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SESSÃO DE 23 DE MARÇO DE 1886 697

suppoz que, tendo que responder a um deputado republicano collocada n'uma questão em que se tratava da dotação do herdeiro da corôa, naturalmente esse deputado traria como argumento principal e capital para discutir tal projecto, os exemplos da França ou de outra qualquer republica.
O sr. ministro esperava isto, e tinha por consequencia preparado a sua defeza n'este sentido. Infelizmente eu tomei caminho diverso, e, em vez de tratar da republica franceza, abstive-me cuidadosamente de fallar d'ella para termo de comparação, collocando-me unicamente no terreno, disse-o hontem bem claramente, do confronto das opiniões dos srs. ministros progressistas de hoje, com as opiniões que hontem tinham quando estavam sentados nos bancos da opposição!
Ora foi este o meu crime, e acabo de o pagar bem cruamente, confesso-o, porque estive aqui a ouvir duramente, perto de tres quartos de hora, uma serie, ou melhor, uma enfiada de argumentos, que me faziam perguntar a mim proprio a quem é que s. exa. respondia!
Resposta ás minhas affirmações não eram, de certo, esses argumentos, pois eu não tinha dito uma unica palavra com relação ás excellencias da republica franceza; não me referi, nem sequer por allusão, aos Estados Unidos, limitando-me, torno a repetir, unicamente a discutir e a comparar os actos dos ministros progressistas de hoje com as palavras da opposição progressista de hontem.
Mas não estranho, já o disse, que o sr. ministro da fazenda tivesse seguido este caminho. S. exa. não podia adivinhar que eu mudaria de estrategia; preparou um discurso que, segundo as suas probabilidades, devia ser a resposta ao discurso republica. E como está incumbido de uma das mais difficeis e mais trabalhadoras pastas do ministerio, não teve tempo de mudar de ontem para hoje a ordem da sua argumentação.
Aqui está porque entrou no combate com as armas que suppunha poderem servir-lhe, mas que, conforme acaba de ver-se, só deram golpes no vacuo! Se o sr. Marianno de Carvalho tem fallado hontem mesmo, ainda o desastre se na maior!
Em todo o caso, a intenção do discurso do sr. ministro da fazenda é motivo para eu me felicitar.
Ora ainda bem que um ministro da coroa, quando se vê atacado n'um projecto que diz respeito a uma questão essencialmente palaciana (e aproveito por esta occasião o ensejo de prestar homenagem ao neo-palacianismo de s. exa.), já recorre á republica franceza para justificar o seu procedimento. Recorra lá mais vezes, sr. ministro, mas recorra n'outros assumptos, que ha de encontrar lição proficua de patriotismo e de coherencia politica sobretudo!
Disse o sr. minsitro da fazenda que eu não o maguei pessoalmente.
Estimo muito que assim tivesse succedido, e que as palavras de s. exa. traduzam fielmente o seu pensamento; e estimo-o bem, porque o meu intuito não foi nunca offender homens, quaesquer que fossem os seus erros, mas combater um projecto que considero deprimente para os brios do paiz, e ruinoso para os seus mais legitimos interesses!
Entretanto permitta-me s. exa. que lhe diga que, apesar de tal declaração, me chamou imprudentemente para um terreno onde eu ainda hoje, e por esta vez, que fallo, não quero abster-me de entrar. Nada de retaliações, pois apesar de tudo persisto em ser generoso!
Tenho argumentos demasiadamente valiosos, para poder desprezar esses de que tantas vezes aliás s. exa. tem usado e abusado!
Nada de retaliações, mas lembre-se s. exa. que a ellas não recorrerei por generosidade, pois sou um dos poucos deputados, não o único, que n'esta casa posso fallar sem medo da replica do adversario, seja elle quem for!
Pois o sr. ministro da fazenda tão pouco comprehendeu a correcção do meu procedimento, que até me accusou de Ter sido menos cavalheiroso para com uma dama, altamente na sociedade portugueza, por isso que a trouxe para esta discussão.
Eu não trouxe dama alguma para as discussões n'esta casa, referi-me unicamente a uma asserção que corria na imprensa sem protesto da parte das folhas semi-officiaes.
Perguntou o sr. ministro da fazenda, não sei se ironicamente, se era defezo ao chefe do estado trazer, como Crevy, podia tel-o feito, a «santa companheira da sua vida» para assistir á primeira entrevista d'esse mesmo chefe do estado com o homem publico que ía ser presidente do conselho do futuro ministerio.
Não fallei da «santa companheira da vida» de ninguem, saiba-o o sr. ministerio! Não disse, nem affirmei que o chefe do estado levava alguma «santa companheira da sua vida» a assistir a actos como esse.
O que eu perguntei foi se a «Rainha», e não a «dama», que eu respeito como qualquer cavalheiro portuguez respeita uma dama, estrangeira sobretudo, tinha assistido, conforme se asseverava, á primeira entrevista politica do Rei com o presidente do conselho de ministros.
E era mais do que um direito, era um dever meu fazer similhante pergunta!
Não é á dama, portanto, é á Rainha que eu, como deputado da nação, não posso permittir, e commigo esta camara inteira, que se intrometta em deliberações e participe de responsabilidades que lhe são vedadas expressamente pela carta!
E note v. exa., que, se eutivesse de acreditar como confissão tacita da verdade do facto as perguntas meio ironicas que acabam de ser feitas pelo sr. ministro da fazenda, então outras seriam as minhas palavras n'este momento, pois sempre pareceria pouco tudo quanto nós fizessemos para corrigir tão inaudito desmando e tão insolita falta de comprehensão dos seus deveres constitucionaes, da parte do governo!
Em seguida, o sr. ministro da fazenda, simulando continuar a seguir passo a passo a minha argumentação, deixou assomar aos labios sorrisos, não sei se compassiveis, se ironicos tambem, a respeito da fome com que estão luctando alguns dos nossos compatriotas.
E entrando n'este caminho, não se limitou a desfigurar o meu pensamento, mas, para acabar de encher a medida da imprudencias, que n'esta questão internacional se têem ido levianamente accumulando por parte do governo, dirigiu umas insinuações de mau gosto ao governo francez, insinuações, que nunca deviam ter saído d'aquellas cadeiras.
Lembrou, por exemplo, com menos exactidão, que a França, quando os seus briosos soldados estavam sendo dizimados pela peste no Tonkin, tambem gastava dinheiro em festas, sem se recordar que, pelo contrario, a nação franceza, representada na assembléa nacional, obrigava exactamente a demittir-se, ou melhor, derrubava o governo que julgava, bem ou mal, responsavel por essa triste catastrophe! Oxalá que as camaras de Portugal seguissem o patriotico exemplo d'aquella camara, desprendendo-se quando o bem do paiz assim o exigisse, dos laços que tambem vezes lhes prendem a sua liberdade de acção!
Disse tambem o sr. ministro da fazenda, não sei se para corrigir-me da ousadia de ter tocado n'este ponto, que eu attribuia as crises economicas a certos e determinados factores politicos; e quasi caridosamente fez o favor de me lembrar o que, de resto, se encontra melhor dito em todos os jornaes e gazetas mais ao corrente do que se passa lá fóra, isto é, que a França, apesar de republicana, tambem está luctando com uma gravissima crise economica. Para castigar a minha ousadia de anti-monarchico, para corrigir bem as minhas affirmações de jacobino, porque eu hoje até pelo sr. Mariano de Carvalho qualificado de jacobino n'esta casa, os r. ministro da fazenda cansou-se a querer demonstrar, que não é só dentro da fórma repu-