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DÍARÍO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

com a Inglaterra, o que na imprensa com toda a coragem combateu asperamente esta alliança? (Apoiados.)

Se o sr. Julio de Vilhena quer que continuemos com este systema das leituras, nós teriamos de ler não só o livro do sr. Laranjo, mas. tambem a prosa brilhante do Thomé do Diu. (Apoiados.) E bom foi que o sr. Thomás Ribeiro não estivesse presente quando o sr. Julio de Vilhena fallou, porque me parece que s. ex.ª teria de pedir a palavra para responder á accusação do illustre deputado.

O sr. Julio de Vilhena disse aqui duas palavras que são a condemnação mais completa e absoluta da concessão, são as seguintes: «eu não pertencia ainda á procuradoria geral da corôa quando o sr. Mártens Ferrão publicou uma consulta a respeito de um podido de uma concessão feita em tempo por dois cavalheiros, mas acceito e perfilho completamente as suas idéas». A consulta diz.

(Leu o trecho em que o sr. Mártens Ferrão se pronuncia contra as concessões feitas a individuos que depois as vão vender, e em que declara que é necessario que os concessionarios dêem garantias serias, por meio de um forte deposito de dinheiro, de que farão a exploração da concessão que requerem.)

Pergunto ao governo, ao sr. Julio de Vilhena e á maioria quaes são as garantias que têem de que esta concessão seja devidamente aproveitada? (Apoiados.)

Qual é a garantia que têem de que existe a companhia de que se falla e a quem é feita a concessão? Falla-se em companhias serias! Onde estão essas companhias com capitães sufficientes para poderem aproveitar-se da concessão? (Apoiados.)

i Essas companhias hão de ser portuguezas, e hão de ter a sede em Lisboa? Que garantias dá essa condição? A crise de 1876 provou perfeitamente que ha muitas companhias anonymas, instituidas com todas as condições de legalidade, e que estão muito longe de ser serias, debaixo do ponto de vista dos capitães, é claro.

O que tudo isto prova evidentemente é que o governo principia pôr não saber o que concede; e tambem é verdade que não sabe a quem concede. (Apoiados.) A formula algébrica d'esta concessão parece-me que podia ser a seguinte. O governo concede o terreno x á companhia y. (Riso.).

Eu acceito perfeitamente, como o sr. Julio de Vilhena, esta doutrina apresentada pelo sr. Mártens Ferrão, porque tive sempre a mais profunda repugnancia por este facto de poder entrar um homem n'uma sociedade industrial ou commercial levando apenas como capital sou a influencia que possa ter com o governo do seu paiz. (Apoiados.)

Repugna-me profundamente pensar, que se o sr. Walker, cujo nome foi citado aqui pelo sr. Saraiva de Carvalho, em vez do ter escolhido para seu. representante em Lisboa, o sr. Alcobia, ou outro qualquer individuo, tivesse escolhido o sr. Paiva de Andrada ser-lhe-ía com certeza feita a concessão que..pediu. (Apoiados.)

Repugna-me profundamente isto, porque entendo que este modo de fazer concessões pela amisade que possa ligar um dos membros do governo a um certo e determinado individuo, constituo falta de moralidade politica o um favoritismo; que é a gangrena mais profunda que póde affectar uma sociedade; (Apoiados.) E se não foi o favoritismo que presidiu a esta concessão, digam-nos qual foi o motivo que a dictou.

Percorrendo a biographia, aliás honrosissima, do sr. Paiva de Andrada, nós vemos que elle não tem capitães seus proprios, nem companhia para a empreza que tenta realisar, que elle nunca voltou a sua attenção para os estudos africanos, que applicou exclusivamente a sua alta capacidade á sciencia militar, a que se tem dedicado toda a sua vida, e principalmente n'um dos seus ramos mais importantes e da balistica, tem-se concentrado todo n'esses assumptos sem nunca pensar nos assumptos coloniaes; portanto mesmo n'esta parte não póde dar a garantia moral do ser um homem que entenda e conheça profundamente a especialidade do que vae occupar-se, e de que possa inspirar confiança aos capitalistas do se lhe poderem associar para tirar proveito da concessão feita e das explorações a que ficam auctorisados a proceder nos terrenos concedidos. Nem 'mesmo essa condição ou garantia existe. Não existe nada, absolutamente nada. Não existe senão o facto que o sr. Saraiva de Carvalho citou, que poderá não ter influido n'esta concessão, mas que é o unico que se póde citar, o de ter sido o sr. Paiva de Andrada companheiro de viagem do sr. Fontes Pereira de Mello na sua peregrinação ao estrangeiro. (Apoiados.) Não digo que fosse essa a causa. Mas se não foi essa a causa, então digam-nos qual foi. (Apoiados.)

Como é que o sr. Paiva de Andrada ha de ser, como se diz, o redemptor das nossas colonias? Porque? Tem' dinheiro para isso? Não. Tem companhia? Não. Tem estudos especiaes? Não. Não tom nada, absolutamente da que possa concorrer para tornar effectiva esta concessão. (Apoiados JE como não tem nada d'isso concede-se-lhe immediatamente tudo o que elle pede, mais do que elle pede (Apoiados.), sem a mais leve hesitação, porque toda a hesitação seria anti-patriotica.

Como é absurdo, faça-se já. (Apoiados.) Como não tem seriedade alguma, não ousem contestal-a.

Eu lamento profundamente que se trate assim esta questão gravissima, porque entendo realmente que o futuro das nossas colonias e o desenvolvimento da sua prosperidade será o maior elemento da nossa prosperidade futura. E n'este ponto estou de accordo com o sr. Thomás Ribeiro. Tambem entendo que devemos manter a nossa integridade colonial; e entendo isto, não por velhas rasões rhetoricas, não por serem as colonias um padrão das nossas glorias, não por serem uma relíquia da nossa grandeza, mas porque áquelles territorios não são terrenos que nós possamos explorar ou vender, mas constituem o prolongamento asiatico ou africano do nosso territorio nacional, porque os povos d'ali lêem sido educados sob o regimen portuguez; que pela mãe patria têem sido considerados cidadãos portuguezes, dando-lhes iguaes direitos civis o politicos. Podem ser-nos arrancados como foram arrancados á França os povos da Alsacia e Lorena, mas não podemos fazer d'elles objecto de um trafico mercantil. (Apoiados.)

E não se diga que eu fujo da declamação por um lado para entrar na declamação por outro lado.

Mas eu entendo que a mais alta missão historica que póde incumbir a um povo, é ir até aos confins mais remotos do globo plantar vergonteas do seu tronco primitivo, fundar estados filiais da mão patria, ser emfim uma dessas raças mãos, que, propagando-se e multiplicando-se, hão de conquistar um dia a hegemonia do planeta. (Vozes: — Muito bem.)

E esses estados, que ainda depois de separados dá mãe patria conservam com ella a communidade dos interesses economicos, contribuem poderosamente para o desenvolvimento e prosperidade da metropole. (Apoiados.)

Não sabemos nós perfeitamente que o Brazil hoje é talvez de mais recurso para nós do que no tempo em que o dominávamos, do que no tempo em que era nossa colonia?

Acontece o mesmo com os Estados Unidos e a Inglaterra.

Conta o sr. Leroy Beaulieu, quando se refere á separação dos Estados Unidos da nação ingleza, que os negociantes inglezes estavam assustadíssimos, porque imaginavam, que tinha cessado o seu commercio com aquelle paiz, mas que, pelo contrario, esse commercio tinha augmentado, tinha duplicado ou triplicado, e que fóra emfim uma nova fonte de rendimentos e de prosperidades para a Gran-Bretanha.

Portanto, longe de me fazer horror a idéa de que Angola e Moçambique hão de vir a ser independentes, anceio pelo momento em que essas colonias possam dar mais esse teste