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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

de ficar no limbo da camara dos dignos pares. É um projecto importante, e que é de necessidade que seja convertido em lei.

Com relação a algumas inexactidões que vem no mappa, não posso responder senão pelos documentos mandados pelas diversas localidades, mas estou convencido do que o mappa está feito com exactidão; no entretanto tratarei de ver se ha alguma deficiencia que possa ainda remediar-se.

O sr. Coelho do Amaral: — Pedi a palavra para chamar a attenção dos membros da commissão especial, encarregada de dar o seu parecer sobre o projecto apresentada pelo sr. Barros e Cunha, relativo ás attribuições e intervenção das juntas geraes de districto e empregados fiscaes na distribuição e arrecadação dos impostos predial, industrial e pessoal.

Este objecto é de summa importancia e gravidade, e é necessario definir por uma vez os direitos e attribuições de qualquer entidade official que intervem na distribuição e arrecadação dos impostos, e por iso peço a algum dos membros d'essa commissão a bondade de me informar a respeito do estado em que se acha este negocio.

O sr. Osorio de Vasoonaellos: — Participo a v. ex.ª que o nosso collega o sr. Pinheiro Borges não póde comparecer á sessão de hoje, e talvez não compareça a mais algumas, em consequencia de lhe ter fallecido uma sua proxima parenta.

O sr. Julio do Carvalhal: — Estou bastante incommodado, mal poderei ser ouvido, mas no entanto aproveito a occasião de estar presente o nobre ministro do reino e presidente do conselho de ministros, para chamar a attenção de s. ex.ª para o objecto sobre que vou fallar.

Quando se votava n'esta camara o bill de indemnidade sobre os actos da dictadura, tive a honra de apresentar uma proposta modesta, e sem pretensões nem intuitos politicos (O sr. Falcão da Fonseca: - Apoiado.), tendo unicamente por fim estender mão caridosa aos convencionados de Evora Monte, que soffrem privações do mais necessario á vida (apoiados).

A minha proposta foi bem recebida pela camara, e não podia deixar de o ser, attento o seu justo fim, porque satisfazia uma divida do partido liberal, sem onerar o thesouro com uma verba superior ás suas forças (apoiados).

Por essa occasião alguns membros da commissão especial tiveram a bondade de me dizerem que a commissão adoptava aquella proposta (O sr. Falcão da Fonseca: — Apoiado.); e o nobre presidente do conselho, o meu antigo amigo o sr. marquez d'Avila e de Bolama, levantando-se do seu logar, fez-me a honra de chegar aqui, e disse-me que ella merecia a sua approvação, e que já tinha dito ao seu collega o sr. ministro da fazenda que devia aceita-la, porque estava em termos rasoaveis e convenientes (apoiados do sr. presidente do conselho e de varios srs. deputados).

Como disse, aquella minha proposta foi honrada com um bom acolhimento pela camara, porque, não tendo tão largas proporções como o decreto da dictadura sobre o assumpto, que estabelecia um subsidio gradual e ascendente de posto para posto, e o estendia, indistinctamente aos que precisam, e aos que vivem na abundancia e no luxo, sem exceptuar mesmo muitos funccionarios publicos, que não recebendo vencimentos do thesouro os recebem todavia pagos pelas camaras municipaes, e directamente pelo povo, onerava o thesouro com uma enorme despeza; ao passo que a minha humilde proposta, despida de quaesquer intuitos ou vistas politicas (apoiados), tinha uma facilima execução, com uma insignificante despeza para o thesouro, porque só tem por fim soccorrer entre aquelles convencio nados os que soffrem privações do necessario e indispensavel á vida, e estabelece um limitado subsidio, e igual para todos, fosse qual fosse a sua antiga graduação no exercito vencido (apoiados).

O meu fim unico era matar a fome a quem soffre, respeitando ao mesmo tempo as urgencias do thesouro (apoiados).

Muitos censuraram o sr. duque de Saldanha, porque, sendo um dos chefes do exercito liberal, e um dos que mais concorreu, não o unico que concorreu...

O sr. Coelho do Amaral: — Apoiado.

O Orador: — Para o triumpho da causa liberal, viesse decretar uma medida em favor dos convencionados de Evora Monte! Mas eu louvei-o, por isso mesmo porque entendo que em vista da muito notavel parte que o nobre marechal tivera no vencimento da causa liberal, era a elle que competia tomar a iniciativa a favor dos seus, vencidos (apoiados). Porque os homens valentes, como s. ex.ª é, só conhecem o inimigo no campo da batalha; alcançada a victoria estendem lhe a mão, e abraçam-nos como irmãos (apoiados).

Repito, louvei o nobre marechal pela posição que tomou, e só achei mau o seu decreto, pelas rasões que já disse (que oneravam muito o thesouro), e pela occasião, depois de uma revolta, e em vesperas de uma eleição (apoiados).

Emquanto ao mais, muito bem lhe ficou a iniciativa; e era, no meu entender, que o vencedor de Almoster era aquelle que devia apresentar aquella medida, não só porque s. ex.ª tinha sido um dos que assignarma a convenção de Evora Monte, como tambem porque lhe impedia obrigação moral de o fazer, por ser um dos que mais concorreram para a perda da causa que elles defendiam, e por consequencia para a posição bem infeliz em que muitos se acham.

Aquelle decreto não teve a approvação da illustre commissão especial, nem a da camara; e inutilisado elle, eu entendi que, sendo eu um dos soldados da revolução de 1828, um dos emigrados pela Galliza, um dos defensores da ilha Terceira, um dos 7:500 do Mindello, um dos defensores do Porto, e aquelle a quem coube por sorte pôr o sêllo no encerramento das, batalhas pela liberdade com o ultimo e feliz tiro de canhão disparado na batalha da Asseiceira...

O sr. Coelha do Amaral: — Apoiado.

O Orador: — Cabia me levantar a minha humilde voz em favor d'aquella desgraçada gente que morre á necessidade (apoiados).

Mas quando o sr. presidente do conselho, e os illustres membros da commissão especial declamaram que approvavam a minha proposta, já eu tinha pedido a v ex.ª licença para a retirar, porque quando se leu esta proposta na mesa, algumas vozes muito auctorisadas, e entre ellas a do meu muito antigo amigo e collega o sr. Coelho do Amaral, cavalheiro a quem muito respeito e por quem tenho muita consideração, disseram: «E os veteranos da liberdade incluindo os voluntarios da Rainha, ficam a morrer de fome?» (Apoiados.)

Echoaram no meu coração estas vozes, vi de um lado os vencidos pelos meus esforços e dos meus camaradas, vi do outro os meus companheiros no exilio, nos sacrificios, nas batalhas e nas victorias; e para logo correu pelo meu pensamento a idéa de os beneficiar a todos promiscuamente.

Foi por este motivo, que quando s. ex.ª me perguntou se eu insistia em retirar a minha proposta, eu respondi affirmativamente, compromettendo-me a trazer á camara um projecto n'aquelle sentido.

Confeccionei o projecto attendendo a todos, convencionados de Evora Monte, que soffrem necessidades, e soldados da liberdade que andam esmolando á caridade publica e particular; e mostrando este meu trabalho ao nobre presidente do conselho, elle depois de o examinar me declarou conformar-se inteiramente com elle.

O sr. Marquez d'Avila: — Apoiado.

O Orador: — Em consequencia d'isso e de accordo com s. ex.ª, apresentei na camara o projecto, que foi por ella bem recebido, e honrado com a assignatura de muitos srs. deputados; e muito mais o honrariam se o regimento d'esta casa o permittisse, porque muitos o applaudiram e testemunharam as suas sympathias por elle (apoiados), porque este meu projecto convertido em lei matará a fome a muitos,