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806 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Les que embarcaram, e um outro quadro para os officiaes de secretaria, inteiramente de accordo n'esse ponto.
Mas que quer v. exa.? Tudo n'este paiz se subordina ao desejo de não gastar mais dinheiro e conciliar a benevolencia da opposição.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem.
(O orador foi comprimentado.)
O sr. Carlos Lobo d'Avila: - Cabe-me a palavra depois da camara ter ouvido um discurso muito espirituoso proferido por um dos mais talentosos deputados da maioria, do qual me préso de ser amigo pessoal.
Comprehendo por que o illustro deputado, tendo de discutir uma questão séria em que o seu partido e o governo, que apoia, estão collocados em uma situação desgraçada, preferiu fingir que defendia o sr. Fontes chamando-lhe ironicamente tyranno; - preferiu fingir que defendia o sr. Pinheiro Chagas chamando dictadurasinha ao seu acto governativo; - preferiu fingir que defendia o governo declarando que a reforma não era má, mas que podia ser melhor; - preferiu fingir que defendia a dictadura, dizendo que detestava todas as dictaduras. A consciencia do sr. Azevedo Castello Branco encontrou assim uma solução satisfactoria para conciliar os seus escrupulos intimos com e cumprimento apparente dos deveres de um deputado da maioria.
Tres partes teve o discurso do sr. Azevedo Castello Branco: a parte politica, a parte alegre e a parte guerreira. (Riso.)
A parte politica foi uma carga a fundo no governo. A parte alegre foi a revelação de um talento notavel, cuja fina graça e castigada forma litteraria mostraram bem á camara que o sr. Azevedo Castello Branco e, não só pelos laços de parentesco mas pelas affinidades do espirito, da familia de um dos maiores e mais gloriosos escriptores da nossa terra, de um humorista tão profundo e tão extraordinario que se escrevesse em qualquer outra lingua, seria uma celebridade europêa. (Muitos apoiados.)
Na parte guerreira... resumo a minha impressão cofessando que olhava para s. exa. e parecia-me estar a ouvir o general Moltkc fallando perante o seu estado maior. (Riso)
A cada uma d'estas partes irei respondendo alternadamente, mas declaro antes de tudo que vou ser muito breve por dois motivos: em primeiro logar porque a minha pouca auctoridade não me dá direito a abusar da attenção da acamara; e em segundo logar porque não quero maguar por fórma alguma o illustre relator da commissão. S. exa., com aquella verbosidade verdadeiramente extraordinaria, que é um dos caracteristicos da sua elequencia, disse outro dia que a opposição é que tem tido a culpa da esterilidade da presente sessão legislativa, porque levou dois mezes a discutir a resposta ao discurso da corôa. A opposição é que tem tido a culpa, porque o tempo passa e os falladores ficam, acrescentou amavelmente s. exa.. Como eu fui um dos falladores, declaro que recebi a advertencia e que protesto não provocar outra com ma incontinencia da minha palavra.
Todos os oradores da opposição parlamentar têem confossado que poucas vezes um homem novo se tem estreiado n'esta camara em circumstancias tão notaveis como o sr. relator, que tem feito uma figura realmente muito distincta. (Apoiados)
O meu amigo o sr. Simões Dias, chegou a dizer aqui hontem que o illustre deputado estava quasi um estadista. eU perfilho inteiramente a opinião do sr. Simões Dias, não só por causa da consideração que tenho pelo talento do sr. Franco Castello Branco, mas por que elle já vae revelando, entre outros dotes, a falata de memoria, que nas occasiões difficeis costuma ser o salvaterio dos estadistas consumados. S. exa. nem já se lembra do que se tem passado aqui presente sessão legislativa! (Apoiados)
Disso s. exa., que a opposição levou dois mezos a discutir a resposta ao discurso da corôa. Pois isto é verdade, sr. presidente?!
Não recorro á opinião dos meus amigos, appello para o testemunho dos meus adversarios. Todos devem lembrar-se de como as cousas se passaram, e não foi d'este modo.
A opposição não discutiu a resposta ao discurso da corôa na sessão de 1884, na celebre sessão dos quinze dias, porque em tal sessão, inventada unicamente para honrar a palavra do sr. presidente do conselho, (apoiados), essa discussão nem sequer foi iniciada.
A opposição começou depois a discutir a resposta ao discurso da corôa, mas a meio d'essa discussão, quando o debate ia mais acceso, desappareceu subitamente d'esta casa o governo, e vinhamos todos os dias para aqui, curiosos e impacientes, nem sem que os mais proximos dos ministros soubessem das noticias dos membros do gabinete. (Apoiados.)
Estavamos aqui todos, horas e horas, a olhar para as portas, a ver se apparecia o sr. presidente do conselho, ou algum dos seus collegas, mas ao cabo do tanta anciedade, só lográmos ouvir ler ao sr. presidente da camara, uma carta, un petit billet doux, (riso) em que o sr. Fontes lhe declarava que estava em conferencia com os seus collegas e não podia comparecer na camara. (Apoiados.)
Afinal, passados uns poucos de dias, reappareceu aqui o governo... Reapareceu o governo é um modo de fallar; reappareceu apenas uma fracção, um fragmento, uns despojos do governo, (apoiados) e naturalmente a opposição teve que pedir ao sr. presidente do conselho e ao resto do ministerio, contas da mais extraordinaria, da mais mysteriosa, e, digâmos assim, da mais humoristica crise ministerial que se tem dado n'este paiz. (Apoiados.)
Foi a opposição que teve a culpa de se ver obrigada a pedir ao governo contas de uma crise ministerial, que se tinha dado perante uma camara constituinte e no meio de uma discussão politica, como era a da resposta ao discurso da corôa, e que se tinha dado sem motivo plausivel, sem justificação de especie alguma!
Foi a opposição que teve a culpa de ser preciso gastar aqui uma sessão e duas na camara dos pares, para pedir ao governo explicações a respeito da crise, que não fui provocada por ella, mas por dissenções intestinas resultantes dos membros do gabinete se não poderem entender em questões relativamente mesquinhas, quando tinham responsabilidades solidarias n'uma questão grave, numa questão capital, como é a das reformas constitucionaes! (Apoiados.)
Mas ha mais ainda.
Passados estes dias de interrupção, devida á crise ministerial, continuou a discussão da resposta ao discurso da coroa, e os oradores progressistas, que estavam inscriptos, em virtude da mudança das circumstancias politicas, em virtude de não verem já na sua frente o governo que primitivamente haviam atacado, desistiram da palavra.
Mas o sr. Franco Castello Branco, que embirra com os falladores, (Riso.) como o sr. Mariano de Carvalho desistiu da palavra, declarando que opportunamente trataria a questão de fazenda, aproveitou pressurosamente esta deixa e proferiu aqui uma philippica politico-financeira contra o partido progressista. E foi ainda e sempre a opposição que teve a culpa do sr. Franco Castello Branco responder a uma declaração de dois minutos com um discurso de duas horas. (Riso. Apoiados.)
Depois fallou ainda largamente um deputado republicano, o sr. Consiglieri Pedroso, e largamente lhe respondeu um deputado da maioria, o sr. Correia Barata, meu amigo, e cujo talento muito considero, mas que, com um faccionismo, que qualificarei de chimico, (Riso.) attenta a especialidade do illustre professaor, declarou o partido progressista em decomposição putrida. Nós nada respondemos, e ainda assim fomos nós que tivemos a culpa do dis-