo de leitura que e já hoje a admiração não só dos nacionaes mas dos estrangeiros, (Apoiados.) que ha de ser, creio, um dos mais fecundos e maravilhosos transformadores das sociedades pela universal communhão n'essa grande mesa eucharistica, que se denomina a instrucção popular. (Apoiados.)

Esse methodo de leitura, que e talvez um melhoramento mais espantoso que podia honrar o nosso paiz, está já hoje desentranhando-se em fructos opimos e saborosissimos, e vem a ponto para dissipar a treva da ignorancia, que envolvo o povo e colloca o nosso paiz tão longe de uma simples mediania.

O estado de atrazamonto em que infelizmente se encontra a instrucção primaria em Portugal vem não só da falta de professores habilitados, em numero e qualidade, mas tambem e principalmente da falta de methodos racionaveis legaes e deductivos, que appellem para a intelligencia das creanças e não n'a atrophiem. E a falta de methodo é talvez a maior difficuldade com que sempre se ha de lutar, ainda quando a energia do governo e a iniciativa particular, irmanadas n´este santo proposito, pretendam derramar a luz e a instrucção por todo o paiz. (Apoiados.)

Sr. presidente, creio que não só este governo, mas todos aquelles que têem existido em Portugal, assim como aquelles que hão de existir, têem o maximo empenho em derramar a instrucção publica.

A todos faço justiça. Mas este desejo é mais theorico do que pratico. Não sei de quem é a culpa. Não sei, nem quero investigal-o agora.

Ha boa vontade; muito se ha feito, mas falta muitissimo. São grandes as difficuldades, mas, como disse, uma das principaes e a ausencia do um methodo racional, de um methodo verdadeiramente scientifico e deductivo. Bons professores bem remunerados e methodo optimo, tal é o ideal.

Esse methodo existe, este methodo, por honra e gloria de Portugal, nasceu aqui, n´este torrão. (Apoiados.)

Esse methodo, sr. presidente, já hoje vae sendo adoptado na propria Allemanha, n'aquella Allemanha tão douta e tão louvada e encarecida pelo proposito firme que sempre ha mostrado em derramar a instrucção publica nas classes populares e desfavorecidas da fortuna; n'essa Allemanha, em que após Sadowa um grande pensador exclamou, que quem vencêra fóra o professor primario. (Apoiados.)

Sr. presidente, não cito factos, não cito exemplos, que são bastante frisantes. Creio que não ha ninguem n'esta camara que não saiba quaes os maravilhosos resultados que já se têem auferido do methodo de João de Deus. (Apoiados.)

(Sussurro.)

Sr. presidente, não me espanto que a camara mostre não prestar grande attenção ás palavras que vou proferindo. E não me admiro, porquanto, infelizmente, todos nós andamos alheados d'este alto problema da instrucção primaria!

Vozes: — Não é verdade.

O Orador: — Assim seja, e espero que assim será para o futuro.

Sr. presidente, se para muitos as concepções theoricas, que pairam ainda nas regiões serenas da investigação, nada significam, eu digo a esses espiritos indifferentes que esta nova invenção já passou para o dominio da pratica. Não é uma conjectura, é um facto; não é uma flor, é um fructo. (Vozes: — Muito bem.)

Ora, sr. presidente, se o methodo de João de Deus, como disse a v. ex.ª, é um dos maiores melhoramentos que eu conheço, o methodo de João de Deus, na minha opinião, póde e deve, quando devidamente patrocinado pelos poderes publicos e pela iniciativa particular, produzir uma verdadeira revolução em Portugal, revolução abençoada pelos seus fructos, revolução pacifica nos meios, mas com grandissimos resultados perante a evolução.

Os exemplos estão patentes. Creio que não ha ninguem n'esta camara que não tenha lido nos jornaes descripções verdadeiramente maravilhosas dos effeitos que já se têem alcançado.

Sinto não ver presente o meu illustre amigo e collega, o sr. visconde de Guedes Teixeira, comquanto por outro lado a sua ausencia mais me desafogue para lhe tecer os encomios o elogios que merece.

O sr. visconde de Guedes Teixeira, cheio de verdadeiro e patriotico enthusiasmo ao saber das maravilhas alcançadas pelo methodo de João de Deus, estudou-o em todas as suas partes, e em Lamego, que representa n'esta casa, e de cuja camara municipal creio que é presidente, creou duas escolas, uma para o sexo feminino, outra para o sexo masculino.

Essas escolas são regidas pelo methodo de João de Deus, e tão proficuos foram os resultados, que s. ex.ª desde logo tirou da creação d'ellas, que é o maior e o mais convicto propagandista das excellencias do methodo.

Existe no Porto uma senhora muito illustrada, uma senhora allemã casada com um cavalheiro portuguez muito erudito, o sr. Joaquim de Vasconcellos; essa senhora, chamada D. Michaellis de Vasconcellos, e perante cujo nome me curvo respeitoso, escreveu, não ha muito tempo, alguns periodos eloquentissimos, cheios de verdadeira uncção philantropica, nos quaes demonstrou á evidencia, que este methodo de João de Deus constituia, de per si, um progresso immenso; que na Allemanha já tinha sido experimentado, o que alguns pedagogos allemães o vão apregoando e preconisando.

E ainda mais. Disse se na Allemanha que havia ali uma invenção tão original, e ao mesmo tempo de tão facil percepção, que parecia de maravilha que nunca ninguem tivesse chegado a ella. (Apoiados.)

Já disso a v. ex.ª que não accumularei exemplos, cousa que me seria muito facil, direi porém ainda, que na cadeia civil de Lisboa um preso aprendeu o methodo de João de Deus, e tem-no lá ensinado de maneira que grande numero de reclusos vão sabendo ler e escrever.

Podia fazer muito mais revelações, podia dizer que ainda não ha muitos dias, em Aveiro, se reuniu um congresso