O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

726 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Assim como não se cerceou a matricula aos aluamos que queiram seguir o curso de medicina, que constituo, porque os medicos, com excepção de um meu illustre collega e amigo que está ao meu lado (o sr. dr. Agostinho Lucio) e muitos outros, constituo um verdadeiro flagello da humanidade; (Riso.) assim como tambem se não restringiu a matricula aos alumnos que queiram seguir o curso de bachareis em direito, o que me parece outro flagello ainda prior; (Riso.) assim tambem não acho natural restringir o numero de matriculas para o curso de engenheria civil, impedindo-se por esta fórma os individuos, não se julguem com aptidão para o frequentarem, de poder seguil-o. Talvez que quando as nossas cousas africanas entrarem n'um caminho de desenvolvimento, como devera ser e podo ser, dentro do alguns anuos, em logar de haver excesso de engenheiros, haja pedido d'elles para o emprego nas nossas colonias das variadissimas emprezas de obras publicas, mineiras, industriaes e agricolas, que ali se podem estabelecer.

Emfim, ponho do parte todas estas considerações, porque perdoria o meu tempo em querer demonstrar que esta disposição não deverá ser justificada com os motivos allegados no relatorio, sendo, a meu ver, o unico que se podo ai legar com fundamento a falta de edificio com capacidade sufficiente para accommodar todos os alumnos que quizerem seguir o curso de engenheria civil.

O que eu quero demonstrar ao sr. ministro da guerra, mais em geral ao governo, e sobretudo á camara, é que é vã a sua tentativa de restringir o numero de engenheiros civis, restringindo as matriculas na escola do exercito; e é vã essa tentativa pela simples, singela e comesinha rasão de que emquanto grande numero de engenheiros com habilitações pela universidade de Coimbra e pela escola polytechnica de Lisboa se vão matricular na escola do exercito, na academia, polytechnica do Porto continua todos os annos, e, continua muito bem, estou longe de censurar o facto, a haver a matricula de quantos alumnos quizerem soffrer o curso de engenheria, e a sairem de lá engenheiros e engenheiros distinctos, isto é, saindo de lá engenheiros com o curso completo, emquanto que seguindo o curso da universidade do Coimbra ou na escola polytechnica precisam completar a sua habilitação scientifica na escola do exercito.

D'este facto esta já resultando que aluumos que frequentaram a escola polytechnica de Lisboa e depois a do exercito, com grande sacrificio das suas familias, e por conseguinte com prejuizo d'elles, se vêem obrigados a emigrar para o Porto e a estudar ali o curso de engenheria civil.

Ficâmos, portanto, com dois regimens de engenheiros civis, separados entre si pelo curso do Mondego. Para o norte e engenheiro quem quizer, tendo as habilitações necessarias para frequentar a academia polytechnica (o curso do lyceu). Para o sul, só é engenheiro quem o ministerio da guerra, entender. Não me parece conforme com a carta constitucional nem com o bom senso esta divisão do paiz em regiões differentes, com direitos e obrigações diversas.

A primeira cousa, portanto, que seria necessario fazer, em lugar da providencia contida no projecto em discussão e que eu reputo violenta, seria reorganisar o serviço superior que está tão carecido de uma reverendissima reorganisação, como carecido estava o ensino secundario; o som querer cansar a camara notarei a v. exa. duas cousas extravagantes, que se estão dando hoje. Por exemplo, na escola naval póde ainda matricular-se o alumno ou com o curso de physica da escola polytechnica ou com o da universidade de Coimbra. Resulta d'aqui que temos officiaes de marinha que estudaram optica e nunca estudaram magnetismo, o outros que, tendo estudado magnetismo, nunca estudaram optica!

Com esta anarchia, que não podemos evitar que continuo, o continua desde muitos annos, aqui dentro da cidade, soffre o thesouro grave prejuizo, porque bem se comprehende que se esses estudos superiores fossem harmonicamente organisados, escusadas eram as repetições de cadeiras que se dão de escola para escola, dentro da mesma cidade.

Este facto não se dá só com relação a escola naval; assim, temos a mechanica da escola polytechnica, que não é só ali ensinada, havendo quatro cadeiras, quando bem poderia haver duas.

Tudo isto carece de uma reverendissima reforma, e tristissimo é que se adie por mais tempo.

Eu sei que o sr. ministro do reino disse com uma louvavel modestia que não sentia em si a força precisa para reformar a instrucção superior; s. exa. é bacharel em direito, e faço-lhe a justiça de não o considerar como flagello, ainda que eu não disse uma alcunha que s. exa. tinha, e não a digo, porque o sr. ministro do reino não esta presente. (Riso.) Entretanto como vejo rir, sempre digo: chamavam-lhe o Napoleão dos delegados.

O illustre ministro do reino, que tambem é bacharel em direito, modestamente confessou que não tem conhecimentos de sciencias naturaes, das relações d'essas sciencias com quaesquer outras, e portanto, se não julgou competente para fazer por si só aquella reforma, que teria feito se tivesse encontrado um auxiliar tão importante como encontrou o sr. Jayme Moniz para a instrucção secundaria. N'este caso certamente teria mettido hombros a essa empreza.

Eu sou professor do instrucção superior, não tenho nenhumas pretensões de ser encarregado de tal missão por s. exa; e se o fosse, declinal-a-ia logo; mas, rodeie-se s. exa. de tres ou quatro homens das diversas faculdades da universidade, de professores da academia polytechnica do Porto e da escola polytechnica de Lisboa, coadjuvados pelos membros da commissão de instrucção superior, e com estes elementos póde s. exa. fazer uma reforma importantissima da instrucção superior. Então facil será harmonisar os cursos da escola do exercito, sem que lá haja repetições de matérias, que bem ficariam nas escolas polytechnicas.

Ao passo que a escola polytechnica de Lisboa tem querido tornar-se universidade, - e assim se tem afastado da sua primitiva e utilissima indole, pelo seu lado a universidade tambem tem querido converter-se em escola polytechnica, afastando-se assim da sua alta missão scientifica, o que tambem lhe é desfavoravel.

Postas as cousas nos seus devidos termos, podia haver uma boa universidade em Portugal, segundo as idéas que teve o bispo de Vizeu, a quem tantos attribuiram pouco valor intellectual, quando elle era muito intelligente, embora sob uma fórma rude! Mas sejam essas ou outras as idéas postas em pratica, é urgente fazer uma reforma do ensino superior. E se não se fizer essa reforma, seguindo sempre o systema de escola pratica para que o ensino superior deve ser preparatorio, qualquer que seja a vontade e a intelligencia do sr. ministro, esse ensino ha de ser excessivo ou incompleto, mas em todo o caso defeituoso! (Apoiados.)

Mas por eu saber que muitos dos pontos, que julgo defeituosos na reforma da escola do exercito, estão subordinados a esta necessidade superior, a que o sr. ministro da guerra quer dar remédio, é que eu entendi que podia analysar e criticar alguns dos pontos do projecto.

Seria conveniente que o sr. ministro da guerra, de accordo com o seu collega, e ainda n'esta sessão legislativa, sendo possivel, harmonisasse o que se determina em relação a Lisboa; e em relação aos alumnos de engenheria civil, que têem de frequentar a escola polytechnica, seria tambem conveniente que o ensino se harmonisasse.

Sejâmos logicos: ou se quer estabelecer a restricção para as escolas de Lisboa e Porto, e para todas as escolas o reino, ou se quer estabelecer a liberdade; e então