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4 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

lector geral, que a seu turno só dirige ao rio, a jusante, proximo da confluencia com o Lena, a menos de 2 kilometros.

Esta valia ou este collector imperfeito, correndo a descoberto, com simples muros de alvenaria nos lados e sem coleira impermeavel, funccionava todavia muito bem, merco do declive que tinha. Occupando a linha de thalweg do valle e seguindo, em parte, pelo antigo leito do Liz, levava rapida e seguramente para fora da cidade as fezes e as aguas pluviaes em quanto encontrou o rio num nivel mais baixo, ou á altura do seu fundo. Mas subiu o alveo do Liz; o seu leito começou a funccionar de barragem á valla ou collector, que ficou sem o declivo necessario, sem o esgoto que lhe é preciso, de maneira que por uma simples e pequena elevação das aguas do rio, por qualquer cheia, refluem os dejectos e reentram na cidade. Não ha modo do fazer os esgotos.

Por estas simples palavras, já o Governo e a Camara vêem como é precario o estado da salubridade na cidade de Leiria.

Prejudicam-se a um tempo a cidade e o campo; o commercio, a agricultura, e as vidas dos cidadãos.

E tudo provém da elevação do leito do rio, elevação assustadoramente crescente.

O rio Liz tem particulares e circumstancias que mais rapidamente avolumam os inconvenientes a que me estou referindo. É de um regime torrencial e corro em terrenos desaggregaveis facilmente. A sua bacia hydrographica, tendo uma extensão pequena, corça de 45 kilometros no sentido NS. de comprimento e uns 30 de largura, recolhe todavia grande copia de aguas na parte mais declivosa, Abrange os concelhos de Leiria e Batalha, parte dos de Pombal, Ourem o Porte do Moz.

Esta bacia hydrographica é relativamente larga na sua origem, quer dizer: na parte onde as aguas podem adquirir maior força viva, pela velocidade que adquirem no decurso. D'ahi se segue que aã aguas recolhidas neste funil, chamado a bacia da recepção, adquirem, menos pelo volume do que pela força viva de que vem animadas, um poder de erosão muito grande, carrejando assim facilmente detritos das rochas desnudando o atacando os terrenos, que vão esboroando e caindo. Assim é que as camadas de terreno, mais ou menos alteradas pela acção dos agentes atmosphericos ou pela excessiva cultura e sem a protecção das florestas, não resistem ao embate das aguas e por isso se desnudam e produzem desgastes e erosões, convertendo-se em areias, que se depositam nas partes em que a velocidade diminuo e em que a força do arrastamento já não sobreleva á gravidade dos pequenos grãos ou calhaus. Esta acção faz-se principalmente sentir nos terrenos modernos como os que ficam para o norte, que são do periodo cainozoico, epoca pliocenica, por onde corre a chamada ribeira da Caranguejeira, pois que os da bacia do Lena, confluente do Liz, resistem melhor, assim como os das restantes ribeiras que veem do lado do sul e nascente, terrenos jurassicos e triassicos do periodo mesozoico. Bastam, porem, os primeiros, terrenos que se desaggregam tão facilmente, e logo se vão converter em areaes estereis, que ameaçam subverter tudoin - utilizar os campos o subverter povoações.

O alveo do rio sobe o transforma-se tanto no sou perfil longitudinal como nos seus perfis transversaes, e d'ahi vem a tendencia para sair fora do seu leito; d'ahi a facilidade com que elle transpõe as debeis motas ia baixas demais para o conterem e funccionarem de diques.

Accrescentando-se que a foz, sem o revestimento do benéfico pinheiro, que tom ali o seu habitat mais proprio, aberta num longo e desolado areal, sujeito ás invasões e ás migrações das dunas, essas serras de areia movediça ao sopro do vento, como ondas on vagas do oceano; a foz sujeita ás arremetidas do mar, que em marés os equinoxiaes frequentemente lhe obstrue o curso com espessas barragens, teremos feito o quadro, mal debuxado mas real, do actual estado da bacia do Liz.

Emquanto funccionou a Junta de Melhoramentos do Campo, as obras que fazia e se limitavam á zona de dejecção da torrente e a parte que ligava esta com a bacia de recepção, o canal, estava no regime de equilibrio, o regime de compensação; os detritos que se recebiam eram proximamente tantos quantos os que saiam carrejados pela agua para a foz. Depois, por uma lamentavel incuria prolongada durante tantos annos, o rio foi-se assoreando e deixou de haver compensação. As areias permanecem, as que vera de cada cheia juntam-se ás antigas.

Por um lado a falta de obras hydraulicas, por outro a agricultura cada vez mais intensa e extensa, a absorver areas crescentes de terrenos nas margens, produziram esto resultado, e assim o rio, que foi um elemento de riqueza, está sondo a causa da sua ruína, o que inteiramente é deploravel e reclama remedio.

Leiria está ameaçada de graves perigos. Já me referi aos que interessam á salubridade e á sua riqueza economica. Vejamos os que affectam até a sua segurança.

O rio desce desde a ponto dos Caniços até ao meio da cidade, em duas ou tres quedas de agua, que representam um desnivel superior a 8 metros. Chega com grande velocidade a outra ponto, que ó aquella que dá passagem á estrada de Lisboa ao Porto. Era ella antigamente ampla e espaçosa, dando livre curso ás aguas e dando facil vasão mesmo ás aguas de todas as cheias. Lembro-me muito bem d'ella nesses dias. Sob os seus arcos semi-circulares de cantaria passava folgadamente um carro de bois.

Hoje está tão levantado o nível do fundo do rio que uma pequena cheia quasi os entupe! (Apoiados). Se a invernia fosse prolongada por mais três ou quatro dias, ou sobreviesse um temporal com chuvas mais caudalosas, Leiria não era simplesmente submersa, na sua maior parto, era arrasada! A ponte não chegava para o caudal, servia de açude, não poderia talvez sustentar o impulso das aguas e ruiria, precipitando-se então a corrente contra a muralha do marachão, com todo o impeto proveniente das quedas a que alludi, derrubando-o ou furando-o, até ir procurar o antigo leito, porque aquelle rio está desviado do seu curso normal, levando adeante de si todos os obstáculos e deixando ficar a desolação, a morto e a ruina!... Mesmo resistindo a ponte, que actualmente quebra o impulso da corrente e poupa as muralhas a jusante, se cila chega a obstruir-se, tem de galgar a montante sobre os muros e os resultados silo iguaes. A ponte é um perigo eminente. Pertence ao Estado a sua reconstrucção. Não é uma obra municipal.

Esta situação é calamitosa é insustentavel! (Apoiados). Isto não podo continuar! Não quer decerto o Governo tomar tamanha responsabilidade! É preciso que se acuda com obras urgentes, com obras feitas com toda a ponderação e com todo o cuidado, mas que se não protelem, nem se pretiram, para se dar emfim uma pequena satisfação aos povos em que impendem tão graves perigos. (Apoiados).

Não podemos ficar apenas em promessas e projectos; é necessario acudir, e acudir de prompto.

Sr. Presidente: referindo-mo aos beneficios da Junta do Campo, era meu proposito dizer que não foi esquecida aquella util instituição, e que á iniciativa prudente e reflectida do Sr. Ministro das Obras Publicas se deve um grande beneficio para aquella região, qual foi o de restaurar a antiga Junta, que tão beneficos resultados produziu emquanto funccionou nos campos de Leiria, ampliando-a c melhorando-a consoante aã lições da experiencia e da sciencia hydraulica moderna.

S. Exa., por decreto do 24 de dezembro ultimo, reconstituiu e aperfeiçoou a velha Junta do Campo, que ha de prosperar e ha de dar seguramente resultados be-