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SESSÃO DE 18 DE MARÇO DE 1885 799

reclamações referidas, é necessario que elles se digam, que elles se exponham, e que elles se discutam.
Eu creio firmemente, que a junta geral tem por si a rasão e a lei, mas, se assim não é, diga-o o governo, para desengano do todos, e para a junta reflectir sobre o modo de acudir ás suas necessidades, e estudar o modo de supprir os recursos que tinha por certas.
O silencio do governo é injusto, inconveniente e descortez,
Creio que os meus collegas, representantes d'aquelle districto (e eu não posso senão acompanhal-os no zêlo, com que elles advogam os interesses do mesmo), já praticaram algumas diligencias junto das estações competentes; não sei mesmo se já pediram ao sr. presidente do conselho alguma audiencia para tratarem d'este assumpto. Se porventura o fizerem, folgarei muito que as suas instancias junto do governo sejam coroadas do melhor resultado e que eu possa associar-me tambem aos agradecimento que elles lhe darão por este motivo.
Tenho, porém, fundados suspeitas, de que, se os srs. deputados do districto de Bragança, aliás muito zelosos no desempenho do seu mandato, confiam que hão de colher bom resultado das suas diligencias, mediante a honra de uma conferencia do sr. presidente do conselho para tratar d'este assumpto, terão de resignar-se a esperar largos dias.
E digo isto porque o sr. presidente do conselho, um dos homens mais notaveis do nosso paiz, alem de uma historia brilhante, que realmente tem, está já cercado de muitas lendas, mais ou menos fundadas, como acontece a todos os homens notaveis.
E uma d'essas lendas é que s. exa. se divinisa tanto, que é um quasi milagre a fortuna de lhe fallar.
Lembro-me, e peço licença para o referir á camara, que ha alguns annos um cavalheiro da provincia, muito importante, e a quem o sr. presidente do conselho dedicava sincera estima, tendo de tratar de negocios de interesse publico, e que dependiam de resoluções dos seus ministerios (por que então era s. exa. ministro da fazenda interina, e effectivo da guerra) veiu da provincia a Lisboa e, apesar de aqui se demorar perto de tres mezes, não conseguiu a dita de falar a s. exa..
E lembro-mo até de que aquelle cavalheiro, suppondo que havia um homem importante que podia facilitar-lhe o acesso ao sr. presidente do conselho, foi procural-o, como quem procura um verdadeiro Mecenas que o podesse facilmente apresentar a Augusto, e Cesar tambem. E sabe v. exa. qual foi a resposta d'este illustre cavalheiro, prompta, instantanea, sem rodeios? Foi a seguinte: "Se v. exa. pretende fallar a Sua Magestade El-Rei, póde isso conseguir-se, hoje ou ámanhã; mas a tarefa, de que me pretende encarregar, é superior ás minhas forças e não posso d'ella desempenhar-me".
É authentico o significativo.
Ora, eu seja preoccupação do meu espirito, effeitos da lenda, ou por qualquer outro motivo, nutro a suspeita de que a solução das reclamações da junta geral terá de esperar largos mezes talvez, se porventura depende de audiencia do sr. presidente do conselho. E oxalá que eu me engane.
Eu é que, como não posso ter a pretensão de ir pedir uma audiencia a s. exa. sobre este assumpto, embora de interesse publico, e aliás não me julgo sufficientemente auctorisado para conseguir e levar a cabo tamanha empreza, recorro por isso aos meios que a lei me faculta, e assim desempenho como sei e posso o meu mandato.
Termino dizendo, que folgarei muito que o sr. presidente do conselho, por um momento, se digre attender a este assumpto, e que, informando-se pela repartição a seu cargo, satisfaça a pedidos o reclamações tão justos, como são os da junta geral do districto de Bragança; alem de juntos, carecem de prompta solução.
Em occasião opportuna tratarei largamente de outros assumptos relativos aos interesses do districto de Bragança, e folgarei não ter que fallar n'este, a não ser para dar ao sr. ministro agradecimentos pelo ter favorável e promptamente resolvido. (Apoiados)
Tenho dito.
O sr. Ministro das Obras Publicas (Fontes Pereira do Mello): - A lenda precisa de algumas correcções. Nem admira que as precise, quando agora mesmo, ao começar o seu discurso, o illustre deputado disse, muito lisonjeiramente para mim, que tinha hoje a dita de me ver nesta casa antes da ordem do dia, dando por este modo a entender que tenho faltado sempre á primeira parte da sessão, quando é certo que nos dias anteriores não só tenho vindo antes da ordem do dia, mas já tenho chegado á camara ainda antes de aberta a sessão. (Apoiados)
Já vê, pois, o illustre deputado, que assim como s. exa., de certo na melhor boa fé, foi menos exacto agora mesmo na sua asserção de que eu nunca comparecia antes da ordem do dia, não devo admirar tambem que a lenda apontada por s. exa. careça de algumas correcções; e eu peço licença para as fazer, ainda que mui ligeiramente.
Eu tenho muito do que me occupe; nem isto é cousa que a camara desconheça, e creio que os negocios publicos a meu cargo devem prevalecer, pelo menos assim o entendo, aos negocios de interesse particular.(Apoiados)
Ha muita gente que me procura, não ha duvida nenhuma; mas se eu fosse a attender e a receber, na hora em que me procuram, todos os que mo fazem essa honra, o que posso asseverar á camara é que os negocios publicos paravam, e eu teria de occupar-me exclusivamente dos assumptos particulares, desprezando e pondo do parte os interesses publicos.
É isto apenas uma explicação; e eu muito estimo que o illustre deputado me fizesse o favor de me proporcionar ensejo do a dar aqui, dizendo em publico o que tenho dito muitas vezes em particular e que é bom que se saiba.
Posso asseverar tambem ao illustre deputado, por quem tenho muita consideração, como a tenho tido desde longa data, porque muitas pessoas de sua familia me honraram com a sua amisade, posso asseverar-lhe, digo, que eu recebo todos os dias, ou quasi todos, maior numero de pessoas do que todos os meus collegas recebem.
Acrescentarei ainda que eu recebo no meu gabinete todas as pessoas desde a mais elevada gerarchia, até ao pobre mais humilde, chegando muitas vezes o numero d'ellas a oitenta e cem por dia.(Apoiados)
E apesar de tudo isto faz-se uma lenda, como se têem feito outras muitas a, meu respeito, e directamente contra a minha reputação de homem publico; faz-se uma lenda, repito, dizendo-se que não recebo ninguem!
Mas vejamos como as cousas se passam.
Não ha paiz algum, a não ser Portugal, onde qualquer se levante, se vista, e diga, - vou agora fallar a este ou áquelle ministro.
Em toda a parte os ministros recebem, quando lhes pedem audiencia, ou quando elles marcam determinado dia e hora para ella.
Assim comprehende-se; mas entre nós não acontece o mesmo.
Qualquer pessoa julga-se no direito de ir procurar o ministro, e de ser recebido por elle immediatamente; e quando, ás vezes, assumptos de interesse publico demoram o ministro, e não permittem que este o possa attender immediatamente, retira-se e vae queixar-se a toda a gente de não ter sido recebido!
Acontece ainda outra cousa.
Permitta-me a camara que, visto haver uma lenda, eu responda, a ella.
Um sujeito qualquer janta descansadamente, prepara-se, e vae depois ao ministerio procurar-me. chegando ali, fica muito admirado de que eu, estou na secretaria desde pela manhã, não o receba quando são já cinco, seis, sete,
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