SESSÃO DE 22 DE MARÇO DE 1886 681
cabe-me a obrigação de pedir que a ordem seja revogada logo que cessem as rasões que lhe deram causa, e de pedir ainda que não fiquem em meio os concertos ou reparos encetados.
Ficando em meio destroe-se e estraga-se o que se acha feito.
O povo não reparará que o governo despenda alguns centos de mil réis na conservação de um edificio que representa a feição da epocha em que foi erigido, e a piedade de El-Rei D. João V, que tão notável se tornou por levantar obra de tal magnitude, e outras obras de arte, como a capella em S. Roque nesta cidade.
Sendo, assim creio que o sr. ministro das obras publicas, que honra o logar que occupa, que tem uma intelligencia superior, e que é amigo da arte, creio, digo, que s. exa., seguindo os exemplos apresentados nesta camara pelo sr. ministro dos negócios estrangeiros, o sr. Barros Gomes, quando pediu ao governo que comprasse um quadro de Rubens, que se achava na igreja das Mercês, para que se não estragasse, deverá attender á conservação do mosteiro de Mafra.
Não peço ao sr. ministro que me diga quaes os motivos por que mandou suspender as obras, peco-lhe unicamente que faça justiça á minha idéa, que mande continuar nos reparos encetados, e o seu nome será respeitado, aquelles povos o abençoarão.
Folgarei que s. exa. entenda que são de algumas ponderações estas minhas considerações, o agradecerei o beneficio, quando o faça.
Levanto uma justa reclamação em prol de um monumento que representa glorias nacionaes, e cuja ruina será inevitável.
O meu desejo é que não fique sujeito á destruição completa, que será fatal se se deixar ao abandono.
N'esta conformidade não foi meu intento fazer uma interpellação, mas apresentar sómente as ponderações que expuz, as quaes, segundo penso, deverão callar no animo do sr. ministro para que as obras continuem logo que haja opportunidade.
O sr. Ministro (ias Obras Publicas (Emygdio Navarro): - (O discurso será publicado quando s. exa. o restituir.)
O sr. Franco Frazão: - Pedi a palavra, para chamar a attenção do sr. ministro das obras publicas para um assumpto que interessa ao paiz, á província da Beira Baixa, e á notável e industrial cidade da Covilhã.
Sr. presidente, na cidade da Covilhã fizeram-se ha dias uns comícios, para se representar ao governo, a fim de approximar o mais possível a directriz do caminho de ferro 4a Beira Baixa daquelle importante centro industrial. N'aquellas reuniões soltou-se a nota política, quando uma questão desta ordem devia estar completamente afastada dos domínios da política.
Foi tão inconveniente, tão acentuada a nota política em taes reuniões, que a maior parte dos grandes industriaes d'aquella laboriosa cidade, ou se afastaram dos comícios, ou não quizeram pertencer às commissões ali nomeadas. É que aquella nota politica, da maneira como foi levantada, era perfeitamente insensata e injusta.
Entre outras cousas, que só se explicam pela cegueira do facciosismo, e pela manifesta exploração político, chegou a dizer-se n'aquellas reuniões que o digno par do reino, o sr. Vaz Preto, era o homem mais prejudicial aos interesses da cidade da Covilhã; por esta rasão é que os principaes industriaes daquella cidade, reconhecendo a injustiça que se fazia a s. exa., só retiraram, ou não quizeram pertencer às commissões.
Devo dizer que as commissões eleitas se compõem, na maior parte, de cavalheiros distinctissimos por seu saber e virtudes, dignos de todo o respeito, e estranhos às luctas e especulações políticas que ali se levantaram.
Para a camara ver a injustiça com que se procedeu para com o sr. Vaz Preto, e os seus amigos políticos, eu vou ler a proposta que s. exa. apresentou na camara dos dignos pares, por occasião de se discutir ali o projecto do caminho de ferro da Beira Baixa. S. exa. apresentava a seguinte proposta em sessão de 10 de março de 1883:
«Proponho que no n.° 1.° do artigo 1.°, adiante da palavra Covilhã se leia: seguindo a margem direita do Zezere».
Seguidamente s. exa. sustentava esta proposta com o verdadeiro denodo de quem ha vinte annos pugnava desveladamente pelos interesses da Beira Baixa, e pondo sempre á frente d'elles os interesses da cidade da Covilhã, e fazia-o pela seguinte forma, depois de ter adduzido valiosos argumentos:
«Sr. presidente, eu não podia deixar de pugnar por este melhoramento, porque, alem das rasões que expuz, dá-se uma circunstancia curiosa.
«O sr. ministro das obras publicas deve estar lembrado de que já foi votada uma auctorisação ao governo para construir um caminho de ferro que, seguindo a margem esquerda do Tejo e passando pelas immediações de Castello Branco fosse a Monfortinho.
«Essa auctorisação é verdade que não se executou, mas entrava no plano da construcção d'essa linha a feitura de um ramal para a Covilhã.
«Agora vae fazer-se um caminho de ferro em que a Covilhã fica collocada em peiores condições do que ficaria com aquelle primeiro plano!!
«Por esta forma faz-se um caminho de ferro em que a terceira cidade do reino, talvez a mais laboriosa deste paiz, fica desservida, porque se attende a uma certa economia levando o caminho de ferro pela margem esquerda do Zezere.
«Sr. presidente, eu estou convencido que esta economia, á primeira vista, é uma economia contraproducente, porque se se levasse o caminho de ferro aquella cidade, as vantagens que d'ahi proviriam para a riqueza publica haviam de compensar largamente a despeza que para mais se ia fazer, dirigindo o traçado pela margem direita do Zezere, passando próximo da Covilhã.
«Sr. presidente, eu entendo que os caminhos de ferro hão para dar saída aos productos industriaes, pára desenvolver o commercio e para communicar os centros de grande população, e não para cortar desertos e encurtar distancias.
«Por se não attender a estes princípios, por não se attender a estas circumstancias é que o caminho de ferro da Beira Alta está rendendo tão pouco e dando prejuízo á companhia.
«Sr. presidente, parece-me que o sr. ministro completaria a sua obra, o districto de Castello Branco ficar-lhe-ia extremamente agradecido, se introduzisse as duas condições que eu enumerei, isto é seguir a directriz a margem direita do Tejo e do Zezere.
Não continuo com a leitura d'este discurso, que é todo neste sentido, para não fatigar a camará; mas vê-se daqui muito clara e terminantemente a maneira empenhada como o digno par sustentava que o caminho de ferro da Beira Baixa devia approximar se da Covilhã, o as diligencias que empregou para que a sua proposta fosso approvada.
Esta proposta foi porém retirada pelo dia no par, e muito convenientemente, por ano o sr. ministro das obras publicas de então declarou que não a acceitava, e igual declaração fez o sr. relator da projecto ; e se ella não tivesse sido retirada, talvez o governo não estivesse hoje tão livre para poder prestar este grande beneficio ao paiz, á província da Beira Baixa o á importante cidade da Covilhã, porque a negociação de tal proposta limitaria os traçados á margem esquerda do Zezere.
Às representações vieram effectivamente tarde, como disse o sr. ministro das obras publicas na camara dos dignos pares.