820 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
sito de fcada um d'esses objectos recordam a historia que com elle está ligada.
Supprimida a collegiada, perderá Guimarães o seu thesouro, e portanto os objectos que a todos os momentos lhe fazem recordar as suas glorias passadas.
Póde v. exa. e a camara calcular o desgosto profundo que este facto produz n'aquelle heroico povo.
Ha um livro admiravelmente bem escripto pelo padre Ferreira Caldas, já fallecido, onde se acham descriptos todos os objectos do thesouro. Este infeliz rapaz era filho de um dos mais distinctos vimaranenses, a quem eu tenho a honra de chamar amigo, porque a sua probidade, honradez e excellentes qualidades são inexcediveis; refiro-me ao sr. Antonio José Ferreira Caldas, que é o prototypo dos homens de bem, e a quem folgo de poder dar n'este logar testemunho de amisade que lhe dedico; e tanto mais que s. exa. não é meu amigo politico, porque é incapaz de trahir o seu partido, por maior que seja a sua dedicação pessoal. Caracteres d´esta tempera devem ser respeitados.
Póde tambem crear-se em Guimarães um petit seminaire com o curso das aulas preparatorias para o estudo ecclesiastico, á similhança do que se fez em Leiria depois da euppressão do bispado, em que o seminario ficou sendo um estabelecimento de estudos preparatorios e de educação para a vida ecclesiastica.
Em França é isto muito vulgar, porque ha dioceses em que existe mais de um petit seminaire; e em Braga seria isto mais que justificado, attendendo á vasta area do arcebispado e á grande affluencia dos alumnos que se dedicam á vida ecelesiastica.
Não sei se esta idéa poderá ser realisada e se satisfará as aspirações dos vimaranenses.
Apresentei a apenas como um alvitre que póde ou não ser adoptado.
Sr. presidente, eu tenho toda a confiança no governo, sei que elle deseja governar com a vontade dos povos, e portanto espero que mais uma vez não desmentirá as suas tradições, e que acccderá ao justo pedido que tão ardentemente lhe façem os peticionarios da representação que vou mandar para a mesa.
Peço a v. exa. se digne consultar a camara se permitte que esta representação seja publicada no Diario do governo.
Tenho dito.
O sr. Franco CastellO Branco: - Sr. presidente, como representante n'esta assemblea do circulo de Guimarães, eu agradeço ao meu illustre amigo o sr. Francisco José Machado, as palavras de caloroso elogio e merecida sympathia para os habitantes d'aquelle concelho, que a camara acaba de lhe ouvir, juntando ao mesmo tempo a minha voz ás conceituadas ponderações com que o illustre deputado defendeu a existencia da collegiada de Guimarães.
Se o sr. Machado tem motivos fundados para conservar dos vimaranenses uma recordação de affectuosa saudada, o que não direi eu, que devo áquelle circulo o meu logar n'esta camara, e uma eleição como candidato opposicionista, eleição, digo-o com desvanecido orgulho para mim e para aquelles que me elegeram, devida muito menos a ligações partidarias, do que a affeições pessoaes, e a uma inteira conformidade de pensar e sentir!
Mas, sr. presidente, não pude deixar de ver com estranheza, que o sr. ministro da justiça não tivesse uma palavra para dizer em resposta ás considerações apresentadas pelo sr. Machado, que é, não só um homem muito esclarecido e respeitavel, mas tambem um dos membros mais valiosos e dedicados da maioria, merecedor, pois, por tantos titulos de uma especial consideração por parte do
governo; estranheza ainda mais justificada por se tratar e um ponto de administração attinente á pasta a cargo do sr. Francisco Beirão.
Isto parece mostrar que n'este ponto, como em tantos outros, o governo pensa por sua fórma, e os seus amigos da maioria por fórma diversa, presenceando a camara e o paiz, mais uma vez, o divertido espectaculo do santo accordo entre os srs. ministros e o partido que representam no poder. (Apoiados)
O meu illustre amigo, o sr. Machado, deseja e propugna pela conservação da collegiada de Guimarães, e no entanto, é certo que se a existencia da collegiada hoje periga, é unica e simplesmente por culpa do partido a que s. exa. pertence.
Foi um ministro progressista quem publicou e referendou a medida, por virtude da qual as collegiadas estão condemnadas.
E sabe v. exa como se chamava esse ministro? José Luciano de Castro, o actual presidente do conselho. (Apoiados.}
É o ministro de 1869 quem o sr. Machado, e eu, precisâmos primeiro que tudo convencer, levando-o depois a elle, que fez o mal, a dar-lhe agora o indispensavel remedio.
No entanto o voto do sr. ministro da justiça é tambem para nós da maior ponderação, pelo motivo já dito d´este negocio correr pela sua pasta, e d'ahi o motivo por que eu peço a s. exa. que se manifeste aberta e francamente.
Em negocios d´esta ordem, sem caracter de politica partidaria, não basta que dois deputados levantem a sua voz, por mais eloquentes que ellas sejam, e a do sr. Machado é com certeza auctorisadissima.
Com a indole do nosso parlamento importa antes de tudo conhecer a opinião do governo, infelizmente, e por isso eu insto com o sr. Beirão para que falle.
Não lhe pergunto qual é o melhor processo para, conservando a collegiada, a tornar ao mesmo tempo uma instituição mais praticamente util para Guimarães e para o paiz; é esse um ponto a discutir.
O meu amigo, o sr. Machado, lembrou já um alvitre, que eu sei merecer sympathias a muita gente em Guimarães, e fóra d'ali. Porque é necessario tornar este ponto bem claro.
Não se deseja a conservação da collegiada, de tradições gloriosas e respeitabilissimas, como uma cousa inutil, e simplesmente proveitosa para alguns individuos. Bem pelo contrario aspira-se a transformai a n'uma instituição de verdadeira utilidade publica, n'um estabelecimento de ensino, sempre indiscutivelmente proveitoso, ou com o caracter ecclesiastico, como pareceu indicar o sr. Machado, ou com o caracter leigo, preparando ou completando o ensino da escola industrial.
Mas não é sobre esta parte concreta e especial, ainda a estudar, que eu peço ao illustre ministro para se pronunciar.
Simplesmente, e pela rasão já dita do decreto de 1869 ser da responsabilidade do actual sr. presidente do conselho, eu preciso saber se o governo admittirá qualquer alteração ás doutrinas consignadas em similhante diploma legislativo. (Apoiados.)
Não me basta que em Guimarães se fique sabendo, que o sr. Machado o eu propugnâmos aqui pela conservação da collegiada, o que poderá ser muito agradavel para nós, mas é inefficaz pava a questão em si.
Importa mais que tudo saber-se, se os nossos esforços poderão ter algum successo, um successo tão bom, pelo menos, como o que teve o sr. Carlos Lobo d'Avila no Porto. (Riso.)
O sr. Francisco Beirão communga nas idéas do sr. Luciano de Castro com respeito á extincção das collegiadas? E necessario que se saiba isto.
Se o sr. Luciano de Castro estivesse presente, seria a elle que me dirigiria. Mas s. exa. não está, apesar de hontem se haver compromettido a fazel-o, e não o censuro por isso, visto ter-me prevenido, por intermedio de um nosso collega, que é tambem secretario de s. exa., de que por