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SESSÃO DE 19 DE MAIO DE 1871

Presidencia do ex.mo sr. Antonio Cabral de Sá Nogueira

Secretarios — os srs.

Adriano de Abreu Cardoso Machado

Antonio Augusto de Sousa Azevedo Villaça

Summario

Apresentação de projectos de lei, requerimentos e representações — Approvação do parecer da commissão de verificação de poderes ácerca do processo eleitoral do circulo de Arouca, sendo proclamado deputado o sr. Carlos Bento da Silva, que prestou juramento — Approvação do parecer da commissão de fazenda sobre algumas emendas offerecidas ao projecto de lei n.º 9, ácerca da contribuição pessoal. — Ordem do dia: Continuação da discussão do orçamento do ministerio da marinha.

Chamada — 45 srs. deputados.

Presentes á primeira chamada, á uma hora da tarde — os srs.: Adriano Machado, Alberto Carlos, Soares de Moraes, Villaça, Sá Nogueira, Freire Falcão, Pedroso dos Santos, Pequito, Telles de Vasconcellos, Ferreira de Andrade, Pereira Brandão, Eduardo Tavares, Francisco de Albuquerque, Coelho do Amaral, Costa e Silva, Pinto Bessa, Santos e Silva, Zuzarte, Barros e Cunha, Ulrich, J. J. de Alcantara, Mendonça Cortez, Nogueira Soares, Pinto de Magalhães, Gusmão, J. A. Maia, Bandeira Coelho, Elias Garcia, Teixeira de Queiroz, Julio Rainha, Marques Pires, Lisboa, Visconde de Montariol.

Presentes á segunda chamada, á uma hora e um quarto da tarde — os srs.: Agostinho de Ornellas, Osorio de Vasconcellos, Antunes Guerreiro, Antonio de Vasconcellos, Falcão da Fonseca, Eça e Costa, Francisco Beirão, Faria Guimarães, Rodrigues de Freitas, Luiz de Campos, Mariano de Carvalho, Pereira Bastos.

Entraram durante a sessão — os srs. Braamcamp, Pereira de Miranda, Teixeira de Vasconcellos, Veiga Barreira, A. J. Teixeira, Arrobas, Sousa de Menezes, Rodrigues Sampaio, Santos Viegas, Barjona de Freitas, Cau da Costa, Augusto de Faria, Bernardino Pinheiro, Carlos Bento, Conde de Villa Real, Caldas Aulete, Bicudo Correia, F. M. da Cunha, Van-Zeller, Guilherme Quintino, Barros Gomes, Silveira da Mota, Jayme Moniz, Candido de Moraes, Lobo d'Avila, Dias Ferreira, Mello e Faro, José Luciano, Almeida Queiroz, Latino Coelho, Moraes Rego, Mello Gouveia, Nogueira, Mexia Salema, Julio do Carvalhal, Paes Villas Boas, D. Miguel Coutinho, Pedro Roberto, Sebastião Calheiros, Visconde de Moreira de Rey, Visconde dos Olivaes, Visconde de Valmór, Visconde de Villa Nova da Rainha.

Não compareceram — os srs: Saraiva de Carvalho, Barão do Rio Zezere, Barão do Salgueiro, Pinheiro Borges, Francisco Mendes, Pereira do Lago, Palma, Mártens Ferrão, Alves Matheus, Augusto da Silva, Figueiredo de Faria, Rodrigues de Carvalho, J. M. dos Santos, Mendes Leal, José Tiberio, Lopo de Mello, Luiz Pimentel, Camara Leme, Afonseca, Pedro Franco.

Abertura — Á uma hora e um quarto da tarde.

Acta — Approvada.

EXPEDIENTE

A QUE SE DEU DESTINO PELA MESA.

Requerimentos

1.° Requeiro que se peça ao ministerio da marinha haja de enviar com urgencia a esta camara, para esclarecer a discussão do orçamento, os mappas officiaes devidamente formulados, em que se demonstre serem exactas as reducções que, segundo o relatorio da commissão de fazenda, devem resultar de todas as alterações propostas no orçamento, e que estes mappas venham assignados pelo sr. ministro da marinha.

Sala das sessões, 17 de maio de 1811. = José Maria Latino Coelho.

2.° Requeiro que sejam enviadas a esta camara pelo ministerio da justiça, as representações e informações que n'aquella repartição existam com respeito á prorogação do praso para o registo das hypothecas e onus reaes.

Sala das sessões, 17 de maio de 1871. = Julio Rainha.

3.° Requeiro que, pelo ministerio do reino, seja mandada com urgencia a esta camara uma nota, que demonstre quaes estradas districtaes, quaes municipaes, foram já estudadas pela engenheria districtal no districto de Villa Real?

Qual o numero de kilometros que tem cada uma d'ellas?

Qual o numero de estradas districtaes e municipaes tem estado e estão em construcção no mesmo districto, e têem sido dirigidas pela engenheria districtal? E que numero de kilometros conta cada uma, construidas ou em construcção? Quanto finalmente tem ganho ali, de ordenados e gratificações o engenheiro districtal?

Sala das sessões, 17 de maio de 1871. = julio do Carvalhal Sousa Telles.

Foram remettidos ao governo.

Declaração

Declaro que por incommodo de saude faltei á sessão de hontem.

Sala das sessões, 19 de maio de 1871. =. Antonio José Teixeira.

Inteirada.

O sr. Julio Rainha: — Mando para a mesa um projecto de lei a que me referi na ultima sessão, e que não é mais do que a traducção das considerações que em uma das ultimas sessões fez n'esta casa o illustre deputado, o sr. Francisco de Albuquerque.

Peço desculpa á camara de não ter o relatorio, e limito-me unicamente á leitura do projecto de lei, que é o seguinte (leu).

Vae tambem assignado pelos meus illustres amigos, os srs. Francisco de Albuquerque e Coelho do Amaral.

O sr. Eduardo Tavares: — Mando para a mesa uma representação da camara municipal de Almada contra o decreto de 30 de outubro de 1868, que creou a engenheria districtal.

Peço a v. ex.ª que tenha a bondade de lhe mandar dar o competente destino.

O sr. Pedroso dos Santos: — Tenho deixado de comparecer a algumas sessões, e como tenho commettido uma falta, mando para a mesa um documento em que provo o meu legitimo impedimento.

O sr. Francisco de Albuquerque: — Desejo chamar a attenção do sr. presidente do conselho e ministro do reino para um assumpto que já por vezes tem sido tratado por mim, e que diz respeito á viação municipal.

Vejo que a sessão está adiantada, por isso tenho justificado receio de que não seja approvado o projecto sobre a contribuição do serviço braçal, que já o foi n'esta casa, e que está dependente da approvação da camara dos dignos pares.

Não sei se serei importuno em fallar n'este assumpto, mas julgo do meu dever trata-lo, porque o considero do maior interesse para todo o paiz (apoiados).

Poderá talvez allegar-se como causa justificativa da demora para a approvação d'este projecto, ou a necessidade de dados estatisticos a pedir, ou algum conhecimento technico especial para se proceder ao exame minucioso, a fim do projecto poder ser convertido em lei; mas a este respeito preciso fazer uma pequena observação.

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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Aquelle projecto é tão simples e de tão reconhecida utilidade, que me parece que não necessita de esclarecimentos de qualidade alguma para ser convertido em lei (O sr. Coelho do Amaral: — Apoiado.); o que se pretende unicamente é que a contribuição da prestação do trabalho, sem prejuizo da viação segundo a lei de 6 de junho de 1864, possa ser applicada pelas camaras municipaes quando não vá de encontro com as disposições da mesma lei, quer dizer, este imposto, que representa um capital immenso, está improductivo em quasi todo o paiz (apoiados), e é de simples intuição que, sem prejudicar o pensamento da lei de 6 de junho de 1864, este projecto póde ser convertido em lei, porque, caso haja em alguns concelhos estradas á fazer segundo as prescripções que estabelece a lei de 1864, não póde applicar-se a contribuição a outra qualidade de viação que não seja essa, mas não a havendo, para que ha de ficar improductivo esse imposto, que caduca no fim de cada anno? (Apoiados.)

O que eu desejava, por consequencia, era que o illustre ministro do reino, com o zêlo e solicitude que me parece tem tido n'este negocio, embora infructifero até hoje, o activasse quanto possivel para que á commissão da camara, dos dignos pares desse este parecer, porque creia s. ex.ª que é um grande serviço que faz a todo o paiz, visto que teria por fim aproveitar um capital que póde circular-se em centenas de contos, e que na maior parte dos concelhos está improductivo desde que a lei de 1864 se promulgou (apoiados).

Se não for assim estou certo que este projecto ainda fica, esta sessão no limbo da commissão respectiva da camara dos dignos pares.

Não quero fazer censura áquella commissão, mas sim chamar a attenção do sr. ministro, dizendo-lhe que é tão simples este projecto e que trata de uma materia tanto ao alcance de todos, que me parece que não serão necessarios mais esclarecimentos para se proceder ao seu exame e approvação.

Ainda desejava chamar a attenção da camara, tratando d'este mesmo assumpto, para um mappa que acaba de ser publicado e que diz respeito tambem á viação municipal, cuja exacção official não posso deixar de reconhecer posto que n'elle me parece que ha algumas inexactidões; entretanto sujeitando-me aos dados que n'elle se acham, vejo que nos concelhos de que n'elle se trata, exceptuando Lisboa e Porto, ha 185 nos quaes não ha um unico metro de estrada municipal construida, segundo determina á lei de 6 de Junho de 1864, e 83 em que ha alguns raros kilometros de estrada construidos.

Ora, tendo esta lei sido publicada em 1864, isto é, tendo já sete annos de existencia, ao examinarmos os resultados que ella tem produzido durante este periodo, havemos de nos convencer que ou ha defeitos na mesma lei, ou da parte dos seus executores (apoiados). Com isto não quero fazer censura ás auctoridades; mas tanto n'um como n'outro caso, depois de se reconhecer que os resultados não têem sido taes como era para desejar, não são aquelles que estavam na mente de legislador, cumpre-nos examinar esta legislação e reforma-la o mais em harmonia com as necessidades do paiz, de fórma que os seus beneficos resultados se es tendam a todos os concelhos e não só 83 como actualmente acontece, estando 185 completamente desprovidos dos beneficios da viação (apoiados).

Parece-me que ha urgente necessidade de tratar d'este assumpto.

Como v. ex.ª sabe, e este mappa nos diz, ha em cofre para ser applicado a coustrueções d'essas estradas, municipaes a quantia de 449:000$000 réis, cifra redonda.

Ora, parece-me que tratando nós de facilitar os meios para que as camaras municipaes possam applicar esta quantia com mais vantagem para o serviço e para os concelhos, fazemos um bom serviço ao paiz (apoiadas).

Não possa deixar de attribuir, não tanto a falta de zêlo da parte dos empregados administrativas ou das proprias corporações, o facto da lei ter deixado de produzir beneficos resultados que d'ella se esperavam, mas á propria lei.

O sr. Julio de Carvalhal: — Apoiado.

O Orador: — Não com relação ao seu fundamento, com o qual estou de accordo, e que não póde ser senão procurar desenvolver, debaixo de certos preceitos, esta viação municipal, de sorte que ella se torne mais proveitosa possivel, juntando um certo numero de garantias para formar um todo harmonico e uma rede combinada de estradas, que dê os resultado que são para desejar e que o paiz precisa; mas quanto a muitas das suas disposições, porque são taes as paias e os embaraços que se põem ás camaras municipaes, para ellas poderem applicar os seus fundos, quando precisâmos instantemente revogar a lei em tudo quanto tender a coarctar a liberdade de acção das camaras municipaes (apoiados).

(Áparte.)

Póde ficar alguma cousa, mas o que é indispensavel é que simplifiquemos o serviço, e que não vamos pela complicação a que elle está sujeito obstar a que as camaras municipaes possam applicar os fundos que têem em cofre, como o devem ser (apoiados).

Ha aqui algumas disposições que devem ser revogadas. Posso lembrar algumas, sem com isto me querer demorar no assumpto, para não cansar a camara que tem a sua attenção voltada para a questão politica.

Ha na lei um artigo no qual se determina que a commissão de viação districtal decidirá quaes as obras a fazer nas estradas de 1.ª classe, no anno immediato. Ora, aqui eu acho um grande defeito, porque esta disposição tira a iniciativa ás camaras municipaes (apoiados), que devem ser mais conhecedoras das necessidades que ha nos seus concelhos em relação a essas mesmas estradas.

Apparecem outras disposições no artigo 9.° (leu).

Não vejo n'isto senão embaraços, e nós que sabemos que da parte das corporações, em geral, pouco zêlo ha em cumprir com os seus deveres (apoiados), devemos receiar que as garantias de tal ordem, que só servem para embaraçar á acção d'essas corporações, para que a vontade d'ellas seja insufficiente para tornar em factos os precisos e justos melhoramentos.

Reservar-me-hei para em occasião opportuna tratar mais de espaço d'este assumpto.

Mando para a mesa uma proposta, a qual tem por fim auctorisar a mesa a nomear uma commissão para proceder aos trabalhos da revisão da lei de que tenho fallado, e peço a v. ex.ª que consulte a camara sobre se dispensa o regimento, a fim de se approvar a urgencia da minha proposta.

Vou escrever a proposta, para a enviar para a mesa.

O sr. Ministro do Reino (Marquez d'Avila e de Bolama): — Estou de accordo com o illustre deputado que acabou de fallar, com relação á conveniencia de se converter em lei o projecto d'esta camara que passou para a outra casa do parlamento.

Foram pedidos ao governo alguns esclarecimentos para facilitar a approvação d'esse projecto, é o governo mandou proceder immediatamente á organisação d'esses esclarecimentos, mas infelizmente algum dos que vieram das diversas localidades não estavam em estado de se poder fazer obra por elles. Em consequencia d'isto, apressei-me em mandar para esta camara o mappa que o illustre deputado pediu, e folgo que a camara tivesse decidido a sua publicação do Diario, porque eu já tinha mandada tirar uma copia para a camara dos dignos pares, na esperança que tinha de que por esta copia se poderia fazer obra, emquanto não viesse o mappa pedido.

Podem os srs. Coelho do Amaral e Francisco d'Albuquerque ter a certeza de que hei de empregar todos os meios para que aquelle projecto seja, ainda n'esta sessão, convertido em lei, e não julguem os nobres deputados, como disse o sr. Francisco de Albuquerque, que este projecto ha

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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

de ficar no limbo da camara dos dignos pares. É um projecto importante, e que é de necessidade que seja convertido em lei.

Com relação a algumas inexactidões que vem no mappa, não posso responder senão pelos documentos mandados pelas diversas localidades, mas estou convencido do que o mappa está feito com exactidão; no entretanto tratarei de ver se ha alguma deficiencia que possa ainda remediar-se.

O sr. Coelho do Amaral: — Pedi a palavra para chamar a attenção dos membros da commissão especial, encarregada de dar o seu parecer sobre o projecto apresentada pelo sr. Barros e Cunha, relativo ás attribuições e intervenção das juntas geraes de districto e empregados fiscaes na distribuição e arrecadação dos impostos predial, industrial e pessoal.

Este objecto é de summa importancia e gravidade, e é necessario definir por uma vez os direitos e attribuições de qualquer entidade official que intervem na distribuição e arrecadação dos impostos, e por iso peço a algum dos membros d'essa commissão a bondade de me informar a respeito do estado em que se acha este negocio.

O sr. Osorio de Vasoonaellos: — Participo a v. ex.ª que o nosso collega o sr. Pinheiro Borges não póde comparecer á sessão de hoje, e talvez não compareça a mais algumas, em consequencia de lhe ter fallecido uma sua proxima parenta.

O sr. Julio do Carvalhal: — Estou bastante incommodado, mal poderei ser ouvido, mas no entanto aproveito a occasião de estar presente o nobre ministro do reino e presidente do conselho de ministros, para chamar a attenção de s. ex.ª para o objecto sobre que vou fallar.

Quando se votava n'esta camara o bill de indemnidade sobre os actos da dictadura, tive a honra de apresentar uma proposta modesta, e sem pretensões nem intuitos politicos (O sr. Falcão da Fonseca: - Apoiado.), tendo unicamente por fim estender mão caridosa aos convencionados de Evora Monte, que soffrem privações do mais necessario á vida (apoiados).

A minha proposta foi bem recebida pela camara, e não podia deixar de o ser, attento o seu justo fim, porque satisfazia uma divida do partido liberal, sem onerar o thesouro com uma verba superior ás suas forças (apoiados).

Por essa occasião alguns membros da commissão especial tiveram a bondade de me dizerem que a commissão adoptava aquella proposta (O sr. Falcão da Fonseca: — Apoiado.); e o nobre presidente do conselho, o meu antigo amigo o sr. marquez d'Avila e de Bolama, levantando-se do seu logar, fez-me a honra de chegar aqui, e disse-me que ella merecia a sua approvação, e que já tinha dito ao seu collega o sr. ministro da fazenda que devia aceita-la, porque estava em termos rasoaveis e convenientes (apoiados do sr. presidente do conselho e de varios srs. deputados).

Como disse, aquella minha proposta foi honrada com um bom acolhimento pela camara, porque, não tendo tão largas proporções como o decreto da dictadura sobre o assumpto, que estabelecia um subsidio gradual e ascendente de posto para posto, e o estendia, indistinctamente aos que precisam, e aos que vivem na abundancia e no luxo, sem exceptuar mesmo muitos funccionarios publicos, que não recebendo vencimentos do thesouro os recebem todavia pagos pelas camaras municipaes, e directamente pelo povo, onerava o thesouro com uma enorme despeza; ao passo que a minha humilde proposta, despida de quaesquer intuitos ou vistas politicas (apoiados), tinha uma facilima execução, com uma insignificante despeza para o thesouro, porque só tem por fim soccorrer entre aquelles convencio nados os que soffrem privações do necessario e indispensavel á vida, e estabelece um limitado subsidio, e igual para todos, fosse qual fosse a sua antiga graduação no exercito vencido (apoiados).

O meu fim unico era matar a fome a quem soffre, respeitando ao mesmo tempo as urgencias do thesouro (apoiados).

Muitos censuraram o sr. duque de Saldanha, porque, sendo um dos chefes do exercito liberal, e um dos que mais concorreu, não o unico que concorreu...

O sr. Coelho do Amaral: — Apoiado.

O Orador: — Para o triumpho da causa liberal, viesse decretar uma medida em favor dos convencionados de Evora Monte! Mas eu louvei-o, por isso mesmo porque entendo que em vista da muito notavel parte que o nobre marechal tivera no vencimento da causa liberal, era a elle que competia tomar a iniciativa a favor dos seus, vencidos (apoiados). Porque os homens valentes, como s. ex.ª é, só conhecem o inimigo no campo da batalha; alcançada a victoria estendem lhe a mão, e abraçam-nos como irmãos (apoiados).

Repito, louvei o nobre marechal pela posição que tomou, e só achei mau o seu decreto, pelas rasões que já disse (que oneravam muito o thesouro), e pela occasião, depois de uma revolta, e em vesperas de uma eleição (apoiados).

Emquanto ao mais, muito bem lhe ficou a iniciativa; e era, no meu entender, que o vencedor de Almoster era aquelle que devia apresentar aquella medida, não só porque s. ex.ª tinha sido um dos que assignarma a convenção de Evora Monte, como tambem porque lhe impedia obrigação moral de o fazer, por ser um dos que mais concorreram para a perda da causa que elles defendiam, e por consequencia para a posição bem infeliz em que muitos se acham.

Aquelle decreto não teve a approvação da illustre commissão especial, nem a da camara; e inutilisado elle, eu entendi que, sendo eu um dos soldados da revolução de 1828, um dos emigrados pela Galliza, um dos defensores da ilha Terceira, um dos 7:500 do Mindello, um dos defensores do Porto, e aquelle a quem coube por sorte pôr o sêllo no encerramento das, batalhas pela liberdade com o ultimo e feliz tiro de canhão disparado na batalha da Asseiceira...

O sr. Coelha do Amaral: — Apoiado.

O Orador: — Cabia me levantar a minha humilde voz em favor d'aquella desgraçada gente que morre á necessidade (apoiados).

Mas quando o sr. presidente do conselho, e os illustres membros da commissão especial declamaram que approvavam a minha proposta, já eu tinha pedido a v ex.ª licença para a retirar, porque quando se leu esta proposta na mesa, algumas vozes muito auctorisadas, e entre ellas a do meu muito antigo amigo e collega o sr. Coelho do Amaral, cavalheiro a quem muito respeito e por quem tenho muita consideração, disseram: «E os veteranos da liberdade incluindo os voluntarios da Rainha, ficam a morrer de fome?» (Apoiados.)

Echoaram no meu coração estas vozes, vi de um lado os vencidos pelos meus esforços e dos meus camaradas, vi do outro os meus companheiros no exilio, nos sacrificios, nas batalhas e nas victorias; e para logo correu pelo meu pensamento a idéa de os beneficiar a todos promiscuamente.

Foi por este motivo, que quando s. ex.ª me perguntou se eu insistia em retirar a minha proposta, eu respondi affirmativamente, compromettendo-me a trazer á camara um projecto n'aquelle sentido.

Confeccionei o projecto attendendo a todos, convencionados de Evora Monte, que soffrem necessidades, e soldados da liberdade que andam esmolando á caridade publica e particular; e mostrando este meu trabalho ao nobre presidente do conselho, elle depois de o examinar me declarou conformar-se inteiramente com elle.

O sr. Marquez d'Avila: — Apoiado.

O Orador: — Em consequencia d'isso e de accordo com s. ex.ª, apresentei na camara o projecto, que foi por ella bem recebido, e honrado com a assignatura de muitos srs. deputados; e muito mais o honrariam se o regimento d'esta casa o permittisse, porque muitos o applaudiram e testemunharam as suas sympathias por elle (apoiados), porque este meu projecto convertido em lei matará a fome a muitos,

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com menos de metade da despeza que produziria o decreto da dictadura, quando levado á pratica.

N'aquella occasião o sr. presidente do conselho declarou que aceitava o pensamento do meu projecto, e quando se discutiu na camara dos dignos pares o bill de indemnidade, levantando se ali algumas vozes a favor dos convencionados de Evora Monte, s. ex.ª declarou tambem ali, que n'esta casa se tinha apresentado uma proposta em favor d'elles, e que o governo lhe prestava a sua attenção, e a considerava muito justa e aceitavel, por onerar pouco o thesouro, e ser mais um véu que se lançava sobre os dolorosos acontecimentos passados.

O sr. Presidente do Conselho: — Apoiado.

O Orador: — Encerrou-se aquella sessão em 24 de dezembro sem ter andamento este negocio, mas aberta a actual a 11 de março, foi mandado dias depois o meu projecto á illustre commissão de fazenda para sobre elle dar o seu parecer, e por esta foi distribuido ao talentoso sr. Dias Ferreira, cujo amor ao trabalho e facilidade de trabalhar todos reconhecem, e por isso, e por ter sido s. ex.ª üm dos membros da dictadura, muito me admira não ter s. ex.ª apresentado um parecer! (Apoiados.) Mas são passados dois mezes, e até agora nenhum resultado tem havido, com magua o digo (apoiados).

Eu sei que a illustre commissão de fazenda, cujos membros muito respeito, póde dizer-me que aquelle negocio foi distribuido a um dos seus membros, para o relatar, e que emquanto elle não apresentar um parecer na commissão, para ella o discutir, não o póde apresentar á camara definitivamente.

Isto é verdade, a rasão é cabal; mas tambem é verdade, que quando uma commissão entrega a um dos seus membros um negocio qualquer, para o relatar, esse membro constitue-se na obrigação de dar um parecer sobre esse negocio, ou favoravel os desfavoravel (apoiados), ou de o entregar á commissão, para ella o distribuir a outro.

Era o que eu desejava que o illustre relator da commissão tivesse feito. Desse um parecer desfavoravel, se o não podesse ou não quizesse dar favoravel; mas desse um, e a camara resolveria como entendesse (apoiados). Não o fez assim, e eu lastimo; porque se tem de attender-se ás necessidades de quem soffre privações, deve ser emquanto elles são vivos; depois não lhes serve para nada (apoiados).

Tenho pedido ao illustre relator por varias vezes que dê parecer, e s. ex.ª desculpou-se com os muitos afazeres que tinha tido na commissão de fazenda; instado depois, declarou que precisava entender-se com o governo para saber se elle adoptava aquelle projecto, e protegia a sua approvação; e ultimamente disse me, o que já se tinha dito aqui na camara em resposta ao sr. Falcão da Fonseca, que aquelle negocio, por ser identico a um projecto apresentado pelo mesmo sr. Dias Ferreira, que era o relator do meu projecto, devia ser relatado por um só individuo, e que elle se tinha offerecido para relatar ambos, ou que a commissão nomeasse outro que se encarregasse d'esse trabalho, tendo recaído essa nomeação no sr. Osorio de Vasconcellos, e já estava na mão d'elle.

Para saber o que havia a este respeito, apesar de confiar muito na palavra do sr. Dias Ferreira, e na seriedade do negocio, escrevi ao sr. Osorio de Vasconcellos, para que s. ex.ª tivesse a bondade de me dizer, se aquelle negocio estava em seu poder, recebendo uma carta de s. ex.ª, em que me dizia que aquelle negocio nunca estivera em seu poder, nem esteve. S. ex.ª é um cavalheiro muito distincto e muito honrado, e não duvidaria por certo confirmar isto que digo; escuso pois de ter a sua carta (apoiados).

Enganou-se de certo o illustre deputado o sr. Dias Ferreira, sem me querer enganar, como supponho.

Por agora não digo mais nada, e deixo á camara o avaliar este negocio pela maneira por que entender.

Agora, como está presente o nobre presidente do conselho, peço a s. ex.ª que me diga com a franqueza propria do seu caracter, se o governo sustenta ainda a sua opinião a respeito d'aquelle meu projecto, ou se lhe retira o seu apoio.

O s. Presidente do Conselho de Ministros: — (Marquez d'Avila e de Bolama): — Vou responder ás perguntas do meu antigo amigo o sr. Julio do Carvalhal, e peço licença a s. ex.ª para lhe dizer que o projecto que apresentou lhe faz muita honra; porque s. ex.ª era muito joven quando se feriram as batalhas da liberdade, em que tomou uma parte muito distincta. Um irmão seu, militar valente, perdeu a vida em defeza da causa, por que nobremente combatia; mas já lá vão trinta e sete annos depois que essas lutas acabaram, e pela minha parte hei de dar sempre toda a cooperação, para que desappareção os vestigios das nossas dissensões politicas (apoiados).

Eu approvo completamente o pensamento do projecto do meu amigo, acho o muito aceitavel com as excepções que s. ex.ª apresentou, ou quaesquer outras no mesmo sentido que a commissão possa propor, porque entendo que, como soccorro, deve prestar-se aquelles que carecerem, mas não podemos ir alem d'isso (apoiados). Por consequencia, n'este sentido conte o illustre deputado com o meu apoio e aceite os meus louvores pela posição que tomou n'esta questão. E não posso deixar de pedir á illustre commissão que se apresse a dar o seu parecer, porque sendo uma medida de conciliação e, se quizerem, de generosidade, quanto mais cedo melhor (apoiados).

O sr. Mariano de Carvalho: — Mando para a mesa o diploma do sr. Carlos Bento, deputade eleito pelo circulo de Arouca.

E por parte da commissão de poderes envio tambem para a mesa o parecer da mesma, approvando a eleição do sr. Carlos Bento, e propondo que s. ex.ª seja proclamado deputado.

Como o sr. deputado eleito está na sala, peço a urgencia do parecer.

Leu-se na mesa o seguinte

Parecer

Senhores. — Á vossa commissão de verificação de poderes foi presente o processo da eleição supplementär a que se procedeu no circulo de Arouca, em 7 de maio corrente. A commissão encontrou o procesao perfeitamente regular e legal.

O numero real dos votantes em todo o circulo foi de 1:064. Recaíram 1:059 votos no cidadão Carlos Bento da Silva, que por este modo obteve quasi a unanimidade.

Entende pois a vossa commissão, que deve ser declarada valida a eleição supplementar pelo circulo de Arouca, e proclamado deputado o cidadão Carlos Bento da Silva, que apresentou o seu diploma em fórma legal.

Sala da commissão, 19 de maio de 1871. = João Antonio dos Santos e Silva = Francisco Joaquim da Costa e Silva = Antonio Maria Barreiros Arrobas = Mariano Cyrillo de Carvalho, relator.

O sr. Presidente: — Em conformidade com a resolução da camara entra immediatamente em discussão este parecer.

Foi approvado sem discussão e proclamado deputado da nação portugueza o sr. Carlos Bento da Silva, que prestou juramento.

O sr. Presidente: — Vou dar a palavra aos srs. deputados que ainda estão inscriptos, mas lembro-lhes que a hora está muito adiantada, e que se deve passar á ordem do dia.

O sr. Falcão da Fonseca: — Effectivamente a hora está adiantada, e por consequencia não tomarei muito tempo á camara.

Queria dizer que me associava ás idéas apresentadas pelo sr. Julio do Carvalhal sobre os convencionados de Evora Monte, e que agradecia a s. ex.ª o sr. presidente do concelho as palavras que proferiu, dizendo que aceitava as idéas do illustre deputado, e que desejava que a commissão

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respectiva desse quanto antes o seu parecer sobre o assumpto para se fazer justiça.

Uma vez que estou com a palavra, ainda que v. ex.ª não sujeitou á discussão a proposta apresentada pelo sr. Albuquerque, para se nomear uma commissão, a fim de rever a carta de lei de 6 de junho de 1864, devo dizer que concordo com as idéas do illustre deputado, mas que tendo eu declarado n'esta camara ha poucos dias que se a commissão de obras publicas não apresentasse um projecto de lei sobre a engenheria districtal, assumpto a respeito do qual muitas camaras têem representado ao parlamento, eu me compromettia a apresenta-lo, effectivamente elaborei esse projecto, porém não o quiz apresentar sem ter a devida attenção com o sr. ministro das obras publicas, e s. ex.ª disse-me que se estava occupando activamente do negocio importante da viação publica, da viação tanto municipal, como districtal, e que o governo talvez em muito pouco tempo tencionasse apresentar uma proposta de lei n'este sentido. Portanto se a proposta do sr. Albuquerque foi sujeita á votação, desde já declaro a s. ex.ª que não a posso votar, por isso que confio plenamente na palavra do sr. ministro das obras publicas e conto que s. ex.ª apresentará muito brevemente á camara um trabalho a este respeito.

O sr. Adriano Machado: — Pedi a palavra para responder a uma pergunta que fez o sr. Coelho do Amaral á commissão encarregada de dar parecer sobre a proposta do sr. Barros e Cunha, ácerca da distribuição do contingente das contribuições, pelas juntas geraes. A commissão reuniu-se, discutiu largamente o assumpto e tomou uma resolução, mas uma resolução provisoria, porque ainda não tinha sido ouvido o governo. Foi convidado o sr. presidente do conselho para assistir a uma reunião da commissão; s. ex.ª prestou-se, mas no dia marcado por s. ex.ª não se póde reunir a commissão, por isso mesmo que á hora indicada entrava em discussão o orçamento e o governo tinha de estar presente a essa discussão. Estava destinado o dia de hoje para nova reunião da commissão.

(O sr. presidente do conselho dirigiu algumas palavras ao orador, que não se perceberam.)

S. ex.ª, o sr. presidente do conselho diz que hoje não póde ir á commissão, mas presta-se a ir na segunda feira.

O parecer já está lavrado, segundo a minha opinião; é possivel que ainda seja reformado se o governo nos convencer de que não está bom, porque é claro que todas as opiniões estio sujeitas a ser modificadas pelas rasões melhores que se apresentarem em sentido contrario. Por isso espero que na segunda feira poderá a commissão apresentar o seu parecer, ficando assim satisfeito o voto do nosso collega o sr. Coelho do Amaral.

O sr. Arrobas: — Mando para a mesa um requerimento pedindo esclarecimentos ao governo. Peço que com urgencia sejam enviados á camara, porque são precisos para a discussão do orçamento.

O sr. Barjona de Freitas: — Mando para a mesa uma representação dos estudantes da faculdade de medicina e de outros alumnos da universidade, ácerca do projecto de lei apresentado pelo sr. Caldas Aulete.

Não emitto agora a minha opinião a este respeito, reservo me para a dar em occasião opportuna.

O sr. Francisco de Albuquerque: — Tinha feito uma proposta, da qual pedi a urgencia para entrar desde já em discussão, a fim de que a mesa fosse auctorisada a nomear uma commissão composta de sete membros, para tratar de rever a lei de 6 de junho de 1864, em harmonia com a urgencia do serviço e as necessidades do paiz.

O meu illustre collega e amigo, o sr. Falcão da Fonseca, declarou que, se bem me recordo, o sr. ministro das obras publicas se occupava d'este assumpto, é por isso provavel que s. ex.ª apresente ainda n'esta sessão, de accordo com o sr. ministro do reino, um projecto tendente a modificar, em parte, a lei de 1864. Eu, posto que confie muito nas palavras do sr. Falcão da Fonseca, desejava que

o sr. ministro das obras publicas dissesse o que ha a este respeito, porque, se acaso s. ex.ª disser que o governo tenciona apresentar ainda n'esta sessão esse projecto ou occupar-se d'esse assumpto, eu, confiando nas palavras de s. ex.ª, desisto da proposta que tenho na mesa, e peço licença para a retirar; porém se s. ex.ª declarar, que não é possivel apresentar-se n'esta sessão tal projecto, que é de grande vantagem para o paiz, não posso retirar a proposta que mandei para a mesa (opoiados).

O sr. Barros Gomes: — Estavam pendentes do exame da commissão de fazenda algumas das ultimas propostas que n'esta casa haviam sido apresentadas em relação á contribuição pessoal, e como o projecto se conservava parado n'esta camara e não podia ser enviado para a dos dignos pares, porque a commissão ainda se não tinha pronunciado sobre essas propostas, eu venho hoje, no desempenho de um dever, participar a v. ex.ª e á camara a resolução da commissão de fazenda sobre os differentes pontos que mereceram reparos por parte de alguns srs. deputados.

O sr. Mexia Salema propoz que se retirasse á fazenda nacional o recurso extraordinario que tinha direito de a interpor em qualquer epocha pela direcção geral das contribuições directas, quando se reconhecesse que a mesma fazenda havia sido lesada por descuido das auctoridades fiscaes. A commissão entendeu que não podia retirar de todo este recurso, porque elle é concedido aos particulares, e estes ficariam assim em situação muito vantajosa em relação á fazenda, o que não seria justo; limitou-se por isso unicamente a marcar o praso, alem do qual não fica sendo possivel á fazenda nacional lançar mão d'este recurso extraordinario.

Portanto a commissão propõe que o n.º 1.° do artigo 10.° seja redigido assim (leu).

O sr. visconde de Moreira de Rey tinha feito conhecer á camara a interpretação, um pouco extraordinaria, que se estava dando na direcção geral das contribuições directas aos recursos que subiam aquella repartição por parte dos collectados sem fundamento algum para o serem. A commissão, apreciando as rasões apresentadas por s. ex.ª, resolveu modificar o n.º 2.° do artigo do projecto n'este sentido (leu).

Esta redacção permitte que a interpretação a meu ver forçada, que se tinha dado n'aquella repartição á legislação de 1862, não continue, e que, pelo contrario, vigore a que por mais de uma vez tem sido affirmada em accordãos do conselho d'estado.

Havia ainda uma outra proposta do sr. Julio do Carvalhal, approvada pela camara, pedindo que a commissão definisse o modo do pagamento do imposto sobre os brazões de armas.

A commissão para evitar maiores difficuldades, e para pôr termo a varias apprehensões que se tinham levantado no animo do illustre deputado, e de outros dignos membros d'esta camara, resolveu, modificando em parte as suas idéas, dizer na tabella o seguinte (leu).

Restava finalmente uma ultima proposta apresentada pelo nosso illustre collega o sr. Alberto Carlos, honrado e dignissimo vice-presidente d'esta casa.

A commissão examinou com a maior attenção e aceitou algumas idéas n'ella indicadas, resolvendo porém consigna-las em um artigo especial do projecto de lei que tenciona apresentar á camara ácerca da multiplicação dos prasos de cobrança e das maiores garantias de publicidade a dar aos contribuintes.

Ha comtudo na proposta de s. ex.ª um ponto com o qual não concordou a maioria da commissão; é o que se refere á responsabilidade exigida dos membros da junta dos repartidores, responsabilidade que se traduziria na imposição de multas, que poderiam em certos casos ser muito elevadas.

A commissão entendeu que não havia direito a exigi-las de funccionarios que serviam gratuitamente.

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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Mando para a mesa estas altera‡”es, e pe‡o a v. ex.¦ que consulte a camara sobre se as quer desde j  discutir e votar, a fim d'este projecto poder passar para a camara dos dignos pares.

O sr. Ministro das Obras publicas (Visconde de Chancelleiros): - Perdoe-me o illustre deputado que informou a camara de que eu me tinha compromettido a apresentar uma proposta de lei com rela‡„o   lei de 6 de junho de 1864, que lhe diga que me n„o lembra de haver tomado tal compromisso; e nem o podia tomar. Eu podia dizer isso no sentido de julgar conveniente a reforma; mas o que n„o podia; era comprometter-me a tomar a iniciativa em uma proposta que quando tivesse de ser feita, n„o o podia ser por mim, porque pertence ao ministerio do reino.

O que provavelmente disse se illustre deputado, foi que a lei de 6 de junho de 1864 devia ser modificada, assim como entendo que o deve ser a de 15 de junho de 1862, que se refere   via‡„o districtal; mas nem uma nem outra, a haver de ser modificadas, o podia ser por minha iniciativa, mas sim pelo meu collega o sr. ministro do reino, por que ‚ a sua reparti‡„o que pertence esse assumpto e n„o ao ministerio das obras publicas.

O sr. Presidente: - Vou consultar a camara sobre se quer entrar j  na discuss„o do parecer que o sr. relator da commiss„o de fazenda, Barros Gomes, acaba de mandar para a mesa, relativamente  s emendas que foram mandadas   commiss„o sobre a projecto da coutribui‡„o pessoal.

Antes d'isso, v„o ler-se as altera‡”es propostas pela commiss„o

S„o as seguintes:

Ao artigo 10.§:

1.§ A fazenda nacional dentro do praso de dois annos, contados desde o momento em que deveria ter sido exigida a contribui‡„o de que se trata;

2.§ Os collectados sem fundamento para o serem pelos factos ou parte dos factos que determinaram as collectas.

Na tabella:

Pelo uso do bras„o de armas nas carruagens em qualquer ordem de terra 10$000 r‚is.

Resolveu-se que entrassem logo em discuss„o, e foram em seguida àpprovados.

ORDEM DO DIA

Continua‡„o da discuss„o do or‡amento do ministerio da marinha

O sr. Presidente do Conselho de Ministros: - Parece-me que o illustre deputado a quem tenho de responder, n„o est  presente. Colloca-me esta circurnstancia em uma posi‡„o desagradavel; mas v. ex.¦ e a camara comprehendem que n„o posso deixar de continuar com a palavra, porque tenho de responder n„o s¢ ao illustre deputado; mas, sobretudo,   camara e ao paiz.

Haver  quem julgue, que n„o era eu a pessoa que devia tomar a palavra n'este logar; discute-se o or‡amento do ministerio da marinha, e inquestionavelmente era o illustre relator da commiss„o a pessoa mais habilitada para responder a quaesquer observa‡”es que se fizessem sobre o respectivo parecer, porque foi s. ex.¦ que o redigiu, foi s. ex.¦ que fez um estudo profundo sobre o assumpto; e tanto que mereceu a approva‡„o de uma commiss„o t„o esclarecida como ‚ a illustre commiss„o de fazenda. E ainda que quem vˆ o parecer encontra n'elle um grande numero de assignaturas, umas com vencimento, outras com declara‡”es estes vencimentos e estas declara‡”es dizem respeito a pontos diversos, do que resulta que o essencial do parecer foi aroprovado, e approvado pela maioria da commiss„o.

Posso dize-lo   camara, ainda que ella n„o carece de o saber nem ouvir da minha b“ca, mas quero dar este testemunho   illustre commiss„o.

Tive a honra de assumir  s suas sess”es; assisti principalmente para me esclarecer e me instruir: declarei-o no seio da commiss„o, n„o tenho duvida em o declarar tambem aqui. Por consequencia, posso asseverar que os pontos principaes do parecer foram approvados pela maioria da commissão.

Por outro lado o illustre deputado acabou o seu discurso com uma serie de perguntas dirigidas ao meu illustre collega, o sr. ministro da marinha, pedindo-lhe sobre ellas resposta categorica. Pareceria por consequencia que eu queria privar o meu illustre collega do prazer de aceitar esta cita‡„o, ou de corresponder a este convite. Mas eu n„o encarei a quest„o por este lado.

Primeiramente o meu illustre collega tinha-se explicado de sobejo n'esta camara; e se o illustre deputado tivesse seguido as discuss”es no seio da illustre commiss„o de fazenda, e tivesse, ao menos, lido o discurso do meu nobre collega, j  que n„o p“de ouvir s. ex.¦ por n„o estar na sess„o, havia de comprehender que todas as perguntas que tinha feito, todas, sem distinc‡„o de uma s¢, tinham sido cabal e francamente respondidas pelo meu illustre collega, como eu logo demonstrarei   camara, referindo-me ao seu proprio discurso.

E em segundo logar, eu n„o me podia fazer illus„o sobre o alcance do discurso do illustre deputado. O illustre deputado fez um discurso politico. O parecer da commiss„o foi mero pretexto. O illustre deputado tinha pressa em se declarar em opposi‡„o ao governo; e tanta pressa que pediu a palavra sobre a ordem. Se tivesse esperado o logar que lhe pertenceria no debate, se pedisse a palavra sobre a materia, esta n„o podia tardar que lhe chegasse. Mas s. ex.¦ tinha pressa em fazer esta declara‡„o   camara, e em demonstrar que eu n„o dava garantias ao partido que s. ex.¦ chama reformista, partido no seio do qual s. ex.¦ pretende ter ganho as suas esporas de oiro. S. ex.¦ acrescentou que eu n„o fazia sen„o navegar em todos os campos, navegando bem, no meu sentido, atrav‚s dos parceis e recifes, pondo-me   capa esperando ventos favoraveis.

Realmente n'esta parte s. ex.¦ fallou com a proficiencia de um homem que conhece perfeitamente este genero de navega‡„o.

Se o discurso do illustre deputado tinha pois um alcance politico, entendi que era ao presidente do conselho que competia responder-lhe.

O illustre deputado pediu a palavra sobre a ordem, e, para justificar a maneira por que a pediu, mandou para a mesa dois projectos de lei, que, para honra de s. ex.¦, eu estimaria que nunca os tivesse apresentado.

A mim, que quero sinceramente as reduc‡”es na despeza publica, que n„o desorganisem os servi‡os, afigura-se-me que, na presen‡a de um deficit consideravel, devemos por algum tempo eliminar todas as despezas que n„o forem absolutamente indispensaveis; compungiu-me ver s. ex.¦ limitar se a mandar para a mesa dois projectos de lei, cuja economia, quando se realise desde j , ‚ insignificantissima, e eu n„o posso deixar de considerar esses projectos como a ultima palavra de s. ex.¦, com rela‡„o  s economias, no ministerio da marinha. Compungiu-me a leitura de taes propostas, porque entendo que mais valiosas e mais importantes economias se podem fazer no or‡amento que se discute.

Depois d'essa leitura pediu s. ex.¦ licença para fazer algumas pondera‡”es. Todos julgavam, e eu tambem, que s. ex.¦ queria sustentar os projectos mandados para a mesa; por‚m n„o foi assim. S. ex.¦ n„o fallou sen„o no conselho ultramarino, que j  n„o existe, e depois entrou largamente no objecto que tinha em vista, que era inquestionavelmente aggredir o governo, e aggredir sobretudo o presidente do conselho.

S. ex.¦ disse, que os seus assombros, quando lˆra o parecer, eram tantos quantos os capitulos do or‡amento que se discute; que as suas admira‡”es eram tantas quantas as economias propostas n'este or‡amento. Mas o seu principal assombro foi ver o presidente do conselho convertido   es-

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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

cola reformista, mas convertido como os judeus que aceitaram as doutrinas do Divino Mestre. S. ex.ª teve a cortezia de não dizer, ruas queria dizer de certo, que eu tinha crucificado os principios reformistas para depois me abraçar com elles.

Sr. presidente, trata-se da vida publica de um homem, que tem uma larga carreira politica, e não póde consentir que um deputado, porque a natureza o dotou de uma forte imaginação, e de facilidade no fallar, o venha ridicularisar no seio do parlamento, e diante da nação. Não creio, que fosse esta a sua intenção; porque pelo contrario o illustre deputado mais de uma vez me chamou seu amigo... e bem aviado estava eu se todos os meus amigos me tratassem assim! (Riso.) Porém ao menos o illustre deputado tratou de apreciar com a maior inexactidão os actos de um homem que está hoje á frente de uma situação politica e esse homem deve a essa situação, deve aos homens, que o apoiam e auxiliam com os seus votos (apoiados), o provar o nenhum fundamento de taes apreciações.

S. ex.ª disse mais, que eu não tinha habitos reformistas, e não dava garantias ao partido reformista. O que eu sinto é que o illustre deputado não tivesse pensado n'esta falta de garantias da minha parte ao partido reformista na occasião, em que se dirigiu ao sr. bispo de Vizeu que sinto que não tenha assento n'esta camara para eu o poder interpellar; o que sinto, digo, é que o illustre deputado não tivesse pensado n'isto em outubro de 1870 quando, á frente de uma commissão, se dirigiu ao sr. bispo de Vizeu para lhe declarar que elle e os seus amigos desejavam, que s. ex.ª completasse o ministerio commigo, dando-me a presidencia do conselho.

Como se combina este facto com a nenhuma garantia que eu dava aos principios reformistas, que o illustre deputado então sustentava?

(Áparte do sr. Osorio de Vasconcellos, que não se ouviu.),

Foi-me dito pelo proprio sr. bispo de Vizeu, é publico em toda a Lisboa, e não ha ninguem que o ignore (muitos apoiados).

O sr. Osorio de Vasconcellos: — Veremos.

O Orador: — Não tem que ver. Isso é conta a ajustar com o sr. bispo de Vizeu, que m'o disse, como meio para vencer a minha repugnancia em entrar no ministerio.

Eu não procurei a ninguem (apoiados); procuraram-me e empregaram todos os meios de me convencer a entrar n'esta combinação ministerial (apoiados).

Eu respondi ao sr. bispo de Vizeu, que estava prompto a dar-lhe o meu apoio; que formasse s. ex.ª um ministerio com os seus amigos, e que eu havia de pedir aos meus amigos, que dessem apoio a esse ministerio, mas não queria partilha no poder; não exigi condição nenhuma, nem para mim, nem para os meus amigos; portei-me com generosidade, a que tinha direito a esperar, que não se correspondesse d'este modo.

Depois, por cireumstancias que é desnecessario referir agora, cedi ás instancias do meu amigo o illustre prelado de Vizeu, e entrei no ministerio.

Este é o facto, e foi esta uma das minhas navegações entre os taes parceis, de que fallou o illustre deputado.

Desde que entrei na vida politica tenho sustentado sempre os mesmos principios. Sustento hoje os principios que sustentava no primeiro ministerio de que fiz parte, que era presidido pelo sr. Joaquim Antonio de Aguiar (apoiados).

Então era eu ministro da fazenda. Pude supprimir um grande numero de empregos. Emprego que vagava, e cujo preenchimento eu entendia que não era necessario para o serviço, supprimia-o (apoiados).

Em 1849, era eu ministro com o sr. conde de Thomar. Fiz uma perseguição inexoravel a todos os exactores da fazenda publica, que eram infieis na sua gestão (apoiados). Foi n'essa epocha que foi descoberto o celebre roubo das sete casas.

Alem d'isto tive tambem a fortuna de tornar notavel a minha gerencia n'esse ministerio com a reducção do agio das notas. Esse cancro, que estava corroendo este paiz e dificultando todas as suas transacções, fui eu que o extirpei (vivos apoiados).

Em 1857, debaixo da presidencia do sr. duque de Loulé, vim a esta casa inaugurar o principio da desamortisação, de que tantas vantagens resultaram já, e hão de resultar ainda para este paiz. Tenho aqui a modesta proposta, que apresentei, assignada por mim, o pelo sr. duque de Loulé, como ministro do reino. N'essa proposta levavamos nós a nossa modestia a ponto de pedir só, que as licenças para a subrogação por inscripções dos bens das corporações a quem o projecto aproveitava, fossem dadas gratuitamente, e que as vendas d'esses bens fossem isentas do pagamento de siza. A illustre commissão de administração publica approvou o projecto, mas elle não póde passar na camara. Tal era nesse tampo a opposição que havia a toda e qualquer idéa de desarmortisação! (Apoiados.)

Comtudo não desanimei, e em 1858, sendo ministro da justiça, apresentei aqui um projecto mais largo que esse, o qual foi convertido na lie de 4 de abril de 1861.

E em fevereiro de 1862 trouxe ainda um projecto mais largo ainda, o que fez a base da lei de desamortisação de 22 de junho de 1866.

Segui pois sempre os mesmos principios, os principios de reforma, os principios da economia, que são aquelles que eu creio que formam o credo do partido reformista (muitos apoiados). E se não são estes, declaro que não os sigo, Mas creio que são; faço esta justiça aos cavalheiros que me ouvem, e até hoje me têem feito a honra de me ajudar com os seus votos (apoiados).

Disse-se, que eu me tinha convertido aos principios reformistas, como á religião christã os judeus que crucificaram o Salvador!

Quando viu o illustre deputado a minha conversão a esses principios? A esses principios não me converti eu, professei-os muito antes que o illustre deputado tivesse existencia politica, muito antes que essa bandeira tivesse sido desenrolada (apoiados).

E desejava muito que o illustre deputado me dissesse o que são os habitos reformistas, que s. ex.ª disse que eu não tinha, e que eu julgava que não haveria ninguem que os tivesse mais que eu. Se os habitos reformistas são a exactidão no cumprimento dos seus deveres, são o comparecimento em todas as estações publicas da que se faz parte (muitos apoiados), o procurar desempenhar com zêlo as funcções dos cargos que lhe estão commettidos, parecia-me que estes não se me podem negar (muitos apoiados), e o illustre deputado que tem convivido commigo em algumas estações, a que nos chamam deveres officiaes, sabe perfeitamente, que o meu procedimento a esse respeito não merece censura (apoiados). Eu esporava poder mesmo invocar a este respeito o testemunho do illustre deputado.

O illustre deputado acabou, como disse já, por uma serie de perguntas ao meu collega o sr. ministro da marinha. Permitta-me n'esta occasião a camara que eu abra aqui um parenthesis.

O illustre deputado disse, que o parecer era um ataque ás regras da grammatica, eu já tinha lido isto mesmo, em letra redonda em certo jornal, e não posso deixar de notar, que o illustre deputado, fazendo esta arguição ao parecer, se esqueceu de que ía ferir os seus amigos, porque este documento foi lido duas vezes no seio da commissão, o qual o aceitou...

O sr. Pereira de Miranda: — Peço a palavra.

O Orador: — Por consequencia ainda que a redacção de um parecer pertença essencialmente ao relator, é certo comtudo, que as commissões, assignando-o, não são inteiramente estranhas á responsabilidade que lhes provém d'essa redacção, Mas se a grammatica, no sentir do illustre deputado, tinha sido ferida, n'esta occasião parece-me que s. ex.ª violou os principios da logica que devia acatar tanto como

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acatou as regras da grammatica, porque s. ex.ª acabou dizendo: «Vou mandar estas perguntas para a mesa, se o sr. ministro da marinha me responder convenientemente, de uma maneira satisfactoria eu voto a favor, senão voto contra.»

Era melhor, por consequencia, ter começado o seu discurso por isto, esperar as respostas do sr. ministro da marinha, e se estas não fossem satisfactorias, fazer então um discurso de verdadeira e rasgada opposição como s. ex.ª fez. Fazendo o contrario, s. ex.ª expoz-se a caír n'uma grande contradicção, votando a favor do governo depois de o ter combatido. É verdade, que se as respostas do meu collega e amigo o sr. ministro da marinha o satisfizessem, s. ex.ª perdia a occasião de pronunciar o seu eloquente discurso, que teve por introducção a importantissima proposta, que mandou para a mesa, da suppressão de um pharmaceutico (apoiados. — Riso.)

Ora, se o sr. deputado se assombrou tanto com esta minha conversão, mais me assombrei eu com o que o illustre deputado disse, não só porque s. ex.ª pareceu ter-se esquecido do que aconteceu em outubro de 1870, mas porque tenho direito de perguntar-lhe em que é que este ministerio desmerece o apoio que o illustre deputado lhe deu até janeiro d'este anno, e de janeiro d'este anno até agora?...

O ministerio formou-se, e appello... não posso appellar, sinto não o poder fazer... queria appellar para o testemunho do sr. bispo de Vizeu para lhe pedir, que declarasse se houve alguma cousa que nos tivesse desunido a não ser a solução dada a uma certa questão, solução para a qual contribuiu muitissimo o illustre deputado, e parece-me que não quer agora grandes louvores por isso (apoiados). Foi esse facto unico que nos separou, e a camara sabe de certo a que alludo (apoiados).

O ministerio inaugurou aqui um programma, e este programma mereceu a approvação da camara (apoiados), e digo mais, mereceu a approvação do paiz (apoiados). O governo pediu á camara que ensarilhasse as armas, que enrolasse agora as bandeiras politicas e que tratasse unicamente das questões economicas (apoiados), e que nas questões economicas desse preferencia á questão de fazenda (apoiados); que procurassemos por todos os meios occuparmo-nos seriamente das reducções possiveis na despeza publica e na creação de novas receitas (apoiados). Este programma foi seguido fielmente (apoiados) até aos fins de janeiro, e é certo que o illustre deputado apoiou o governo até então, como o apoiou desde então até agora. Faltou o governo a esse programma? Isto é que eu queria que me provasse (apoiados). Saíram, é verdade, dois ministros, e entraram outros dois; não quero entrar agora na exposição dos motivos que deram logar a essa alteração do gabinete, alteração que eu senti profundamente, e que procurei por todos os meios evitar. Mas quanto a principios sustento que o ministerio actual mantem os mesmos principios que sustentara o ministerio que levantou aquelle programma, e que eu tinha tambem a honra de presidir (apoiados).

O illustre deputado, o sr. Braamcamp, n'um discurso digno d'elle e digno da camara, disse aqui uma grande verdade, para a qual eu chamo muito e muito a attenção da camara.

O sr. Braamcamp disse que ha uns poucos de annos estão todos os ministerios a reduzir constantemente a despeza do estado e a crear receita, e a despeza publica a augmentar constantemente.

Porque é isto? É porque as centenas de contos de réis que nós podemos fazer de economias, e que eu quero que se façam, é porque as centenas de contos de réis que nós creamos de receita nova, e eu entendo que é preciso que se crie, são cobertos pelos milhares de contos que nos custam os encargos da nossa divida fluctuante, que nos custam as operações de thesouraria a que temos sido obrigados até agora a recorrer, que nos custam os juros dos titulos de divida fundada que tem sido forçoso emittir para saldar os deficits do thesouro.

Póde-se dizer que algum ministerio, no sentido da reducção d'esta causa principal dos nossos embaraços financeiros, tenha feito mais do que nós? Se o ha, venham as provas.

Nós podiamos, quando entrámos nos conselhos da corôa, collocar uma importante somma do fundo que tinha sido creado para amortisar a nossa divida fluctuante; e sabe a camara qual era o preço que só então se poderia obter? 27 por cento. Agora podiamos tê-la collocado a 35. E não o fizemos então nem agora, porque entendemos que o meio mais efficaz para melhorar as circumstancias do thesouro e por consequencia do credito, que está inteiramente ligado com as circumstancias do thesouro, era não estar a lançar no mercado todos os dias maços de titulos de divida publica, porque d'esse modo não se podia por fórma nenhuma, em virtude da concorrencia, deixar de contribuir para a depreciação d'esses titulos.

Pois de nós, quando entrámos no ministerio, não termos vendido esses fundos, resultou para o thesouro, se fossemos vende-los agora, um lucro de 8 por cento, que em 3.000:000 esterlinos, que era a somma de que podiamos dispor, importa em 240:000 libras ou em 1.080:000$000 réis.

E não é economico o governo que assim procede!

É preciso que a camara não perca de vista que nos dez annos que têem decorrido desde 1861-1862 até 1871-1872 tem sido auctorisada a creação de titulos de divida publica fundada na bagatella de 208.000:000$000 réis; mas d'esta cifra não se tem posto em circulação senão 150.000:000$000 réis. D'estes, 78.000:000$000 réis estão em Portugal.

Ora pergunto, se eu, que não tenho habitos reformistas ou habitos economicos, porque não posso distinguir uns dos outros, não tivesse tido a fortuna de mandar pagar os juros das inscripções no interior do reino (note a camara que hoje pagam-se os juros das inscripções em 21 districtos do reino, quer dizer em 17 districtos do continente e em 4 dos Açores e Madeira; pagam-se em 89 concelhos cabeças de comarca, e até em Loanda), esta somma enorme de 78.000:000$000 réis de titulos de divida fundada, não estaria pesando exclusivamente sobre Lisboa e Porto?

Qual foi o resultado d'esta medida, qual foi o resultado de se pagarem hoje os juros das inscripções em todos os districtos do reino, como disse, em 89 concelhos cabeças de comarca, e até em Loanda? Foi que em localidades, aonde não havia antes um titulo de divida fundada, se pagaram no segundo semestre de 1870, 218:000$000 réis de juros d'esses titulos. Foi esta a somma de juros que se pagaram no interior do reino, exceptuando o Porto.

Estes 218:000$000 réis de juros de divida fundada, pagos n'um só semestre, representam um capital que anda por 15.000:000$000 réis. Se não houvesse a procura d'estes 15.000:000$000 réis, que se foram immobilisar no interior do reino, n'outros termos, se elles estivessem só pesando em Lisboa e Porto, os 78.000:000$000 réis de titulos emittidos nos ultimos dez annos, e que estão em Portugal, teriam obtido porventura o preço que alcançaram? Não teriam obtido de certo.

Supponhamos que aquella procura não deu em resultado senão o augmento de 1 por cento. Ninguem acreditará que fosse só de 1 por cento. Pois esse augmento daria um augmento no valor dos 78.000:000$000 réis de titulos, que estão em Portugal, de 780:000$000 réis, e de 1.500:000$000 réis nos 150.000:000$000 réis emittidos, como disse, nos ultimos dez annos; porque a subida dos fundos em Portugal dá em resultado a subida dos nossos fundos em Inglaterra, e vice-versa. Se a subida fosse de 2 por cento, o augmento seria do dobro, e assim por diante. Veja a camara a enorme economia que tem resultado d'aquella medida, devida ao homem que não nasceu economico, e que ha bem pouco tempo foi convertido á escola reformista, conservando comtudo os seus antigos habitos!

E a desamortisação? Pois a desamortisação, combinada com o pagamento dos juros no interior do reino, não terá contribuido tambem muito efficazmente para a subida d'a-

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quelles titulos? A desamortisação tem dado ás corporações, cujos bens têem sido desamortisados, uma somma de titulos que deve talvez orçar por 20.000:000$000 réis, os quaes estariam tambera a afrontar o mercado sem aquella providencia.

Eu tenbo portanto direito de pedir ao illustre deputado que nos apresente as provas das economias que fez durante a sua gestão como ministro, economias que se possam comparar com as que resultam só d'aquellas duas medidas.

Não me parece que o illustre deputado nos venha citar a sua expedição da Zambezia. Não acredito. Essa desgraçada expedição que nos custou 1.000:000$000 réis (apoiados), que humilhou a nossa bandeira (apoiados), que nos custou quatrocentas vidas. Foram estes os unicos resultados que ella produziu! Não entrarei na exposição dos motivos por que ella não preencheu o fim para que foi feita.

Mas o facto é que esta desgraçadissima expedição (apoiados) é o unico acto economico que o illustre deputado póde apresentar, como illustrando a sua gerencia. Não se admirará portanto a camara que em resposta á arguição que me fez o illustre deputado, lhe diga que eu tenho o direito de chamar para mim as honras de ministro economico, e tenho todo o direito de as negar ao illustre deputado.

Citarei ainda outras provas do espirito economico do illustre deputado, e o compararei com o espirito economico d'esta administração.

O ministerio de que o illustre deputado fez parte começou a funccionar em 22 de julho de 1868 e acabou em agosto de 1869. Ha portanto um anno redondo.

Já estão publicadas as contas d'esse anno; e quer v. ex.ª saber quanto gastou n'aquelle praso de tempo o ministerio da marinha? Gastou 1.471:000$000 réis.

O ministerio actual, que não é economico, vem pedir no orçamento que actualmente se discute 1.357:000$000 réis, para menos 114:000$000 réis.

E note-se ainda que aquelle ministerio, que tinha largas auctorisações e que era ao mesmo tempo, não o nego, favoneado pela opinião publica, estava nas circumstancias de fazer córtes mais profundos, mais valiosos do que outro qualquer ministerio. Pois o illustre ministro da marinha, apesar d'esses córtes, gastou 1.471:000$000 réis, e apresentou um orçamento para o anno economico de 1869-1870 na importancia de 1.360:000$000 réis. No orçamento que actualmente se discute pedem-se 1.357:000$000 réis.

Ministro accommodaticio me chamou o illustre deputado, e acrescentou, que isto não era governo que se podesse aceitar, porque não tinha iniciativa.

Oh! sr. presidente, este ministerio apresentou-se aqui no dia 11 de março, e n'esse dia ou no dia seguinte, apresentei eu tres propostas de lei: uma para a reforma da administração civil, outra para a reforma da instrucção primaria, e outra para a reforma da instrucção secundaria.

A da reforma da instrucção secundaria foi distribuida ao illustre deputado, e até hoje ainda não tive a fortuna de ver um parecer de s. ex.ª! (Riso.)

Isto é serio. Nós não temos iniciativa; o illustre deputado tem uma iniciativa rasgadissima; ha dois mezes que lhe foi distribuida uma proposta de lei de um ministro que não tem iniciativa, e o illustre deputado ainda não julgou conveniente dar um parecer sobre ella ou substitui-la!

Temos, porém, os projectos apresentados pelo illustre deputado á ultima hora, depois de dez dias de discussão do orçamento do ministerio da marinha.

Eu francamente digo que senti esse facto.

Pois o homem que foi ministro da marinha, e que pela experiencia que se adquire n'estes desgraçados bancos, devia tornar-se mais benevolente, mais condescendente, mais paciente; pois o homem que foi ministro e que, sendo actualmente membro da commissão de marinha, não julgou conveniente esclarece-la com o seu voto illustrado sobre as reducções que se deviam fazer no orçamento, pois o homem que, sabendo que a commissão de marinha estava reunida muitas vezes com a commissão do orçamento, não appareceu nunca lá, vem agora apresentar dois projectos de lei, para a camara ser obrigada a manda-los á commissão do orçamento, a qual pela sua parte tem de ouvir a commissão de marinha?!

Quando ha de acabar por este modo a discussão do orçamento? Pois o illustre deputado, que é reformista, que é economisador, esquece a primeira das economias, a economia do tempo, e não modifica os seus habitos? S. ex.ª apresenta-se como economisador; eu, a julgar por esses habitos, acho que é precisamente o contrario.

Porque não foi s. ex.ª á commissão do orçamento, e porque não lhe disse — aqui estão as minhas idéas, aqui estão os meus projectos? Isso era muito melhor. Nada d'isto fez, porém; e á ultima hora, depois de dez dias de discussão, aqui temos o projecto para supprimir um pharmaceutico e para determinar que se despeçam quatro membros da junta consultiva do ultramar, que s. ex.ª nomeou, fazendo com este projecto uma rasgadissima economia, que, segundo creio, não excede 900$000 réis.

O governo quer todas as economias que se possam fazer, e não se julgue que eu desdenho de uma economia de réis 900$000; não, senhor, de 90$000 réis, de 9$00O réis que ella fosse, porque entendo que o governo não tem direito de gastar um ceitil alem do que é absolutamente necessario (apoiados). Mas não posso deixar de notar que as observações do illustre deputado versem principalmente sobre o conselho ultramarino, que não existe, e sobre a junta consultiva do ultramar nomeada por s. ex.ª e composta de cavalheiros distinctos. Um d'elles é o sr. Rebello da Silva, cavalheiro dos mais illustrados d'este paiz (apoiados). E pela proposta do illustre deputado, que creio não tem nada de pessoal, este cavalheiro é sacrificado e mandado embora.

Sr. presidente, poucas considerações mais apresentarei á camara, porque quero acabar depressa com esta questão, que foi aqui intercalada e que não é a questão do orçamento (apoiados). Sinto mesmo que ella aqui tivesse vindo.

Mas foi interpellado o sr. ministro da marinha, ou para melhor dizer, foi aprazado para responder a uma serie de perguntas, dizendo-se que o meu collega não tinha respondido, que não havia aqui governo, ou que elle tinha desapparecido, que só havia a commissão, e que o meu collega estava em contradicção commigo.

Para responder terei de ter alguns trechos do discurso do meu collega, mas elle ha de permittir-me que o faça.

O sr. Mello Gouveia, a respeito de quem não posso dizer o que penso, porque elle está presente, pareceu adivinhar as taes perguntas, respondendo a ellas e mostrando o conhecimento que tem dos negocios da pasta que lhe foi confiada, e que s. ex.ª gere muito bem.

Disse o meu illustre collega o seguinte:

«É d'este parecer, o parecer da commissão, que agora tenho de me occupar um pouco. Vê-se summariamente que elle contém quatro especies distinctas de resoluções: a primeira comprehende deducções de despeza por vacatura e outros accidentes, que a fazem improvavel de se realisar, e que em todos os orçamentos é costume diminuir a despeza proposta, que sempre vem descripta pelo governo, em harmonia com os quadros legaes do serviço publico.

«E com louvavel zêlo andou a illustre commissão de fazenda em liquidar a despeza effectiva a que se tem de occorrer pelo ministerio da marinha no futuro anno economico, para mostrar ao paiz o que effectivamente tem de despender n'esta gerencia, estando o governo inteiramente de accordo n'estas deducções, que são de pratica corrente em todos os exames do orçamento e não prejudicam nenhum serviço. »

Parece-me que isto é suffiçiente claro, parece-me que se não póde dizer que o sr. ministro da marinha não respondeu nem emittiu a sua opinião com clareza sobre este ponto.

Continuou s. ex.ª:

«A segunda especie de resoluções em que assentou a com

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missão são diminuições de despeza por effeito de restricções de serviços.

«Tanto estas como as resoluções da primeira especie de que fallei, contidas no parecer, são de effeito temporario, para durar só no anno economico de que tratâmos, e não affectam de nenhuma fórma as organisações dos quadros dos serviços da marinha.»

«Pelo que pertence á eliminação de despezas, por effeitos de restricções de serviços, devo confessar francamente á camara, que tive certa repugnancia em aceitar o ar mamento naval, indicado no parecer, não pela quantidade e qualidade dos navios designados, porque é governo póde armar estes ou outros que lhe forem necessarios, e para isso é sempre auctorisado pelo parlamento, mas pelas restricções das guarnições, e especialmente do corpo de marinheiros.

«É certo que no estado em que estão os nossos navios de guerra, sabendo que não podemos dispor de certo nu mero d'elles, porque estas necessidades de fabrico, que ha de levar mais de anno a fazer, não ha probabilidade de os armar e portanto não é urgente ter nas fileiras do corpo de marinheiros mais do que a força que hoje existe; isto é, menos duzentas e cincoenta e tantas praças do estado completo.

«Por este fundamento disse eu á illustre commissão, que não tinha duvida em concordar em que a despeza relativa a essas vacaturas fosse para este anno economico sómente deduzida no orçamento; a commissão porém quiz ir mais longe, reduzindo 442 praças.

«É extremamente louvavel o seu intento de reduzir quanto possivel os encargos do thesouro, mas eu que tenho outras responsabilidades a attender, declarei solemnemente no seio da commissão, ao meu collega o sr. ministro da fazenda que, vingando esta idéa, eu faria immediatamente recolher, logo que me fosse necessario, ás corporações da armada as guarnições das embarcações da fiscalisação das alfandegas. S. ex.ª assentiu a esta declaração, e portanto julgo me habilitado para poder occorrer ao serviço de marinhagem da armada, com iguaes recursos pouco mais ou menos aos de que hoje disponho.»

Ninguem dirá, que isto não é uma resposta categorica ao segundo ponto.

Disse mais o meu collega:

«Decidiu mais a illustre commissão supprimir as despezas do observatorio da marinha e do commando geral da armada, extinguindo estas repartições; e estas providencias constituem a terceira especie das suas resoluções.»

O sr. ministro da marinha tinha duvida ácerca da extincção do observatorio de marinha, e foi só depois de obter o voto affirmativo das corporações competentes que s. ex.ª, como se vê do seu discurso, que não lerei para não cansar mais a camara, declarou, que convinha na suppressão.

S. ex.ª não conveiu porém na suppressão do commando geral da armada, e disse-o na commissão, e disse-o n'esta camara, como se vê do seu discurso; mas acrescentou que não entendia que fosse isso questão ministerial e que se louvava ao bom senso da camara, que não desejava crear difficuldades á administração.

S. ex.ª disse que estava certo que esta questão se havia de resolver no interesse do paiz e por isso se louvava nos sentimentos da camara e que aceitaria a sua resolução.

Ácerca do quarto ponto disse o meu collega:

«A quarta e ultima especie dos seus accordãos sao conselhos ao governo, que lhe chamam a attenção sobre differentes ramos da administração do ministerio, criticando a situação em que sé acham, é requisitando para elles as reformas convenientes ao bem do serviço e á economia do thesouro.

«O governo acata com toda a veneração as indicações da illustre commissão, persuade-se de que ella tem grandes fundamentos do observação e de sciencia, e sobretudo de zêlo pelo bem publico, para aconselhar as reformas que recommenda se estudem e proponham na proxima sessão legislativa, mas não toma perante a camara outro compromisso senão o de lhe apresentar sobre os differentes pontos que a commissão indicou ao estudo do governo, o que achar justo e necessario ao melhor serviço publico, ao credito do paiz e á mais severa economia, e resultar do consciencioso exame a que vae dedicar te sobre estes interessantes assumptos, aonde ha de ouvir todas as opiniões auctorisadas, compulsar todos os documentos e averiguar os factos com toda a imparcialidade e desejo sincero de acertar.»

Pergunto, póde haver uma resposta mais completa, mais categorica, mais franca e mais cheia de patriotismo do que esta?

Não era um antigo ministro da marinha, não era o sr. Latino Coelho que devia depois d'este discurso, que s. ex.ª não leu, vir formular estas perguntas:

«Convido o sr. ministro da marinha a declarar em nome do governo e como seu orgão official em todas as questões do seu ministerio a responder categoricamente ás seguintes interrogações:

«1.ª Se as reformas e reducções propostas no orçamento do ministerio da marinha são de iniciativa do governo.»

Que importante pergunta esta! Que importa ao paiz que estas reducções venham da iniciativa do governo, ou sejam aceitas pelo governo? São mais considera réis, contribuem mais efficazmente para a solução das difficuldades financeiras por serem da iniciativa do governo e não da commissão? Pelo amor de Deus!

Isto é uma pergunta para ferir o amor proprio do meu collega.

E eu declaro que o illustre relator da commissão de fazenda, quando apresentou estas reducções no seio da commissão, tinha conferenciado com o sr. ministro da marinha e commigo, e o sr. ministro da marinha tinha dito ao sr. relator da commissão precisamente o que disse no seio da commissão.

«2.ª Se o governo propoz e o sr. ministro, como orgão do governo approva, a reducção por desarmamento de navios, como está proposta no relatorio e nas alterações do orçamento.»

Está respondida como a camara viu já.

«3.ª Se o governo propoz, ou pelo menos approva, como um melhoramento e simplificação de serviço, a extincção do commando geral da armada.»

Está respondida, expressamente respondida, como já mostrei á camara.

«4.ª Se o governo aceita as recomendações que lhe são feitas no relatorio da commissão de fazenda ácerca dos seguintes assumptos:

a) Repartição de saude naval;

b) Hospital de marinha;

c) Escola naval;

d) Cordoaria nacional.»

Está respondido, quando o meu collega disse, que se não compromette senão a estudar convenientemente estas questões e a ouvir todos os homens conhecedores d'ellas, e a apresentar á camara os projectos que entender que resolvem melhor as necessidades do serviço publico.

Para que vem pois esta pergunta?

«5.ª Se o governo entende que nenhuma das reducções effectivamente propostas, póde obstar a que seja desempenhado no anno economico futuro o serviço importantissimo que incumbe principalmente na protecção e defeza das nossas provincias ultramarinas, á armada nacional.»

Eu podia responder a esta pergunta comparando o orçamento de s. ex.ª com o do meu collega, e com o parecer da commissão, que se discute. Deixo, porém, essa tarefa, a mãos mais habeis e mais competentes do que eu para o fazer. E vou pôr termo a estas considerações que

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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

fiz com muita repugnancia, obrigado pelos deveres imperiosos da posição que occupo.

O paiz tinha ganho com estas treguas que os partidos tinham dado ás questões politicas. A receita publica augmentava, graças aos projectos que foram apresentados pelo governo, alguns dos quaes estão já convertidos em lei, e outros estão em andamento. E o credito publico fortalecia se com este augmento de receita, e com as reducções de despeza, que tambem se effectuavam.

Para que são estas excitações, estas declarações, a cada momento, de que o governo não presta, e de que é necessario trazer a camara quanto antes a questão politica; porque isto diz-se ha muito tempo e o governo não póde deixar de repellir estas accusações.

O governo não obriga ninguem a que o apoie (apoiados); mas entende que carece de um apoio franco (apoiados). Se querem prestar lhe este apoio, muito bem; se não querem prestar-lhe esse apoio, é necessario que isto se saiba (apoiados), e que cada um tome a responsabilidade dos seus actos.

O paiz tinha ganho com o comportamento cordato, prudente, illustrado que se tem seguido até aqui.

Agora veiu esta desgraçada questão (apoiados)! Não quero dizer a quem pertence a responsabilidade de a ter levantado. Não a attribuo aos homens que estimo, e com cuja camaradagem me tenho honrado até aqui. Quero acreditar, por emquanto, que a responsabilidade d'esse acto é só do illustre deputada.

Mas o que eu peço é que os que querem subir ao poder se mostrem dignos d'elle, e não o conseguem mostrando-se tão impacientes de o obter.

Estas impaciencias não fazem senão compromette-los, e de duas uma, ou não conhecem as difficuldades, com que têem de lutar, ou as conhecem; se não as conhecem não podem fazer-lhes frente; não podem vence-las. Se as conhecem, e apesar d'isso querem vir sentar-se n'estes bancos, o paiz que avalie qual é o sentimento, que os leva a proceder d'esta maneira.

Vozes: — Muito bem, muito bem.

O sr. Ministro da Marinha (Mello Gouveia): — Sei que não é costume fallar um ministro em seguida a outro; mas desejo prevenir a camara de que não me dispenso de responder ao illustre deputado.

Vozes: — Falle, falle.

O sr. Presidente: — Não ha disposição no regimento que prohiba o sr. ministro de fallar em seguida ao seu collega.

Vozes: — Falle, falle.

O sr. Presidente: — Se o sr. ministro deseja fallar, eu dou lhe a palavra.

O sr. Ministro da Marinha: — Eu não pedi a palavra; fiz uma declaração á camara.

Como acaba de fallar o meu collega, não fallo agora; e reservo-me para depois.

O sr. Presidente: — Então tem a palavra sobre a ordem o sr. Barros e Cunha.

O sr. Barros e Cunha: — Cedo da palavra.

O sr. Presidente: — Quem se segue com a palavra sobre a ordem é o sr. Rodrigues de Freitas. Tem a palavra.

O sr. Rodrigues de Freitas: —... (O sr. deputado não restituiu o seu discurso a tempo de ser publicado n'este logar.)

O sr. Presidente: — A ordem do dia para ámanhã é a continuação da que estava dada para hoje, e mais o projecto n.º 21.

Está levantada a sessão.

Eram quatro horas da tarde.

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Em virtude de resolução da camara se publicam os seguintes documentos:

Ill.mo e ex.mo sr. — Em satisfação ao officio de 22 de março proximo passado, em que v. ex.ª me deu conhecimento do requerimento dos srs. deputados José Dionysio de Mello e Faro e Alberto Osorio de Vasconcellos, sobre as contas do campo de Tancos e documentos que as justificam, tenho a honra de passar ás mãos de v. ex.ª, para conhecimento da camara dos senhores deputados, as copias inclusas do relatorio e contas annexas, apresentadas pela commissão encarregada de liquidar as contas do dito campo nos annos de 1866 e 1867.

Quanto á remessa dos sobreditos documentos, tambem solicitados, devendo elles comprovar as contas da pagadoria geral d'este ministerio, onde parte já tem entrado, e outros ainda hão de entrar, em resgate dos competentes interinos, não podem d'ali desannexar-se sem grave inconveniente; e por isso me limito a remetter igualmente a v. ex.ª a relação junta em que vão descriptos os mesmos documentos, os quaes ficam n'esta secretaria d'estado, á completa disposição de qualquer dos srs. deputados que os pretenda examinar.

Deus guarde a v. ex.ª Secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 5 de maio de 1871. — Ill.mo e ex.mo sr. secretario da camara dos senhores deputados. = José Maria de Moraes Rego.

Ill.mo e ex.mo sr. — A commissão nomeada para liquidar as contas da despeza feita com o estabelecimento do campo de instrucção e manobra em Tancos, e fiscalisar a gerencia da administração militar no mesmo campo, nas epochas dos exercicios que ali tiveram logar nos annos de 1866 e 1867, tendo concluido o processo das referidas contas, prefixado a importancia total despendida e saldado a responsabilidade dos gerentes como lhe foi ordenado em portaria de 20 de janeiro ultimo, cumpre um dever apresentando a v. ex.ª o resultado da fiscalisação a que procedeu, conscia de que procurou pelos meios ao seu alcance corresponder á confiança com que v. ex.ª se dignou honra-la.

A commissão, depois de obtidos os documentos comprovativos da despeza, effectuou o competente processo fiscalisando as contas e escripturação dos livros que lhe foram presentes, chegando assim ao resultado constante dos encerramentos parciaes que acompanham este relatorio, bem como na conta geral, tambem junta, do despendido no periodo decorrido desde iunho de 1866 a 31 de outubro de 1867.

Os fundos empregados na compra de materiaes, acquisição de terrenos, fornecimento de viveres, paragens e outras despezas inherentes aos abarracamentos, parques, serviço da administração militar, gratificações extraordinarias, jornaes, empreitadas, etc. foram geridos no anno de 1866, parte pelo general Carlos Benevenuto Cazimiro e na quasi totalidade pelo major de cavallaria Antonio José da Cunha Salgado.

No anno de 1867 a gerencia foi entregue a um conselho administrativo, sendo em ambas as epochas algumas despezas pagas directamente pela pagadoria geral do ministerio da guerra. Eis a vasão de se proceder á fiscalisação e processo em relação a cada entidade responsavel, formulando-se a conta geral em grupos de despeza da mesma especie ou similhante, para se ajuizar da necessidade da compra e poder comparar-se a acquisição com o consumo e existencia marcada nos inventarios de entrega que se realisou, findos os exercicios em 31 de outubro de 1867.

As contas estavam organisadas, umas com referencia a despezas semanaes e outras a periodos mensaes, envolvendo a compra de material com vencimentos, gratificações e jornaes, isto contra os preceitos e regras de contabilidade estatuida no regulamento de fazenda militar, publicado em 1864.

Se as contas tivessem sido enviadas mensalmente á 2.ª direcção do ministerio da guerra, exercendo-se logo a necessaria fiscalisação e procedendo-se ao respectivo processo, para se conseguir o resgate dos interinos relativos ás quantias adiantadas, justificava-se o systema adoptado; mas sendo as contas entregues muito depois das tropas recolherem aos seus quarteis e algumas ainda ha poucos dias remettidas á commissão liquidataria, não se comprehende por que se preteriu o que mais convinha á regularidade do processo e fiscalisação, conta geral de cada gerente por verbas descriptas e auctorisadas com os documentos respectivos á qualidade da despeza.

Da gerencia do major galgado não foi presente á commissão o livro caixa, registo indispensavel da entrada e saída do numerario, nem os livros parciaes do material adquirido, a fim de se investigar da sua applicação comprovada pelas requisições e facturas, declarando aquelle official não ter adoptado aquelles livros, prescriptos pelo já, citado regulamento de fazenda militar. Tambem não consta que tivesse livros para registo de conta de credores, mobilia, ferramentas e utensilios do campo.

O conselho administrativo que funccionou em 1867 remetteu á commissão o seu livro de contas correntes do dinheiro recebido e o registo das actas, ambos escripturados em harmonia com o já citado regulamento.

Á commissão foram entregues, pela direcção da administração militar, contas processadas de compra de gado, material, mobilia, utensilios, etc. na importancia de 196:811$735 réis, e contas tambem processadas concernentes a fornecimento de viveres na importancia de 94:683$413 réis.

Na repartição de contabilidade do ministerio da guerra existiam para resgate, quando a commissão se installou, interinos (annexo n.º 1) á responsabilidade dos gerentes na importancia de 29:707$324 réis.

Sendo:

Do general Carlos Benevenuto Cazimiro............. 4:046$300

Do conselho administrativo........................ 11:598$860

Do major Salgado................................ 14:072$l64

A gerencia do major Salgado consta (annexo n.º 2) nos annos 1866 e 1867 de........................... 320:034$816

Sendo:

Recebido da pagadoria geral do ministerio da guerra 281:086$355 Valor das farinhas e bolacha transferida da padaria militar.......................................... 24:470$957

Receita eventual liquida.......................... 2:636$361

Creditos por satisfazer............................ 11:841$143

A receita eventual é proveniente das seguintes verbas: Venda de vinte e nove bois e duas cavalgaduras menores............................1:521$700

Venda de trapo.................................. 98$000

Differença de preço dos generos alimenticios vendidos no campo..................................... 968$184

Producto da lavoura.............................. 40$666

Indemnisação de artigos extraviados e arruinados..... 694$584

Differença encontrada no preço das farinhas, recebidas da padaria militar, e no preço das rações de pão na primeira quinzena de outubro de 1867............ 4$927

3:328$061

Abatendo aquella somma 567$200 réis despendidos na abegoaria, 98$000 réis na factura de barracas e 26$500 réis que se restituiram aos officiaes inferiores da companhia de administração e que haviam pago como indemnisação de artigos arruinados, fica a receita eventual liquida acima indicada.

Não foram presentes á commissão todos os autos de vendas relativos á receita eventual, e sómente a copia de um da venda de dez bois em 27 de janeiro de 1867.

Pelo competente processo ficou legalisada a despeza da compra de gado, material, gratificações, jornaes, etc. na importancia de réis 218:681$417 réis.

Despendido até 15 de outubro de 1867 com rações de pão, etapes e forragens.......................... 94:566$732

Despendido com lenha para o rancho da companhia de administração................................. 163$068

Perfazendo...................................... 313:411$217

Entregue em generos alimenticios em 31 de outubro de 1867, como consta do mappa existente na repartição de contabilidade do ministerio da guerra.......... 5:759$232

Forragens entregues á actual quarta repartição do campo para sustento dos bois na segunda quinzena de outubro de 1867................................. 116$681

Saldo a entregar em dinheiro...................... 747$686

Total d'esta gerencia........... 320:034$816

A gerencia do conselho administrativo (annexo n.º 3) foi de 11:598860 réis. Sendo:

Recebido da pagadoria geral do ministerio da guerra.... 10:048$860

E dos fundos á responsabilidade do general Carlos Benevenuto Cazimiro.............................. 1:550$000

Pelas contas processadas legalisou-se á despeza na importancia de................................... 11:469$785

Devendo entregar no acto do resgate dos interinos, em

dinheiro...................................... 129$075

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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Os fundos á responsabilidade do general Cazimiro

(annexo n.º 4)................................. 5:596$300

Despendeu, como comprovam as contas processadas.....4:041$885

Entregue ao conselho administrativo................ 1:550$000

Saldo em dinheiro a entregar................ 4$415

A pagadoria geral do ministerio da guerra satisfez directamente, em troca dos titulos processados, as seguintes verbas:

Pela compra de terrenos para o estabelecimento do campo......................................... 15:457$585

Compra de unta machina photographica, e despeza com o gabinete photographico........................ 260$860

Jornaes e gratificações a operarios paizanos e a praças de pret........................................ 526$020

Despendido n'um barracão e pontes................. 187$665

Compra de um fogão.............................. 35$000

Encanamento da agua do rio Zezere para o acampamento....12:487$461

Compra de tubos de ferro para o encanamento....... 1:086$497

Estabelecimento da carreira de tiro................. 1:009$905

Ajuda de custo a officiaes de engenheria e do estado maior......................................... 1:638$643

Abono para bagageiras aos ditos................... 1:727$200

Differença para mais no saldo abonado a dois cirurgiões militares...................................... 199$666

Gratificações extraordinarias abonadas a dififerentes officiaes........................................ 1:045$539

Dita extraordinaria abonada a correios da secretaria da guerra..................._..................... 71$400

Abono extraordinario á repartição de saude do exercito, para complemento de roupas e medicamentos do hospital interino estabelecido no campo.............. 3:468$000

Subsidio para auxilio de rancho a officiaes........... 15:667$900

Dito de 50 réis diarios ás mulheres casadas com praças de pret....................................... 2:347$950

Transporte das tropas nas vias ferreas.............. 27:335$475

O que perfaz..................................... 84:502$756

A despeza total foi:

Na gerencia do general Cazimiro.................... 4:041$885

Na dita do conselho administrativo................. 11:469$785

Na dita do major Salgado.........................313:411$217

Pago directamente pela pagadoria geral do ministerio da guerra..................................... 84:502$756

Somma..................... 413:425$643

Abatendo-se a receita eventual, o producto de duas muares vendidas, a despeza de pão distribuido ás praças de pret, e forragens em genero.......... 48:516$190

Deve considerar-se despeza extraordinaria feita com o acampamento de Tancos......................... 364:909$453

A utilidade dos campos de manobra é geralmente reconhecida. Os exercitos precisam de instrucção pratica em tempo de paz para se habilitarem convenientemente para o serviço de campanha. Não foi de certo improductiva a despeza feita com o campo de Tancos, e se não houve uma rigorosa economia e fiscalisação, como convinha a todos os respeitos, a causa está bem manifesta na falta de pratica em assumptos de administração militar e na brevidade que mediou o pensamento e execução, sem regras que limitassem e esclarecessem convenientemente as attribuições e deveres dos encarregados de gerir e fiscalisar os fundos destinados ás obras e mais despezas que podiam ser mais detidamente calculadas até ao estrictamento necessario. A inexperiencia e a estreiteza do tempo revelam as irregularidades a que a boa intenção e zêlo não poderam obstar.

Das despezas realisadas no acampamento não se consumiu a total importancia. Existem a maior parte dos valores, não só nos abarracamentos, parques e terrenos adquiridos, como em machinas, ferramentas, utensilios de campo, louças e outros muitos objectos. As muares foram entregues á artilheria, exceptuando duas, que foram vendidas, cujo producto reverteu á pagadoria geral do ministerio da guerra. Vinte bois ficaram no campo para o serviço da lavoura, e esta, assim como o producto do olival e pomar, é um rendimento annual de muita consideração.

A despeza de que não existe equivalente, foi effectuada em transportes, etapes, gratificações extraordinarias, jornaes, empreitadas, illuminação, sustento do gado e expediente; o que tudo abatido á somma geral, deixa a differença que deve reputar-se como valores representados e necessarios. As rações de pão, forragens, pret, soldos e gratificações ordinarias pertencem á despeza votada e permanente, e esta, por isso, nada influe na verba supplementar destinada ao acampamento de Tancos, durante a epocha dos exercicios em 1866 e 1867.

As rações de ferragem fornecidas pela administração militar, dirigida pelo major Salgado, foram muito mais baratas do que as distribuidas no mesmo tempo n'outros pontos do reino, o que produziu consideravel economia.

A falta de escripturação methodica e regular, já n'outro periodo relatada, com referencia ao registo das acquisições de material, ferramentas, utensilios, etc. foi supprida em parte pelos inventarios remettidos á repartição competente, datados de 13 de fevereiro de 1868. É difficil a confrontação da existencia com as compras, havendo tambem artigos de mobilia que foram manufacturados no campo, como consta das folhas dos jornaes, sem declararem a quantidade dos objectos produzidos nem a materia prima empregada, restando apenas o recurso de se avaliarem os effeitos inventariados e comparar o seu valor real com a verba despendida, sendo a differença reputada como perda proveniente do serviço feito.

Appareceram documentos de despeza cujo sêllo não era correspondente á cifra respectiva, havendo differenças para mais e para menos, o que ficou sanado pondo os responsaveis nos documentos os sellos que faltavam segundo as prescripções da lei.

Acerca das duvidas que se deram na parte do processo, effectuado na 2.ª direcção do ministerio da guerra, duvidas sujeitas á consulta do ajudante do procurador da corôa Sequeira Pinto, a commissão refere-se á opinião d'aquelle magistrado, classificando-as como provenientes da falta de eseripturação modelada pelos regulamentos em vigor, advertindo que as faltas e erros encontrados, deduzindo a somma para menos da importancia a mais, não deu em resultado prejuizo á fazenda publica.

A gratificação diaria abonada ao chefe da administração militar por este serviço extraordinario e muito especial, duvidada no parecer do ajudante do procurador geral da corôa com o fundamento do referido director ser deputado ás córtes, na epocha dos exercicios em Tancos, foi pela commissão liquidataria levado em conta, por lhe parecer justa e equitativa, como remuneração de um exercicio competentemente ordenado.

A direcção da companhia real dos caminhos de ferro portuguezes solicitou á commissão liquidatária o pagamento de 111$540 réis, importancia de apparelhos telegraphicos que fornecera para o campo de Tancos, e 75$430 réis de diversos transportes de material. A commissão verificou que a segunda verba fôra paga em 3 de abril de 1867, como consta de um recibo d'aquella direcção. O major Salgado informou que os referidos apparelhos foram devolvidos por não serem precisos ao serviço do campo de manobras: o que se fez constar officialmente á mesma direcção.

Por officio do ministerio da guerra, datado de 20 de novembro de 1867, foi ordenado ao commandante do campo, o general Passos, que se restituissem as quantias descontadas pela ruina e extravios que tiveram logar era setembro do dito anno, de differentes artigos. Como porém são passados quatro annos, não sendo provavel que existam no serviço as praças a quem legalmente se fizeram os respectivos descontos, cuja restituição é opposta á doutrina dos artigos 271.° e 272.º do regulamento de fazenda militar, a commissão julga que não é admissivel a chamada indemnisação a que allude o mencionado officio. A restituição feita em 1867 a alguns corpos não contraria esta opinião, pelas rasões exaradas; devendo notar-se que no anno de 1866 as quantias descontadas por igual motivo não foram entregues. O producto obtido em leilão dos effeitos arruinados foi entregue ás praças que soffreram desconto, o que reforça a opinião adversa á restituição auctorisada. No annexo n.º 6, junto a este relatorio, consta as quantias pagas e as importancias restituidas.

Para se concluir a liquidação das contas da despeza relativa ao acampamento de Tancos, durante a epocha dos exercicios desde junho de 1866 a 31 de outubro de 1867, resta pois indemnisar os credores da quantia de 11:841$043 réis, não podendo proceder-se ao resgate dos interinos sem a realisação d'este pagamento. É mister considerar a referida quantia em debito e a receita eventual como entregues ao major Salgado por meio de recibos interinos, tendo-se primeiro dado entrada nominal á receita alludida.

É obvio que sem se effectuar as ditas operações não podem as contas processadas concernentes á gerencia do major Salgado corresponder aos interinos á sua responsabilidade. Os credores têem um inquestionavel direito ao prompto pagamento das fazendas e artigos que francamente forneceram, e de cuja importancia se acham desembolsados ha quatro annos. Torna-se necessaria a liquidação dos generos alimenticios entregues no valor de 5:759$232 réis, liquidação que ha muito deveria estar feita, tendo já sido entregues na pagadoria geral algumas quantias provenientes da venda de parte dos preditos generos. Á 4.ª repartição do campo pertence a responsabilidade dos generos que recebeu em outubro de 1867, para sustento do gado, no valor de 116$681 réis. A responsabilidade do major Salgado em relação ás ditas verbas, na importancia de 5:865$913 réis, cessou desde que se effectuou a entrega á administração que ficou no campo desde que findaram os exercicios.

Vae annexa a este relatorio a nota dos creditos em divida. Os livros (dois), os cadernos e documentos comprovativos da despeza processada, tudo devidamente classificado e inventariado, foi entregue á direcção da administração militar.

Sala da commissão da liquidação das contas de Tancos, na secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 3 de abril de 1861. — O presidente, Joaquim Dias da Silva Talaya, general de brigada — Joaquim Monteiro, primeiro official, com a graduação de major, da administração militar — José Maria de Almeida, capitão do regimento de infanteria n.º 1 — Jeronyrao Joaquim José de Oliveira, capitão de infanteria n.º 2 - Alfredo Augusto da Costa Monteiro, aspirante, graduado tenente, da administração militar.

Está conforme. Secretaria, d'estado aos negocios da guerra, em 2 de maio de 1871. = O chefe da repartição de contabilidade, Manuel Joaquim Gomes de Mendonça.

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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

N.° 1

Relação geral dos tecidos interinos concernentes á responsabilidade dos diversos gerentes na administração militar do campo de instrução e manobra em Tancos, até 31 de outubro de 1867, existentes na pagadoria geral do ministerio da guerra, incluindo-se n'aquelles alguns alunos que já foram pagos posteriorimente e que são considerados como interinos para a liquidação final.

[Ver Diário Original]

Sala da commissão da liquidação das contas de Tancos, na secretaria da guerra, em 31 de março de 1871. – Joaquim Dias da Silva Talaya, general de brigada – Joaquim Monteiro, primeiro official, com a graduação de major, da administração militar – José Maria de Almeida, capitão do regimento de infanteria n.º 1 – Jeronymo Joaquim José de Oliveira, capitão de infanteria n.º2 – Alfredo Augusto da Costa Monteiro, aspirante, graduado tenente, da administração militar.

Está conforme. Secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 2 de maio de 1871 = O chefe da repartição de contabilidade, Manuel Joaquim Gomes de Mendonça

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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

N.º 2

Conta corrente da gerencia a cargo do major de cavallaria Antonio José da Cunha Salgado, como cbefe da administração militar do campo de Tancos, desde junho de 1866 a fins de outubro de 1867

[Ver Diário Original]

(a) Este fornecimento foi effectuado até 15 de outubro de 1867.

Liquidação final a effectuar da referida gerencia

[Ver Diário Original]

(a) A repartição de contabilidade d'este ministerio, achando-se de posse da verba descripta constante do mappa demonstrativo do saldo em generos alimenticios entregues em 31 de outubro de 1867, é mister que proceda á sua liquidarão para fazer face á transacção por igual quantia das despezas correntes a entrar na pagadoria, quando tenha logar o resgate dos interinos da referida gerencia.

(b) Esta verba tem de considerar-se entrada na pagadoria, e saída da mesma por ter sido applicada ao pagamento das despezas correntes, devendo a transacção effectuar-se depois de se haver pago aos credores, para se levar a effeito a final liquidação.

Sala da commissão da liquidação das contas de Tancos, na secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 31 de março de 1871. — O presidente, Joaquim Dias da Silva Talaya, general de brigada — Joaquim Monteiro, primeiro official, com a graduação de major, da administração militar — José Maria de Almeida, capitão do regimento de infanteria n.º 1 — Jeronymo Joaquim José de Oliveira, capitão de infanteria n.º 2 — Alfredo Augusto da Costa Monteiro, aspirante, graduado tenente, da administração militar.

Está conforme. Secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 2 de maio de 1871. = O chefe da repartição de contabilidade, Manuel Joaquim Gomes de Mendonça.

N.º 3

Conta corrente da gerencia a cargo do conselho administrativo do campo de instrucção e manobra em Tancos, no anno de 1867

[Ver Diário Original]

Sala da commissão da liquidação das contas de Tancos, na secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 31 de março de 1871. —

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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

O presidente, Joaquim Dias da Silva Talaya, general de brigada — Joaquim Monteiro, primeiro official, com a graduação de major, da administração militar — José Maria de Almeida, capitão do regimento de infanteria n.º 1 — Jeronymo Joaquim José de Oliveira, capitão de infanteria n.º 2 — Alfredo Augusto da Costa Monteiro, aspirante, graduado tenente, da administração militar.

Está conforme. Secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 2 de maio de 1871. = O chefe da repartição de contabilidade, Manuel Joaquim Gomes de Mendonça.

N.° 4

Conta corrente da gerencia a cargo do general Carlos Benevenuto Cazimiro, chefe do estado maior general do campo de Tancos,

nos annos de 1866 e 1867

[Ver Diário Original]

Sala da commissão da liquidação das contas de Tancos, na secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 31 demarco de 1871. — O presidente, Joaquim Dias da Silva Talaya, general de brigada — Joaquim Monteiro, primeiro official, com a graduação de major, da administração militar — José Maria de Almeida, capitão do regimento de infanteria n.º 1 — Jeronymo Joaquim José de Oliveira, capitão do infanteria n.º 2 — Alfredo Augusto da Costa Monteiro, aspirante, graduado tenente, da administração militar.

Está conforme. Secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 2 de maio de 1871. = O chefe da repartição de contabilidade, Manuel Joaquim Gomes de Mendonça.

N.º 5

Conta geral das despezas feitas com o campo de instrucção e manobra em Tancos, desde junho de 1866 a outubro de 1867

[Ver Diário Original]

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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

[Ver Diário Original]

Sala da commissão da liquidação das contas de Tancos, na secretaria d'estado dos negocios da guerra, aos 31 de março de 1871. — O presidente, Joaquim Dias da Silva Talaya, general de brigada — Joaquim Monteiro, primeiro official, com a graduação de major, da administração — José Maria de Almeida,capitão do regimento de infantaria n.º 1 - Jeronymo Joaquim José de Oliveira, capitão de infanteria n.º 2 — Alfredo Augusto da Costa Monteiro, aspirante, graduado tenente, da administração militar.

Está conforme. Secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 2 de maio de 1871. = O chefe da repartição de contabilidade, Manuel Joaquim Gomes de Mendonça.

N.º 5-A

Conta geral da despeza effectuada no campo de instrucção e manobra em Tancos, nos annos que ali estiveram tropas para exercicios

[Ver Diário Original]

Sala da commissão da liquidação das contas de Tancos, na secretaria d'estado dos negocios da guerra, aos 31 de março de 1871. — O presidente, Joaquim Dias da Silva Talaya, general de brigada — Joaquim Monteiro, primeiro official, com a graduação de major, da administração militar — José Maria de Almeida, capitão do regimento de infanteria n.º 1 - Jeronymo Joaquim José de Oliveira, capitão de infanteria n.º 2 — Alfredo Augusto da Costa Monteiro, aspirante graduado tenente, da administração militar.

Está conforme. Secretaria de estado dos negocios de guerra, em 2 de maio de 1871. = O chefe da repartição de contabilidade, Manuel Joaquim Gomes Mendonça.

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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

N.° 6

CAMPO DE INSTRUCÇÃO E MANOBRA — ADMINISTRAÇÃO MILITAR

Recapitulação das contas com os corpos, repartições e individuos pelos artigos quebrados, e concertos no material e abarracamento

[Ver Diário Original]

Quartel em Mafra, 24 de junho de 1868. — Antonio José da Cunha Salgado, major.

Está conforme. Sala da commissão da liquidação das contas de Tancos, na secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 31 demarco de 1871. — O secretario, Alfredo Augusto da Costa Monteiro, aspirante, graduado tenente, da administração militar.

Está conforme. Secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 2 de maio de 1871. = O chefe da repartição de contabilidade, Manuel Joaquim Gomes de Mendonça.

Logar do sêllo — N.° 24 — Ill.mo e ex.mo sr. — Para os fins convenientes inclusa remetto a v. ex.ª a copia do officio que recebi do ministerio da guerra, prevenindo n'esta data os commandantes dos regimentos de artilheria n.ºs 1 e 4 do conteudo do mesmo officio.

Deus guarde a v. ex.ª Quartel general da inspecção do campo, Belem 23 de novembro de 1867. — Ill.mo e ex.mo sr. chefe da administração militar. — O inspector, José Gerardo Ferreira Passos.

Está conforme, Sala da commissão da liquidação das contas de Tancos, 28 de março de 1871. — O secretario, Alfredo Augusto da Costa Monteiro, aspirante, graduado tenente, da administração militar — Salgado, major de cavallaria.

Está conforme. Secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 2 de maio de 1871. = O chefe da repartição de contabilidade, Manuel Joaquim Gomes de Mendonça.

Ministerio da guerra — 1.ª direcção — 4.ª repartição — Ill.mo e ex.mo sr. — S. ex.ª o ministro da guerra me encarrega de dizer a v. ex.ª, com referencia ao seu officio de 8 do corrente, que se sirva dar as suas ordens para que sejam restituidas aos regimentos de artilheria n.ºs 1 e 4 as sommas d'elles recebadas por parte da administração do campo de instrucção e manobra, como indemnisação dos estragos feitos no abarracamento em que n'aquelle campo foram alojadas as praças dos ditos corpos e das ruinas e extravio dos diversos artigos que lhes foram distribuidos, não devendo exigir-se indemnisação alguma, por igual motivo, aos mais corpos que ali acamparam durante os exercidos do mez de setembro ultimo, na intelligencia de que n'este sentido se mandaram prevenir os respectivos commandantes dos corpos.

Deus guarde a v. ex.ª Secretaria da guerra, em 20 de novembro de

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DIABIO DA CAMARA DOS SEMHORES DEPUTADOS

1867. — Ill.mo e ex.mo sr. general inspector do campo de instrucção e manobra. — O chefe da 1.ª direcção, D. Antonio José de Mello.

Está conforme. Quartel general da inspecção do campo, Belem 23 de novembro de 1867. — Francisco Augusto de Figueiredo Feio, capitão ajudante do campo interino.

Está conforme. Sala da commissão da liquidação das contas de Tancos, 25 de março de 1871. — O secretario, Alfredo Augusto da Costa Monteiro, aspirante, graduado tenente, da administração militar — Salgado, major de cavallaria.

Está conforme. Secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 2 de maio de 1871. = O chefe da repartição de contabilidade, Manuel Joaquim Gomes de Mendonça.

N.° 7

Relação nominal dos credores á gerencia da administração militar do campo de instrucção e manobra até 31 de outubro de 1867, creditos que foram reconhecidos pelos recibos que os mesmos passaram ao chefe da dita administração em troca de titulos que este lhes passou para haverem do ministerio da guerra as respectivas importancias, os quaes são considerados como interinos para a liquidação das contas processadas.

[Ver Diário Original]

Sala da commissão da liquidação das contas de Tancos na secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 31 de março de 1871. — Joaquim Dias da Silva Talaia, general de brigada — Joaquim Monteiro, primeiro official, com a graduação de major, da administração militar — José Maria de Almeida, capitão do regimento de infanteria n.º 1 — Jeronymo Joaquim José de Oliveira, capitão de infanteria

n.º 2 — Alfredo Augusto da Costa Monteiro, aspirante, graduado tenente, da administração militar.

Está conforme. — Secretaria d'estado dos negocios da guerra, em 2 de maio de 1871. = O chefe da repartição de contabilidade, Manuel Joaquim Gomes de Mendonça.

Relação dos documentos relativos á despeza feita no campo de instrneção e manobra, em Tancos, nos annos de 1866-1867

1 Maço contendo: Representações da extincta 2.ª direcção sobre as duvidas entradas nas contas saldadas do major Salgado — Exposições da dita direcção com referencia ao pagamento a fazer aos credores á administração militar do campo, e requerimento d'estes — Consulta do ajudante do procurador da corôa sobre duvidas encontradas — Correspondencia do major Salgado sobre as contas correntes de Tancos.

3 Maços com as marcas ABC contendo: Duplicados das contas saldadas e respectivos documentos que comprovam as despezas feitas com a acquisição de material, mobilia, utensilios, abarracamento, etc.

1 Maço contendo: Contas de concerto do abarracamento, documentos da ruina e extravio de differentes artigos pagos pelos corpos — Recapitulação das contas saldadas com os corpos e relações dos artigos de material, etc. existentes no campo em 31 de outubro de 1867.

1 Maço contendo: Documentos que dizem respeito á padaria militar do campo.

14 Maços contendo: Mappas do movimento das farinhas e fornadas da padaria desde setembro de 1866 a outubro de 1867.

1 Maço contendo: Vales geraes de fornecimento das rações de forragens.

1 Maço contendo: Vales geraes de fornecimento das rações de aguardente.

1 Maço contendo: Vales geraes de fornecimento das rações de pão.

1 Maço contendo: Vales geraes de fornecimento das rações de etape ordinaria e extraordinaria — Processo empregado para a extracção do preço das rações.

1 Maço contendo: Documentos de compra dos generos alimenticios — Mappa da entrada e saída dos mesmos generos.

1 Maço contendo: Documentos da venda dos generos alimenticios no campo para rancho.

2 Maços contendo: Sessenta e um cadernos do movimento dos generos alimenticios vendidos no campo.

2 Livros, sendo: Um do movimento do pão e outro das farinhas misturadas.

1 Maço marca D contendo: Duplicados das contas saldadas e respectivos documentos da despeza feita com o arroteamento e differentes obras na charneca de Tancos para o estabelecimento do campo.

1 Maço contendo: Duplicados das contas saldadas e respectivos documentos das despezas feitas com differentes obras no campo.

2 Livros: Actas do conselho administrativo — Contas correntes do dito.

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Em 1 de maio de 1871. = Joaquim José da Silva Negrão, archivista.

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